terça-feira, 3 de setembro de 2013

MARAJÓ: POBREZA NO PARAÍSO

Foto da capa
Muaná, na ilha do Marajó - Cidade histórica da adesão do Pará à Independência do Brasil, polo da "Universidade da Maturidade" - UMA Marajó.


O SENTIDO DE MUNDO DA CULTURA MARAJOARA

Uma semana após implantar polo da "Universidade da Maturidade", da Universidade Federal do Tocantins (UFT), na cidade histórica de Muaná, doravante UMA-Marajó; a brava gente marajoara ocupou o Palácio Cabanagem com o Movimento Marajó Forte (MMF), a clamar aos representantes do povo à Assembleia Legislativa do Estado do Pará; por socorro à comunidade de dezesseis municípios da mesorregião Marajó formada pelas microrrgiões Arari, Breves e Portel, onde 410 mil brasileiros no "maior arquipélago fluviomarinho do planeta" não se cansa de pedir e esperar por dias melhores.

 Com certeza, o dia 2 de setembro de 2013 entrará na história do futuro do Marajó. Daqui a dez anos, pelo menos, esta data poderá vir a ser comemorada como Dia de Luta do Povo Marajoara.  Não por que antes o Cabanagem não tivesse sido palco de manifestações políticas impactantes. Mas sim pelo fato de que, pela primeira vez, o Marajó velho de guerra ocupou a casa do povo paraense levantando bandeira guia capaz de dar um norte a todas mais reivindicações desta nossa gente desde a Adesão do Pará ao Brasil soberano. 

Poucos estão lembrados do fato histórico de 28 de Maio de 1823, em Muaná, há apenas 190 anos! De fato, nossa Amazônia prestes a comemorar 400 anos ainda não fez dois séculos que assumiu sua brasilidade. E mais, o Brasil não sabe que deve a conquista de nossa Amazônia, sobretudo, a arcos e remos da Nação Tupinambá em marcha para o Norte através da costa do Maranhão e para Oeste sertão adentro e águas abaixo pela calha do Tocantins.

Enquanto que, os enganados de 15 de agosto opostos à pregação liberal de Felipe Patroni e ao movimento popular republicano de Batista Campos, não percebem ainda que a fingida rendição colonial de Portugal ao agente mercenário inglês foi uma farsa destinada a manter os colonialistas onde estavam. Os portugueses do Pará mudavam de bandeira deixando de servir ao reino do pai para ser súditos do império do filho do rei de Portugal... 

Como a história mostra, a rendição da junta colonial lusa ao ultimato de John Pascoe Greenfell nem sequer deu-se o trabalho de mudar os figurantes do "novo" governo "independente"... Daí que a resposta paraense não tardou, mediante deposição dos coloniais e designação de junta nacionalista provisória com Batista Campos na chefia do governo até decisão do Império no Rio de Janeiro. Daí a arbitrariedade e violência do mercenário inglês, chamado de volta a Belém com urgência pelos portugueses: rota batida à Tragédia do brigue Palhaço, em outubro, em marcha à guerra-civil na região (dita Cabanagem onde não existiam "cabanas" na paisagem social...) e à repressão aos combatentes paraenses a custo de um genocídio de 40 mil mortos numa população de apenas cem mil habitantes. 

Sem dúvida, o espírito de Muaná está presente no S.O.S Marajó, que ontem ocupou o Palácio Cabanagem. E continuará a ocupar, com mais vigor, o espaço político e cultural do Pará e do Brasil sob a bandeira maior da criação da UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARAJÓ (UnM)

O empoderamento do território dos marajoaras começa pela inclusão socioambiental dos excluídos da História. Por isto, ainda que só uma meia dúzia de cabocos Quixotes fosse fazer zoada em frente ao palácio dos deputados estaduais para os acordar sobre as causas profundas do irrisório IDHM do Marajó, com o vivo contraste da pobreza e riqueza de Melgaço; ainda assim o ato de 2 de Setembro último teria sido um fato histórico sem precedentes.

DAS CINZAS DE ARICARÁ À FÊNIX MARAJOARA

O caboco que vos fala foi formado pela "Universidade da Maré", muitas vezes pelo curso dos igarapés ele aprendeu a remar sem pressa num casquinho de piquiá achado a vagar na baía, paresque, "curado" por bicho do fundo. 

Ele aprendeu muita história de diversos mestres e mestras ribeirinhos até tomar parte da Academia do Peixe Frito e foi assim que o cara tomou juízo e chegou a ser compadre de fé do conhecido Mestre Agostinho Batista, velho seringueiro camarada de Chico Mendes que faz dueto de flauta com uirapuru nas matas do Atuá. 

Assim este um, que cata milho no teclado da internet, ficou sendo eterno aprendiz de pajé, reprovado por falta de fé, masporém por acaso parceiro agora da inovadora "Universidade da Maturidade", onde pirralho sapeca se prepara a vir a ser no futuro idoso saudável, poderoso e feliz.

 LIÇÃO DAS ÁGUAS EMENDADAS RUMO AO MAR PELO CURSO DO ARAGUAIA-TOCANTINS AO GRÃO-PARÁ

Aqui, abaixo do equador, estamos todos nós muito sentidos com o triste fado do município de Melgaço - antiga aldeia de Aricará - figurando em último lugar na lista do IDHM do Brasil (isto é, o pior colocado no campeonato brasileiro do desenvolvimento humano municipal). A gente sabe que uma desgraça puxa outra e que uma coisa destas não acontece por acaso... Nem começou ontem. 

Então, SEM EDUCAÇÃO NÃO HÁ SALVAÇÃO...

A GENTE SABE que o Marajó é patrimônio mundial (NÃO RECONHECIDO, formalmente, como deve ser!!!) na soberania democrática da República Federativa do Brasil. A primeira sociedade complexa da Amazônia. Que a Cultura Marajoara é, de fato, uma "universidade pés descalços"...

A GENTE SABE que a "Criaturada grande de Dalcídio" é herdeira e curadora do savoir faire daquela antiga universidade pés descalços... E sabe, também, que os doutores não sabem do que a gente está falando e os sumanos, sem eira nem beira, muito menos...

A GENTE SABE que a Universidade Federal do Marajó será realidade, dia a mais ou dia a menos; mas ela jamais será a universidade dos nossos sonhos: enquanto o conhecimento científico, a serviço exclusivo de grandes empresas de capital anônimo for antagônico ao saber tradicional fidelizado pela patuleia de arraia miúda das comunidades ribeirinhas...

A GENTE SABE, portanto, que sociedades tradicionais em regiões ultra-periféricas ainda têm muito a oferecer ao mundo em crise... A velha aldeia de Aricará, por exemplo, saída do ventre da paz de Mapuá, em 1659, depois de 44 anos de guerra para invenção da Amazônia. No Diretório dos Índios (1757-1798) "elevada" na marra para fazer esquecer os começos da História da gente de "fala ruim", Nheengaíba; haverá de se tornar referência em desenvolvimento local sustentável se todos nos unir para construir um Marajó Forte e justo para todos...

A GENTE SABE que o velho rio dos Tocantins, irmão do velho Chico e do Paraná a caminho do Prata; também ele se esqueceu ou talvez ainda não saiba das Águas Emendadas, no Planalto Central... Cá embaixo, na Planície Amazônica, onde povos originais Tupi-Guarani e Aruak se digladiaram em luta pelo espaço e se confundiram no labirinto das 2500 ilhas do Amazonas e Pará; poderá fazer a maturidade do Povo Brasileiro para reconstrução da ECOCIVILIZAÇÃO AMAZÔNICA, iniciada há 1500 anos nos tesos do Marajó.

Um comentário:

  1. Quero parabenizar o Sr. Jorge Varella Pereira, pelo brilhante texto postado e dizer ao mesmo que realmente o ato do dia 2 de setembro de 2013, foi um fato histórico sem precedentes que com certeza entrará na história do futuro do Marajó, que concordo quando diz que a Universidade Federal do Marajó será realidade, dia a mais ou dia a menos; mas ela jamais será a universidade dos nossos sonhos: enquanto o conhecimento científico, a serviço exclusivo de grandes empresas de capital anônimo for antagônico ao saber tradicional fidelizado pela patuleia de arraia miúda das comunidades ribeirinhas.
    Um abraço.
    Paulo Gilmar

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