sábado, 7 de setembro de 2013

HIDROVIA DO MARAJÓ VS. ECOVIA TRANSMARAJOARA

Foto: Na subida do mar, o Marajó que flutua no inverno, navegará, vejam a sua desaltitude – e os arrozeiros terão seus arrozais salinizados
Amazônia Marajoara, ocupando a cabeça iluminista da tecnoburocracia do Brazil, é uma "ilha" com IDH de fazer corar um frade de pedra... Na realidade, trata-se duma região equatorial complexa no delta-estuário da maior bacia fluvial do planeta reunindo grande parte continental (microrregião de Portel) e 2500 ilhas e ilhotas repartidas entre as três microrregiões Arari, Breves e Portel com um população total equivalente a do Suriname e território do tamanho de Portugal, por exemplo. Localizado geograficamente entre as Amazônias verde e azul, Marajó é berço da primeira sociedade pré-colombiana complexa da Amazônia e o lugar original da mundialmente conhecida arte primeva do Brasil - a Cultura Marajoara -, de mais de 1000 anos de idade. É pouco ou querem mais, para esta região ter lugar de destaque nas mais altas decisões políticas de Belém e Brasília?


CAMINHOS DE RIO E MAR:
ÁGUAS EMENDADAS DO BRASIL E PORTUGAL


Duas mentalidades se confrontam no mundo hoje em dia. De uma parte, a ideia iluminista de progresso que é fruto da mundialização da produção e do comércio de mercadorias e de outra a compreensão dos limites do crescimento dos meios de produção e consumo. Esta última vem sendo debatida recentemente a partir dos anos 70, com nome de desenvolvimento sustentável. O que significa a busca da economia com justiça social e conservação do meio ambiente. Evidentemente, as três grandes revoluções (industrial a partir da Inglaterra; política na França e proletária na Rússia) modelaram o mundo moderno e geraram contradições que hoje se espelham na profunda crise atual. 

O primeiro mundo, constituído pelos países capitalistas; confrontou até a queda do muro de Berlim, o segundo mundo representado pelos países da Europa oriental polarizados pela ex-URSS. E o resto ficou sendo terceiro mundo, mais ou menos alinhados com um daqueles dois blocos antagônicos ou ditos não-alinhados que procuravam fugir à dependência aos Estados Unidos ou à União Soviética. Tal antagonismo entre dois sistemas levou à Guerra Fria e mesmo após o mundo bipolar ainda hoje sente-se suas sequelas por toda parte, inclusive no Brasil pós-ditadura de 1964 e desigual apesar da democracia de 1988.

Numa região ultraperiférica como Marajó, por referência, podemos ver nas discussões sobre projeto de hidrovia o confronto entre os dois modos divergentes de pensar e promover o desenvolvimento territorial. Mas a análise do assunto requer digressão, de maneira a compreender diferenças históricas fundamentais do empoderamento das regiões por seu próprio povo ou a conquista do espaço geográfico por nações distantes e mais desenvolvidas tecnologicamente.

Já foi dito que a geografia serve para fazer a guerra: mas se espera o dia que, sendo instrumento da verdade, a história venha servir à paz. Por enquanto não se deve confundir historiografia, pois quem conta um conto aumenta um ponto; com História que é estudo no campo das ciências do Homem.

Sem a "União Ibérica" (1580-1640) e o sebastianismo não teria cabimento falar do Maranhão e Grão-Pará e nunca teria existido uma Amazônia lusitana sucedida pela Amazônia brasileira, esta última há apenas 190 anos. O mais importante disto tudo hoje é tomar consciência desta nossa amazonidade nascida das profundas águas emendadas da história do Brasil pré-colonial e Portugal além mar. Sem índios, pretos, mamelucos, mulatos, cabocos e outras bravas gentes brasileiras a Amazônia não seria jamais portuguesa nem brasileira. Com isto nós não estamos renegando nossos colonizadores brancos, pois que eles são parte predominante da realidade a que a região chegou nos dias de hoje. Mas, simplesmente, constatando o fato de que na história do Brasil que se apresenta, o estado europeu precedeu a sociedade mestiça ora emergente. 

Entretanto, doravante embora o estado continue a ter papel específico indispensável é a sociedade que passa a comandar a história. Naturalmente, as sociedades de maior desenvolvimento humano tem maiores chances de submeter as de menor desenvolvimento relativo. E o baixo IDH das regiões ultraperiféricas não acontece por fatalidade.

Na realidade, somos obrigados a recuperar a memória dos começos do mundo se nós quisermos contextualizar os acontecimentos e entender o estado das coisas nas diversas regiões da Terra. O caso do mísero IDH do Marajó, por exemplo. Seu processo histórico de marginalização das populações nativas e as várias receitas iluministas para o desenvolvimento, desde a bisonha capitania hereditária da Ilha Grande de Joanes (1665) com as suas sesmarias à revelia de direitos territoriais e identitários das populações indígenas e o malfadado Diretório dos Índios (1757-1798), pavimentado de boas intenções como a estrada da colonização para o inferno verde.

Na Amazônia colonizada manus militare sob disfarce da civilização da velha terra dos Tapuias, o inacreditável teatro da paz entre nações indígenas Nheengaíba e Tupinambá, mediante concurso da Sociedade de Jesus em seu papel de tutela dos índios ou missão delegada pelo rei de Portugal, de acordo com o direito de Padroado outorgado pela Santa Sé e a lei de "abolição" do cativeiro de "negros da terra" (1655). Eis o sentido jurídico que se deve dar nos dias de hoje à celebrada pax do dia 27 de agosto de 1659, ocorrida no rio dos Mapuá; conforme carta-relatório do Padre Antônio Vieira à regência do reino de Portugal, datada de Belém do Pará em 11 de fevereiro de 1660. 

Uma fonte histórica capital - geograficamente inclusiva, reconhecendo a autonomia deliberativa de federação de povos indígenas da Amazônia -, para ainda mais fundamentar a tese de uti possidetis real, defendida por Alexandre de Gusmão e reconhecida no Tratado de Madri de 1750 e mais instrumentos diplomáticos que consolidam a doutrina territorial brasileira, a par da célebre viagem de Pedro Teixeira e outras conquistas dos portugueses ou em nome da coroa de Portugal, ao longo do Amazonas e seus tributários.

Porém, o extraordinário acordo entre caciques indígenas e autoridades portugueses legalmente constituídas, selando a paz a cabo de uma guerra de 40 anos e afastando concorrentes estrangeiros na foz do grande rio cobiçado como caminho fluvial às minas do Peru, ainda resta à margem da História e fora de interesse acadêmico até o momento. Em plena democracia moderna e proclamada política de integração nacional coroada

Neste caso, se a notícia historiográfica claudica, a geografia humana comprova de fato o fim de 44 anos de guerra entre os lusitanos e seus concorrentes estrangeiros, desde a tomada do Maranhão e Grão-Pará aos franceses pelos portugueses e a expulsão dos holandeses e ingleses do Xingu e Baixo-Amazonas (1623-1647), sob amparo de arcos e remos tupinambás; até a pacificação geral da "ilha dos Nheengaíbas" [Marajó] e fundação das aldeias de Aricará (depois Melgaço) e Aracaru (Portel) governadas pela missão dos jesuítas no Pará.

Ora, sabemos que a construção territorial das regiões amazônicas foi feita pelos caminhos das águas. Que os caminhos marítimos, até que a Inglaterra se fizesse rainha dos mares, começou com os portugueses se lançando à conquista do antigo Mar-Oceano. E que o descobrimento da América pelos espanhóis colocou Portugal em pé de guerra. Somente evitada pelas negociações entre as duas monarquias ibéricas para repartir o mundo em duas porções, por um meridiano a 370 léguas a oeste de Cabo Verde. Esta linha, segundo o Tratado de Tordesilhas (1494) homologado pelo papa Alexandre VI e contestado pelo rei da França, Francisco I, como o "testamento de Adão"; jamais foi demarcada. 

Todavia, admite-se geralmente que passaria sobre Belém do Pará e Laguna (Santa Catarina). Obedecendo as determinações de Tordesilhas, a posse portuguesa na Amazônia não devia ultrapassar um palmo a oeste além da chamada "Costa-Fronteira do Pará" (litoral ocidental da baía do Marajó). Um fato que pesou na geopolítica de Castela para o "rio das Amazonas" e que explica a relutância dos castelhanos para expulsar os holandeses e ingleses que, através das Guianas, haviam penetrado até Gurupatuba (Monte Alegre) e Xingu com feitorias, desde fins do século XVI. 

Praticando comércio de escambo e fazendo amizade com os índios do Amapá e ilhas do Amazonas e Pará esses mercadores hereges (protestantes) adotavam uma tática pacífica de ocupação do território ao contrário de espanhóis e portugueses fiados em seus títulos homologados pelo Papa, fato que torna em escândalo a expulsão dos chamados hereges por poucos, mas violentos portugueses. Se não houvesse outras explicações além da teoria do "milagre" de Santo Antônio para tomada de Mariocai (Gurupá).

O historiador Arthur Cezar Ferreira Reis consagrou dois alentados tomos para sua história das fronteiras internacionais da Amazônia. Os fatos relacionados à conquista do Marajó ("Costa-Fronteira do Pará") recheados de notas de pé de página consumiram boa parte de papel e tinta... Fica patente nessa obra que sem canoas, víveres, remos e arcos dos guerreiros Tupinambás aldeados, principalmente, em Camutá-Tapera (Cametá) e senhores de todo Baixo Tocantins não haveria milagre para expulsar holandeses e ingleses de seus estabelecimentos, em franca camaradagem com aguerridos índios insulanos (Nuaruaques), chamados genericamente Nheengaíbas.

Então, há ainda qualquer coisa mal explicada na historiografia luso-brasileira sobre a conquista lusitana do rio das Amazonas... Algo que a geografia do delta-estuário, coalhado de milhares de ilhas no maior arquipélago fluviomarinho do mundo, esconde. Por exemplo, o relato do mameluco Diogo Nunes, de 1530 - antes de Francisco Orellana (1542), portanto - informa uma impressionante migração de 14 mil tupinambás saídos de Pernambuco pelo sertão e que estes chegaram com mulheres e crianças até o alto Amazonas, na Amazônia peruana. 

Como isto poderia acontecer sem antes passar pelo Tocantins e chegar ao Pará para depois subir o Amazonas? É preciso ler Florestan Fernandes e outros, sobre a religião dos Tupinambá, para perceber que a passagem pelas águas amazônicas não poderia decorrer sem muita luta e sangue derramado. Por fim, um ódio hereditário entre as principais nações indígenas oponentes...

Que foram lá fazer no Alto Amazonas esta andeja gente saída um dia da região do Chaco, entre a Bolívia e o Paraguai, para o litoral do Brasil? Por que os caraíbas tupinambás, que foram inimigos irreconciliáveis dos portugueses até a altura de Jaguaribe (Ceará); passaram ao partido português abandonando seus velhos camaradas franceses no Maranhão? Como explicar que a vingança sendo traço principal da cultura tupinambá, a desmedida represália com mortes e cativeiro ao levante geral dos índios, em 1619, entre o Maranhão e o Pará não tenha sido obstáculo ao recrutamento de guerra para expulsar os holandeses, os quais sem nenhum histórico de conflito com os Tupinambá até então? Também há de chamar atenção o fato do capitão Pedro Teixeira ser um dos mais notáveis chefes da carnificina em castigo aos tupinambás que, sob comando de Guaimiaba (Cabelo de Velha), atacaram o Forte do Presépio, em 7 de janeiro de 1619; ter cometido a célebre entrada de descobrimento do rio Amazonas à frente de 1.200 índios de arco e remo desta nação, indo e voltando de Belém do Pará a Quito (Equador), entre os anos de 1637 a 1639. Que dizer do comportamento apático destes outrora valentes guerreiros, após o regresso da última aventura aos confins do rio chamado das Amazonas e Restauração do reino de Portugal?  Será que eles, tendo notícias das migrações precursoras ao Alto Amazonas, reduzidas à escravidão em mãos dos espanhóis no Peru, se desenganaram por fim da utópica Terra sem Mal?

Quase vinte anos depois da restauração da independência de Portugal, ocorrida em 1640, o Bom Selvagem esgotado de tantas guerras de conquista na velha terra dos Tapuias, catequizado, escravizado e dizimado pelas epidemias, era uma sombra do que fora no passado. Já não podia mais nada. 

E a hora da vingança dos Nheengaíbas soou com o canto da saracura na reponta da maré histórica: o suposto discurso do cacique Piié dos Mapuá pela pena retórica de Vieira reflete bem o espírito orgulhoso dos invencíveis índios insulanos confiados da fortaleza natural da sua ilha grande recortada de meandros invioláveis aos estranhos... A proposta de paz oferecida, como Vieira deixou expresso, é antes que tudo uma prova da impossibilidade de ganhar a guerra aos bárbaros com os combalidos "índios cristãos" (eufemismo para tupinambá catecúmeno). 

Portanto, ao contrário do que o confessor da rainha escreveu, a rápida aceitação das pazes de Mapuá (Breves) e juramento de vassalagem ao rei de Portugal, que aliás Piié - mais ladino de todos caciques Nheengaíbas não jurou, segundo Vieira -; não teria sido entendida exatamente como proteção que os Padres poderiam garantir (como não garantiram, posto que expulsos pelos colonos, em 1661), mas antes uma chance de reconquista de território perdido na Terra Firme face ao poderoso inimigo caraíba tupi antropófago e, desde as ditas pazes, "compadres". O fato é que apesar de tudo os Nheengaíbas não arredaram pé da banda continental de Portel, com as aldeias de Aricará (Melgaço) e Aracaru (Portel) como seus postos avançados.

Sem perda de tempo, os nheengaíbas pacificados seguiram os jesuítas e logo se estabeleceram, tal qual como numa aguardada reconquista de territórios onde hoje estão as cidades de Melgaço (esta antiga aldeia de Aricará, de 354 anos; viria a ser hoje o pior IDHM do Brasil) e Portel, capital do Marajó continental. 

Fariam isto os bárbaro falantes da "língua ruim" por simples convite e promessa evangélica da salvação de suas almas pelos missionários? Ou, sofregamente, eles aceitaram o chamado do Padre grande através de dois "embaixadores" da mesma etnia, que no cativeiro da Cidade do Pará aprenderam a língua e as manhas do inimigo, por que o chamado coincidia com um longo desejo de reocupar a Terra Firme ambicionada pelos seus ancestrais? 

Por acaso, um século depois da iludida pax de Mapuá os Aruãs - eles mesmos tendo sido vítimas, provavelmente, do espanhol Vicente Pinzón que, em 1500, levou da ilha "Marinatambalo" [Marajó] os primeiros índios escravos da América do Sul - assaltavam aldeias de índios mansos ("negros da terra") dos portugueses, cerca de 1723. E os trocavam, segundo costume de escambo que perdurou na Amazônia até metade do século XVIII, por armas e munições com traficantes franceses a fim de sustentar a velha guerra contra os velhos inimigos hereditários seus antigos captores para o cativeiro do Grão-Pará até os arredores de Belém. Et pour cause roubamos o café de Caiena, que por sua vez o havia roubado da Guiana holandesa; para riqueza dos cafezais de São Paulo... 

E não se ouviu mais falar de crise entre a igreja e o governo colonial na Guiana francesa, quando os padres negaram lá o santo sacramento ao governador e sua esposa durante a Páscoa, devido este ter autorizado sequestro de índios aruãs refugiados no porto de Caiena para ser vendidos como escravos a "plantations" de cana de açúcar nas Antilhas. Na mesma época havia saido do Pará a tropa de guarda-costa em captura dos índios bandoleiros, desertores e escravos. E até hoje o trabalho escravo continua invicto na Amazônia, mas do outro lado da fronteira do Oiapoque nos veio o ideal republicano de abolição da escravidão que antecipou, anos depois, o contrabando de uísque, sandálias japonesas, automóvel "cotia" e ritmos do Caribe que se fizem brega, a troco de café vindo de São Paulo... Que ironia da história! 

Algo do passado colonial longínquo permanece na modernização conservadora desta periferia da Periferia. E já foi dito que a história acontece primeiramente como tragédia e depois se repete como farsa.





O Sol, que no passado distante do mito da Terra sem Mal atraiu guerreiros Tupinambás à conquista do rio das Amazonas seguindo o lugar do Araquiçaua (onde o sol adormece), localizado no Baixo Arari, é visto na foto na paisagem adormecida do Anajás-Mirim: "furo" de suma importância no regime hídrico da ilha do Marajó ligando o Anajás Grande ao lago Arari e rio histórico de mesmo nome. A conexão entre rios é do mais antigo conhecimento das populações tradicionais marajoaras, conforme atestam documentos dos séculos XVII até fins do XIX e estudos antropológicos do século XX. Neste labirinto aquaviário, há 5000 mil anos, perambularam nômades em busca de piracema e caça nos campos alagados, donde teve nascimento a Cultura Marajoara que hoje se acha em fase terminal e o possível reconhecimento como Reserva da Biosfera (à exemplo do Pantanal e da Amazônia Central), daria sentido ao até agora inútil discurso do Desenvolvimento Sustentável da Amazônia e ao cabuloso PLANO MARAJÓ contaminado já pela paralisia infantil da APA-Marajó (ver § 2º, VI, Art. 13, da Constituição do Estado do Pará).


TEORIA DA COBRA GRANDE
OU DIFERENÇAS ENTRE ECOVIA E CANAL ARTIFICIAL

Que rende mais e melhor para uma sociedade local empobrecida: construção de canal artificial para transporte de carga pesada em barcaças ou aproveitamento de rios na navegação e comércio regional associada à indústria do turismo? A resposta não é óbvia. Pois depende de análise de múltiplos fatores implicados às atividades econômicas em questão.

No curto prazo, contabilizados os lucros de investimentos privados e provável retorno em impostos para cobrir o dinheiro público aplicado em infraestrutura; talvez os números pendam a favor da controvertida construção de hidrovias na Amazônia.  Porém, no longo prazo é certo que outras alternativas, conservando a natureza, respeitando os direitos humanos das populações locais e promovendo o desenvolvimento territorial sustentável são muito mais interessantes sobretudo para incremento do IDH da região.

No caso específico da ilha do Marajó, teoricamente a fim de baixar o preço das mercadorias na praça de Macapá, importadas através do porto de Belém e exportar minérios do Amapá a ser reembarcados em navios graneleiros em novo terminal exportador minero-granaleiro a ser construído em Espardate (Curuçá), na barra do Pará, o que o projeto de hidrovia pretende é o rebaixamento de custos de fretes entre centros de produção ou extração de matéria-prima e mercados de transformação de consumo.

A alegação do suposto benefício de pobres moradores vivendo isolados em comunidades e fazendas nos centros da ilha é uma balela alimentada pela conversa para boi dormir dos lobistas da hidrovia. Começa que, se a hipótese fosse verdadeira, as populações das margens de Breves viveriam hoje em boas condições: visto que ali precisamente funciona noite e dia uma "hidrovia" que nunca precisou dragar um único centímetro cúbico de terra, pois a draga natural é a famosa "cobra grande". 

Mas, o povo da microrregião de Furos de Breves é o que mais padece dos males da prostituição infantil e exploração da pobreza causada entre outras coisas pela passagem de grandes balsas entre a Zona Franca de Manaus e o porto de Belém com transbordo de mercadorias semi-acabadas para carretas com destino a São Paulo. Parte delas volta pelo mesmo caminho para o varejo de aparelhos de TV e outros produtos eletrônicos consumidos na região e que dão emprego e renda em lugares longe da "hidrovia" de Breves.

Esta conhecida via de navegação fluvial também serve ao transporte de carga e passageiros entre Macapá e Belém. Enquanto o projeto de hidrovia pelos centros da ilha do Marajó, abrindo canal artificial de mais de 30 km de comprimento entre os rios Atuá e Anajás, teria por objetivo baratear custo de frete neste trecho passando pelo porto de Breves. Todavia aí também se pode questionar o projeto, posto que a relação custo/benefício do novo trajeto não encontra justificativa econômica bastante para compensar os impactos ecológicos e sociais inevitáveis de construção de um tal canal de navegação. 

Então, na verdade, a quem interessa a hidrovia do Marajó? Evidentemente ao lobby das construtoras e companhias de dragagem. Feita a coisa assim numa geologia singular se estaria inaugurando mina inesgotável de reformas e reconstruções. É precisa saber a hidrologia da grande ilha do estuário amazônico e a história dos portos e canais do Marajó para não se meter a defender afoitamente a tal hidrovia.

Se a pressa mercantil que anima promotores da infeliz hidrovia der lugar a um verdadeiro EIA/RIMA contemplando alternativas, podemos estar certos de que, antes de mais nada; há de se cogitar projeto integral de portos e vias naturais de navegação na ilha do Marajó permitindo ligação multimodal de transportes de margem a margem do golfão marajoara. Sobretudo dentro do projeto de criação da Universidade Federal do Marajó (UnM) será preciso prever um centro de hidrologia e hidrografia. Com esta prudencial medida já se estará gerando emprego e renda de qualidade, ao contrário da propaganda de mercador do agronegócio promento salário-mínimo a meia dúzia de famílias carentes ara sair dizendo que contribui à melhoria do IDH da gente marajoara.

E o mais curioso da história da hidrovia é que já existe, há muito tempo, comunicação fluvial entre as cidades de Belém e Macapá através dos rios Arari e Anajás. Todavia, com o assoreamento que fez sumir a "cachoeira" (queda d'agua no verão) do Arari e a erosão das margens devido ao deflorestamento da mata ciliar esta antiga navegação foi dificultada. E o fenômeno de colmatagem do lago Arari reduziu a capacidade de reservatório das água da chuva, favorecendo também o ressecamento do furo Anajás-Mirim, a partir do começo do verão diminuindo tempo de crescimento dos peixes e interrompendo o trânsito de embarcações para o Anajás Grande em direção a Afuá e o restante da costa norte com conexão a Macapá.

Lógico, portanto, que o foco de discussão sobre este tema deveria começar com objetivo de estudar projeto de largo alcance a partir da Perenização do lago Arari e sua íntima ligação com a pesca artesanal no Anajás-Mirim, de acordo com as observações pontuais, por exemplo, de Giovanni Gallo no livro-reportagem "Marajó, a ditadura da água". Claro que o padre dos pescadores de Jenipapo não era um especialista, mas tendo aprendido, humildemente, com os pescadores lacustres ele coletou informações preciosas. E inventou um ecomuseu capaz de atrair turistas inteligentes para uma indústria criativa com base na comunidade. Além dele, outros diletantes como Raymundo de Moraes, em "O homem do Pacoval", Ferreira Penna, em "Algumas palavras da língua dos índios Aruans", José Ferreira Teixeira em "O Arquipélago de Marajó" e João Viana no romance "Fazenda Aparecida" oferecem uma gama de informações que o visitante da Amazônia Marajoara adoraria saber: sem esquecer a farta produção acadêmica com nomes de peso como Anna Roosevelt, Denise Schaan, o romanceiro de Dalcídio Jurandir, para leitores viajantes mais exigentes.

Na verdade, quando se fala de uma Ecovia Transmarajoara interligada a Belém e Macapá, se está pensando em fazer valer o que diz a Constituição do Estado do Pará, expressamente, em relação à vocação econômica do Arquipélago do Marajó. E o discurso do Turismo no dito maior aquipélago fluviomarinho do mundo, para o que o programa multilateral "O Homem e a Biosfera" (MaB), da UNESCO, muito poderia colaborar para transformar declarações a favor do desenvolvimento sustentável em realidade. Então, um corredor ecoturístico integrando a área cultural guianense (Amapá e Marajó) à área metropolitana de Belém faria sentido.

No verão amazônico de 1783, o sábio da "Viagem Philosophica", Alexandre Rodrigues Ferreira, diz ter ouvido de um índio no rio Arari a "teoria galante" das muitas cobras grandes e pequenas que, no começo dos tempos, abriram os rios e igarapés da ilha do Marajó. No começo, diz o índio (cf. "Notícia Histórica da Ilha Grande de Joanes, ou Marajó", 1783), existiam incontáveis cobras nos lagos do centro da ilha. 

Então, sucedeu um verão como nunca dantes e o desconforme sol secou a última gota de água. As ditas cobras entraram a se contorcer e buscar o mar rompendo a terra ainda mole e foram elas abrindo caminho à força até encontrar águas profundas: por isto, tantas curvas e meandros dos rios do Marajó. As cobras grandes fizeram os rios e as menores os igarapés... 

Ademais, o fenômeno natural que os índios percebiam e descreviam a seu modo; modernos engenheiros e geógrafos custam a entender como pondera em seu livro "Marajó, a ditadura da água", o padre Giovanni Gallo: o fato da geomorfologia da "ilha" grande (50 mil km², aproximadamente, maior que os Países Baixos, por exemplo) fazer daquela ilha um enorme prato de argila com as bordas de pedras e praias de areia elevadas.  

Por isto, as margens da ilha grande - que, na verdade, é arquipélago dentro de arquipélago -; funcionam como diques naturais. O rio Anajás Grande é a calha central do sistema hidrográfico e ecológico da zona de transição entre microrregiões de Campos e Matas. Ele constitui caminho aquaviário interligando a costa norte com a baía da Vieira Grande, na foz do rio Amazonas; e a antiga "Costa-Fronteira do Pará" através do "furo" Anajás-Mirim e o rio Arari. Pela sua parte oeste o Anajás reparte águas com a região de Furos de Breves, através do Aramá e outros furos. A leste os tributários Mocoões e Cururu levam em direção a Contracosta. E pela parte sul da ilha-arquipélago as águas se emendam, desde o famoso lago Arari, tendo peculiaridade de formar corrente à montante, por gravidade, no começo do inverno recebe águas que descem dos campos-gerais pela calha no Anajás-Mirim, até extravassar e finalmente inverter a corrente em direção ao Baixo Arari para desembocar na baía do Marajó e lutar com o fluxo e refluxo da maré.

O rio Anajás-Mirim é via natural e tradicional de passagem entre as bacias do Arari e Anajás Grande. Caminho escondido de guerreiros Aruãs e seus próximos parentes Anajás e Mapuás, os quais à frente de uma confederação chamada "Nheengaíba" ("língua ruím" por oposição à boa língua ou Nheengatu), conforme velho costume dos povos originais de cultura Aruak desde o berço ancestral no Rio Negro até as ilhas do Caribe e as Guianas, aprenderam a resistir e se defender frente a inimigos comuns elegendo cacique para as necessidades da guerra. Eis uma entre outras razões para manter este rio fechado à curiosidade dos primeiros conquistadores da região.

Claro está, que a arqueologia marajoara testada com métodos do carbono 14 e os primeiros relatos historiográficos entre os séculos XVII e XVIII, começaram a fazer sentido à luz das descobertas do século XIX e, mais precisamente, com a antropologia da primeira metade do século XX. Trata-se, portanto de um descobrimento tardio.


Onde carece diálogo vige uma rixa antiga

Destas águas emendadas e e projetos de canais artificiais fala o Barão de Marajó em seu clássico "As Regiões Amazônicas" em capítulo especial sobre Marajó. Embora o Barão faça parte de uma elite em companhia de Tavares Bastos e outros, que viu antecipadamente que a monocultura extrativista da borracha (Hevea brasiliensis) não poderia ter sustentabilidade a longo prazo; foi ele entusiasta declarado da "indústria pecuária" na ilha do Marajó. De tal modo que poderia hoje disputar com Vicente Chermont de Miranda título de patrono do desenvolvimento desta região-chave da Amazônia.

Mas não se entenda que o desenvolvimento professado pelo Barão de Marajó ou pelo estudioso Vicente Chermont pudesse agora ser comparado ao paradigma que ultimamente se propaga desde Estocolmo, em 1972, repercutindo nas conferências mundiais Eco-92 e Rio+20. Nada disto, ao contrário eles representaram na linha do tempo o pensamento iluminista das "viagens filosóficas" e tiveram em Marajó antecessores como o inspetor Florentino da Silveira Frade (provável autor do primeiro relato biogeográfico sobre Marajó, a "Notícia da Ilha Grande de Joanes", publicada como autoria anônima, cerca de 1754), guia de viagem do autor de a "Notícia Histórica" (1783), o sábio de Coimbra Alexandre Rodrigues Ferreira, e este último que se tornou referência nos estudos amazônicos.

Ferreira concluiu sua notícia histórica, primeiro capítulo da monumental "Viagem Philosophica", dizendo que o rio Anajás (entenda-se, rio dos Anajás, o povo dos Nheengaíbas, a par dos Aruãs dos mais temidos pelos portugueses) era a "menina dos olhos" do inspetor Florentino, fundador da freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Cachoeira do rio Arari (1747) e descobridor da Contracosta, desde o lago Arari com o rio das Tartarugas (hoje canal Tartarugas). Segundo Alexandre Ferreira, foi Florentino Frade quem achou o primeiro teso (sítio arqueológico) que se teve notícia no Pará, o célebre Pacoval do rio Arari, no dia 20 de novembro de 1756. Fato que deveria ser memorizado pelo que foi, é ou ainda poderá vir ser. 

Lembrando que deste teso saíram as primeiras coleções do Museu Nacional, do Museu Paraense Emilio Goeldi e ainda foram parar peças de cerâmica marajoara em Chicago (EUA), para exposição etnológica mundial em fins do século XIX. Além destas ricas coleções mandadas embora sem lenço nem documento, do Pacoval arrombado sobraram-nos os "cacos de índio" que, provavelmente, foram aqueles do início de acervo do primeiro ecomuseu da Amazônia e quiçá do Brasil: O Nosso Museu do Marajó, em Santa Cruz do Arari, no ano de 1972. Dez anos depois transferido para Cachoeira do Arari em meio à discórdia profunda entre seu criador e o poder político local e eclesiástico da Diocese católica de Ponta de Pedras (cf. Giovanni Gallo, "O homem que implodiu"). 

A nova revolução industrial, para alguns pós-industrial; está na contramão do desenvolvimento vislumbrando pelas antigas viagens filosóficas (ver José Varella Pereira, ensaio "Novíssima Viagem Filosófica", em REVISTA IBERIANA: Secult, Belém, 1999), que tiveram no Barão de Marajó e em Vicente Chermont de Miranda dois proeminentes defensores da "industria pecuária", inaugurada em 1680 no rio Arari, enfrentando o perigo dos índios bravios, desertores e escravos fugidos que existiam "pelos centros da ilha". Leia-se, quilombos no rio dos Anajás: última fronteira dos Nheengaíbas... 

Que poderia fazer destes dados um marquetingue de turismo inteligente? Como aeroportos regionais em Afuá, Breves e Soure poderiam fomentar o turismo receptivo em conexão com Belém e Macapá? E como a indústria naval em madeira poderia ter sobrevida nos chamados "municípios verdes" participantes de programa de fomento turístico integrado a rede de hotéis-fazenda, pousadas e comunidades tradicionais? A saúde pública como agir nestas circunstâncias tanto para atendimento da população nativa quando para socorro de emergência a turistas?

O Barão, ademais, foi pioneiro na abertura do primeiro canal artificial para interligação dos rios Marajó-Açu e Arari, através do rio Carapanaoca ou Igarapé Puca. Este canal foi aberto a braços escravos e se chama hoje Rio Canal, notável na memória popular pelo desastre em que morreram soterrados alguns escravos empregados na obra e cujo local ficou sendo as Terras Caídas. Com este desvio das águas foram encurtadas as viagens entre as vilas de Cachoeira e Ponta de Pedras, antes com grande demora pelas cabeceiras do Arapiranga, na bacia do Marajó-Açu e o igarapé Moirim, saindo no Arari. Caminho dos Aruã entre a Contracosta da "ilha" e o rio Guamá nas ilhargas de Belém, atravessando a baía rumo ao Caripi ou o Carnapijó (Caraípijó).

Obrigações da velha guerra das tribos do Grão-Pará que, inclusive, já em 1723 determinou o furto do café de Caiena pelo sargento-mor Francisco de Melo Palheta mandado ao encalço do cacique bandoleiro dos Aruã e Mexiana, Guaiamã; o qual teria dado nome ao rio Guamá (cf. Armando Levi Cardoso, "Toponímia Brasílica"). O nome "Guamá" figura na histórica resistência indígena no Caribe aos conquistadores, na ilha de Cuba, como um sucessor do legendário Hatuey, chefe dos Tainos do Haiti. 

Mera coincidência? Mas, os Aruã se apresentam em Marajó cerca do ano de 1300, quando a Cultura Marajoara havia se desenvolvido desde o ano 400. Eles vieram da costa das Guianas e se sabe que a ilha de Trindad (Trinidad e Tobago) foi ponto de travessia das Antilhas para o continente...

Não se sabe quem foram os inventores da Cultura Marajoara. Entretanto os Iona (Joanes) ou Sacaca se queixavam dos Aruã conforme relatou o índio Severino dos Santos, sargento mor da vila de Monforte (vila de Joanes atual, no município de Salvaterra), ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira. Segundo este precioso informante, velhas etnias marajoaras foram empurradas dos centros da ilha para a Costa-Fronteira pelos belicosos Aruã. E a guerra entre as duas etnias terminou com banho de sangue dos atacantes, no igarapé Água Boa, onde foram encurralados e massacrados pelos os Iona ou Sacaca cansados das ofensas de seus inimigos; então ajudados por seus novos aliados portugueses, no ano de 1686, aproximadamente. Por aí, abriu-se uma brecha na "fortaleza" dos índios bravios fazendo-os recuar para os centros.

Mas quem leu Ciro Flamarion Cardoso, que ensina ser as ilhas do Marajó parte da área cultural guianense? E portanto, Marajó, no meio da boca do grande rio das Amazonas se reparte entre Belém e Macapá. Desta antiga tensão entre a margem esquerda e direita do nosso Nilo amazônico formou-se a guerra dos 40 anos a que o Padre Antônio Vieira se refere em sua carta-relatório de prestação de contas das Missões do Para, em 11 de fevereiro de 1660. Cuja pax seria o encontro dos caciques Nheengaíbas, em Mapuá (Breves), entre 22 de agosto a 4 de setembro, celebrada no dia 27 de agosto de 1659, na improvisada igreja do Santo Cristo, na beira do rio em plena floresta. Hoje a Reserva Extrativista Florestal de Mapuá no conjunto de unidades de conservação no Marajó cobrindo as três microrregiões, inclusive a Reserva Extrativista Marinha de Soure ou Maruanazes, que é a primeira de sua modalidade na Amazônia.

O estúrdio projeto de construção de uma hidrovia para barcaças de transporte de carga pesada, arromba o frágil ecossistema de transição da zona de campos e matas, entre bacias diferentes do Atuá e Anajás filia-se ao pensamento desenvolvimentista passado que deu origem à "indústria pecuária" das velhas sesmarias e seus Contemplados forasteiros emprenados do espírito iluminista das viagens filosóficas e deu com os burros n'água do IDH da gente marajoara.

A alternativa ao desenvolvimentismo não é hostil à criação de gado, mas pede que ela e outras explorações de recursos naturais e mão de obra nativa, se enquadre nas necessidades do novo paradígma econômico dito sustentável. No caso, a "Criaturada grande de Dalcídio" (populações tradicionais, vislumbradas pela determinação constitucioal da área de proteção ambiental do arquipélago do Marajó, citada pelo Parágrafo 2º, VI, art. 13, da Constituição do Estado do Pará) deve ser considerada em primeiro lugar. Entretanto, é verdade que as unidades de conservação no Brasil ainda estão condicionadas a uma certa visão santuarista anterior à conferência Rio-92.

Isto que remete à encalhada candidatura da reserva da biosfera constante das primeiras versões do "Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó" (PLANO MARAJÓ), lançado pelo Presidente Lula e a Governadora Ana Júlia, em 2007, na cidade de Breves. Quem ainda lembrará?

No entanto, a regularização fundiária em terras de marinha, no projeto NOSSA VÁRZEA já ultrapassa a marca de 40 mil famílias prometidas naquela ocasião. Essa gente, por suposto, descende dos antigos Nheengaíbas usurpados no acordo de Mapuá... E a primeira família benefiada por título de autorização de uso de terras da União na ilha do Marajó teve uma mulher do Alto Anajás como titular. 

Mas precisa avançar no processo de "desenvolvimento territorial sustentável" das ilhas. A gente marajoara, citada expressamente na Carta Magna paraense, é representada no ciclo de literatura reconhecido pelo Prêmio Machado de Assis de 1972, outorgado ao "índio sutil" Dalcídio Jurandir. No mesmo ano, Giovanni Gallo em parceria com pescadores do lago Arari, comumente acusados de roubo de gado, inventava um ecomuseu com ostensiva vocação de promover o desenvolvimento humano de remanescentes, desmemoriados, dos antigos arquitetos dos tesos de camutins (cerâmica marajoara). 

Na obra "Motivos Ornamentais da Cerâmica Marajoara" - espécie de testamento do criador de O Nosso Museu do Marajó e autor de "Marajó, a ditadura da água" - acham-se bases para uma verdadeira indústria criativa que somada ao ecoturismo de base comunitária, além de combater a pobreza extrema em mais de 500 comunidades ribeirinhas; serviria também de referência ao desenvolvimento da Amazônia Sustentável.

Enfim, estas duas opostas mentalidades representadas, de um lado o sempre adiado projeto de Perenização do lago Arari mais a revitalização da navegação fluvial entre Belém e Macapá por embarcações regionais, através de uma Ecovia Transmarajoara, ligando o Arari ao Anajás, sem nada mais que dar curso à natureza, corrigindo malfeitos que o homem fez para provocar o assoreamento de canais ou talvegue e a erosão das margens devido ao desmatamento da mata ciliar.  Claro está que algo terá que ser feito, neste caso, devido o novo Código Florestal.

Na outra parte, o previsível desastre socioambiental anunciado pelo projeto de hidrovia que já parecia esquecido; mas o Secretário de Estado de Projetos Estratégicos, Sidney Rosa; ex-prefeito de Paragominas e promotor do marquetingue dos "municípios verdes" pra inglês ver; acaba de requentar durante a sessão especial na Assembleia Legislativa para debater a pobreza da gente marajoara.

Na referida sessão do parlamento paraense, algumas sugestões tiveram o mérito da inovação. Todavia, a chancela do Ministério da Integração, deveria arrimar uma visão realmente integradora não apenas da famosa "ilha" vista de fora para dentro. Mas, sim, federativa onde os estados vizinhos do Amapá e Pará dialogassem sob patrocínio da União.

A velha Costa-Fronteira do Pará está de fato na faixa de fronteiras (nem precisa lembrar o contrabando, migração clandestina e garimpos ilegais na Guiana francesa e Suriname). O PLANO MARAJÓ, na perspectiva maior do desenvolvimento regional sustentável, deveria ser elo de cooperação internacional da Amazônia Oriental e a candidatura de reserva da biosfera Marajó-Amazônia, acompanhada da criação da Universidade Federal do Marajó, o rebocador que falta para vencer o impasse e fazer acontecer o IDH que se reclama. Por certo, o tal projeto de hidrovia deveria ser sepultado com honras oficiais em respeito às vetustas figuras do nosso iluminismo papa chibé.

Como diria o caboco, ao ver a coisa ficar preta: 'ai Jesus!'

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