quinta-feira, 31 de março de 2011

APELO AO COMPANHEIRO JAIME NA DIRETORIA DA AMAM

Ilmo. Sr.
JAIME DA SILVA BARBOSA,
Prefeito Municipal de Cachoeira do Arari,
Vice-Presidente da Associação de Municípios do Arquipélago do Marajó (AMAM).


A/C do Ilmo. Sr. Wavá Bandeira,
Assessor de Comunicação da AMAM.


Querido amigo Jaime:

Com cumprimentos ao Presidente Pedro Barbosa e mais membros de diretoria, manifesto meu contentamento em ver teu nome como vice-presidente da AMAM.

Crítico frequente dessa associação de prefeitos a qual servi em mais de uma oportunidade com meus modestos préstimos,tenho pela AMAM grande consideração em respeito à causa marajoara a qual tenho antiga dedicação que vem dos anos de 1960, ainda na juventude na minha querida Ponta de Pedras de outrora.

Portanto não me acanho de criticar ou elogiar tudo aquilo que julgo possa interessar à gente marajoara como um todo. Você sabe que tenho particular afeição por Cachoeira do Arari pelo tanto que ela significa em relação à deprimida, maltratada e mal empregada CULTURA MARAJOARA.

A "primeira cultura complexa da Amazônia" (Denise Schaan), que quase ninguém conhece ou está a fim de conhecer: e já se sabe, SÓ SE AMA O QUE SE CONHECE...

Sou consciente das incompreensões e mal entendidos que uma atitude radical como esta pode ter causado ou ainda irá causar a outrem. De toda maneira, cumpre frisar que nesta altura da vida não me move desejo de disputar cargo político ou emprego, tampouco adquirir notoriedade de cunho individual.

Infelizmente, a AMAM não prima por um razoável sistema de comunicação capaz de atender as necessidades de 500 e tantas comunidades locais espalhadas no território insular formado pelos 16 municípios associados. Sem ser mandado ou ter mandato tenho feito o meu possível através da internet para sensibilizar o Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo;o qual juntamente com o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha; são exemplos para as mais autoridades no uso competente das novas mídias em redes sociais, sobre a urgência da banda larga a fim de romper o ILHAMENTO das ilhas no boqueirão Pará-Amazonas, a AMAZÔNIA MARAJOARA.

Eu não tenho dúvida de que a AMAM e cada um dos municípios como instituição estão interessados em que o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL)chegue imediatamente às ilhas do Marajó prestar enormes benefícios de interesse da saúde, da educação, da cultura, da segurança pública e do turismo.

O que eu estou a dizer aqui e em outras ocasiões é que prefeitos, vereadores, secretários e assessores com atuação em regiões ultraperiféricas - como é o nosso caso - carecem com urgência fazer uso destas ferramentas. Permitindo, além do telefone celular privado; interagir de maneira a comparecer no fluxo de informações mostrando a cara marajoara de um Brasil que os brasileiros não conhecem e os próprios marajoaras não sabem como mostrar.

Não acredito que alguém ainda pense que é vantagem ficar confinado na beira do rio a ver navios ou entre quatro paredes de gabinete refrigerado a bancar avestruz enterrando a cabeça na areia para fugir dos problemas que a Controladoria Geral da União anda a mostrar na TV para todo mundo.

Pensando assim é que tomo a liberdade de suscitar o debate em torno do que eu acredito daria aos municípios do Marajó e à AMAM como entidade representativa um destaque nunca dantes experimentado.

Isto posto, informo - em qualidade de cidadão na forma da Lei Magna - para acompanhamento e eventuais providências:

1 - bato-me pelo tombamento da CULTURA MARAJOARA no patrimônio imaterial, com base em pesquisas de Anna Roosevelt, Denise Schaan e outros. É certo que o povo acredita em cobra grande, mas não acredita que "cultura enche barriga"... É que nós ainda não fomos capazes de provar em contrário malgrado a mina de teses e dissertações acadêmicas e a pletora de seminários, oficinas e todos esses mais eventos enfadonhos só para pose de jornal e algum faturamento de bandas e festival de cerveja seja como nome de açaí ou camarão...

2 - a reedição da obra de Dalcídio Jurandir em livro popular é um objetivo de importância para toda Amazônia, e Marajó através da AMAM deveria tomar a liderança neste sentido,sobretudo agora que a SEMA vai lançar a candidatura do Marajó como reserva da biosfera, no programa "O Homem e a Biosfera" da UNESCO: consequência tardia do art. 13, VI, parágrafo 2º da CEPa, criando a APA-Marajó e o ZEE do estado;

3 - no contexto da reserva da biosfera Marajó,a reconstrução da casa-museu de Dalcídio Jurandir, em Cachoeira do Arari; pelo Governo estadual não diz respeito somente a este município mas é um equipamento da maior importância para prática do turismo literário (com exemplo da Festa Literária de Paraty-RJ) com potencial para atrair público formador de opinião e colocar todo Marajó no calendário turístico e cultural brasileiro;

4 - naturalmente, o título de patrimônio cultural imaterial do Estado do Pará, conferido à FESTIVIDADE DO GLORIOSO SÃO SEBASTIÃO [Cachoeira do Arari]constitui um primeiro passo de processo mais amplo levando à segunda etapa do INVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS - Marajó (a cargo do IPHAN)que está faltando;

5 - a 'municipalização' integrada dos Planos Nacionais de Saúde, Educação, Cultura, Turismo, Comunicações, etc. é um desafio e uma oportunidade para a AMAM em parceria com as 500 e tantas comunidades locais das 'ilhas' do Marajó... Para isto não se pode deixar morrer o PLANO MARAJÓ, como tantos outros, sem foguete e sem bilhete;

6 - o COMO FAZER passa por uma solução compartilhada entre todos municípios na realização do sonho de Giovanni Gallo (cf. "Motivos Ornamentais de Cerâmica Marajoara" com apresentação de Ima Vieira e prefácio de Denise Schaan): ou seja, a criação da FUNDAÇÃO O MUSEU DO MARAJÓ... Gallo queria, sobretudo, um plano de desenvolvimento cultural...sabe-se lá o que significa, hoje, a economia criativa da cultura?

7 - tenho sustentado uma luta quase solitária a este respeito, embora pudesse ter todos motivos para dizer que já fiz o bastante pelo Museu do Marajó enquanto Giovanni Gallo estava vivo... De modo que seria triste engano pensar que me move animosidade ou antipatia à atual diretoria da Associação mantenedora do museu, que aliás ainda não tive o prazer de conhecer ou ser procurado por um só de seus membros.

8 - Ledo engano! Sei o quanto foi difícil, antes e depois da morte do fundador (em 2003)manter abertas as portas do museu. O que desejo é que o IBRAM assuma suas responsabilidade com relação a uma obra emblemática como esta, que em absoluto não era particular do padre Gallo e nem de ninguém...

9 - a dita "FEDERALIZAÇÃO" do Museu do Marajó deve ser o reconhecimento oficial de que a comunidade de Santa Cruz do Arari (1972-1983) e depois de Cachoeira, de 1983 até agora (com recurso oficioso federal e estadual) realizou uma obra a qual a União deve estar presente "ex-officio" e não se escorar na distância nem esperar ser chamada pela gente que faz das tripas coração a fim de não deixar enrolar a bandeira : esta é a tese,não um dogma...

10 - é claro que a comunidade marajoara como um todo, além dos irmãos cachoeirenses em especial (a exemplo do Museu da Maré, no Rio de Janeiro) deverá ser - INDISPENSAVELMENTE - a parceira estratégica de uma tal operação onde o Governo Estadual e a AMAM devem fazer parte necessária.

11 - Ora, se a AMAM é justamente criticada por virar as costas ao drama do Museu do Marajó; como os marajoaras vão reprovar a SECULT ou o Ministério da Cultura de não prestar atenção às nossas queixas?

12 - E se coincide o fato do Prefeito de Cachoeira do Arari acumular o cargo de Vice-Presidente da AMAM, a questão toma nova figura. Pela qual me apresso a informar com distribuição para rede social, o seguinte:

(a) as diversas manifestações deste blogueiro caboco sobre a questão em epígrefe podem ser copiadas diretamente da lista de blogues no rodapé deste (autorizado copyleft citada a fonte); (b) a Ouvidoria do Ministério da Cultura e do Ministério Público no Pará assinalaram conhecimento do assunto; (c) reunião preliminar para troca de informações já foi realizada no Escritório Norte do Minc (Belém).

Isto posto, Caro companheiro Jaime; me despeço reiteirando votos de êxito no cargo e felicidades pessoais confiando que você saberá chamar para si a condução de grupo de trabalho em busca das soluções reclamadas.

saudações Marajoaras!
José Varella Pereira 

INICIATIVA MARAJOARA

Como resultado preliminar de nossas tentativas em estabelecer contato com autoridades do 'GM16' (grupo de municípios marajoaras), do Estado e da União responsáveis pela Cultura a fim de chamar atenção para a questão da Cultura Marajoara, a Ouvidoria do Ministério acusou recebimento de email e o MPF-PA tomou nota e acompanha andamento do assunto.

Ademais, com a prestimosa colaboração do companheiro José Maria Reis, coordenador de relações internacionais da ong Argonautas; tivemos uma primeira reunião no Escritório Norte do Ministério da Cultura, em Belém-PA,para nivelamento de informações a respeito da competência do referido escritório e as demandas de Marajó na área da cultura.
 
Acho todavia que chegamos a uma fase que exige resultados e assim, doravante, deve-se ultrapassar a fase anterior de atitudes individuais isoladas ou parciais para construirmos juntos uma INICIATIVA SOLIDÁRIA de modo a congregar o maior número possível de interessados na solução dos problemas que afligem a gente marajoara além dos puros aspectos da Cultura (notadamente nos termos constantes do Art. 13, VI, §2º da Constituição do Estado do Pará, que trata da área de proteção ambiental remetendo-a, corretamente, ao quadro geral do desenvolvimento socioeconômico).
 
Como todos sabemos, por necessidade e acaso,a obra literária engajada de Dalcídio Jurandir (Ponta de Pedras,1909 - Rio de Janeiro,1979) e a antropologia pragmática de Giovanni Gallo (Turim,1927 - Belém, 2003) são, como os cabocos dizemos, "unha e carne" (inseparáveis); tendo por traço comum a dita cuja gente marajoara... Ora, pesquisadores apontam o romance dalcidiano como fonte para antropologia das regiões amazônicas. "Marajó" é visto pela crítica como "o primeiro romance sociológico brasileiro" (Vicente Salles) e "Linha do Parque" com temática do Rio Grande do Sul considerado "o primeiro romance proletário, digno deste nome no Brasil" (Carlos Peres, dissertação).

Pois bem, o MUSEU DO MARAJÓ www.museudomarajo.com.br é a materialidade da cultura marajoara remanescente do índio, do negro escravo e do branco degredado nas condições geoculturais do isolamento no novo Trópico Úmido. Não foi àtoa que a correspondência entre Maria de Belém Menezes e Dalcídio Jurandir estabeleceu conexão entre o padre jesuíta refratário à hierarquia eclesial (vide livro-reportagem "Marajó, a ditadura da água" e autobiografia "O homem que implodiu", de G. Gallo)e o militante comunista agnóstico.

Se há uma causa comum para esta heterodoxia incomum pode-se dizer, sem dúvida, que ela é a indefectível "criaturada grande de Dalcídio". Ou seja, a dita gente... [ver www.dalcidiojurandir.com.br ]. Mas, fazia falta uma fundamentação histórica e científica específica, de modo a recuperar "o barro dos princípios do mundo" (saudação de Jorge Amado a Dalcídio, o "índio sutil"...)e promover o 'aggiornamento' da antiga CULTURA MARAJOARA ao mundo dos cabocos ribeirinhos das ilhas do Pará-Amazonas.

Este recurso, como o nativo do Marajó foi ao Extremo-Sul reportar a luta dos trabalhadores gaúchos contra a vil exploração humana na alienação do Trabalho;como a Cabanagem se fez irmã da Farroupilha; veio em forma de gente e inteligência devassar os arcanos mais profundos da "primeira cultura complexa da Amazônia". Trata-se do memorável trabalho de pesquisa arqueológica realizada pela gaúcha Denise Schaan www.marajoara.com , prefaciadora da obra "Motivos Ornamentais da Cerâmica Marajoara" (G.Gallo) e autora da obra-libelo "Cultura Marajoara", ed. SENAC-SP, 2010.

A primeira notícia da cerâmica marajoara está na separata da "Viagem Philosophica", com título de "Notícia Histórica da Ilha Grande de Joanes, ou Marajó" (1783), de Alexandre Rodrigue Ferreira. Informa que Florentino da Silveira Frade, fundador da vila de Cachoeira (1744)encontrou o primeiro sítio arqueológico da ilha do Marajó que se teve informação, no dia 20 DE NOVEMBRO DE 1756 (data que, a exemplo do Dia Nacional da Consciência Negra; também se deveria tomar consciência daquela PRIMEIRA CULTURA COMPLEXA DA AMAZÔNIA...

Ora, não sejamos inocentes! A Política Nacional de Cultura não cura estas impertinências marajoaras não é por falta de informação!!!

TRATA-SE SIM DE UMA ANTIGA E CONTINUADA DISCRIMINAÇÃO DE MATRIZ COLONIAL, que se acha à raiz da queda de braço entre o Museu Nacional e o IPHAN no bojo da revolução de 1930... Este,bem claro, a favor da preservação da pedra colonial e aquele em favor da recuperação da memória do barro dos começos do mundo-Brasil...

é tempo de rever o peso de todas estas coisas!!! Não se trata de cuidar de um patrimônio e desvalorizar o outro, mas sim de cuidar de um único e só PATRIMÔNIO CULTURAL DO BRASIL e abolir a crença de tudo começou com Cabral, em Porto Seguro, em 1500...

"quem há de gabar a lagoa se não o sapo?" (ditado popular). Quem há de "se doer" pelo Marajó mais do que os próprios marajoaras e os amigos do Marajó?

o Ministério da Cultura possui em Belém-PA o Escritório Regional Norte (MINC NORTE) instância ministerial onde poderemos depositar e coordenar nossas queixas, reclamações e sugestões. Mas, sobretudo, estabelecer relação de parceria no espírito de integração federativa que norteia ou deveria nortear o PLANO AMAZÔNIA SUSTENTÁVEL (do qual, pelo menos em tese, pende o piloto "Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó" (PLANO MARAJÓ) e programa Territórios da Cidadania - Marajó).
 
Esta, para nós, deveria ser uma questão de ordem! Pois aí - apesar das imperfeições, contradições e mal entendidos - temos, pela primeira vez em séculos de arbítrio, uma regulação democrática participativa que deveria ser o principal instruumento para a mudança de mentalidade tecnoburocrática que infelicita a população de uma das regiões ecoculturais do Brasil mais cantada em prosa e verso - com testemunho do conjunto da obra literária, o Ciclo Extremo-Norte de Dalcídio Jurandir; primeiro ganhador do Prêmio Machado de Assis (1972) por escritor da Amazônia.
 
José Varella Pereira
 

terça-feira, 22 de março de 2011

Alfredo's Day em roteiro de Dalcídio Jurandir

Infelizmente, temos nós que estar a mostrar exemplos de fora para abrir os nossos olhos para a prata de casa. Tudo em vão, mas a gente não descansa: água mole em pedra dura tanto bate até que um dia estoura a paciência alheia e alguma coisa há de acontecer. O Brasil não tem ainda nenhum Prêmio Nobel e nossa Amazônia cantada em verso e prosa até agora só teve dois laureados da maior comenda da Academia Brasileira de Letras. O primeiro deles o romancista Dalcídio Jurandir, nascido em casa humilde da vila de Ponta de Pedras na ilha do Marajó, ganhador do Prêmio Machado de Assis de 1972 e o filósofo de Belém do Pará, Benedito Nunes, o de 2010.

nosso provincianismo papa chibé nos faz repetir coisas tais como "papagaio de amassadeira" (expressão popular das vendas de açaí, outrora; a custo de mãos e braços de mulher trabalhadeira geralmente de ascendência nativa).  Para ser modernos, hoje nós falamos de um tal "desenvolvimento sustentável" ditado por ONGs famosas e pressão da mídia internacional; porém mal nos damos conta de que nada neste mundo é mais renovável do que a economia criativa da cultura, nem mais sustentável do que o ecoturismo de base na comunidade.

francamente, os burros somos nós! Quando pensamos que donos do Poder e seus prepostos eleitos ou nomeados - Deus sabe como -, a peso de dinheiro escuso, marquetingue adoidado e votos de analfabetos políticos ao atacado; não entendem do riscado. Qual nada! Por entender é que eles não fazem o esperado nem cumprem o prometido nos palanques. Pois, como uma região ultraperiférica, que nem a nossa condenada a ser "celeiro do mundo", iria conciliar sem contradição grave "padrão de primeiro mundo" (como tenta desde a belle époque da Borracha) para uma escassa minoria e oferta de matéria prima barata sem baixos salários e desqualificada mão de obra semi-escrava à conta do povão tremendão?

A senhora dona antropofagia cultural mora de aluguel nos subúrbios da "metrópole" da Amazônia (seja esta em Belém ou em Manaus). O famigerado Macondo de Garcia Marques é parente próximo de "Marajó" de Dalcídio Jurandir e vai se espalhando mundo afora via êxodo das Ilhas caribenhas ou amazônicas filhas da Pororoca, aqui e acolá.  Mas igrejas e palácios coloniais são belos e os ritos católicos romanos se aculturam com o barroco latino-americano que é uma beleza! A negritude não se faz de rogada e a caboquice sempre presente anda rente como pão quente, benza Deus...

Dialética obriga! Em tempos de crise econômica, rebelião das massas, desastres naturais e acidentes industriais de largo impacto, mais a mudança climática; é tempo de dar a volta por cima apelando à inteligência. O chamado primeiro mundo muito tem a ganhar com o desenvolvimento cultural do terceiro mundo, pois se na verdade quer preservar as florestas tropicais deve ajudar a abrir bons empregos nas cidades da própria região de província e melhorar a qualidade de vida da zona rural satélite. Evitaria assim migração desenfreada para as metrópoles e imigração clandestina transfronteiriça levando a "desordem" até o coração da sagrada Civilização.

pelo turismo com responsabilidade aqueles que, de fato, querem ajudar as regiões pobres ou marginalizadas pela exploração colonial, prestariam ajuda sem dar o peixe da caridade geradora de assistencialismo e dependência econômica. Como em Dublin, na Irlanda, com a literatura de James Joice; um inventado Dia de Alfredo no roteiro de Belém do Grão Pará poderia integrar e desenvolver a paisagem cultural do delta-estuário do "Nilo" amazônico... 

Haja mais criatividade e educação patrimônial. Ver a seguir matéria UOL sobre turismo na Colômbia:
Gabriel García Márquez inspira roteiro em Cartagena
Foi em Cartagena de Índias, na Colômbia, que alguns dos romances do Nobel de Literatura Gabriel García Márquez foram ambientados. Por conta disso, a Escuela de Verano Cartagena de Indias da Universidad Tecnológica de Bolívar e a Empresa Administradora de Recursos Turísticos Patrimoniales criaram um roteiro especial em homenagem a ele. O passeio 'A Cartagena de García Márquez – Histórias reais e imaginárias' mescla ícones da cidade com locais relacionados à biografia do escritor.

Conheça a Cartagena de Gabriel García Márquez

Foto 1 de 11 - Nas ruas estreitas de Cartagena, na Colômbia, é possível observar fachadas que remontam a arquitetura colonial espanhola Divulgação/Proexport Colômbia

O percurso inclui, por exemplo, a Plaza Santo Domingo, onde fica o templo dedicado ao mesmo santo. Uma lenda contada na região diz que o demônio teria se disfarçado de engenheiro para conseguir que fosse construída uma rebuscada torre, que acabou ficando inclinada depois de um ataque de fúria do mesmo. A Plaza de los Coches, citada em 'Do Amor e Outros Demônios'; o Portal de los Escribanos, onde se encontraram os protagonistas de 'O Amor nos Tempos do Cólera' e o Parque Fernández de Madrid, são alguns das 35 paradas que fazem parte do roteiro, que é percorrido em duas horas e meia a pé.

Outros locais também merecem uma visita, como o local em que hoje funciona o hotel Santa Clara. Ali, Márquez construiu a história de amor entre o padre Cayetano Delaura e a jovem Sierva María de Todos los Ángeles (em 'Do Amor...'). Pontos como a antiga sede do jornal El Universal, no qual o escritor trabalhou no início de sua carreira, proporciona outra visita interessante. Na mesma rua de San Juan de Dios fica a Fundação Novo Jornalismo Ibero-americano, fundada por Márquez e seu irmão em 1994. Quem pretende tentar um encontro 'real' pode frequentar o Bazurto Social Club, um dos locais preferidos do escritor para comer as empanadas produzidas ali.

sábado, 12 de março de 2011

VOLTA DE PATRIMÔNIO CULTURAL A SEU LUGAR DE ORIGEM

Segundo "Folha de São Paulo" on line, edição de ontem (11/03): "O Museu de História Natural de Londres vai retornar um lote de 138 peças arqueológicas que pertencem originalmente à Austrália, no século 19. Há crânios, em sua maioria, além de ossos de maxilares e até uma múmia.
As negociações para devolução dos restos se desenrolaram por um ano e meio entre o museu, os habitantes das ilhas de Torres Strait --de onde os restos foram retirados-- e o governo australiano.
As Torres Strait são um aglomerado de 274 ilhas pequenas que se espalham por cerca de 48 mil quilômetros quadrados, onde vivem apenas 6.000 pessoas. Elas se situam entre a costa da Austrália e da Papua-Nova Guiné.
A maioria das peças veio de uma caverna da ilha de Pulu, considerada um lugar sagrado. A outra parte passou de mão a mão, de tripulantes a naturalistas, que trocaram os achados arqueológicos por facas de metal, machados, tabaco e roupas em 1884.
A múmia, a única de cinco cuja existência é conhecida, foi dada no mesmo ano a John Douglas, que governou as ilhas Torres Strait e, posteriormente, a entregou para o museu."

Ao contrário dos habitantes do arquipélago de Torres Strait (Austrália), mais de 400 mil cidadãos brasileiros do arquipélago do Marajó (Amazônia-PA, Brasil) não têm idéia sobre a possibilidade de recuperar coleções arqueológicas que, em condições análogas ao caso australiano, foram parar em diversos museus nos Estados Unidos, Inglaterra, França e Suécia. Muito embora se possa saber agora que a editora do SENAC publicou, ano passado, o excelente trabalho de divulgação científica e cultural elaborado pela arqueóloga Denise Schaan, sob título "Cultura Marajoara" e que esta obra foi remetida por cortesia do Museu do Marajó - http://www.museudomarajo.com.br - ao Museu do Quai de Branly (Paris) - http://www.quaibranly.fr/  -, onde coleção marajoara se encontra, depois de ser transferida do Louvre onde estava conforme Denise Schaan informou.

Sabe-se informamente, por exemplo, que o grande museu francês de arte primeva aceitaria intercâmbio com o Estado do Pará visando colaborar com o Museu do Marajó. Todavia, a história deste ecomuseu marajoara, a completar 40 anos de fundação em 2012, é uma odisséia que o mundo acadêmico e político recusa assumir suas responsabilidades. Como aliás toda iniciativa que vem da comunidade é menosprezada e estigmatizada por um complexo de inferioridade congênita; a míngua de interesse oficial permite que a própria comunidade a qual o "Nosso Museu" foi destinado se digladie entre facções, numa luta inglória para se auto proclamar "herdeiros" do padre "renegado", Giovanni Gallo.

Foto: Nigel Smith
inocência e pobreza na ilha do Marajó pela lente de Nigel Smith (geógrafo da Universidade do Estado da Flórida / Estados Unidos)

Desta maneira, os mais museus nacionais e estrangeiros depositários do antigo patrimônio marajoara ainda que eventualmente quisessem cooperar com a UNESCO, agora que a Área de Proteção Ambiental do Arquipélago do Marajó está prestes a ser reconhecida como Reserva da Biosfera - ver http://portal.unesco.org/science/es/ev.php-URL_ID=4801&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html#topPage -, não encontram interlocutor local que, sob a responsabilidade nacional do Ministério da Cultura (MinC) pudesse fixar horizonte factível para devolução do patrimônio arqueológico da ilha do Marajó, conforme a tendência internacional em andamento.

Está claro que há quatro décadas, por necessidade e acaso, nasceu à margem oeste do lago Arari - berço ancestral da primeira cultura complexa da Amazônia - o primeiro ecomuseu da Amazônia Marajoara,  literalmente a partir de "cacos de índio" (cf. Giovanni Gallo, "Motivos Ornamentais da Cerâmica Marajoara" prefácio de Denise Schaan). Durante todo este tempo autoridades brasileiras e pesquisadores internacionais, com rara exceção; não viram que "o museu do Gallo" é elo de ligação entre a presente população pobre e desmoriada e seus antepassados nativos. Aquilo que o intuitivo organizador do museu classificou de "remanescentes" das antigas populações indígenas.


O dia-a-dia dos pescadores da Vila de Jenipapo, em Santa Cruz do Arari (Fotos: Giovanni Gallo)



A elite acadêmica pouco explora esta mína e os representantes políticos nem sempre informados como deveria ser "não tem tempo" para ler romances e ensaios tocantes ao que se convencionou "cultura marajoaro" por, na verdade, não se saber bem do que se trata. Mas, o "homem que implodiu" diante da incompreensão de seus próprios confrades e contemporâneos deixou bem escrito um testamento onde se lê que a doação de sua vida e haveres naquela obra nunca teve intento pessoal nem privado. O que ele desejava de fato, a partir daquela iniciativa comunitária de Santa Cruz do Arari, era despertar a consciência da coletividade para urgente necessidade de um "plano de desenvolvimento cultural" capaz de mobilizar energias na superação da pobreza e apartação do Povo Marajoara.


pescando nos campos do senhor fazendeiro

A pesca nos campos do Marajó

Mas, os formuladores do "Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó  - PLANO MARAJÓ", feito cegos guiando cegos; não tiveram tempo a perder nem boa vontade para ler o Gallo (quanto mais o "difícil" Dalcídio Jurandir). Por um viés estreito predominou o "assembleísmo" e consultas populares onde todo mundo quer falar para dizer sempre as mesmas coisas: quando quem diz não sabe e quem sabe não diz... E assim passam-se os dias, crescem as demandas sociais e aquela cultura de antes com sua vocação autogestionária e inventiva vai ficando mais pobre e dependente de caridades pública ou privada.

Quem está por fora, há de se perguntar: para que servem uns vasos de mil anos em mãos de gente carente e analfabeta. Um explorador, como o arrozeiro expulso da terra indígena de Roraima para nova aventura nos campos de Cachoeira do Arari, por exemplo; diria que os pobres querem emprego não importa como e que eles não comem ecologia e cultura... Erro estúpido! Se não fosse a cultura da brava gente marajoara o meio ambiente já teria levado a breca ainda mais... O exemplo da extração de madeira em Breves merecia ser lembrada em museu. A Costa Rica talvez fosse a melhor referência em matéria de desenvolvimento sustentável para a região do Marajó com o ecoturismo de base na comunidade...

Mas, quem há de retomar a demanda popular que levou ao PLANO MARAJÓ? É preciso dizer, a Reserva da Biosfera do Marajó deve ser o cérebro do "desenvolvimento territorial sustentável" e a revitalização do Museu do Marajó, com a reconstrução da Casa-Museu de Dalcídio Jurandir; a alavanca para mobilizar a sociedade civil como parceira estratégica do Plano nos moldes talvez da Fundação Cultural Palmares - http://www.palmares.gov.br/  -.  Cultura como identidade, mas também como política pública para inclusão social e desenvolvimento humano, sobretudo, como instrumento ecológico-econômico para um novo mundo.

Uma das últimas vontades de Giovanni Gallo foi transformar a associação comunitária em uma fundação (está lá na introdução dos "Motivos Ornamentais"). Por que não? Nós somos cabocos, descendentes de brancaranas, pretos e índios. Nossos antepassados só queriam fazer parte da Nação brasileira (mas, para entender a velha pulsão geocultural das Antilhas pelo Continente, carece estudar antropologia cultural do circum Caribe, mas ainda não passamos do abc destas ilhas filhas da Pororoca). 


O MUSEU DO MARAJÓ nasceu de modo informal em 1972, na cidade de Santa Cruz do Arari. Em 1984, foi instalado no prédio de antiga indústria de extração de óleo vegetal em Cachoeira do Arari, onde permanece até hoje.
(Ver +)

sexta-feira, 11 de março de 2011

AMAZÔNIA MARAJOARA: JOIA DA COROA DAS AMAZONAS

É justo inaugurar este blog prestando homenagem à arqueóloga Denise Pahl Schaan por suas pesquisas sobre a Cultura Marajoara. O texto a seguir é de sua autoria, copiado do site www.marajoara. com , a modesta divulgação que aqui se faz servirá para popularizar o referido trabalho.

De caco a espetáculo.

De caco a espetáculo.
Peças arqueológicas marajoara expostas no Museu Paraense Emílio Goeldi. Foto: Márcio Couto.


Amazônia antes de Cabral  

"Por volta do ano 1.000 depois de Cristo, sociedades hierárquicas e populosas
estavam estabelecidas ao longo das margens do rio Amazonas e seus principais
afluentes.  Explorando de maneira intensiva os recursos aquáticos e desenvolvendo
agricultura nos solos férteis da várzea amazônica, aquelas populações
desenvolveram complexas instituições sociopolíticas e uma rica cultura material.
Pesquisas arqueológicas recentes têm demonstrado que sociedades extensas,
hierárquicas e sedentárias ocuparam também a terra firme, fazendo parte de
complexas redes de troca à longa distância.  As trocas uniam as sociedades
amazônicas e estabeleciam contatos que explicam as semelhanças culturais entre
elas, expressas principalmente na produção da cerâmica e na arte rupestre.
Objetos e instrumentos de pedra, como machados de basalto e granito e adornos
de jadeíte e nefrite circulavam como bens de prestígio, unindo as elites indígenas
regionalmente.  

Arqueologia da Ilha de Marajó 

A cultura Marajoara começou a ser estudada desde o
final do século XIX, quando viajantes e naturalistas
tomaram conhecimento da cerâmica funerária que era
encontrada enterrada em grandes aterros artificiais.  Os
primeiros arqueólogos a estudar aqueles sítios foram os
americanos Betty Meggers e Clifford Evans que,
impressionados com a cerâmica altamente elaborada e
de ótima qualidade, e com a monumentalidade dos
aterros construídos pelos índios, sugeriram, nos anos
1950,  que aquele povo teria migrado dos Andes.  Hoje
entende-se que a cultura Marajoara originou-se
localmente, a partir de um processo de mudança cultural
que ocorreu entre as comunidades que já habitavam a
Ilha desde há 3.500 anos atrás.

Uma série de datações radiocarbônicas permitem situar o período de maior
crescimento e expansão da cultura Marajoara entre os séculos V e XIV,
colocando-a como a mais antiga fase da tradição polícroma amazônica, um
estilo cerâmico caracterizado por uma cerâmica cerimonial altamente elaborada
em forma e decoração (pintura preta e vermelha sobre branco, bordas ocas,
uso de técnicas de modelagem, incisão e excisão), encontrada associada a
enterramentos secundários e contextos rituais. Os sítios arqueológicos típicos da Fase Marajoara caracterizam-se pela construção de monumentais aterros formados a partir de solo estéril
arenoso retirado do leito de cursos d’água próximos ou das imediações
do terreno, formando camadas intercaladas por estratos de ocupação
contendo pisos de argila queimada, fogueiras, abundantes fragmentos de
cerâmica e enterramentos.  

As poucas escavações arqueológicas bem documentadas levadas a efeito 
nesses aterros-cemitério no passado, contrastam com a grande quantidade 
de cerâmica cerimonial retirada por saqueadores e arqueólogos de fim-de-semana 
desde o final do século XIX, que fazem parte atualmente de impressionantes coleções
públicas e particulares no Brasil, Estados Unidos e Europa.  O bom
estado de preservação da cerâmica no ambiente tropical, em contraste
com a escassez de outros tipos de dados, faz com que os
remanescentes cerâmicos sejam uma fonte privilegiada de informações
sobre a cultura Marajoara e as culturas pré-históricas amazônicas de
modo geral. No entanto, a ausência de registro sobre os contextos
deposicionais impõe limites sobre o caráter e alcance das inferências
que se podem construir a partir de coleções museológicas."