quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Porto Santo



O Porto Santo é um município de Portugal na ilha do Porto Santo, região da Madeira, com sede na Vila Baleira. Tem 42,48 km² de área. É referida como ilha Dourada pelos madeirenses. A ilha do Porto Santo foi descoberta em 1418 por João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, um ano antes da ilha da Madeira. A Madeira foi a primeira capitania hereditária do sistema colonial português que depois se estendeu ao Brasil, incluindo a capitania hereditária da Ilha Grande de Joanes ou Marajó (1665-1757), doada ao secretário de estado dr. Antônio de Sousa de Macedo, patriarca dos Barões de Joanes. Donde se originaram as sesmarias da ilha do Marajó, dentre estas a de São Francisco Xavier (1686), dos Jesuítas (depois fazenda Malato) que deu origem ao município de Ponta de Pedras (emancipado de Cachoeira em 30/04/1878) e da ilha de Sant'Ana (1696), das Mercês, a qual introduziu os primeiros escravos africanos na ilha do Marajó.

Segundo a história da ilha do Porto Santo, Cristóvão Colombo (aliás Salvador Fernandes Zarco, de seu nome próprio, português, nascido na vila de Cuba, no Alentejo), morou nesta ilha tendo se casado com uma das filhas do primeiro capitão donatário Bartolomeu Perestrelo. Em virtude de sucessivos ataques de piratas, entre os quais se destacou o de 1619 (mesmo ano do levante de 7 de janeiro dos Tupinambás comandados por Cabelo de Velha ao Forte do Presépio, em Belém do Pará), no qual pereceu ou foi escravizada quase toda população com exceção de apenas 18 homens e 7 mulheres. Durante a União Ibérica (1580-1649) a ilha foi repovoada e fortificada. A capitania do Porto Santo foi extinta em 1770 (a da Ilha Grande de Joanes (Marajó) em 1757) no governo do Marquês de Pombal. O concelho foi criado em 1835 (ano da Cabanagem no Pará).

Porto Santo do rio Arari

Esta breve nota serve de introdução a respeito do lugar Porto Santo sito à margem direita do Baixo Arari, município de Ponta de Pedras, na ilha do Marajó, Estado do Pará. Não sei dizer como e quando este nome português foi dado ao dito lugar. Este sítio do Porto Santo foi uma das principais propriedades do coronel Antero Augusto Lobato, grande dono de terras e influente fazendeiro na ilha do Marajó, político em Ponta de Pedras chegou a exercer o cargo de Intendente (prefeito), partidário do conservador Antônio Lemos participou da virada em favor da eleição do republicano Lauro Sodré. Foi proprietário da fazenda Diamantina, no lago Arari; e do barco-motor "Perge" que hoje ainda existe.

A história do coronel Antero daria um romance de desfecho infeliz. Homem rico e voluntarioso, fazia parte de uma elite de fazendeiros com residência na outrora famosa Estrada de São Jerônimo (avenida Governador José Malcher), um belo casarão próximo ao Palacete Bolonha. Passava largas temporadas no Porto Santo e eventualmente na fazenda Diamantina. Casado com dona Adalgisa da Silveira Lobato o casal quase de meia idade, tardiamente, teve um único filho chamado Raimundo. Raimundinho entre os íntimos, foi criado como príncipe e poderia ser comparado algumas vezes ao personagem Missunga, do romance "Marajó" de Dalcídio Jurandir...

O coronel, já idoso, decidiu ainda em vida passar em cartório todos seus bens ao herdeiro. Os empregados, agregados, amigos e o povo em geral na cultura marajoara tem por tradição folclorizar a vida dos "brancos". Como se sabe, branco é o estamento latifundiário não importa a cor da pele do "patrão"... No trabalho, nas viagens, em reuniões a gente conta o certo e o inventado, de modo que com certo tempo não dá mais para destrinchar a estória da história verdadeira... Foi assim que personagens reais viraram lenda: o malvado senhor de escravos João "Maçaranduba" Calandrini; a avarenta dona Leopoldina; a falência do perdulário Raimundinho... Sem dúvida, criativa literatura oral que no Nordeste alimenta os famosos cordéis.

Conta a lenda que o herdeiro único do rei do gado meteu os pés pelas mãos. Começou com um casamento infeliz com uma linda moça caprichosa, vinda do Sul e que depois de lhe tomar quase tudo o abandonou na rua da amargura. Raimundinho caiu no vício da jogantina e acabou por perder o que ainda lhe restava. Na história marajoara ele não foi o primeiro nem o último... O velho coronel ultimamente passava mais tempo no Porto Santo e sua satisfação era ver o "Perge" encostar, tanto na subida quando na descida, a trazer encomendas e novidades de Belém ou para levar alguma coisa à Cidade. 

Entretanto, certo dia o barco veio do Lago e passou ao largo sem encostar no Porto Santo como de costume... O coronel se alarmou. Aquilo nunca antes aconteceu, era uma falta de respeito para com o branco velho. Ele chamou o fiel criado intimando-o a falar a verdade e dizer tudo que estava acontecendo. Então, o criado lhe contou: o "Perge" não era mais propriedade da família, Raimundinho havia vendido o barco, fazendas, casas na Cidade... O coronel Antero deu-se conta do erro cometido e passou mal com uma vertigem. Não demorou ele veio a falecer. Raimundinho continuou sua sina e acabou de torrar tudo quanto ainda havia para depois sumir no mundo. Dizem que, tempos depois, o encontraram trabalhando de taxista em Fortaleza (Ceará). Muita gente achava aquilo castigo por tantas humilhações e explorações dos pobres praticadas pelo coronel e por seu vaidoso herdeiro.

O Porto Santo parou no tempo até vir a ser adquirido, anos 70; pela hoje extinta "Cooperativa Mista Irmãos Unidos de Ponta de Pedras - COOPIUPE", controlada pela Diocese de Ponta de Pedras ao tempo de dom Angelo Rivatto. O sítio foi transformado em agrovila entre mais de uma dezena de outras como a agrovila de Praia Grande (projeto "Pobreza e Meio Ambiente na Amazônia - POEMA, da UFPA em cooperação internacional), agrovila de Jaguarajó (parceria de Agricultura Familiar Sustentável, com a EMBRAPA): foi uma experiência importante das chamadas cooperativas de Dom Angelo (atacadas pelos adversários como 'cooperativas da Nella', referência à colaboradora do bispo Nella Remella, alvo de críticas e maledicências). A par da COOPIUPE existiu também a "Cooperativa Mista de Produção, Recursos Humanos e Turísticos - COMIFRHUT", dedicada à construção naval, marcenaria, indústria cerâmica e ao turismo que na verdade nunca praticou. Nesta cooperativa foram formados diversos artesãos dentre os quais o notável Ismaelino Ferreira, a cerâmica marajoara foi relançada em Ponta de Pedras antes do sucesso comercial de Icoaraci. Hoje poderiam se interessar professores e alunos por esta experiência para elaboração de trabalho de conclusão de curso, dissertação de mestrado e tese de doutorado de modo a ofertar ao público através de extensão algo importante para projetos de desenvolvimento socioambiental sustentável.

Poucos hoje tem clareza do impacto da Prelazia e depois Diocese de Ponta de Pedras na região. Entre erros e acertos destaca-se a célebre desavença entre o bispo Rivatto e o padre Giovanni Gallo, criador do Museu do Marajó, de que trata o livro autobiográfico deste "O homem que implodiu". Dom Ângelo não era santo e o padre Gallo também não, embora este último deixasse escrito que desejava muito a santidade. Do ponto de vista da Criaturada grande da Dalcídio, que é o que interessa a este caboco que vos fala; misturando a criatividade do padre com a ousadia do bispo eu que não creio peço a Deus por minha gente, a gente humilde. E tento como posso despertar a memória desta gente a encontrar algum apoio para recomeçar todos os dias.

Creio que o Porto Santo é uma referência histórica em diversos sentidos. Principalmente por ter sido asilo aos refugiados do Gurupá e ter se tornado uma florescente agrovila que, afinal, sucumbiu ao próprio fracasso dos assentamentos promovidos pela igreja católica no Marajó com origem remota ainda na Aldeia das Mangabeiras (vila de Mangabeira) em terras de sesmaria da fazenda São Francisco (1686). Sim, seria muito interessante aos pontapedrenses, mas também a todos os cerca de 500 mil habitantes do Marajó uma cultura histórica. A fim de saber quem somos nós, donde viemos e aonde vamos.

Ainda em fins dos anos 90, pessoas idosas de Porto Santo choravam ao relembrar o fatídico dia em que o quilombo do Gurupá foi destruído para desocupar a suposta terra do 'branco" tendo as casas queimadas, pessoas violentamente expulsas de sua posse. Gurupá, na margem esquerda do rio Arari, município de Cachoeira do Arari, tem uma história de resistência e luta da comunidade afrodescendente. A negritude do Arari começou com os escravos dos frades das Mercês em Sant'Ana e se espalhou pelas margens do rio, Tartarugueiro, Gurupá, a vila de Cachoeira e outras localidades. 

Sem memória esta gente estaria totalmente derrotada. Por isto, Porto Santo não deve esquecer da acolhida que foi dada à gente do Gurupá e como as "cooperativas" (que, de fato, eram outra coisa) fizeram uma diferença enorme na história da indiferença social e da pobreza extrema. Quero dizer que, algumas vezes, não deixei de fazer críticas a Dom Ângelo pelo modo como ele queria fazer as coisas, mas na divergência fomos amigos e parceiros, inclusive como se pode ler no documento da Igreja Católica (1999) denunciando a miséria do IDH do povo marajoara; a apresentação que fiz em nome do Grupo em Defesa do Marajó (GDM). Sabia Dom Ângelo e sabe Dom Alessio que não sou praticante de nenhuma religião, todavia defendo que ninguém pode falar de História no "maior arquipélago fluviomarinho do mundo" desconhecendo a missão dos Jesuítas e a capitania da Ilha Grande de Joanes: duas instituições dialeticamente opostas.

Interessante saber, por exemplo, a inspiração kibutziana (modelo de fazenda coletiva de Israel) das ditas "cooperativas" extintas sem que os "cooperados" jamais soubessem do que se tratava. Nem fossem devidamente preparados a realizar a experiência mais significativa que poderia haver. Para isto, havia uma "onça": a Ditadura... E não faltaram inimigos para atacar o bispo assim mesmo com o cooperativismo caboclo meia sola. Antes de dom Ângelo ser substituído ele mesmo já havia jogado a toalha: uma curiosidade estava posta, os católicos exerciam o controle das cooperativas e a suposta esquerda com o PT e o PSB mariscavam as cerca de 14 comunidades de agrovilas; mas os votos dali elegiam vereadores e deputados evangélicos de partidos de direita... Assim, apesar do evidente sucesso socioambiental, no aspecto econômico e político a coisa acabou sendo um fiasco. 

Dom Alessio Saccardo veio de Terezina (Piaui) para a Diocese de Ponta de Pedras com fama de administrador e educador. Achou pela frente um enorme desafio e frieza da comunidade. Mesmo assim, junto ao bispo da Prelazia do Marajó (Soure), dom frei Luís Azcona; foi bater à porta da Presidência da República em busca de parceria: nasceu assim o famoso Plano Marajó, em 2007, com suas esperanças e decepções até agora. Antes dele teria a Diocese desperdiçado recursos que hoje, com os Objetivos do Milênio 2030, talvez Marajó estivesse preparado a assumir uma liderança que está longe de chegar. 

Por ironia da história, a velha "Colônia da Mangabeira" e suas adjacências de cerrado e campos altos "imprestáveis" que, nos anos 30, recebeu migrantes das secas do Nordeste produzindo arroz de sequeiro, malva, feijão, milho, etc. e foi esteio das agrovilas virou uma emergente classe média rural de maioria evangélica e capitalista. A pecuária decadente deixou de ser a principal atividade econômica do município e o meio rural esvazia-se para ocupar o meio urbano com aumento da pauperização e da violência social. O extrativismo de açaí faz contraponto, mas a sustentabilidade deixa dúvidas. 2016 será ano eleitoral, sem muitas esperanças de novidade.