quarta-feira, 22 de junho de 2011

ELOGIO AO AÇAÍ

o caboco abra o olho com essa estória de 'desfederalizar' terras de marinha (projetos de emenda à Constituição tirando totalmente da União para os municípios a regularização fundiária). Enquanto a SPU era só cabide de emprego os "amigos da onça" não se importaram com nada além de buscar os votos dos ribeirinhos. Mas, foi só com Lula lá começar o Projeto NOSSA VÁRZEA e o camarada Neuton Miranda trabalhar, dentro do Plano Marajó, para expedir títulos de Autorização de Uso de terras da União beneficiando à milhares de famílias ribeirinhas, para os políticos da enganação atacar de novo. 

Por que será? É o negócio do açaí, dantes o mata fome do povão, doravante elixir da juventude de barão. Conforme a ciência da saúde está mostrando. O besta que seja expulso do seu açaizal e vá morar com a família em agonia, lá em invasão do subúrbio e se quiser tomar o açaizinho paráu de sempre que antes arranje dinheiro pra pagar. 

Por que, se deixar passar a PEC da pegadinha do ribeirinho, terrenos de marinha vão ser mais um feudo do latifúndio e o rico açaí não se verá mais na feira, vai sair tudinho de avião para exportação.

DIGA NÃO à enganação, meu caboco! E preste muita atenção com seu voto pra não ir engordar sapo pra cobra comer.




Ode à Euterpe oleracea
 José Varella
Vou fazer a louvação do açaí
Bendito fruto da nossa várzea
Depois do leite materno
O açaí é que salva da fome o caboco.
Na terceira margem do rio
A paisagem do sonho acha graça
Com a safra do açaí e as canoas no Ver o Peso
Peixe frito no prato, farinha na cuia
Aleluia! Está feito o pirão salvador
Açaizal em festa na cantiga do vento
Maré enchente e sorriso estampado
na cara da gente.
Pretinho querido do mato sem cachorro
No sítio e na cidade a maior felicidade
Da gente sem eira nem beira na feira
Ver madurar no cacho o açaí nosso
Bandeira vermelha na esquina
Diz à freguesia que a venda está no ponto
Vinho da terra tapuia
Sangue vegetal que sustenta o povão.

Composição do Açaí


O Açaí é uma palmeira típica da Região Amazónica. Além de ter um sabor delicioso e refrescante, é rico em lipídios e vitamina E, que ajudam a combater os radicais livres. A alta concentração de fibras melhora a função intestinal, percebida em duas semanas de consumo. A presença de vitamina B1 e o teor elevado de pigmentos anticianianos que são antioxidantes, favorecem a circulação sanguínea.

O açaí é muito rico em antocianina, uma substância anti-oxidante, que ajuda no combate ao colesterol e aos radicais livres. Você já ouviu que um copo de vinho tinto por dia faz bem ao coração? É devido à antocianina da uva. Não é por acaso que a cor do açaí é semelhante à do vinho tinto, porém o açaí tem 33 vezes mais antocianina que a uva. As antocianinas também são potentes corantes naturais. A composição química e o valor nutricional do açaí são discriminados na Tabela 1.
Composição Unidade Quantidade na matéria seca
pH - 5,80
Matéria seca % 15,00
Proteínas g/100 g(1) 13,00
Lipídios totais g/100 g(1) 48,00
Açúcares totais g/100 g(1) 1,50
Açúcares redutores g/100 g(1) 1,50
Frutose g/100 g(1) 0,00
Glicose g/100 g(1) 1,50
Sacarose g/100 g(1) 0,00
Fibras Brutas g/100 g(1) 34,00
Energia Kcal/100g 66,30
Cinzas g/100 g(1) 3,50
Sódio mg/100 g(2) 56,40
Potássio mg/100 g(2) 932,00
Cálcio mg/100 g(2) 286,00
Magnésio mg/100 g(2) 174,00
Ferro mg/100 g(2) 1,50
Cobre mg/100 g(2) 1,70
Zinco mg/100 g(2) 7,00
Fósforo mg/100 g(2) 124,00
Vitamina B1 mg/100 g(2) 0,25
α-Tocoferol (vitamina E) mg/100 g(2) 45,00
(1)Matéria seca; (2)Cálculo por diferença. Fonte: Rogez (2000).

Por ser rico em ferro, fibras, fósforo, minerais, gordura vegetal, cálcio, potássio e vitaminas, a fruta parece ter saído do laboratório dos nutricionistas de encomenda para geração saúde.
O Botânico alemão Martius, quando batizou de 'Euterpe' o gênero que engloba todas as espécies de açaí, se inspirou na cultura Grega. Escolheu o nome de uma das nove musas de Apolo. "Euterpe", que pode ser traduzido como "eu dou prazer", é a musa da música e da poesia lírica, e também a musa do prazer e da felicidade. Com certeza, Martius teve a oportunidade e o prazer de provar o açaí quando passou por Belém, nos idos de 1820's.

No Pará encontra-se o açaí-de-touceira (Euterpe oleraceae) nativa e cultivada, que encontra-se também na Amazônia central e oriental. No Acre ocorrem três espécies nativas e uma é cultivada, o açaí-de-touceira (Euterpe oleraceae). As espécies nativas são o açaí solteiro (Euterpe precatoria), o açaizinho da serra do divisor (Euterpe longivaginata), e o açaí das campinas da BR 307 (Euterpe catinga), nas cercanias de Cruzeiro do Sul. Os municípios do Pará que mais produzem açaí são: Ponta de Pedras, na ilha do Marajó, Cametá, Igarapé Miri, Mojú e Ilha do Cumbú, em Belém-PA. Em Belém - PA esta o maior consumo de açaí in-natura , com mais de 200 mil litros diários.

Composição Área (Ha) Quantidade Produzida Rendimento Médio
Total Plantada Destinada a Colheita Colhida Perdida
Total de Grãos - - - - - - -
Açaí - 61.814 0 61.814 0 604.805 9.784
Total - 61.814 0 61.814 0 604.805 9.784

FONTE: http://pointdoacai.net/curi004.php

sábado, 18 de junho de 2011

AJUNTADOR DE CACOS


Giovanni Gallo nasceu em Turim, Itália, em 27 de abril de 1927 - “Gallo por herança paterna e Touro pelo horóscopo”, costumava dizer, naturalizou-se brasileiro. Fez os estudos e foi ordenado sacerdote na Companhia de Jesus. Como Jesuíta começou a sua atividade na Espanha e depois na ilha de Sardenha (Itália), sempre em contato com a classe mais humilde.




Em 1962 foi enviado à Suíça alemã como capelão dos emigrados e fundou a Missione cattolica Italiana Del Birseck, perto de Basiléia, no período mais quente do movimento contra os estrangeiros. Em 1970 optou pelo Terceiro Mundo, na América Latina. Chegou ao Brasil depois de muita luta, recusando Estocolmo como alternativa.

Depois de dois anos no bairro da Floresta, em São Luis do Maranhão, foi destinado à Ilha do Marajó.


" No nosso Museu o Homem marajoara é doador e receptor. Ele é a maior fonte de informação e ao mesmo tempo o maior beneficiado.



Nesta perspectiva, o nosso Museu tem um ciclo completo:

• Nasce da comunidade,

• Cresce com a comunidade,

• E volta à comunidade.

Agora é fácil entender porque o Museu aceitou o desafio de escolher um lugar carente das infra-estruturas essenciais
. Porque assumiu o compromisso de promover estas infra-estruturas, provocando o desenvolvimento do Homem através da Cultura". Giovanni Gallo (Turim-Itália, 1927 - Belém-Pará, 2003).


A TV Nazaré, Canal 30 de Belém-PA, às 21 horas do dia 17 de junho de 2011, apresentou o documentário “O Ajuntador de Cacos”, longa metragem de Paulo Miranda, concorrendo ousadamente no horário nobre das telenovelas mais badaladas. Davi contra Golias, mas água mole em pedra dura tanto bate até que fura... O filme é digno da teimosia do fundador do Museu do Marajó e na televisão católica não terá deixado de tirar uns poucos telespectadores dos grandes canais, atraindo mais simpatizantes para obra marajoara além daqueles que já estão sensibilizados e foram avisados a tempo para ligar a TV ou trocar de canal, que foi o meu caso.

O esforço de Paulo Miranda com a produtora Lux Amazônia Filmes está de parabéns e assim o Museu do Marajó fica um pouco mais conhecido com sua história incrível, ainda desperdiçada, infelizmente.  Integrado à Casa do Escritor Dalcídio Jurandir (que não sai do papel) num necessário roteiro de turismo literário e arqueológico este ecomuseu de base comunitária poderia estar servindo à educação patrimonial e gerando emprego e renda na região, há muito tempo.

Nós não duvidamos que o “Ajuntador de Cacos” irá mais longe, inclusive atravessando fronteiras sociais e geográficas. O filme na TV e em DVD chega mais perto daquele público ao qual Giovanni Gallo quis passar a mensagem com as obras "Marajó, a ditadura da água", "Motivos Ornamentais da Cerâmica Marajoara" e a autobiografia "O homem que implodiu". O documentário é uma preciosa fonte de estudo com a própria voz e imagem do criador do museu, mas também daqueles e daquelas que a iniciativa do padre uniu na mesma história de uma época que vai da chegada do missionário da Diocese de Ponta de Pedras, em Santa Cruz do Arari, na ilha do Marajó, até sua morte em Belém e sepultamento em Cachoeira do Ararí, no espaço do próprio que o jesuíta insubmisso inventou.

Em torno da figura do “marajoara que veio de longe” surgem coadjuvantes da vida real, sem os quais o museu não teria nascido nem sobrevivido e consequentemente o filme não poderia ser realizado para testemunhar o feito extraordinário que a grande sociedade não quer ver nem apoiar como deve, deixando "herdeiros" do padre se digladiar erradamente. Pelas imagens e a fala da gente prova-se o papel do padre, animado a abraçar o povo oprimido e a denunciar a pobreza do terceiro mundo pelo aggiornamento da igreja de João XXIII e Paulo VI; mas desgraçadamente entrando em inesperada crise de disciplina interna da Diocese e em conflito precoce com o poder político, como um legítimo “ajuntador” de coisas que “não prestam” e animador de gentes sem eira nem beira, capaz entretanto de revitalizar a história da brava gente marajoara como a salvação da sua própria vida pessoal em deriva. 

Co-fundadores da obra de Giovanni Gallo, menos conhecidos ganham rosto e voz, notadamente dona Mita em Jenipapo (Santa Cruz), que teria sido a primeira auxiliar desde a chegada do padre ao Arari; Raimundo Barbosa, Manuel do Carmo e Tacica Gemaque, em Cachoeira do Arari, na hora mais crítica da mudança e quando parecia tudo perdido; padre prestes a partir de novo em busca de lugar para ficar tomam iniciativa de ir ao encontro do forasteiro para lhe salvar o museu ainda em gestação.  O incompreendido Antônio Smith (ele mesmo marajoara adotivo como o padre que ele conheceu pelas reportagens nas oficinas do jornal onde trabalhava como gráfico), sem papas na língua, solta o verbo e relata trapaças do jogo político a caça de votos condenando o italiano afoito ao ostracismo...

O filme contribui tanto para a lenda que se vai cristalizando sobre o "museu do Gallo" como obra de um homem só, quanto para a desmistificar: fica-se sabendo que o Jenipapo é o berço verdadeiro do Museu do Marajó e que o conflito chegou ao auge quando a fama do padre-museólogo cresceu e o museu, saindo da vila de pobres pescadores artesais; se instalou na sede do município de Santa Cruz do Arari. Mas o filme não esclarece, por exemplo, o conflito histórico entre criadores de gado e pescadores existente muito antes da criação do município (1960), célebre pela violência e o ódio de classe de parte a parte com raízes no conflito étnico-histórico original e na luta entre missionários e colonos (como o romanceiro de Dalcídio Jurandir explica cabalmente). E como Giovanni Gallo, tão perspicaz e sensível para o sofrimento do povo, não percebeu logo que estava entrando nesta mesma velha história feito cego em meio a tiroteio...

Vemos o bispo Ângelo Rivatto, alvejado em "O homem que implodiu" como o pomo da discórdia, abençoando a inauguração das novas instalações do Museu do Marajó, em Cachoeira do Arari... Faz parte da lenda a crença vulgarizada de que se credita ao padre que tudo no Museu do Marajó foi intencional e deliberado por ele. Porém a necessidade e acaso da provocação do caboco Vadiquinho, de fundamental importância na decisão do pároco de inventar o museu na vila de pescadores do Jenipapo, com o pacote de “cacos de índio”; fica patente no depoimento mesmo de Giovanni Gallo.  

Na verdade, o Gallo foi instrumento valiosíssimo e insubstituível da obra coletiva que se chama, sigficativamente, "O Nosso Museu do Marajó"... E todos coincidem no fato de que a obra está inacabada: longe daquilo que o padre sonhou e deixou escrito no prefácio de "Motivos Ornamentais": que o museu é o meio para o desenvolvimento cultural do Homem Marajoara; notado, à distância, no Rio de Janeiro e saudado com entusiasmo pelo autor comunista do magnífico romance seminal "Chove nos campos de Cachoeira"... Então, Giovanni Gallo no afã de achar um meio de cumprir com a sua impossível missão no chão de Dalcídio atirou no que viu e acertou no que não viu no feudo latifundiário?

O papel discreto, mas significativo; de Maria de Belém Menezes em aproximar o romancista Dalcídio Jurandir do padre dos vaqueiros e pescadores do Arari, bem como em romper o cordão de isolamento político que se tinha imposto para o padre não ser recebido em audiência pelo governador Jader Barbalho; fica esclarecido e identificado como principal motivo da mudança do padre e do museu de Santa Cruz para Cachoeira em uma situação dramática, posto que absurda ou surrealista. 

Pode também explicar o mal-estar entre o museu e o poder, enquanto pessoa física Giovanni Gallo era cativante e estimado por gregos e troianos. Ou seja, a "coisa" não foi propriamente contra o padre estrangeiro, mas sim contra a "mania" do padre em pisar aonde ele não sabia, de não saber onde estava deveras metido? Os fatos não enganam, além do mais que o homem que implodiu sob o peso das contradições de tempo e lugar, que ele escolheu para ficar enterrado, era daltônico. Uma tentativa de conciliar a obra perturbadora e a figura carismática do criador é proclamar no discurso de elite a genialidade do padre intelectual vocacionado para ajudar a estúpidos e ingratos e sombrear o fato dele ter tomado partido de "ladrões de gado" e encarado senhores da vontade e do voto popular indiferente às consequências. O medo e a solidão que ele sentiu à beira do suicípio não se coadunam com a legenda do herói e já a mitização pelo povo como milagroso ou reincarnação de um grande cacique marajoara renascido para fundar o Museu, reveste os acontecimento com o costumeiro manto de imaginação!

Pela voz de dona Mita sabe-se da tristeza do povo de Jenipapo ao passar em Cachoeira e se dar conta da perda de seu museu. Enfim, o “Ajuntador de Cacos” merece muitos aplausos. Ele foi lançado no dia 14 último, em Belém, no Auditório do Instituto de Artes do Pará (IAP). A produtora Lux_Amazônia Filmes realizou quatro expedições ao Marajó para registro da paisagem, ambientes e gravação de depoimento dos personagens principais da história que o próprio Giovanni Gallo definiu como “ a fase mais marcante de sua vida”. O Museu do Marajó deverá receber 100 unidades do DVD do documentário, com registros fotográficos do processo de produção e coleção de 35 DVDs com todas entrevistas colhidas para o arquivo do museu, que ficarão disponíveis a pesquisadores e documentaristas.

A história do “Ajuntador de Cacos”

“Em 1973, desembarcava na exótica e isolada ilha do Marajó, no extremo norte do país, o italiano jesuíta Giovanni Gallo, uma das personalidades mais importantes da recente história paraense. Museólogo e fotógrafo, Gallo foi um visionário empenhado em preservar a paradoxal cultura marajoara, desvendada pelo olhar estrangeiro do religioso, que viveu em meio aos vaqueiros e moradores do arquipélago até a década de 1980, experiência que culminou, entre outras dezenas de obras, na criação do Museu do Marajó, dedicado a estudos sobre os povos do local, da cerâmica indígena milenar, e da biodiversidade da ilha, registrados em um importante acervo fotográfico”.


O MUSEU DO MARAJÓ nasceu de modo informal em 1972, na cidade de Santa Cruz do Arari. Em 1984, foi instalado no prédio de antiga indústria de extração de óleo vegetal em Cachoeira do Arari, onde permanece até hoje.

 
“No nosso museu, o homem marajoara é a maior fonte de informação e ao mesmo tempo, o maior beneficiado. O museu nasce da comunidade, cresce com a comunidade e volta à comunidade. Por isso aceitamos o desafio de escolher um lugar carente de infra-estruturas essenciais: assumimos o compromisso de promover estas infra-estruturas, provocando o desenvolvimento do homem através da cultura”, defendia Gallo”.

“A intensa trajetória de Gallo ao longo de mais de três décadas no Pará é o tema do documentário “O Ajuntador de Cacos”, do diretor Paulo Miranda. O filme, com lançamento agendado para o próximo dia 14 de junho, no IAP, foi realizado com incentivo do Ministério da Cultura através da Lei Rouanet, contou com o patrocínio da Eletrobrás e apoio do Museu do Marajó. O documentário de 56 minutos de duração se ocupa em registrar parte do legado de Gallo, que se empenhou em desenvolver ações culturais e também obras de infra-estrutura na região do Marajó”.
 
Ficha técnica:
Doc, 56 min, Marajó, 2010
Direção: Paulo Miranda/ Roteiro: Paulo e Rutinéa Miranda/ Pesquisa: Lino Ramos/ Direção de fotografia: Sandro Miranda/Direção de Produção: Álvaro Andrade/Produção Executiva: Rutinéa Miranda / Produção: Lux Amazônia  Filmes
 
Obra incentivada pelo MINC através da Lei Rouanet
Patrocínio da ELETROBRÁS.
Apoio do Museu do Marajó e IAP

sexta-feira, 10 de junho de 2011

CULTURAS DE FRONTEIRA: SEBASTIANISMO NO MARAJÓ

O Glorioso São Sebastião da Cachoeira do Arari, na trilha do êxodo rural, todos anos visita a cidade grande de Belém do Grão-Pará.

 
Há dez anos, a Irmandade do Glorioso São Sebastião de Cachoeira do Arari vai a Belém do Pará levando a imagem peregrina do santo padroeiro do Marajó a fim de visitar parentes levados pelo êxodo rural à cidade grande. Em princípio, a peregrinação se inicia na primeira semana de maio e se estende até, aproximadamente, o dia 10 de junho. Costumeiramente, a comitiva cachoeirense visita mais de 100 famílias residentes na capital do Estado, além de diversos órgãos públicos e personalidades ligadas à cultura marajoara que aguardam pelo santo para prestar homenagem em preparativo à festividade de 20 de Janeiro, em Cachoeira do Arari. É extensão da secular tradição de fazendas, retiros e comunidades de campos para coleta de óbulos de sustento de cerimônia de levantamento do mastro e festividade religiosa e profana.

A ilha do Marajó, na foz do rio Amazonas, apresenta rico folclore testemunhado por diversos autores tais como Nunes Pereira, Vicente Salles, Giovanni Gallo e, muito especialmente, o romanceiro de Dalcídio Jurandir. A cultura marajoara de origem autóctone e contribuições de matriz africana, açoriana ou ibérica realizaram uma fusão peculiar iniciada nos fins do século XVII com a catequese católica levada a efeito pelos jesuítas, mercedários e frades do Carmo num processo particular imposto pelas rigorosas condições geossociais da grande ilha do delta-estuário amazônico.

Dentre a constelação de acontecimentos figura o culto popular do santo protetor de gente e animais de criação contra as pestes, soldado romano e mártir cristão cuja imagem venerada no mundo latino medieval assimilou a lenda do rei dom Sebastião e ritos da diáspora africana a partir da área cultural da Guiné na tradição dos vóduns, hoje notável no Maranhão e Pará em casas e terreiros da Mina, além da encantaria de fonte amazônica na pajelança caboca.

No município de Cachoeira do Arari-PA, a vertente do catolicismo popular preserva o culto do Glorioso São Sebastião, tombado no patrimônio cultural imaterial do Estado do Pará e em processo de registro no patrimônio cultural nacional pelo IPHAN. Pelo décimo ano consecutivo, a imagem do santo padroeiro do Marajó faz peregrinação na capital do Estado em preparação à festividade de 20 de Janeiro em Cachoeira do Arari seguindo a centenária tradição da ilha.

No arquipélago cultural lusófono, o Brasil inteiro é uma expressão viva do messianismo sebastianista, famoso pela utopia do "Quinto Império" do mundo que teve na Amazônia colonial portuguesa seu arauto máximo na figura do Padre Antônio Vieira, pacificador dos bravos guerreiros da ilha dos "Nheengaíbas" [Marajó], em 27 de agosto de 1659, no rio dos Mapuá (Breves-PA). Até então, os índios marajoaras foram inimigos hereditários dos Tupinambás buscadores do "Araquiçaua" (lugar mítico onde o sol ata rede na saga da Terra sem Mal) aliados aos colonizadores ibéricos do Maranhão e Grão-Pará; donde um notável sítio de memória se acha localizado na margem direita (Ponta de Pedras) do histórico Rio Arari.

O grupo de foliões-devotos não tem formação permanente de seus membros com objetivo de peregrinar com a imagem do Glorioso Mártir São Sebastião pelas fazendas, retiros, vilas e cidades nos campos do Marajó. Desde 2001 vai a Belém em visitação às residências de devotos que o êxodo rural tirou da ilha para ir morar na cidade grande. Durante a peregrinação alguns órgãos públicos e privados ligados à cultura também são visitados. Calculam-se em Belém algo em torno de 3.000 devotos e cerca de uma centena de residências visitadas além de Belém, incluindo Ananindeua, Marituba, Barcarena, Castanhal e Colares. 

Resumo biográfico de alguns foliões-devotos da Irmandade:

Procópio Vieira Barbosa: 62 anos de indade, nasceu na Fazenda São José, no município de Cachoeira
do Arari; é Vaqueiro de profissão e atualmente feitor da Fazenda Tucunaré. Sempre
acompanhou as ladainhas quando folias de santo passavam nas fazendas onde morava, assim aos poucos
foi aprendendo a rezar no "latim" típico marajoara e a tocar violão e viola na cantoria sacra. Pelo fato da proprietária da Fazenda Tucunaré fazer parte da Irmandade, foi se envolvendo e substituindo foliões nas apresentações. Há quatro anos acompanha como Folião a Peregrinação de Belém, chegando a ser Capitulador, ou seja Mestre Sala; por sua liderança como feitor de fazenda.

Altair Pereira Barbosa: 39 anos de indade, nasceu na cidade de Cachoeira do Arari em tradicional
família católica, é o mais jovem dos foliões, entretanto desde a idade de 26 anos sai como folião na peregrinação nos campos e há 10 anos vem a Belém. Reza ladainha, canta folia e toca tambor, também já foi Bandeireiro, tocador de triângulo e pandereiro. Pescador de profissão, em alguns momentos já atuou como Mestre Sala – Capitulador.

Rufino de Oliveira Braga: 72 anos anos de idade, nasceu na comunidade quilombola ribeirinha de
Gurupá, rio afluente da margem esquerda do Rio Arari. Extrativista de profissão aprendeu a rezar ladainha e cantar folia, acompanhando os foliões nas peregrinações do santo na sua comunidade. Integrou a primeira comitiva que participou, em 2001, a convite do grupo folclórico Arraial do Pavulagem, projeto “ ¹/4 de
Musica"
realizado no Centur. É bandeireiro e também toca triangulo. Saiu apenas um ano em toda a peregrinação dos campos e retornou para a 10ª peregrinação em Belém. Tem característica peculiar na maneira de rezar e cantar folias e ladainhas, que é chamada "retoton": contralto que torna melodiosa a cantoria sacra.

Edmundo Amaral do Nascimento: 76 anos de idade, nasceu na fazenda Mutum, próxima a
sede do município de Cachoeira do Arari. Foi vaqueiro, hoje está aposentado e se tornou pequeno
criador na agricultura familiar rural. É o que mais peregrinou com o santo. Desde a idade de 15 anos sai aos campos (completou 61 anos de peregrinação). Em Belém esteve antes
da Peregrinação inaugural de 2001, por ocasião do aniversário do então desembargador Dr.
Enivaldo Gama Ferreira, marajoara devoto de São Sebastião e de origem modesta tendo praticado profissão de vaqueiro. Mestre Edmundo acompanhou os 10 anos de perigrinação de Belém. Toca violão, reza a tradicional ladainha em latim e canta folia em retoton.

Miguel Aires Moraes: 62 anos de idade, nasceu na comunidade ribeirinha de Tarumã, no município
de Ponta de Pedras, às margens do Rio Arari, descendente de antiga família emigrante das ilhas dos Açores chegada ao Pará na metade do século XVIII. Extrativista de profissão, sua família
sempre fez recepção ao santo pela passagem na comunidade. Teve irmão que
foi folião, o que certamente influenciou seu aprendizado. Saiu por três anos em
comissão aos campos e há cinco anos peregrina em Belém. Toca violão, reza ladainha, canta e
compõe folias, por diversas vezes foi Mestre Sala – Capitulador.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

VIVA MARAJÓ

sob a benção do Glorioso São Sebastião com a folia dos devotos de Cachoeira do Arari abrindo a sessão; o Dia do Marajó de ontem no Sesc Boulevard embora não tivesse sido o de maior presença no plenário, entretanto foi o de maior número de debatedores além da novidade de transmissão de som e imagem pela internet. O tema já demorava a ser debatido, pois que o Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó (PLANO MARAJÓ) e programa Território da Cidadania; constitui o instrumento de política pública de maior importância para região desde a Adesão do Pará à Independência.

apoiado pelo Fundo Vale o programa Viva Marajó do Instituto Peabiru presta importante serviço de responsabilidade socioambiental na Amazônia Marajoara, conforme o conceito de história social esposado pelo professor doutor Agenor Sarraff Pacheco. Por feliz coincidência, a anterior diretoria do Museu do Marajó www.museudomarajo.com.br , da qual este modesto blogueiro fez parte; pediu ajuda gerencial do Instituito Peabiru.  O museu fora chamado a participar do comitê gestor e de integração dos referidos Plano e programa Território da Cidadania com função de articulação da sociedade civil.


desde o decreto presidencial, em 2006, criando o grupo interministerial de acompanhamento de ações públicas no Marajó na Casa Civil (GEI Marajó) que resultou no Plano (2007) e programa Território da Cidadania (2008) até hoje, já rolou muita água pela foz do Pará-Amazonas e a impressão que se tem é da fragilidade da sociedade civil e a quase displicência com que o poder público (governos federal e estadual e os 16 municípios) trata deste assunto verdadeiro estratégico, não apenas para o Marajó mas para toda a região norte do nosso país.


portanto, ressalta a oportunidade para se intensificar a participação de ações de responsabilidade socioambiental do maior grupo multinacional com atuação na região, através do Fundo Vale e a oscip Instituto Peabiru, na articulação e revigoramento da sociedade civil no PLANO MARAJÓ / programa Território da Cidadania.

o Dia do Marajó de ontem demonstrou claramente que, depois cinco anos, o público ainda conhece muito pouco a respeito da origem da demanda dos Bispos do Marajó (documento da igreja católica em 1999 e reuniões no Palácio do Planalto em 2006), Carta S.O.S Arari (2003) sobre a preservação da Cultura Marajoara e Moção de Muaná (2003) solicitando a Reserva da Biosfera Marajó dentre outras demandas parcialmente atendidas e/ou em vias de atendimento: tais como obras emergenciais, controle da malária e regularização fundiária.


não se pode dizer que falta transparência, pois os dados e informações gerais estão à disposição dos interessados. Mas se pode dizer que falta interesse da sociedade envolvente (no caso Belém, cuja mídia se tem limitado a publicar algumas notícias desconectadas do todo) e comunicação social à altura da importância estratégica do Plano. Cujos maiores interessados seriam, obviamente, as 500 e tantas comunidades locais do dito Território da Cidadania.


não se pode deixar desacelerar o PLANO MARAJÓ! Para isto está claro que o objetivo maior do mesmo é o "desenvolvimento territorial sustentável do Arquipélago"... As "ilhas" do Marajó são mais do que a geografia física apresenta. Disto Belém não entende plenamente e Brasília fica longe para procurar saber. Quem, então, além dos próprios marajoaras deveria se esforçar por integrar os 16 municípios ilhados em um verdadeiro território-cidadão?


via internet, ouviu-se falar que o "Plano" (2007-2010) ainda não passa de um quadro sintético onde figuram ou deveriam figurar todas ações públicas (federal, estadual e municipais) previstas para execução na mesorregião. O que é verdade. Mas, considerando o antes foi um progresso enorme.


o problema que agora se apresenta, como também foi dito corretamente, seria considerar o Plano por "concluído" sem bilhete e sem foguete como diz a canção. Quando na verdade deve - com a maior urgência - entrar no PPA (2011-2014) com previsão não só de custeio mas de efetivos investimentos. Ora, como isto poderá ser feito com as sérias deficiências de comunicação e integração existentes?


muito judiciosas as queixas e advertências que se ouviram da parte de representantes da comunidade sobre a pletora de pesquisas que não consultam as comunidades nem retornam para o povo. Estranhamente, uma das maiores urgências que é a comunicação social não se fala: quando afinal o Plano Nacional de Banda Larga irá chegar a todas comunidades das ilhas do Pará-Amapá?
Quando a integração interministerial (motivação do GEI-Marajó) vai funcionar efetivamente no Território? As respostas não se hão de esperar de fora. Mas, pelo contrário, são os mesmos municípios por suas coletividades que devem colocar em prática o consórcio intermunicipal no papel. 


por outra parte, o governo estadual através da Secretaria de Estado de Integração Regional (SEIR), que deveria ser a instância mais inovadora a fazer do PLANO MARAJÓ um "case" de sucesso ficou muito aquém do esperado e agora ainda não demonstrou vontade política para recuperar o tempo perdido, considerando que a maior promessa do processo marajoara deveria ser, justamente, a territorialidade supramunicipal e a impessoalidade das ações.


mais complicado do que a apatia dos municípios congregados na desmotivada AMAM e da falta de criatividade estadual, parece ser a área federal com suas fronteiras inter institucionais. Cada autoridade preocupada com a própria competência em dificuldade de interagir e integrar com a outra, passando o discurso da tranversalidade para a prática. Claro, isto não se faz por decreto e nem do dia para noite: são séculos de feudos e ilhas a ser transformados em mundo "sem fronteiras"... Só uma cultura pública poderá fazer tal revolução. 

Pior que tudo, para esta integração desejada acontecer de fato, a dependência do Plano a terceiro ou quarto escalão de Brasília, quando mais perto em Belém delegações e representações ministériais deviam ter "carta branca" para agilizar as ações que a boa gente marajoara espera há tanto tempo. Algo que não se entendeu, depois de instituído o Plano, foi o fato da SUDAM não ter ficado encarregada de coordenar regionalmente o instrumento que, por várias vezes, foi mencionado como piloto do Plano Amazônia Sustentável (PAS). Poderia ser doravante?


para os cabocos há muitas perguntas sem respostas.
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http://vivamarajo.org.br/pages/vma_oproj_peabiru