sábado, 14 de maio de 2011

O CABOCO QUE TINHA MANIA DE ESCREVER CARTAS

 
O poeta é fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Fernando Pessoa, "Autopsicografia"

Vou fingir que não é comigo esta estória de escrever cartas adoidadas. Quem manda o coronel Magalhães Barata mandar professora normalista desemburrar filhos de caboco na vila Itaguari? E quem manda o pai, orgulhoso de ser filho de índia marajoara e ter sangue cabano correndo nas veias, oferecer hospedagem em casa à professora, novinha em folha, tirando horas de lazer ao pirralho? A mãe queria que ele fosse estudar no seminário dos padres em Belém e o pai sonhava ter o filho no exército: nem uma coisa nem outra, foi vagamundo sem ir longe da ilha natal, acabou sendo repórter, burocrata e escrivinhador nas horas mortas...


esta mania vem das terríveis aulas de reforço em casa - prejuízo certo do jogo de bola na rua, empinar papagaio, jogar pião, banho de igarapé... - vem das febres de paludismo, proibido de pegar sol ou sereno. Vem dos ralhos tremendos de sua mãe, galega durona, cujo primogênito escapou, fedendo, como se diz àqueles que viram a morte de perto; de virar anjo no fundo do rio. Vem da avó postiça (na verdade tia), com seus banhos de ervas mágicas "pra sentar juízo" do neto deveras irriquieto. Vem de ver o pai vergado sobre a mesa de trabalho a escrever prestação de contas da minguada arrecadação do mercado e curro municipal. A mania, dele pai, de fazer anotação de nascimentos e mortes de parentes circunstaciada pelo acontecimentos da vila. Vem do vício, do filho, em querer ser autor do maior romance do mundo (desde o dia que a avó lhe deu a ler o romance "Marajó" escrito por aquele tio ausente, exilado paresque no distante Rio de Janeiro).


O que vale ao caboco escrinhador é que ele, quando escreve, na verdade só tem dois destinatários: Deus e o mundo... E, embora a mãe lhe tenha feito muita fiúza de que Deus é "puro espírito" criador do céu e da terra, não soube explicar direito o que vem a ser espírito. Por isto e outro mais, o cara ficou devoto da dúvida. E do mundo nunca esperou ter resposta para suas dúvidas. Resulta pois, que ele cismou em querer saber quem inventou o mundo e como obrou tamanha coisa. 

Mas, ao ver que a ilha do Fim do Mundo, na qual abriu os olhos e deu primeiros passos, passava mal danou-se, tal qual um náufrago dos caminhos marítimos e fluviais, a escrever e postar garrafas de náufrago na correnteza a todos e a ninguém. Para ser discreto não revela a lista de destinatários grandes e pequenos, namoradas e políticos, gente simples e medalhões da pátria ou da humanidade. Diz apenas, para que o não declarem doido furioso na sua autodeclarada missão em proclamar que a ilha do Marajó é umbigo do mundo, heresida jamais mandava ao Papa ou ao Secretário-Geral da ONU.Que lhe sirva de desculpa perande a opinião pública.


tudo isto só para dizer que, mais de uma vez ele escreveu ao Presidente Lula:jamais escreverá "ex" Presidente, pois quem foi rei é majestade. E, em democracia, nunca se sabe se o Cara não voltará, outra vez, a Lula lá... Outros mais, crentes no Sebastianismo como o poeta Pessoa; podem até dizer que Vargas foi para os brasileiros um pouco como o rei Encoberto ressuscitado na pele de Dom João IV (Conde de Braga) aos portugueses da Restauração, em 1640; que Vargas e JK podem ter sido "encosto" do Cara.


agora o tal caboco escrivinhador arranjou portador na pessoa do ministro Dulci, que mais ninguém nas alturas do poder, poderia dar o recado da "Criaturada grande de Dalcídio". Posto que do encoberto rei dom Sebastião já se descobriu a teoria do segredo das antigas navegações e que, sobretudo, já não há mistério na Net que a CIA ou Wikileaks não descubram, portanto resolveu ele dar transparência à Causa de tantas missivas. Diz o seguinte,no dia de aniversário de nossa primeira Abolição da escravatur, lembrando que em Marajó, 1500, teve início a escravidão indígena com o espanhol Vicente Pinzón, piloto da frota de Colombo:

Belém, 13 de maio de 2011

Ao Professor Luiz Dulci


    Estimado Professor,

   
    Não preciso dizer nada ao senhor a respeito do romancista amazônida Dalcídio Jurandir (pseudônimo de meu tio paterno DALCÍDIO JOSÉ RAMOS PEREIRA, nascido em Ponta de Pedras-PA em 10/01/1909 e falecido no Rio de Janeiro em 16/07/1979, prêmio “Machado de Assis” de 1972), pois sei de seu perfeito conhecimento do autor e da obra.

    O que desejo é contar com vossa preciosa ajuda e, sobretudo, do Presidente Lula para ter sempre em mente a ilha do Marajó como uma referência amazônica na luta política de um povo esmagado pela conquista do “rio das amazonas” e colonização da Amazônia, que não se entrega há três séculos e meio para afirmar a Cultura Marajoara, decidido fazer valer sua autonomia regional na República Federativa do Brasil.

Primeiramente, em 27 de Agosto de 1659 (cf. “Carta” do Padre Antônio Vieira à Regente do Reino de Portugal, datada de Belém-PA de 29/11/1659; apud Serafim Leite S.J., “História da Companhia de Jesus no Brasil”, tomo IV: cito de memória) ao renunciar o protetorado anglo-holandês implícito aceitar o plano de pacificação das ilha do delta-estuário Pará-Amazonas.

    Peço, por gentileza, que leia http://academiaveropeso.blogspot.com/2010/12/introducao-amazonia-marajoara.html e compreenda que sou um modesto ensaísta marajoara, militante comunista da causa de integração nacional no Norte do Brasil e da cooperação Norte-Sul de esquerda democrática. Sonhador de pé no chão, no barro dos campos alagados do Marajó, com a vitória final contra a injustiça social e a Fome em todo mundo, bem lembrado do paraense João Amazonas como aquele que, um dia no passado, disse ao sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva que orientasse seu caminho político sempre ao lado do Povo Trabalhador, aqui ou no exterior.

    Sem mais delongas, informo pauta-tentativa para emprego do nome DALCÍDIO JURANDIR como ícone do que vem de ser dito:

1)recursos para digitalização e difusão do acervo Dalcídio Jurandir, depositado na Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), de modo que pesquisadores e estudantes de literatura brasileira no País e no exterior possam acessar esta importante fonte para antropologia, sociologia e literatura da região amazônica;

2)interessar o programa de divulgação de autores brasileiros da Biblioteca Nacional a verificar com os herdeiros e/ou detentores da obra, possibilidade de edição não-comercial, notadamente os romances “Marajó” (recepcionado pela crítica como primeiro romance sociológico brasileiro) e “Linha do Parque” (tema do Rio Grande do Sul, considerado o primeiro romance proletário no Brasil, traduzido na Rússia e na China);

3)com amigos na França, tendo possibilidade de interessar tradutores e editores naquele país a se somar ao projeto de valorização da obra;

4) desde o centenário de nascimento do autor, em 2009, diversas atividades muito significativas aconteceram na ilha do Marajó, Belém, Lisboa e Paris: porém, não se pode apenas ficar com a lembrança deste acontecimento. A “criaturada grande de Dalcídio” (populações tradicionais ribeirinhas) não podem ler este autor brasileiro festejado por especialistas estrangeiros; primeiro porque 50% da população marajoara é analfabeta, segundo por que não livro popular deste autor e, portanto, raros são os textos xerocados na rede escolar;

5) o Plano Marajó/ Território da Cidadania lançado em 2007/2008, embora recebido com entusiasmo por parte das lideranças comunitárias, não alcançou um verdadeiro entendimento popular e tende a perder a força inicial do impacto da vinda do Presidente Lula com a governadora Ana Júlia a Breves para entrega do primeiro título de autorização de uso de terras da União, pelo projeto NOSSA VÁRZEA de regularização fundiária, em benefício da dita “Criaturada grande”;

6) a isto se agrega a tentativa de federalização do Museu do Marajó www.museudomarajo.com;br ; o tombamento da festividade do Glorioso São Sebastião do Marajó no patrimônio imaterial do Pará e do IPHAN; reconstrução da casa-museu de Dalcídio Jurandir em Cachoeira do Arari; projeto de declaração pelo Ministério da Cultura do DIA DA CULTURA MARAJOARA e tombamento nacional da mesma Cultura Marajoara com base nas mais recentes pesquisas arqueológicas na ilha do Marajó (ver www.marajoara.com );

7) dentro do PLANO MARAJÓ supracitado, o Estado do Pará está desenvolvendo preparativos para candidatura pelo Comitê Brasileiro do programa MaB (COBRAMAB) da ilha do Marajó como reserva da biosfera da lista mundial da UNESCO. Deste modo, se possível, o Presidente Lula tornando-se defensor da “Criaturada grande de Dalcídio” no Brasil e no mundo será também embaixador do programa multilateral da ONU “O Homem e a Biosfera”, com que a ecologia humana predomina sobre o santuarismo ecológico de “primeiro mundo”, e o casamento da Ciência com o combate contra a Pobreza se apresenta como a grande chance de enfrentar a mudança climática com Educação Tecnológica adaptada aos Trópicos e Economia Solidária num grande mercado socialista mundial.

    Será sonhar demais para um caboco só? Mas, o próprio Presidente Lula aconselha o povo a não desistir jamais de seus sonhos.

Saudações respeitosas,
José Varella Pereira