quinta-feira, 28 de julho de 2011

UTOPIA AGRO-URBANA

Notícias de crise, um retrato parcial

Por Luciano Martins Costa em 28/07/2011 na edição 652
Comentário para o programa radiofônico do OI, 28/7/2011
 
O noticiário econômico dos últimos dias tem sido centrado na corrida contra o tempo em que se empenha o presidente americano Barack Obama para elevar o limite de endividamento dos Estados Unidos e enfrentar o risco de moratória.
Mas há uma variedade tão grande de fatos relacionados em vários graus ao problema dos americanos que se torna praticamente impossível ao leitor comum formular uma opinião a respeito das consequências do momento econômico para sua vida pessoal.
Embora de forma longínqua, as reportagens e análises ainda fazem referência à crise financeira de 2008, mas em geral o noticiário e o opiniário deixaram para trás aquele evento – fundamental para entender o problema atual.

Fragilidade patente

As crises cíclicas do capitalismo são tema clássico de economia, tradicionalmente relacionadas aos próprios ciclos econômicos. Também é eventualmente citado o conceito das ondas longas da conjuntura, elaborado em 1926 pelo russo Nicolai Kondratiev, segundo o qual o capitalismo passa periodicamente por movimentos ascendentes e descendentes em ciclos de 40 a 60 anos. Segundo essa teoria, a economia global, majoritariamente capitalista, estaria chegando ao fundo do ciclo descendente, iniciado nos anos 1990, que se seguiu aos “trinta anos gloriosos”, núcleo de tempo do ciclo ascendente anterior.
Contextualizar este turbulento início de século nesse cenário sistêmico, considerando ainda os estudos sobre ciclos econômicos de curto prazo, é tarefa complicada para o jornalismo do dia a dia. No entanto, essa é uma pauta que deveria ser tomada a sério pela imprensa, como pressuposto para a manutenção da confiança da sociedade na capacidade do próprio sistema de superar suas crises – tema que evidentemente interessa à imprensa.
Essa tarefa se torna ainda mais difícil se for levado em conta que na crise atual do capitalismo o olho do furacão está localizado na maior economia do planeta. O que acontecer com os Estados Unidos nos próximos dias vai afetar todos os países do mundo, todas as atividades econômicas e até mesmo as políticas de muitas nações.
A teoria dos ciclos de Kondratiev tem como base principal o modo como se estabelecem as mudanças tecnológicas, que produzem ondas de investimento, de volumes e duração variáveis conforme o processo de apropriação, maturação e renovação dessas tecnologias.
Essa característica remete a uma extrema fragilidade da economia brasileira: temos baixa capacidade de inovação, fruto de deficiências educacionais, do conservadorismo de nossos empreendedores e da falta de uma política industrial.
Sem inovação, um país pouco se beneficia dos investimentos em tecnologia nos períodos ascendentes e conta com poucos recursos para furar os ciclos descendentes.

Um novo modelo de imprensa

O cenário a ser analisado se torna ainda mais complexo se levarmos em conta que o atual ciclo coincide com a constatação de que o sistema econômico global precisa conciliar o crescimento com a preservação do patrimônio ambiental e a redução das emissões de gases que produzem as mudanças climáticas.
Por outro lado, esse conjunto de elementos precisa ser administrado em meio à constatação de que os modelos de representação política – que transferem da sociedade para as instituições públicas a missão de produzir o bem-estar geral – estão sob contestação em muitas partes do mundo.
Na terça-feira (26/7), quando toda a imprensa registrava os altos níveis de tensão no mundo financeiro com a incerteza sobre a dívida dos Estados Unidos, o jornal Valor Econômico incluía, em sua primeira página, reportagem sobre o crescimento da demanda, por parte de grandes empresas, por serviços de combate a fraudes e corrupção.
De acordo com os paradigmas da sustentabilidade, que se estabelecem entre os cânones da gestão a partir das urgências ambientais, a corrupção é um elemento tangível de risco e um custo que as empresas deveriam evitar.
No momento em que a imprensa celebra a ascensão do Brasil ao quinto lugar entre os principais destinos de investimentos produtivos, o efeito da corrupção sobre a economia é pauta que também não pode faltar.
Como se pode observar, a despeito de alguns esforços isolados, o noticiário econômico fragmentado que os jornais apresentam a seus leitores tem pouca valia nesse cenário de grandes complexidades.
Será que o atual modelo de imprensa dá conta de todas essas variáveis?
O esquema de cadernos temáticos, com reportagens ancoradas em artigos de opinião, talvez esteja superado.

A Folha de S.Paulo de quinta-feira (28/7) informa que a America Online (AOL) busca parceiro para voltar a se instalar no Brasil, trazendo o Huffington Post –mídia online que transporta milhares de blogs.
Seria esse o modelo?




Comida oleosa
 
Norte-americanos deixam quase tanto combustível fóssil em nossas geladeiras como nossos carros. Estamos consumindo cerca de 400 litros de óleo por ano por cidadão - aproximadamente 17% do uso de energia da nossa nação - para a agricultura, um segundo próximo ao nosso uso veicular. Tratores, colheitadeiras, colhedoras, irrigação, pulverizadores, forragem, prensas e outros equipamentos todo o petróleo utilizado. Beberrões de gasolina ainda maior na fazenda não são as máquinas, mas os chamados insumos. Sintéticos fertilizantes, pesticidas e herbicidas uso de petróleo e gás natural como suas matérias-primas, e em sua fabricação. Mais de um quarto de toda a energia da agricultura entra em fertilizantes sintéticos.

Mas começar a colheita da semente à colheita é apenas um quinto do total de petróleo usado para a nossa comida. A parte do leão é consumido durante a viagem da fazenda para seu prato. Cada item alimentar em uma refeição típica nos EUA tem viajado uma média de 1.500 milhas. Além do transporte direto, outros combustíveis sedentos de etapas incluem processamento (secagem, moagem, corte, classificação, fermento), armazenagem, embalagem e refrigeração. Calorias de energia consumida pela produção, embalagem e transporte superam as calorias de energia que recebemos dos alimentos.
Uma maneira rápida de melhorar a alimentação relacionados com a economia de combustível seria para comprar um litro de óleo de motor e bebê-lo. Opções mais palatáveis ​​estão disponíveis. Se cada cidadão dos EUA comesse apenas uma refeição por semana (qualquer refeição), composto de carnes localmente e organicamente levantadas e produzir, que reduziria o consumo do nosso país de petróleo por mais de 1,1 milhões de barris de óleo a cada semana. Isso não é de galões, mas de barris. Pequenas mudanças no hábitos de compra podem fazer grandes diferenças. Se tornando uma nação dependente de energia menos pode só precisa começar com um bom pequeno-almoço.
Steven L. Hopp

 AGRICULTURA FAMILIAR 

 no Brasil, 70% da comida que vai à mesa dos habitantes das grandes cidades vem da agricultura familiar residente no campo. Economia e Ecologia andam às turras, todavia se esta última é ciência da "casa"

sábado, 23 de julho de 2011

BOLSA VERDE, CORAÇÃO ENCARNADO


IDH do Marajó dá dó... Todo mundo chora e quer ajudar os pobres marajoaras. Certa vez, autoridade estrangeira visitando o campus da UFPA em Soure não aguentou a choradeira e sapecou esta na cara de todos: ouvi falar tanto em pobreza e vejo tanta riqueza em volta. 

Outro dia pastor da igreja católica me disse a mim: "não é verdade que o mundo quer conservar a floresta amazônica... Se quisesse de fato bastava pagar um salário mínimo a cada família para não derrubar nem deixar derrubar árvores". 

Bingo! Mas, o reverendo não via que justamente aí é que a porca torce o rabo. Nunca foi por falta de dinheiro que se devastaram as florestas tropicais. Bem ao contrário. Nem a coisa é exclusiva da Amazônia brasileira, que os inocentes continuam achando que basta o Brasil baixar leis e regras mais um exército de fiscais e o mundo estará salvo da mudança climática.

O buraco da camada de ozônio e a causa da bagunça do clima é mais acima do equador. Está no consumo alienado. E se o consenso de Washington pode apertar o cinto para conter o consumo da classes emergentes saídinhas do arroz com feijão; duvido que se possa vetar o consumo de champanha e caviar pelos mais ricos, ou mesmo taxar as grandes fortunas que nem Barak Obama com todo seu cacique não consegue.


voltando à vaca fria: a pobreza da periferia da Periferia, com exemplo geral da célebre ilha do Marajó, berço da civilização neotropical amazônica. O Arquipélago é objeto de um plano de desenvolvimento territorial supostamente piloto do ora silenciado PAS que já deu panos pras mangas entre os então ministros Mangabeira Unger e Marina Silva... Essas coisas extraordinárias frequentam a mídia com humor semelhante aos OVNI's. Quando a gente pensa que foram embora, olha aí de novo...

desgraçadamente a realidade perversa continua nua e crua. No caso do Marajó, nunca se falou em tanta ajuda e boas intenções; 'mas porém' a coisa vai indo de mal a pior... Ora, a chamada sociedade civil através de meia dúzia de quixotes tem mantida acesa a chama da esperança e a voz das reclamações. Por obra do acaso, a Constituinte paraense de 1989 meteu na Carta Magna estadual o parágrafo 2º, alínea VI, do artigo 13; o qual deveria ser a bússola do desenvolvimento do dito cujo arquipélago e referência para o macro zoneamento ecolôgico-econômico do Pará.


muito fácil criticar o governo "A", "B" ou "C"... Difícil na província dos desempregados é dar nome aos bois e, sobretudo, reconhecer falhas da tal sociedade civil. Dentre estas, professores, dirigentes, estudantes e servidores dos campi da UFPA, UFRA, IFPA e UEPA no Marajó além da rede estadual de ensino que não dão ao público em extensão estudos integrados acerda do PLANO MARAJÓ seus antecedentes, promessas e incongruências via a visa do famigerado Parágrafo citado da Área de Proteção Ambiental (APA-Marajó) e a demanda popular (carta de Muaná de 08/10/2003) para seu reconhecimento pela UNESCO como reserva da biosfera, dentro do programa multilateral "O Homem e a Biosfera - MaB".

claro, TCC, dissertação ou tese de doutorado sobre esta odisseia marajoara seria de grande importância, não só para entendimento das agudas contradições entre riqueza e miséria na maior ilha fluviomarinha do planeta e berço da primeira cultura complexa (cacicado) da Amazônia; mas sobretudo aos estudos socio-econômicos do Trópico Úmido. Falar mal de prefeito, deputado e governador - simplesmente - não leva a nada...

a sociedade civil organizada tem que ser mais propositiva e agir concertadamente para fazer o Governo como um todo (federal, estadual, municipal) agir. Nesta caso, que diremos ao Governo sobre a oportunidade da BOLSA VERDE se tornar um instrumento econômico de valorização socioambiental? Há, primeiramente, que se barrar a PEC 53 que "desfederaliza" a regularização fundiária do Projeto Nossa Várzea dentre as ações de mergência do PLANO MARAJÓ.

Cerca de 40 mil famílias ribeirinhas (120 mil habitantes) podem ser equiparadas a moradores de reservas extrativistas, floresta nacional ou reserva de desenvolvimento sustentável para fins de concessão de BOLSA VERDE no âmbito da APA-Marajó e futura reserva da biosfera Marajó-Amazônia Oriental. Equivale dizer, a necessidade de protocolo de cooperação entre Governo estadual e União, com adesão dos Municípios da região de integração Marajó: meio caminho para o MaB e integração fronteiriça com as Guianas através e conjuntamente com o Amapá.

Governo lança Bolsa Verde para famílias extremamente pobres que conservem áreas de floresta

02/06/2011 - 12h38
Yara Aquino e Daniella Jinkings
Repórteres da Agência Brasil

Brasília – Uma das estratégias do Plano Brasil sem Miséria, lançado hoje (2), será a criação de um programa de transferência de renda, o Bolsa Verde, para as famílias em situação de extrema pobreza que promovam a conservação ambiental nas áreas onde vivem e trabalham. Das 16,2 milhões de pessoas que vivem em situação de extrema pobreza, 47% estão na área rural.
O Bolsa Verde pagará, a cada trimestre, R$ 300 por família que preserve florestas nacionais, reservas extrativistas e de desenvolvimento sustentável. O valor será transferido por meio do cartão do Bolsa Família.
Ao apresentar outras ações voltadas para as pessoas em situação de extrema pobreza no campo, a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, afirmou que a intenção é garantir o aumento da renda e da produção dessa parcela da população.
“Acreditamos que com ações como assistência técnica, de fomento, acesso à água e energia e distribuição de sementes conseguiremos garantir que essas famílias extremamente pobres no campo aumentem sua produção e renda”, disse a ministra.
O plano tem como uma das principais metas retirar 16,2 milhões de pessoas da extrema pobreza até 2014. São consideradas extremamente pobres as famílias que têm renda per capita de até R$ 70.

Edição: Lílian Beraldo

quarta-feira, 20 de julho de 2011

CASA DE DALCÍDIO JURANDIR (ILHA DO MARAJÓ)






alô, alô senhoras e senhores!

responsáveis pela Cultura, Educação, Turismo e Desenvolvimento... Menos discurso e mais realização. Cadê você, fundo Amazônia, Petrobras Cultural, Banco da Amazônia, etecetera e tal. Esperando que a gente aprenda a ler e escrever pra concorrer com os tais editais em "condições de igualdade"?

Prefeitos da AMAM, autoridades do Território da Cidadania; Plano Marajó aonde vais? O que esperam para meter em obra uma criativa PPP (parceria público privada) a fim de assegurar verdadeira utilidade pública à Casa de Dalcídio Jurandir integrada ao Museu do Marajó com extensão a todas Secretarias de Cultura, Meio Ambiente e Turismo da comunidade marajoara de municípios.

fala sério!



Museu do Marajó
Museu do Marajó / Cachoeira do Arari




CERTIDÃO DE TOMBAMENTO
NÚMERO DE PUBLICAÇÃO: 192270
GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ
SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA
DIRETORIA DE PATRIMÔNIO
DEPARTAMENTO DE PATRIMÔNIO HISTÓRICO
ARTÍSTICO E CULTURAL
CERTIDÃO DE TOMBAMENTO


De acordo com a Lei Estadual n° 5.629 de 20.12.1990, que "dispõe sobre a preservação e
proteção do patrimônio histórico, artístico, natural e cultural do Estado do Pará", a partir da
presente data fica TOMBADO sob a denominação "Antiga Residência do Escritor
Dalcídio Jurandir" o bem imóvel sito à Avenida Coronel Bento Miranda, n° 621, esquina
com a Travessa Alfredo Pereira, bairro de Petrópolis, município de Cachoeira do Arari,
Arquipélago do Marajó, Estado do Pará.
O tombamento, na forma da Lei, deverá ser inscrito no Livro Tombo n° 03 -Livro de bens
imóveis de valor histórico, arquitetônico, urbanístico, rural, paisagístico,
como: obras, cidades, edifícios e sítios urbanos ou rurais , pertencente ao
Departamento de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (DPHAC), da Secretaria de
Estado de Cultura (SECULT).
O bem tombado terá área de entorno definida por raio de 100m, medidos a partir do limite
do terreno onde o imóvel está localizado, conforme dispõe a Lei Estadual n° 5.629/1990,
art. 30, parágrafo único.
Publique-se e cumpra-se.
Secretaria de Estado de Cultura, 14 de dezembro de 2010.
LUIZ FLÁVIO MOURA DE CARVALHO
Diretor Departamento De Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural/DPHAC/DPAT/SECULT
LÉLIA MARIA DA SILVA FERNANDES
Diretora de Patrimônio -DPAT/SECULT
Homologo:
CINCINATO MARQUES DE SOUZA JUNIOR
Secretário de Estado de Cultura -SECULT

§§§§§§§§§
CONHEÇAM O NOVO SITE DO ESCRITOR DALCIDIO JURANDIR E A CAPA DO LIVRO  CHOVE NOS CAMPOS DE CACHOEIRA, QUE RETORNA ÀS LIVRARIAS COM VERSÃO INÉDITA, PREPARADA A PARTIR DE ANOTAÇÕES, CORREÇÕES E EMENDAS FEITAS PELO PRÓPRIO ESCRITOR NA PRIMEIRA EDIÇÃO QUE SE ENCONTRA NO ACERVO DA FUNDAÇÃO CASA  RUI BARBOSA-RJ.
 

domingo, 17 de julho de 2011

VOZ DAS ILHAS

para os colonialistas nossa história começou em 1500 com a "descoberta" do Brasil...Porém - 'menas' verdade - nem mesmo por esta via a coisa está certa. Em 1500, fins de janeiro, o espanhol Vicente Pinzón atacou e levou trinta e seis índios da grande ilha "Marinatambalo" [Marajó] e em 1498 o "cosmógrafo do rei" (cartógrafo oficial do reino de Portugal) Duarte Pacheco Pereira, em viagem secreta, fez medições astronômicas no Rio Pará a fim de saber, seguramente, os limites entre as duas coroas ibéricas nos termos do tratado de Tordesilhas (1494). 

Com esta providência Portugal poderia desvendar o segredo das "calmarias" (corrente equatorial marítima) e, sim, descobrir o Brasil como escala necessária para dobrar o Cabo da Boa Esperança, entrada do Oceano Índico, no caminho das Índias.

Fica claro que Marajó ficava na raia castelhana, mas Pinzón não se deu conta disto e, portanto, o relato de sua viagem ficou em segredo de estado mesmo quando as ex-colônias já tinham chegado à Independência. Por parte de Portugal estava claro que a margem esquerda da baía do Marajó, como se acha na crônica até fins do século XVIII, constituiu a "Costa-Fronteira do Pará". 

É dizer, se a margem direita tordesilhana da foz do Rio Pará era de Portugal a esquerda era de Espanha: mas faltava combinar isto com os índios de um lado e de outro, cuja geografia era outra...

Certo, no "testamento de Adão", toda Amazônia ao norte e oeste da baía do Marajó seria "castelhana" se a Nueva Andaluzia de Orellana houvesse vingado... Porém, como a tese de "uti possidetis" real, defendida pelo estadista santista Alexandre de Gusmão nas duras negociações do tratado de Madri de 1750, revogando Tordesilhas 1494; as populações nativas amazônicas no passo de dois séculos se achavam quase todas no domínio da coroa portuguesa. 

Como isto se passou, por obra e graça da geopolítica européia, constitui a teoria do milagre segundo nossa historiografia colonial. Mas, na verdade, é preciso introduzir conceitos de geografia física, arqueologia e antropologia para desvendar a participação direta das populações nativas na construção territorial da Amazônia. Vistos em detalhes os movimentos demográficos na região, antes de Cristóvão Colombo chegar ao Caribe, veremos muitas vezes que as ilhas sejam elas do mar ou do grande rio contam a história antiga das migrações do "Circum Caribe" em busca da terra-firme (continente), dita o Arapari ("cercadura do sol"): constelação do Cruzeiro do Sul.

Na realidade, seis milhões de pessoas organizadas num habitat de dez mil anos passando do nomadismo ao sedentarismo de aldeia até a criação de cacicados (estado neotropical autoctone) cuja primazia a arqueologia atribui geralmente à ilha do Marajó (cerca do ano 400 da era cristã); falando mil e tantas línguas e praticando culturas diferentes não tinham ideia da geopolítica colonial.

O que a gente gostaria de dizer é que, em pleno século XXI, não é mais possível levar adiante a teoria do milagre da história da conquista amazônica. Ao contrário do índio das regiões de clima temperado, tanto na América do Norte quando do sul da América do Sul; na Amazônia os índios "extintos" são a base da mestiçagem caboca com os negros escravos e os brancos degregados e exilados. E que esta gente pelo destino manifesto do "Circum Caribe" sempre quis e lutou pela Terra-Firme: hoje a República Federativa do Brasil, na União das Nações Sul-Americanas.

Pra que serve a intencionalidade dos agentes coloniais no presente da Amazônia brasileira? Por exemplo, alguns pesquisadores do período holandês acham que Maurício de Nassau optou pela conquista do Prata a partir do Recife e que este fora o motivo verdadeiro da discórdia interna da colônia batava com os partidários da conquista do rio das Amazonas. A gota d'água para os sócios da companhia colonizadora na Holanda encerrar o contrato firmado com o célebre conde alemão.


Dentro da União Ibérica (1580-1640) o chamado do rio das Amazonas com a imaginação do tesouro dos Íncas ou do El-Dorado também gerava tensões entre súditos de Castela e de Portugal. A célebre expedição de entrada de Pedro Teixeira, do Pará ao Equador (1637-1739)ida e volta, guarda até hoje seus segredos e o pretexto que veio a calhar foi o surgimento, em Gurupá, de dois frades espanhóis fugindo da fúria de índios revoltados no Alto Amazonas...


Esta aventura repetia a descida a esmo de Francisco de Orellana e frei Gaspar de Carvajal inventores da lenda das amazonas (1542), por imitação do mito da Capadócia (Turquia). A lenda amazônica acendia paixões temerárias em todas cortes da velha Europa enfetiçada pela febre do ouro... Mas, o resultado do sonho e pesadelo é hoje - a partir da segunda década do século XXI - que se pode ver o peso desta longa história e além dela, inclusive, no passado regional pré-colonial através da arqueologia e da história oral transmitida aos primeiros colonizadores da Amazônia.

Ora, em 2012 a cidade de São Luís do Maranhão completa 400 anos de fundação pelos franceses do nobre protestante Daniel de La Touche:começa aí, de fato, a invenção da Amazônia... Em 2016 será a vez de Belém do Pará comemorar seu 4º centenário de existência. O que os brasileiros sabem disto e que os lobistas da "internacionalização" tem a dizer esgrimindo os direitos humanos e a conservação do meio ambiente planetário? 

Uns e outros, fazendo tabula rasa da história das populações amazônidas tradicionais, somente vão prolongar o velho cabo de guerra neocolonial e aprofundar a destruição das Índias que Las Casas denunciou, desde o Caribe, nos inícios do genocídio americano. Que poderia dizer ao Brasil e ao mundo contemporâneo a história revisitada do Maranhão e Grão-Pará, desde a invenção da Amazônia, a passagem da "linha" de Tordesilhas e a Adesão à Independência?


Primeiro, foram os tupinambás da ilha de São Luís que propuseram aliança a corsários gauleses para se estabelecer no Maranhão: precisava ainda a antropologia de Curt Nimuendaju, Métraux, Florestan Fernandes, Darcy Ribeiro, a historiografia de Vainfas... para nos ensinar o que, na verdade, o Bom Selvagem tupinambá buscava através da guerra e da paz.


Inimigos dos perós (portugueses) e amigos dos maïr (franceses) desde Piratininga (São Paulo) e Guanabara (Rio de Janeiro) os tupinambás estavam em guerra contra os Tapuias (nome genérico ao avoengo Tamoio [tamu (avô)/tamuya (tapuia)] quando triunfaram sobre os Timbiras em Tapuia-Tapera (Alcântara, base espacial brasileira).


Tapuia-Tapera quer dizer ruína tapuia e a invasão do Norte se fez em direção ao poente (Araquiçaua) através do "caminho dos Tupinambás" ou "Caminho do Maranhão" que unia a praça de São Luís a Belém do Pará passando pela costa até Caeté (Bragança)... Abre-se daí a Tapuya Tetama (terra dos Tapuias, Grão-Pará).


A literatura indianista com Gonçalves Dias e José de Alencar extraem dessa história mal conhecida e pior compreendida páginas de ficção que novamente precisam ser lidas nestes 400 anos que se avizinham. O herói tupi do passado agora reina nos terreiros da religião afro-amazônica, de Belém do Pará a São Luís do Maranhão, ao lado de orixás e vóduns africanos chegados em navios negreiros no templo corpóreo de pais e mães de santo na diáspora: mas os pajés-açus ou caraíbas já eram moradas vivas do espírito Jurupari ("boca fechada", código do segredo nativo)...


Padres católicos franceses vindos ao Maranhão por imposição da raínha Maria de Médicis para confrontar os colonos calvinistas e catequizar os índios, ignorantes da religião brasílica diabolizaram Jurupari e os protestantes pregavam a paz e o trabalho para lucro à metrópole. Fica claro que o Bom Selvagem que já havia ido a França imperial pregar a revolução (conforme Montaigne e Rousseau) se decepcionou amargamente com a França Equinocial. Daí a inesperada virada para o lado português, o único colonizador que estava em marcha para o Norte rufando tambores de guerra (inimigo de meu inimigo é meu amigo...).


Entrementes, o ladino tuxaua Jacuúna se acamaradava ao não menos esperto cristão-novo Martim Soares Moreno, judeu do Marrocos instigado pelo tio Diogo Soares Moreno, sargento-mor do estado do Brasil, que só pensava no tal rio das Amazonas com seus imaginados tesouros:a índia Paraguassu se amancebou com Martim e esta aliança, certamente, teve por dote e herança a seus descendentes o rio das Amazonas...


Como diriam os italianos, se não é verdade é bem provável! 

O certo é que o cunhadismo constitui a mais forte instituição familiar tupi. Assim, o cunhado Soares Moreno pintou-se de caraíba (comandante de guerra) e sabia bem aonde queria chegar, diferentemente do nobre cavaleiro de La Ravardière constrangido pela raínha católica. Os franceses juraram de morte a Martim Soares Moreno quando souberam da aliança de Jaguaribe, terminaram por o aprisionar nas Antilhas... Mas, aí parece que tiveram que lhe poupar da forca a fim de preservar a vida de Daniel de La Touche encarcerado na torre de Belém (Lisboa).


Também é verdade que antes de Orellana "descobrir" o Amazonas, uma estupenda migração de 14 mil tupinambás idos de Pernambuco ao Peru pelo Solimões (Amazonas) acima chegaram ao Peru, em 1538 buscando o que os antropólogos supracitados sabiam bem; desgraçamente terminados em negra escravidão em mãos dos espanhóis, como de resto seus muitos milhares de parentes em mãos dos portugueses no Maranhão e Grão-Pará até a "caboclização" geral decretada às vésperas da Adesão à índependência, em 1820... O informante mameluco Diogo Nunes não sabia dizer por qual caminho os índios seus parentes chegaram, mas hoje é só ver o mapa para compreender que o caminho dos sertões vai dar nas barrancas do Tocantins e deste águas abaixo às ilhas do Pará para varar ao rio Amazonas: evidentemente, tal caminhada de 12 anos, careceu de muita guerra e muito sacríficio antropofágico...


Por causa da utopia selvagem - dita "terra sem males" - essa gente causou e sofreu o diabo! Revoltados pelo tuxaua Pacamão, em Cumã-MA, contra a opressão dos filhos do governador Jerônimo de Albuquerque, vingaram-se massacrando colonos açorianos enganados pelo traficante Simão Estácio da Silveira (1618), que prometera o paraíso no Maranhão aos pobres de Portugal...E pelo cacique Cabelo de Velha, em Belém-PA, injuriado pelas violências dos portugueses praticadas contra os índios no Moju e Pacajás; sofreram horrorosa e desproporcional retaliação terminando em morte e cativeiro enorme sob mando do famigerado genocida Bento Maciel Parente.


Não obstante, esta gente antropófaga para a qual a vendetta era religião; em vez de continuar a atacar as posições do cruel lusitano ao primeiro chamado para expulsar a estrangeiros inimigos deste (holandeses e ingleses), 1623, pelos frades de Santo Antônio do convento do Una, estão vibrantes com remos, canoas, arcos e mantimentos seus... O mesmo iria se repetir com os 1200 arqueiros e remadores da expedição do capitão Pedro Teixeira, comandada pelo mameluco pernambucano Bento de Oliveira, no posto de coronel, estratagema do astuto governador Jacome de Noronha, do Maranhão e Grão-Pará...


Nossos honoráveis acadêmicos não acharam estranho tudo isto! Que o inimigo hereditário dos tupinambás, neste caso, eram índios das ilhas do Marajó ("marãyu", gente malvada; guerrilheiro de emboscada com setas envenenadas). Nem viram tampouco que em vez do milagre de Santo Antônio para tomada de Gurupá, antes fora Jurupari a obrar a fúria dos tupinambás (não exatamente aos holandeses que nada lhes deviam, mas ao odiado Nheengaíba que sempre foi o maior estorvo à subida do rio das Amazonas rumo ao sítio sagrado onde o sol pernoita...).


Quem eram esses invencíveis Nheengaíbas ("falantes da língua ruim")? Eram antepassados dos marajoaras de hoje. Ontem foram nomeados como inimigos dos portugueses, declarados "índios de corso" (piratas) aos quais era preciso levar a "guerra justa" (cativeiro e extermínio) para ocupar, enfim, a ilha do Marajó jamais vencida pelas armas, desde 1623 e somente integrada pela paz de 1659 (missão do Padre Antônio Vieira ao rio Mapuá).


Muitas águas rolaram entre as ilhas do rio-mar desde o dia em que Pinzón pisou em Marinatambalo: todavia as ilhas já haviam escrito sua mensagem na cerâmica marajoara, da qual a primeira notícia que se teve data de 20 de Novembro de 1756 e a "tradução" ainda está a se fazer com destaque para a arqueologia de Denise Schaan www.marajoara.com . Por isto dentre outras coisas é preciso federalizar o Museu do Marajó www.museudomarajo.com.br sob direção do IBRAM e assistência técnica do IPHAN e Museu Paraense Emílio Goeldi, para que a Reserva Técnica disponível em Marajó seja algo mais do que apoio para poucos estagiários.


É preciso democratizar o patrimônio cultural marajoara como Dalcídio Jurandir e Giovanni Gallo fizeram. 





sexta-feira, 8 de julho de 2011

UNIR O MARAJÓ PRA NÃO DIVIDIR O PARÁ

SEM EDUCAÇÃO NÃO HÁ SOLUÇÃO:
Amazônia Marajoara paisagem cultural do Brasil

"Os primeiros cacicados amazônicos surgem na ilha de Marajó, onde técnicas
de manejo de rios e lagos – com a construção de barragens e escavação de
viveiros de peixes – buscavam maximizar a pesca em áreas onde inundações
periódicas transformavam os campos em locais extremamente propícios para
a piracema (...) produzindo uma das mais sofisticadas tradições ceramistas das
Américas".
[cf. Denise Schaan ]


http://www.pousadaaruaque.com.br/marajo/DSC02038.jpg



Nós, os cabocos ribeirinhos, temos que aprender a somar e compreender que cultura não é só larilá e ladaínha nem ecologia é poesia só pra inglês ver... É de matar fome e ganhar o pão que se trata quando a gente diz que turismo é indústria e comércio. O nosso rico açaí, a carne "verde" de búfalo ou gado comum, o queijo, azeite de patauá, óleo de andiroba, peixe filetado, artesanato etc. & tal tudo isto pode e deve estar agregado ao made in Amazon/Marajó . Principalmente, o atrativo turístico faz com que (ao contrário dos brasileiros que vão lá fora gastar R$ 8 bilhões) nacionais e estrangeiros que entram no país deixam divisas para geração de emprego e renda local. Além disto, o visitante que é bem atendido e sai satisfeito é o melhor propagandista para atrair mais turistas e serve de "caixeiro viajante" para o frito de vaqueiro, a canhapira, a polpa de bacuri e tantas coisas mais que mexem com a paladar e a curiosidade.

Então esta conversa vai para economistas inovadores dispostos a inventar moda. Para isto a gente quer o Museu do Marajó servindo de anfitrião em parceria com a AMAM (associação de prefeitos), AVIM (de vereadores), Instituto Peabiru (programa VIVA MARAJÓ / Fundo Vale): uma plataforma cooperativa, junto a qual a União e o Estado venham a nos dar a mão servindo de laboratório e referência às 12 regiões estaduais de integração para o desenvolvimento sustentável, no marco do ZEE (zoneamento ecológico-econômico) paraense.


O xis da questão é que a parolagem é imensa, mas de fato quando a gente vê: a montanha pariu um rato... (às vezes, que ratão, meu irmão!).


MUSEU DO MARAJÓ PRA QUE VOS QUERO?

Em primeiro lugar - antes que se crie mais tempestade em copo d'água -; é bom dar aviso aos navegantes e pescadores de águas turvas que a gente quer sim federalizar as ilhas marajoaras. Mas não quer conversa mole pra boi dormir sobre o tal terrítório federal do Marajó nem saber de divisão do grande estado do Pará nem que chova canivete!

O primeiro passo para federalização exemplar deveria começar por reconhecer a dívida nacional e internacional com respeito à destruição e contrabando de sítios arqueológicos do Marajó:  um quase crime de lesa humanidade, bem pensado o limite da tolerância. Pois não se trata do valor material da coisa perdida, muito menos o preço venal das peças e coleções de cerâmica marajoara levadas da ilha como se fora a casa da mãe Joana... Mas, sobretudo, o dano simbólico e prejuízo imaterial sonegado a este povo lesado e encurralado por um dos piores IDH's da América Latina desde gerações passadas e que se projeta ao futuro. 

Em vão, temos pedido compensação à altura para esta brava gente que o mundo esqueceu: para isto escrevemos um "Breve história da Amazônia Marajoara", prestes a ser entregue ao público, como modesto esforço para sensibilizar os atuais responsáveis e despertar as consciências. Que melhor oportunidade para isto do que revitalizar a obra coletiva, que é O Nosso Museu do Marajó; empreendido pelo antigo pároco de Santa Cruz do Arari? Não lembram que o município foi uma antiga fazenda de gado da missão dos Jesuítas expropriada, dentre cerca de vinte, para doação aos Contemplados? Esqueceram que o sui generis museu começou com "cacos de índio" - o resto do resto deixado ao relento - numa memorável provocação do caboco Vadiquinho ao padre em deriva?


É claro que políticos e funcionários públicos não têm tempo para curtir estas coisas. Todavia, nós temos obrigação de saber onde o "sapato" aperta a essa gente de pé no chão... O modo mais efetivo para resgatar tal dívida será dotar o Museu do Marajó de modo que ele, doravante, no terceiro estágio de sua evolução histórica seja como uma agência ou consórcio intermunicipal de desenvolvimento ECOCULTURAL, sem tirar nem por. Em integração com a AMAM e parceria com istituições tais como o IBRAM, Museu Paraense Emilio Goeldi, Instituto Histórico e Geográfico do Pará, etc.

O Marajó se levantando da miséria em que se encontra seria um exemplo extraordiário às mais regiões de integração. Mas, o diabo da divisão do Pará é que o Brasil acabaria sendo o maior lesado de sua "sentinela do Norte", conforme canta o Hino Paraense aos surdos. E os cegos, que o Padre Antônio Vieira criticou no elogio ao peixinho da beira, o Tralhoto ("Sermão aos Peixes", São Luís do Maranhão, 1654) , não enxergam nem a pau que a região de pior IDH do estado, na verdade é um tesouro natural e cultural com potencial de competir, em termos turísticos e econômicos, com um país de ponta em matéria de ecoturismo no mercado mundial, como a Costa Rica por exemplo. 

Claro que para isto se tornar realidade é preciso investimentos, pesquisa e vontade política para transformar o bendito potencial em produtos sustentáveis. Aí está o "segredo de Polichinelo" da moção de Muaná, de 8 de outubro de 2003, pedindo reconhecimento da APA-MARAJÓ como Reserva da Biosfera da UNESCO...

Para isto é caso de federalizar O Nosso Museu do Marajó a fim dele se tornar a principal peça de resistência nesta arquitetura: sem desapropriar coisíssima nenhuma nem excluir ninguém dos tantos amigos do padre Giovanni Gallo, que o ajudaram contra vento e maré a criar este rico patrimônio. Cujos primeiros passos foram dados em Jenipapo (Santa Cruz do Arari) e finalmente Cachoeira do Arari. O padre morreu querendo ainda levar mais alto a cultura marajoara no Brasil e no mundo através do museu para todos os municípios. 

Mas se o Pará claudica em reconhecer o Museu do Marajó como prioridade de política cultural, como o Brasil vai se importar com a demanda marajoara ou a UNESCO reconhecer o Arquipélago como Reserva da Biosfera?

O Estado do Pará tem em letra de forma na sua Constituição, derivada da Carta-Magna da República Federativa do Brasi, dipositivo (§ 2º, VI, art. 13) considerando o Arquipélago do Marajó como área de proteção ambiental e determina que o planejamento desta região leve em conta a melhoria das condições de vida da gente marajoara... Isto tem sido letra morta em mais de duas décadas.

Em 1999, diante de desavenças insuportáveis entre "representantes" eleitos pelo povo uns gatos pingados dentre os quais o caboco que vos fala, foram se queixar ao bispo (Dom Angelo Maria Rivatto S.J., da Diocese de Ponta de Pedras). Este por sua vez pediu a solidariedade de seu confrade Dom Frei José Luís Azcona OSA, da Prelazia do Marajó; para ambos tomar as dores do Povo Marajoara diante da pobreza e ilhamento secular que o aflige. O jurista, geopolítico e professor Nelson Ribeiro deu consultoria ao documento da Igreja Católica publicado na quaresma do ano supracitado, ao qual este mesmo caboco teve a honra de apresentar em nome dos camaradas do "Grupo em Defesa do Marajó - GDM".

O GDM foi até pouco uma "tribo" adotada pela SOPREN de Camilo Vianna, enquanto Pro-Reitor de Extensão da UFPA; a cabo de dez "Encontros em Defesa do Marajó" realizados a cargo do campus Marajó (Breves e Soure) da dita universidade federal. O GDM foi organizado a 20/12/1994, inaugurou sua militância coordenando o último encontro da série de atividades em Educação Ambiental na capital do estado e na sede do município de Ponta de Pedras, entre os dias 28 e 30 de abril de 1995. A cartilha do GDM recebeu nome de "Carta do Marajó-Açu", provavelmente, constitui a primeira pauta de demanda popular com visão de integração territorial solidária, conforme o citado dispositivo constitucional proclama.

O conceito de "Amazônia Marajoara" se deve ao professor doutor Agenor Sarraf sobre base da arqueologia cultural da doutora Denise Schaan. O IBRAM já manifestou interesse em colaborar para recuperação e sustentação do Museu do Marajó e a SECULT-PA programou a reconstrução da Casa-Museu de Dalcídiio Jurandir, em Cachoeira do Arari, bem como a SEMA está empenhada em concluir trabalhos de campo e gabinete para candidatura do Marajó à lista mundial de reservas da biosfera. Estas medidas, ainda desconectadas, precisam ser INTEGRADAS... E isto, precisamente, deve constituir a FEDERALIZAÇÃO falada, para dar continuidade e finalidade ao PLANO MARAJÓ. 

Por outra parte, se ainda a União não se deu conta do custo amazônico haverá de diferenciar, muito mais, o custo Marajó: o que requer atuação da AMAM como mediadora da "federalização" e ao seu lado o Museu do Marajó deve ser a necessária "universidade corporativa" conforme o sonho do padre, que [cf. "Motivos Ornamentais"], desejava transformar a associação em fundação "O Nosso Museu do Marajó" para provar a especificidade da região insular do estuário da maior bacia fluvial do planeta.



Desta mneira, o conceito de "federalização" que nos interesa é um espectro amplo, onde a fórmula PPP (parceria público privada) com ativa participação da comunidade marajoara daria consistência ao discurso. Para isto, é preciso lidar com habilidade e "diplomacia" com relação ao vezo curupira (pé pra trás) que psicologia marajoaras explica, mas nem por isto se pode renunciar à ousadia a fim de não perder mais cavalo selado.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

FEDERALIZANDO A QUESTÃO DO MARAJÓ

AJUDA MEMÓRIA PRÓ-MUSEU DO MARAJÓ

Contributo à federalização da ancestralidade marajoara para o desenvolvimento humano, econômico e cultural da “Criaturada grande de Dalcídio Jurandir”: nos termos do parágrafo 2º, VI, artigo 13 da Constituição do Estado do Pará (considerando o arquipélago do Marajó como área de proteção ambiental) como base socioambiental à candidatura brasileira para futura reserva da biosfera Marajó / Amazônia Oriental a ser reconhecida pela UNESCO; no processo de integração solidária do território Marajó dentro do pacto federativo entre seus municípios, Estado do Pará, União e a sociedade civil local.

Baseada na obra inédita “Breve história da Amazônia Marajoara”.


Dedico este trabalho à memória
de minha avó Antônia Silva, indígena
marajoara da antiga aldeia da Mangabeira
 (lugar de Ponta de Pedras), no dia de
aniversário de seu bisneto e meu filho
Moacir José.



A GRATIDÃO ETERNA DO POVO MARAJOARA:

Ao cacique Piié Mapuá, cabeça da federação Nheengaíba, estimada aproximadamente em 50 mil guerreiros (congregando sete nações indígenas: os Anajás dentre aos quais o grupo dos Mapuás;  Aruãs, Cambocas, Guaianases, Guajarás-Paucacás, Mamaianás e Pixi-Pixi) e que mais resistiu à conquista armada das ilhas do estuário amazônico pelas forças coloniais e, em resposta à missão pacificadora empreendida pelo jesuíta João de Souto Maior, morto em seguida em expedição ao rio dos Pacajás, em 1656; concluída com êxito pelo “payaçu dos índios” Padre Antônio Vieira, no rio dos Mapuás (Breves)  em 27 de agosto de 1659; dando termo a 36 anos de guerra desde a  expulsão dos holandeses e britânicos, iniciada em 1623 no Xingu (Porto de Moz) e Gurupá. Possibilitando assim à coroa de Portugal ocupar o vale do Amazonas e deslocar da fronteira de Tordesilhas (1494) da Costa-Fronteira do Pará (margem esquerda da baia do Marajó) para  os confins da Amazônia luso-castelhana até a Independência sul-americana  começada por Simon Bolívar, em 1811. Fato histórico fracamente reconhecido na historiografia do Pará e praticamente inexistente na História do Brasil (cf. Serafim Leite “História da Companhia de Jesus no Brasil”, João Lúcio de Azevedo “Os Jesuítas no Grão-Pará” e outros).

Ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, célebre autor da “Viagem Filosófica” (1783-1792) por ter dado fé pública ao relato de história oral do índio sacaca Severino dos Santos, sargento-mor da vila de Monforte (Joanes / Salvaterra); a respeito da mais antiga memória étnica conhecida sobre o conflito, na ilha do Marajó, entre Ionas (Joanes ou Sacacas) e Aruãs levando ao massacre destes últimos em Água Boa (Salvaterra), cujo desfecho conta ainda com a participação dos Caripunas (refugiados no Oiapoque-AP na segunda metade do século XVIII) incentivando os Sacacas a buscar ajuda militar junto aos portugueses em Belém do Pará. E o descobrimento, em 20 de Novembro de 1756, do primeiro sítio arqueológico marajoara – o teso Pacoval do Arari  – pelo capitão Florentino da Silveira Frade, proprietário da fazenda Ananatuba, fundador da freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Cachoeira do rio Arari (1747) e  inspetor geral da Ilha do Marajó (cf. “Notícia Histórica da Ilha Grande de Joanes, ou Marajó”, 1783).

Ao governador da Província do Pará, José Coelho da Gama e Abreu, Barão de Marajó; pelas primeiras informações oficiais a respeito do saque e devastação dos sítios arqueológicos, com extração e remessa de peças e coleções de cerâmica marajoara para museus nacionais e estrangeiros, principalmente a fim de figurar na exposição etnográfica de Chicaco (Estados Unidos) de 1870 (cf. “As regiões amazônicas”).

Ao naturalista Domingos Soares Ferreira Penna (1818-1888), fundador do Museu Paraense Emílio Goeldi; pelos estudos pioneiros sobre a cerâmica marajoara e a língua e cultura dos Aruãs.

À arqueóloga Heloísa Alberto Torres, diretora do Museu Nacional (Rio de Janeiro), por seus estudos no município de Chaves sobre a arqueologia marajoara e proposição para um programa nacional de proteção e conservação aos tesos da ilha do Marajó considerando-os o patrimônio arqueológico mais importante do Brasil (cf. revista do SPHAN [IPHAN], Rio de Janeiro, 1937).

Ao antropólogo Nunes Pereira pioneiro dos estudos sobre a contribuição afro-amazônica à cultura marajoara contemporânea: em cuja memória se agradece a todos mais pesquisadores em antropologia e sociologia do Marajó, tais como Curt Nimuendaju, Expedito Arnaud e outros.

Ao douto pecuarista Vicente Chermont de Miranda , pelo clássico "Glossário Paraense – Coleção de vocábulos peculiares à Amazônia e especialmente à Ilha de Marajó" (1968).

Ao sábio José Ferreira Teixeira, por sua importe obra sobre os rios, furos, lagos e igarapés d’ “O Arquipélago do Marajó”.

Ao grande mestre do romanceiro do extremo-norte Dalcídio Jurandir; fonte perene ao conhecimento da humanidade da Amazônia Marajoara: em sua homenagem vai um grande abraço a Paulo Nunes, Günter Pressler e todos mais dalcidianos e dalcidianas que nos ensinam a ler a obra com os olhos de Alfredo;

Ao geógrafo Eidorfe Moreira, por sua fundamental contribuição ao estudo das áreas úmidas da região estuarina, notadamente o “apogeu igapóreo” da microrregião de Furos de Breves.

Ao mestre Vicente Salles, nosso melhor folclorista, que abre com chave-mestra as portas do reino iberiano transplantado ao universo dalcidiano.

Ao respeitável “prefeito de tamancos”, Wolfango Fontes da Silva, “Fango”; caboco pontapedrense; que junto a lavradores nordestinos inovou roças de coivara de origem indígena numa vigorosa agricultura familiar integrada à agroindústria local em cujas bases a Prelazia de Ponta de Pedras, trinta anos depois, iria revolucionar com ajuda católica internacional servindo, inclusive, a famílias da comunidade evangélica local.

Ao inesquecível cartorário, mestre de banda musical e prefeito de Ponta de Pedras, Antônio Ribeiro Malato, “Antonico  Malato”; homem justo e temente a Deus que não vacilou em confiar as finanças e reforma de gestão municipal a certo “moleque comunista”... Com que houve em Marajó e quiçá no Pará o primeiro PPA (1966-1969) e orçamento participativo, que se poderia comprovar, caso desavença política entre dois grupos antagônicos não houvesse incendiado a massa a fim de atear fogo ao prédio histórico do “Palácio Municipal” de 1938, transformando em cinza o arquivo e biblioteca Eládio Malato.

A Dom Ângelo Maria Rivatto S.J., bispo emérito de Ponta de Pedras; por sua “louca” aventura para implantar cooperativas kibutzianas sobre terras agrestes da beira da baia do Marajó.

Ao grande cacique marajoara, padre Giovanni Gallo, renascido no chão de Dalcídio: que nos deu régua e compasso para restauração da arruinada Cultura Marajoara em parceria com pescadores sem eira nem beira e rudes vaqueiros na soberba invenção d’O Nosso Museu do Marajó: com o padre dos cabocos, registramos nosso muito obrigado a Vadiquinho, Dona Mita, Manuel do Carmo, Tacica, Antônio Smith, Ademar Feio, Ima Vieira e tantos mais amigos e amigas que ampararam o visionário na hora a mais difícil de sua vida e, após a sua morte, não deixaram o museu fechar as portas quando tudo indicava o fim de um lindo sonho coletivo.

À arqueóloga marajoara por adoção Denise Pahl Shaan, com todo nosso carinho pela fidelidade e constância com que ela se atirou à dificílima pesquisa na trilha de Anna Roosevelt e outros descobridores que, desde o achado do teso Pacoval, em 1756, vem surpreendendo nossa ignorância quando não indiferença (cf. “Cultura Marajoara” Ed. SENAC: S. Paulo, 2010).

Ao ministro Gilberto Carvalho, em conjunto com Dom Alessio Saccardo de Ponta de Pedras e Dom Frei José Luís Azcona de Soure, pela boa vontade e sensibilidade humanitária em ouvir as queixas do Povo Marajoara disperso em meio milhão de “aldeias” (comunidades locais) na distância, entre chuvas e esquecimento; com que foi informado o Presidente da República, que deliberou pela criação do Grupo Executivo Interministerial do Marajó (GEI-Marajó), na Casa Civil sob chefia da então ministra Dilma Rousseff.

Ao Presidente Lula, enfim, que em última instância determinou, em 2006, a elaboração e execução do Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó (PLANO MARAJÓ), como piloto do Plano Amazônia Sustentável; e acompanhado oficialmente da Governadora Ana Júlia Carepa, a quem também agradecemos a Carta Compromisso assinada, assim como sua inscrição pessoal como sócio efetivo da associação mantenedora do Museu do Marajó; foi a Breves em março de 2007,  para ato oficial de lançamento do Plano.

Deste modo, pedimos desculpas pelas omissões, involuntárias ou porque são tantos outros nomes aos quais devemos agradecer que esta relação se tornaria enorme, com que mais adiante iremos oferecer às autoridades e ao público em geral algumas ideias e sugestões para prática da federalização de fato dentro do processo histórico que ora recapitulamos com referência à data de 28 de Maio de 1835, da Proclamação de Muaná (Marajó) em Adesão do Pará à Independência do Brasil.


Bufalo Bufalo Laço Rodeio Criança
Bufálos Bufálos Prova do Laço Laço Rodeio Crianças


O SENTIDO DA RESISTÊNCIA MARAJOARA
o Plano Marajó, lançado no primeiro trimestre de 2007 e complementado, em 2008, pelo programa Territórios da Cidadania (num conjunto de 120 territórios federativos em consórcio de municípios de menor IDH do Brasil) representa o coroamento de um processo histórico de, aproximadamente, 350 anos entre a chamada pacificação dos "nheengaíbas", na segunda metade do século XVII e a regularização fundiária de terras de marinha, pelo projeto Nossa Várzea, na ilha do Marajó.

além dos três ensaios de nossa autoria ("Novíssima Viagem Filosófica" em 1999, "Amazônia Latina e a terra sem mal" em 2002, e "Breve história da Amazônia Marajoara", ainda inédito) oferecemos ao público interessado na questão marajoara diversos artigos nos seguintes blogs: 

Significa dizer que já demos nossa opinião, que certamente não é a melhor nem a pior de muitas outras. Se tomarmos por referência a lista bibliográfica organizada por Eidorfe Moreira sobre autores e obras versando sobre Marajó, rapidamente nos damos conta de que há material suficiente para vários cursos superiores em praticamente todas disciplinas universitárias. Além disto, atuam em Marajó pelo menos três campi (UFPA, UEPA e IFPA), além de uma estação ciêntífica (Ferreira Penna, do MPEG) e uma fazenda experimental da EMBRAPA, em Salvaterra.

por incrível que pareça, o periclitante Museu do Marajó - nascido na emblemática vila do Jenipapo, município de Santa Cruz do Arari, em 1972, com extraordinária vocação de ecomuseu "avant la lettre" - figura no conjunto com um potencial de "universidade da cultura marajoara": o sonho de Giovanni Gallo (Turim-Itália, 1027 - Belém-Pará 2003) era que "O Nosso Museu do Marajó" se transformasse em uma fundação capacitada a atender a todos os municípios do Marajó, na realização de um "plano de desenvolvimento cultural".

com o esperado PLANO MARAJÓ nós imaginamos que havia chegado o grande dia para realização do sonho do criador do Museu do Marajó. Ainda mais que, convidado pelo colegiado do programa Territórios da Cidadania - MARAJÓ como contratante de articulador junto à sociedade civil; o MdM teve atuação dentro do comitê gestor integrado do Plano e programa.

Mas, cedo as incongruências entre funcionários federais, estaduais e administrações municípais, complicadas ademais pela fragilidade de organização da sociedade civil, terminaram por levar o Museu do Marajó ao sacrifício em expiação dos pecados da política partidária com o desconhecimento e desinteresse da burocracia. Fizeram-se consultas populares demais, reuniões demais, papelada demais e hoje se pesquisadores do IPEA ou outras instituições quiserem saber a quantas se anda hão de constatar que o maior interessado de tudo - Povo - continua na mesma, sempre por for fora dos acontecimentos.

ora, isto é mais grave do que parece! Pois não se resolve com CPI, investigação, punição de alguns bodes expiatórios. Nós podemos continuar acusando-nos mutuamente, esperando Godot e trocando votos a cada dois anos sempre na vã crença de que virá um governante ou representante político capaz de resolver todos os problemas.

surgem palavras mágicas (tais quais como separatismo, desenvolvimento, federalização, municipalização, estadualização, et caterva). Porém tudo isto é comparável ao ópio do povo. Curiosamente, a proposta prática de autogestão da comunidade marajoara surgiu com os ventos de aggionarmento da Igreja Católica em 1964, por coincidência na contramão da Ditadura: significativamente, após uma troca de correspondência entre Belém e Rio de Janeiro, com Maria de Belém Menezes e Dalcídio Jurandir; o padre Giovanni Gallo seleciona artigos seus publicados na imprensa no emblemático "Marajó, a ditadura da água"...

ontem em mais um Dia do Marajó, versando sobre o tema da ligação elétrica do território Marajó à usina hidrelétrica de Tucuruí; o prefeito de Portel e presidente da Associação de Municípios, Pedro Rodrigues Barbosa; sentenciou, corretamente: o marajoara sabe que quer e como fazer...

Nós, desde 1994, a serviço da prefeitura de Ponta de Pedras e da própria AMAM, temos insistido para que Museu do Marajó e a comunidade de municípios estabeleçam acordo de cooperação em matéria de cultura e turismo. O PLANO MARAJÓ é ainda a melhor oportunidade para que a isto se junte A SECULT-PA e PARATUR, por uma parte, e o MINC e Ministério do Turismo, por outra.

Todavia, nada disto acontecerá enquanto as opiniões forem divididas, a má vontade política predominar sobre os interesses coletivos, o meio ambiente e a cultura forem tratados separados como inimigos ou desinteressantes para a geração de empregos e renda nas regiões periféricas. Não há como negar a existência de um problema político de origem colonial antiga, que se espelha no esquecido parágrafo 2º, VI, artigo 13 da Constituição do Estado do Pará, colocado nas calendas gregas.

Tal dispositivo é um "jabuti" da Constituinte para afastar ameaça de construção na ilha do Marajó de um presídio federal de segurança máxima. Era a ideia que a União fazia deste rincão insulano na foz da maior bacia fluvial do planeta: berço da primeira cultura complexa da Amazônia e tesouro arqueológico do Brasil. 

não há mais nada a dizer: é chegada hora de agir e agir rápido!