segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

"Papa Chico tá cum nós, mea gente!"


Visita do cardeal Dom Claudio Hummes à Prelazia do Marajó (22-27 de fevereiro de 2016).



MARAJÓ PEDE MAIS SEGURANÇA


Nem a fome nem tampouco a falta de políticas públicas em áreas básicas como educação e saúde. O que mais aflige o povo marajoara nos dias atuais, é a violência praticada por piratas modernos que assaltam embarcações grandes e pequenas e também as casas de ribeirinhos sempre à mercê de quadrilhas organizadas que praticamente não sofrem repressão.
Essa foi a conclusão que chegou o cardeal Dom Cláudio Hummes, que visitou quatro municípios do Marajó de terça-feira a sábado (amanhã), a pedido do Papa Francisco, que tem como prioridade o auxílio aos pobres de todo mundo. Dom Cláudio, debateu muito com autoridades e lideranças comunitárias questões como exploração infantil, tráfico de pessoas, abandono das famílias pobres e falta de políticas públicas adequadas para a região.
 Hummes confirmou que o Papa Francisco pretende vir ao Brasil em 2017, podendo incluir o Marajó em sua programação, conforme o próprio Dom Cláudio sugeriu. Segundo cardeal, o Conselho de Bispos do Brasil enviou convite formal à Sua Santidade e o prefeito de Breves, Xarão Leão, em solenidade na Câmara Municipal ontem, sexta-feira, entregou uma oficio em nome do povo marajoara para ser encaminhado ao Papa, reiterando o convite. 
Dom Cláudio visitou os municípios de Portel, Melgaço, Breves e Soure, onde está nesse sábado, a convite do bispo da prelazia do Marajó, Dom Luiz Azcona, que acompanhou sua eminência durante toda a visita.
Em todos os municípios, o cardeal fez questão de reunir-se com as comunidades, como aconteceu às margens do rio Tajapuru, em Melgaço, por onde passa a maioria das grandes embarcações com destino ao Amazonas, Xingu e Santarém. Exatamente nesse rio, há maior ocorrência de exploração sexual de meninas e adolescentes sem que haja uma política de repressão por parte do Estado. "Ficaram de montar uma base da polícia marítima no estreito de Breves, que poderia amenizar a situação, mas até agora nada aconteceu ", relata o prefeito Xarão Leão.
Durante os debates na sede da Câmara Municipal, o presidente da Associação dos Municípios do Marajó, Cledson Rodrigues, falou da importância da presença de Dom Cláudio como forma de sensibilizar as autoridades a fim de terem um olhar diferenciado para o povo do arquipélago. Dom Cláudio manifestou sua indignação com a situação do povo pobre nas cidades e principalmente dos ribeirinhos que são mal assistidos pelo poder público, até por falta de recursos nas áreas principais como educação e saúde.
Dom Azcona mantém seu ponto de vista que a melhor solução para o Marajó será a federalização já que o Governo do Estado já se manifestou sem condições de investir na melhoria da qualidade de vida do povo marajoara.

Comunicação/AMAM


COMENTÁRIOS DO BLOGUE

A diplomacia do Vaticano sob pontificado do Papa Francisco, sem dúvida, hoje representa a maior esperança de Justiça e Paz para todo mundo: trata-se, evidentemente, de uma autoridade ética e moral capaz de dialogar com crentes e não-crentes, igrejas diversas e religiões diferentes; chefes de estado e de governo de potências econômicas, militares e tecnológicas. É o primeiro jesuíta no trono do Pescador. Nenhum outro líder mundial está em condições de oferecer uma chance de sobrevivência da Humanidade do que ele e a carta encíclica Loudato Si é a sua mensagem oferecida a todos os povos no espírito das boas novas de Jesus Cristo. 

Se por graça especial o Papa aceitar o humilde convite do Povo Marajoara para vir ao berço da primeira ecocivilização amazônica nascida de cinco milênios de humanidade no Trópico Úmido sul-americano, oficializado por intermédio do Prefeito Municipal de Breves, Senhor Xarão Leão, gestor da maior população marajoara na comunidade de dezesseis municípios e território federativo maior que Portugal, localizado no delta-estuário do maior rio da Terra;  no curso de sua aguardada visita ao Brasil prevista para 2017. Este excepcional encontro, desde já, deverá ser para nós um ponto de inflexão de uma longa história de marginalização cujas consequências se refletem, indubitavelmente, no estado de insegurança e pobreza crônica que ora afligem as famílias ribeirinhas do maior arquipélago de rio e mar do planeta.

Já foi dito que primeiro a história acontece como tragédia e depois se repete como farsa. Hoje piratas modernos, por suposto surtos das próprias localidades ou em cumplicidade com elas, colocam em pânico a população ribeirinha das ilhas. Pelos idos de 1656 a Câmara de Belém a pedido dos colonos do Pará requeria a "guerra justa" contra "índios de corso" (piratas) chamados Nheengaíbas (nuaruaques ou marajoaras) e o governador do Maranhão e Grão-Pará, André Vidal de Negreiros, foi autorizado pelo rei a castigar os índios do Marajó. A guerra justa significava cativeiro e extermínio, em casos de insubordinação ao batismo cristão e desobediência às leis do reino.

Estamos lembrados das peripécias do superior do Jesuítas, padre grande dos índios; Vieira, para evitar a guerra de extermínio dos antigos marajoaras. Já os ditos Nheengaíbas haviam resistido bravamente a três tentativas de ocupação pela força e à primeira tentativa de paz pelo padre João de Souto Maior fracassou com mortos e feridos. Só três anos depois, pressionado com prazo curto para evitar a guerra, dois nheengaíbas cativos do convento de Santo Alexandre mandados levar mensagem ao Marajó trouxeram os sete caciques para negociar a paz com o padre grande no convento dos jesuítas (ver Serafim Leite, "História da Companhia de Jesus no Brasil, tomo IV).

Quando se fala em segurança pública nas cidades o primeiro pensamento é chamar a PM para "pacificar" favelas... E já se sabe a dificuldade depois para desmilitarizá-las, para não dizer coisa pior. O Papa exortou corruptos a se converterem... Talvez tivesse que dizer a mesma coisa a policiais e militares em missão de paz. Não é fácil exercer a força quando o poder de persuasão fracassa. A história da igreja na Amazônia é complexa e não está isenta de erros e culpas. Para impor segurança pública nas duas mil e tantas ilhas do Marajó talvez fosse necessário convocar fuzileiros navais em verdadeira operação de guerra.  O Estado do Pará descuidou do Marajó? Sem dúvida. A federalização lembrada para remediar o problema não promete grande coisa, e certo modo já existe no periclitante PLANO MARAJÓ... A médio prazo será necessário criar o estado do Marajó, como também de Carajás e Tapajós. Mas, não se cria um estado como mágico tira coelho da cartola. O povo tem pressa!

Que lições o passado distante pode nos dar nos dias de hoje a fim de encontrar a paz social?

A CNBB sabe, através dos dois bispos católicos do Marajó, da antiguidade dos sítios arqueológicos e da cerâmica marajoara dispersa nos maiores museus do Brasil e do mundo em contraste com as carências do sui generis Museu do Marajó, de Cachoeira do Arari, inventado pelo padre Giovanni Gallo S.J. em luta solitária contra a ignorância e a pobreza da gente espoliada de sua própria história e cultura, de que fala a obra de divulgação científica Cultura Marajoara, da arqueóloga brasileira Denise Shaan. Não poderiam esses museus nacionais e estrangeiros, sob coordenação do Museu Goeldi, a instâncias do Vaticano e da UNESCO "devolver" -- por assim dizer -- essas cerâmicas para a educação da criaturada grande de Dalcídio Jurandir (populações tradicionais)? Misturando literatura, arte marajoara, turismo solidário e educação ribeirinha talvez o Papa possa abençoar ideias como esta para uma grande reflexão e agradecimentos especiais ao bispo da Prelazia do Marajó Dom Frei José Luís Azcona Hermoso OSA pela constância de sua luta em favor dos mais fracos. 

PARA NÃO ESQUECER

neste dia [27 de agosto de 1659] se acabou de conquistar o Estado do Maranhão, porque com os nheengaibas por inimigos seria o Pará de qualquer nação estrangeira que se confederasse com elles; e com os nheengaibas por vassallos e por amigos, fica o Pará seguro, e impenetravel a todo o poder estranho.” (Padre Antônio Vieira / Carta de 11/02/1660 à regente de Portugal, dona Luísa de Gusmão, viúva do rei João IV, prestando contas das Missões do Pará e, em especial, dando notícia das pazes entre portugueses, tupinambás e os povos indígenas rebeldes das ilhas do Marajó; alcançadas no "rio dos Mapuaises" [Mapuá], Reserva Extrativista Mapuá, município de Breves).
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38. Mencionemos, por exemplo, os pulmões do planeta repletos de biodiversidade que são a Amazônia e a bacia fluvial do Congo, ou os grandes lençóis freáticos e os glaciares. A importância destes lugares para o conjunto do planeta e para o futuro da humanidade não se pode ignorar. Os ecossistemas das florestas tropicais possuem uma biodiversidade de enorme complexidade, quase impossível de conhecer completamente, mas quando estas florestas são queimadas ou derrubadas para desenvolver cultivos, em poucos anos perdem-se inúmeras espécies, ou tais áreas transformam-se em áridos desertos. Todavia, ao falar sobre estes lugares, impõe-se um delicado equilíbrio, porque não é possível ignorar também os enormes interesses econômicos internacionais que, a pretexto de cuidar deles, podem atentar contra as soberanias nacionais. Com efeito, há «propostas de internacionalização da Amazônia que só servem aos interesses econômicos das corporações internacionais». É louvável a tarefa de organismos internacionais e organizações da sociedade civil que sensibilizam as populações e colaboram de forma crítica, inclusive utilizando legítimos mecanismos de pressão, para que cada governo cumpra o dever próprio e indelegável de preservar o meio ambiente e os recursos naturais do seu país, sem se vender a espúrios interesses locais ou internacionais.
39. Habitualmente também não se faz objeto de adequada análise a substituição da flora silvestre por áreas florestais com árvores, que geralmente são monoculturas. É que pode afetar gravemente uma biodiversidade que não é albergada pelas novas espécies que se implantam. Também as zonas úmidas, que são transformadas em terrenos agrícolas, perdem a enorme biodiversidade que abrigavam. É preocupante, nalgumas áreas costeiras, o desaparecimento dos ecossistemas constituídos por manguezais.
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fragmento da
CARTA ENCÍCLICA
LAUDATO SI’
DO SANTO PADRE
FRANCISCO
SOBRE O CUIDADO DA CASA COMUM 

Roma, 24 de Maio de 2015, terceiro ano pontificado do Papa Francisco.





ARTE PRIMEVA DO BRASIL, 
A CERÂMICA MARAJOARA, ABRE CHANCE PARA COLOCAR EM PRÁTICA PLANO DO PAPA


O Instituto Pólis aderiu ao acordo da fundação Scholas Occurrentes. Assinado pelo historiador Célio Turino e pelo Papa Francisco, o convênio firma uma cooperação entre a Scholas e a rede Cultura Viva Comunitária. Fundada em 2013 pelo Papa, a organização internacional busca estabelecer uma integração social e alcançar a paz entre os povos. A partir da atuação em escolas e comunidades educativas públicas e privadas, o projeto procura provocar uma mudança de paradigmas na educação por meio da arte, do esporte e da tecnologia.
A rede Cultura Viva Comunitária integra 17 países e mescla arte, cultura e comunicação popular em experiências culturais comunitárias, em âmbito nacional e continental. A rede tem como proposta incidir sobre políticas públicas relacionadas ao desenvolvimento cultural na América Latina e expandir a experiência dos pontos de cultura, contribuindo para o diálogo intercultural entre várias países.
Assim como a Scholas Occurrentes, a Cultura Viva Comunitária compreende a importância da arte na cultura como dimensão educativa, capaz de provocar profundas transformações na sociedade tanto em âmbitos econômicos, políticos e sociais quanto vinculadas à natureza.

saiba mais, acesse:
 
http://polis.org.br/noticias/instituto-polis-adere-ao-pacto-educativo-da-scholas-occurrentes-e-da-rede-cultura-viva-comunitaria/


Encontro entre Turino e Papa em fevereiro de 2015
Papa Francisco recebe Celio Turino, da Rede de Pontos de Cultura e apoia projeto Cultura Viva.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

inventando o ECOMUSEU ITAGUARI na terra de Dalcídio Jurandir


   rio Marajó-Açu, orla ribeirinha da cidade de Ponta de Pedras, ilha do Marajó; foto Raimundo Dias.



Pra começo de conversa: a ideia de ecomuseu é simples, mas não simplória. A quem se interessar possa, recomendo o link a seguir http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132015000200267 , para uma primeira ideia caso não se tenha tido ainda oportunidade de saber deste assunto. Aqui abordo apenas a oportunidade que o polo turístico Marajó tem de abrir, no próprio rio que dá nome à ilha e baía do Marajó, um portão ecoturístico ímpar remetendo à rota da antiga Costa-Fronteira do Pará e às duas mil ilhas do maior arquipélago de rio-mar do planeta.

Ponta de Pedras é a mais próxima cidade do Marajó com relação a Belém do Pará, distante 15 minutos em táxi aéreo ou duas horas e meia em barcomotor regional, provavelmente cerca de uma hora em catamarã tipo ônibus para passageiros. Pode ser porta de entrada ao turismo marajoara de ponta, fugindo daquelas atividades predadoras combatidas e criticadas em todo mundo. O turista inteligente que deseja conhecer a Amazônia a partir da capital paraense deverá saber que a ilha do Marajó foi o primeiro passo da "Viagem Philosophica" (1783-1792) do naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, da Universidade de Coimbra (Portugal), por exemplo. Belém e Marajó foram palco dos inícios da teoria da Evolução das espécies pelo naturalista Alfred Wallace, a par das observações de Darwin nas ilhas Galápagos. 

Não vale ter estado na famosa ilha e de lá sair como burro a olhar para porta de palácio e sem ouvir falar nas pazes entre índios bravios Nuaruaques e guerreiros Tupinambás conquistadores do rio das Amazonas aliados aos colonizadores portugueses; celebradas pelo padre Antonio Vieira (27/08/1659) no rio Mapuá. Indesculpável não visitar o Museu do Marajó e não ver a praia do Pesqueiro sabendo de antemão que a beleza de hoje escondeu a escravidão dos índios, antes mesmo da doação da primeira sesmaria da Capitania da Ilha Grande de Joanes (1665-1757). E tantas coisas mais que um turista curioso gostaria de saber no descobrimento da amazonidade profunda.

Por que um ecomuseu em Ponta de Pedras? Porque o turismo de base na comunidade é a modalidade a mais participativa e integradora das atividades turísticas. Os visitantes são convidados a descobrir no próprio local onde as pessoas vivem, como elas criam cultura, sobrevivem e interagem com a natureza. Os visitantes das comunidades, em geral, chegam informados a respeito dos lugares a ser visitados. No caso do Marajó e, especialmente, Ponta de Pedras; que melhor garoto-propaganda que o maior romancista da Amazônia reconhecido e premiado pela Academia Brasileira de Letras? Se o prestador de serviço de esquece de oferecer o legítimo açaí tuíra amassado à maõe em alguidar de barro e servido em cuia pintada, está desperdiçando recurso. Do mesmo modo, se há um grande romancista equiparado a Guimarães Rosa, em Minas, Jorge Amado embaixador da Bahia no mundo; e não usa este recurso a 'burridade' é enormíssima...

O Dia de Alfredo, por exemplo, na imaginária fazenda Marinatambalo (rio Paricatuba) daria vida à Criaturada grande de Dalcídio e o romance "Marajó" mais depressa provocaria o interesse de professores e alunos da rede municipal e estadual local, seria levado à universidade na justa ambição de revelar a natureza e a cultura marajoaras. Isto é, um grande elemento de orgulho para o povo marajoara lhe ensinando o valor da Hospitalidade. A preparar os moradores a dialogar com sustentabilidade cultural e não a vender gato por lebre.

Sem hospitalidade nenhum produto turístico tem futuro. Então, é para isto que valeria a pena inventar o Ecomuseu Itaguari, o qual como escola de hospitalidade no portão principal de uma rota turística marajoara abre o livro vivo de nossa história, recupera a memória, gera empregos e renda e preserva o patrimônio natural e cultural com oportunidades a gregos e troianos. Precisa dizer mais? 



  ilha encantada Quati: onde o Marajó começa com suas crenças e suas lendas.


Ao adentrar à foz do antigo rio do valente marãyu (marajó), ultrapassado o farol Itaguari; o visitante deve estar lembrado de um passado sempre presente nas esperanças desta gente. O ecomuseu que pensamos não carece de infraestrutura mais que, talvez, uma sala de reunião de entidade parceira e pessoas de boa vontade para compor associação zeladora. O museu, de fato, é a própria comunidade, o rio, os campos, matas, as praias da beira da baia com suas gentes, usos e costumes.

O mais importante deste tipo de museu é que as pessoas do lugar se vejam uns nos outros como donos da memória, zeladores de uma tradição que não se confina ao passado perdido, mas promove e conquista o futuro. Claro que o ecomuseu sugerido deve receber os visitantes, acolher com hospitalidade; porém além disso abraçar e envolver as comunidades, construir pontes de solidariedade com os municípios vizinhos, para maior coesão do território, da identidade e da cidadania marajoara.

Bem-vindos a Ponta de Pedras e boa viagem ao Marajó profundo!