sexta-feira, 25 de julho de 2014

1 VOTO VALENDO 100 MIL


fotografia de Luiz Braga: uma imagem que fala e por isto merece prêmio da UNICEF


25 DE JULHO: 
DIA DA MULHER AFRO-LATINO-AMERICANA E CARIBENHA

Essas mulheres internacionalizaram o debate que fez surgir o movimento das mulheres afro-latinas e caribenhas, contribuindo para criação da maior rede social preta feminista. Essa união permitiu aproximar profissionais de comunicação, cultura, acadêmicos e áreas afins que protagonizam a luta negra da diáspora no continente americano. A partir desta articulação, em Santo Domingo, na República Dominicana, ano de 1992, realizou-se o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, do qual decorreram duas decisões: a criação da Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas e a definição do  25 de julho como Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha.

Que isto tem a ver com democracia, búfalos e crianças na ilha do Marajó? Acima de tudo, na imortal lição de Nelson Mandela, democracia sem inclusão social é comparável a uma "concha vazia". A Negritude começou em 1500 na ilha do Marajó, antes do descobrimento do Brasil e do "rio das Amazonas" com o assalto espanhol a uma aldeia indígena e captura de 36 primeiros "negros da terra" (escravos indígenas) levados por Pinzón para a ilha Hispaniola (Santo Domingo e Haiti).

O búfalo quando bem manejado é animal salvador da lavoura e agropecuária familiar, mas solto a esmo na natureza se torna desastre ecológico e nas condições costumeiras de latifúndio sinônimo de trabalho análogo à escravidão, fator de concentração de renda e exclusão social. Somente acometido de alienação política se pode considerar o búfalo símbolo cultural do Marajó em lugar do grafismo original da Cerâmica Marajoara. 

Por conseguinte, proteger as crianças significa antes reconhecer os direitos humanos das mulheres e assumir o dever de cuidar das mães marajoaras, em maioria descendentes de índias, pretas e cafuzas, para que seus filhos tenham futuro.

É isto que desejo dizer a todas e todos candidatos aos cargos públicos eletivos nas próximas eleições no Brasil e em especial no Pará. Aos eleitos digo que os considero meus "colegas" de trabalho, enquanto Servidor Público que me prezo duma longa carreira desde nível municipal até o Serviço Exterior, onde completei tempo de serviço e fiz jus à aposentadoria. Dizem as más línguas que eu "me acho" grandes coisas e que devia ir contar estória aos netos e não me meter mais onde não fui chamado... 

Isto até que seria boa ideia se outros, mais capacitados que eu, falassem diretamente à Criaturada coisas como estas que os "nheengaíbas" do século XXI precisam saber para fugir da cerca do latifúndio e do cerco do trabalho precário, que os escravizam ainda a um antigo fado cruel. Do qual só se pode saber através de uma Educação libertadora, tal qual Paulo Freire ensinava.

Sob esta perspectiva marajoara votei e tenho intenção de voltar a votar na primeira mulher na Presidência da República, Dilma Rousseff; a qual concorre à reeleição para completar seu papel histórico na mudança social do País. Em primeiro lugar, a eleição de uma mulher na Presidência da República Federativa do Brasil com a biografia de Dilma jamais poderia passar sem impacto positivo numa região ultra-periférica, como é o caso do Marajó com sua ancestral cultura fundada historicamente no matriarcado. Acredito que pouca gente saiba e menos ainda achem isto importante, mesmo entre os chamados "militantes" de esquerda... Uma esquerda, aliás, bipolar oscilando do oportunismo caviar ao esquerdismo o mais pueril...

O velho Marajó de guerra com seu IDH "africano" dentre 120 outras regiões periféricas inseridas no programa federativo Territórios da Cidadania. Segundo ponto de vista, sem exceção do Estado do Pará e dos dezesseis Municípios da mesorregião, o governo federal sob a Presidenta está a dever ao Marajó, sobretudo às mulheres marajoaras e seus filhos; uma ação diferenciada emblemática, notadamente na erradicação do Analfabetismo e da Pobreza. 

No Marajó -- maior arquipélago fluviomarinho do planeta, berço da primeira cultura complexa da Amazônia e da Arte primeva brasileira criada por mulheres indígenas -- todo mundo deve saber que o apartheid social tem cara de Mulher. Por fim, a Amazônia Marajoara faz parte integrante da Guiana brasileira com antiga relação humana com o Caribe muito antes de Colombo e seus conquistadores cristãos genocidas. 

Mas, desgraçadamente, Brasília não sabe e Belém não quer saber... Era preciso amazonizar o Brasil a partir da Capital federal para, enfim, despertar o gigante da América do Sul sabendo ele afinal que é, por mérito próprio da nação Tupinambá com a sua utopia da Terra sem Mal; o maior país amazônico do mundo. É às mulheres, mães e mestras das futuras gerações, que compete a parte mais preciosa desta missão humana: homens fazem a guerra, mulheres preparam a paz.

Há 20 anos passados, no dia 25 de julho, na agrovila Antônio Vieira, à margem esquerda da baía do Marajó; tomei conhecimento do histórico encontro de paz entre os sete caciques rebeldes e o padre Antônio Vieira, investido do papel de superior das Missões; delegado d'El-Rei e tutor legal perante à sociedade colonial do Maranhão e Grão-Pará dos povos indígenas. Não por acaso, este encontro histórico concluído com formalidade no dia 27/08/1659, no rio Mapuá (hoje RESEX Mapuá), Igreja do Santo Cristo, ocorreu com a participação de guerreiros e canoeiros tupinambás (carta de Vieira, Belém do Pará, 11/02/1660). Após mais de 40 anos de guerra de conquista do rio das Amazonas, pela primeira vez foi ensaiado um processo de paz que hoje ainda falta terminar e para o qual criação de futura reserva da biosfera com a UNESCO há de ter uma importância extraordinária.

Tendo em conta a supracitada pax dos Nheengaíbas, escrevi em 1999 o ensaio "Novíssima Viagem Filosófica" e desde então invisto meu tempo livre à compreensão da expressão histórica e geográfica da Amazônia Marajoara e suas circunstâncias no presente. Deste modo, me arvoro a falar em nome desta gente sem vez e voz entre a qual se acha a memória de minha avó tapuia Antônia Silva, nascida na aldeia da Mangabeira, Ponta de Pedras, pelos fins do século XIX.


A cerca, o menino e o búfalo.

 Como diz uma amiga de luta pela cultura marajoara, tempo de eleição... lá vem batalhão de candidatos bater à porta! As necessidades são as de sempre e as promessas também. Dá vontade de NÃO VOTAR e pagar pra ver. Só pra saber com quantos paus se faz uma canoa e praticar desobediência civil ao VOTO OBRIGATÓRIO...

O título eleitoral, na triste situação da Criaturada grande de Dalcídio, acaba que só serve de escada para uns e outros que se locupletam do voto popular e depois esquecem dos necessitados. Outros, mais cara de pau que os demais, dizem logo que R$ 10,00 ou até R$ 50,00 por cabeça na boca da urna paga o trabalho do eleitor. São os tais bocudos que mais falam mal dos programas sociais tipo Bolsa Família, dizendo aos tolos que distribuição de renda é assistencialismo e "compra de voto"... 

Claro, com paciência, o pobre eleitor catando bem na lista de oferta de pencas de candidatos do barulho, poderá achar uns poucos que vale a pena experimentar pra ver se muda o disco. Ou, então, deixar ficar por que, para os ribeirinhos, mal ou bem o nobre representante já mostrou algum serviço e ajudouzinho a diminuir a exploração da pior marretagem. Que é aquela sina de morador sem eira nem beira, condenado a abastecer a feira sem nunca ter dinheiro de passagem para ver o Círio nem comprar um barquinho de miriti de lembrança para o filho. Esta gente que passa a vida subjugado a trabalhar para melhorar a vida do dono do sítio e piorar a vida da família na base do "metá-metá" (metade da colheita), como "aluguel" da varja no "apurado": quem é obrigado pela necessidade a trabalhar no mato sem cachorro faz subsídio social ao atravessador.

E ainda vem propagandista político dizer pra gente que VOTO OBRIGATÓRIO é um "direito"... Caboco velho não acha isto direito; quando sabe que noutros lugares onde o povo é quem mais comanda o voto popular é livre pra quem quiser ir ou não ir à urna manter ou mudar o que lá está. Então, o buraco é mais embaixo: se for o caso de deixar o caixa 2 e 3 funcionar a todo vapor que se venda caro o eleitor. Sabendo já que a doação da empresa, em regra geral, é fruto de sonegação e bandalheira na licitação. Logo, por vias tortas, um redistribuição de renda...

"Que se implante a moralidade ou que nos locupletemos todos". (Sérgio Porto).

 Mas, pelo menos, por obra do Divino Espírito Santo alguém poderia pensar o quanto de estrago à bandalheira estabelecida; poderiam fazer 200 mil analfabetos rebelados se acaso, sem dar na vista, os desletrados da vida pudessem fugir do curral e descarregar nas urnas seu descontentamento -- guardado desde séculos das passadas gerações "nheengaíbas" (falantes da "língua ruim") -- na forma de um ruidoso VOTO ZERO. Ou, melhor, uma puta jogada ensaiada com cartas marcadas tipo assim efeito Tiririca, Cacareco, Ararajuba e outros bichos verdes ou encarnados...

200 mil analfabetos correspondem à metade da população do Marajó com seus pouco mais de 400 mil habitantes. Calculo eu que em Belém, Macapá e outras paragens existem marajoaras perfazendo todos juntos qualquer coisa em torno de um milhão de pessoas. Deste suposto número de um milhão de marajoaras, talvez nem 10% possam ser considerados corretamente alfabetizados, sobretudo do ponto de vista político.

Portanto, é uma baita abstração que faço ao observar a fotografia em tela: o que ela tem a nos dizer? Um cenário grandioso e belo, mas também opressor e trágico, em toda profundidade captada pela sensibilidade da lente do artista. 

Penso o que cada um dentre 100 mil marajoaras poderiam fazer milagre, se se unissem em benefício de todos aqueles que não sabem ler e escrever. Penso nas crianças fora da escolas e nas escolas fora de condições de ensinar as crianças. Será que vamos tapar o sol com peneira e continuar a nos lamuriar e queixar da sorte, como se o IDH da gente marajoara fosse uma fatalidade? Na verdade, isto é uma irresponsabilidade municipal, estadual e federal nesta ordem.

Em tese, 200 mil analfabetos votantes podem votar NULO e registrar assim seu protesto. Melhor seria votação combinada sobre nome desconhecido a assinalar VOTO DE PROTESTO. Ora, isto é sonhar demais. Pois seria preciso passar por aí algum tipo de Nelson Mandela papa chibé.

Seja como for, sinceramente, não creio que as coisas possam melhorar como precisaria. Mas, não tenho dúvidas de que podem piorar. Do que adianta, por exemplo, a televisão chegar via satélite lá onde canta a saracura se a gente afetada pela imagem não sabe separar o que presta do que não presta? O telefone celular que poderia tirar do isolamento e a internet que deveria levar mais educação e meios de saúde preventiva, se tornam armas do crime organizado, tráfico de pessoas e corrupção de menores...

A cerca invisível deste "APARTHEID" tão antigo é pior que o arame farpado e a falta de meios de transporte. O enorme búfalo levado pela mão de uma criança representa a natureza instável, com nuvens que podem passar de céu azul a cinzento chumbo com chuvas e tempestade, rapidamente. E o menino roubado de sua infância o que será dele amanhã? Mais um analfabeto votante, ou um ladrão de gado, perigoso pirata dos rios, assaltante raivoso nas ruas da cidade grande sempre hostil e de costas para o rio?

Ah, se meu votinho solitário valesse por 100 mil analfabetos como, antigamente, vinte mil rebeldes nheengaíbas com seus dardos feitos de talo de patauá envenenados atirados com zarabatana de paxiúba sobre canibais e predadores invasores das ilhas!

quarta-feira, 16 de julho de 2014

S.O.S LAGO ARARI: PERENIZAR É PRECISO, PERENIZAR QUER DIZER MUITA COISA.






















vista aérea do lago Arari, berço da Cultura Marajoara de 1600 anos de idade.

O Ministério do Meio Ambiente vai financiar um projeto de perenização do Lago Arari, considerado o maior santuário ecológico do Marajó e um dos maiores de água doce no mundo - abrange os municípios de Cachoeira, Santa Cruz do Arari e Ponta de Pedras, numa área de quase 100 quilômetros de extensão.
Essa região possuía mais de 150 lagos, que foram secando e reduzindo as condições de sobrevivência da população.
Fonte: Reporter70.

Comunicação/AMAM
Sobre a perenização do lago Arari já correu rios de tinta. A notícia mais recente na mídia local, concisa porém festiva como de costume; diz que o Ministério do Meio Ambiente vai financiar projeto para tornar o lago Arari perene: quer dizer, um reservatório de água e de vida durante o ano inteiro. Não se deve regatear aplausos, todavia a experiência recomenda ter a prudência de São Tomé pois se sabe que cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, mormente em época de eleição e propaganda partidária.
Oxalá a pequena notícia de jornal venha ser um pequeno grande passo para o futuro de Povo Marajoara marginalizado pela história de invenção da Amazônia. Como para o meio ambiente a Amazônia é o futuro do Brasil sustentável, só podemos nos regozijar desta esperança tão antiga. 
Já o Barão de Marajó em sua obra clássica "As Regiões Amazônicas", em fins do século XIX, revelava preocupação com o regime hídrico da grande ilha do golfão marajoara sempre oscilando entre o dilúvio e secas certeiras no decorrer do ano. Os impactos sociais e ambientais previsíveis não comoveram governos após governos como bem atestam as obras de Dalcídio Jurandir e de Giovanni Gallo.
Nos anos 70 a Organização de Estados Americanos (OEA) deu ajuda ao Governo do Estado do Pará no estudo da ilha do Marajó que, certamente, ainda é base para aprofundamento de novos estudos atualizados, inclusive no que diz respeito a qualquer projeto de perenização de lagos e revitalização de rios. Fundamental, para o público leigo é compreender o fato principal da geologia do delta-estuário do maior rio do mundo onde se acha o maior arquipélago fluviomarinho do planeta. Isto a grande mídia não sabe. Portanto, só se ama o que se conhece...
Neste bioma extraordinário e complexo o lago Arari é como se fosse o coração pulsante, onde o Homem e a Biosfera interagem sem solução de continuidade. Daí por que a chegada do Ministério do Meio Ambiente deve ser comemorada com moderação, no sentido de não se reincidir na miopia que o mesmo Padre grande Antônio Vieira, autor do célebre "Sermão aos Peixes", ao elogiar o peixinho tralhoto dotado de quatro olhos para se defender dos predadores; cometeu em relação à gente reduzindo seus saberes milenares às lições do catecismo para conversão à santa doutrina cristã. Deu no que deu... E o IDH do povo marajoara não nos deixa mentir sobre a história do paraíso ecológico.
Com isto, quero chamar atenção para os chamados EIA-RIMA's à voo de pássaro... Vistas muito aéreas da realidade sob pressão de cronogramas orçamentários e metodologia cartesiana. Com advertência da linguística quando esta diz que o mapa não é o território...
É preciso perder tempo nos primeiros passos para ouvir o que o povo tem a dizer aos donos do poder. Ler, com paciência, autores leigos ou antigos como o mesmo Barão do Marajó, o sábio Alexandre Rodrigues Ferreira, Giovanni Gallo, sobretudo, em "Marajó, a ditadura da água".
Devemos saber que o orgulho técnico e civilizado nestas paragens deixou um "carma" dos diabos... Os mesmo missionários pacificadores lesaram a ancestralidade da gente marajoara tornando-a presa fácil dos "diretores dos índios" patriarcas das nossas dez e seis comunas. Lembrai-vos do Diretório dos Índios (1757-1798), donde nossas aldeias históricas foram "elevadas" da noite para o dia em vilas e lugares importadas de Portugal...
Perenizar as águas do lago não deve ser, exatamente, refazer um "santuário ecológico" que só existiu na imaginação de poetas e sonhadores da mítica Terra sem Mal, mas nunca existiu na dura realidade da vida dos povos originais do Trópico Úmido. Olhar o passado para inventar o futuro é mais seguro...
Um projeto de perenização que não se acanhe, pela vaidade nacional, em pedir consultoria de quem mais entende de hidrologia nas terras baixas do mundo, a Holanda, por exemplo. A reserva da biosfera nos traria o programa da UNESCO, "O Homem e a Biosfera" - MaB. Com a experiência de Mamirauá, no Amazonas; o MMA pode contemplar o lago Arari de uma RDS compatível. Se, de saída, algum especialista começar dizendo isto pode aquilo não pode; deve logo ser advertido a se informar melhor do invento de José Márcio Ayres e seus colegas macaqueiros.
Tudo pode quando Ciência e Conhecimento Tradicional concordam. 
ECOCIVILIZAÇÃO AMAZÔNICA SERÁ REFAZENDA DA CULTURA MARAJOARA DESDE SUA INVENÇÃO HÁ 1500 ANOS OU NÃO SERÁ ECOCIVILIZAÇÃO.


"... Na grande boca do Rio das Amazonas está atravessada uma ilha de maior comprimento e largueza que todo o Reino de Portugal, e habitada de muitas nações de índios, que, por serem de línguas diferentes e dificultosas, são chamados geralmente nheengaíbas. Ao princípio receberam estas nações aos nossos conquistadores em boa amizade; mas depois que a larga experiência lhes foi mostrando que o nome de falsa paz, com que entravam, se convertia em declarado cativeiro, tomaram as armas em defensa da liberdade, e começaram a fazer guerra aos portugueses em toda à parte. Usa esta gente canoas ligeiras e bem armadas, com as quais não só impediam e infestavam as entradas, que nesta terra são todas por água, em que roubaram e mataram muitos portugueses, mas chegavam a assaltar os índios cristãos em suas aldeias, ainda naquelas que estavam mais vizinhas às nossas fortalezas, matando e cativando; e até os mesmos portugueses não estavam seguros dos nheengaíbas dentro de suas próprias casas e fazendas, de que se vêem ainda hoje muitas despovoadas e desertas, vivendo os moradores destas capitanias dentro em certos limites, como sitiados sem lograr as comodidades do mar, da terra e dos rios, nem ainda a passagem deles, senão debaixo das armas. Por muitas vezes quiseram os governadores passados, e ultimamente André Vidal de Negreiros, tirar este embaraço tão custoso ao Estado, empenhando na empresa todas as forças dele, assim de índios como de portugueses, com os cabos mais antigos e experimentados; mas nunca desta guerra se trouxe outro efeito mais que o repetido desengano de que as nações nheengaíbas eram inconquistáveis, pela ousadia, pela cautela, pela astúcia e pela constância de gente, e, mais que tudo, pelo sítio inexpugnável com que os defendeu e fortificou a mesma natureza. É a ilha toda composta de um confuso e intrincado labirinto de rios e bosques espessos, aqueles com infinitas entradas e saídas, estes sem entrada nem saída alguma, onde não é possível cercar, nem achar, nem seguir, nem ainda ver ao inimigo, estando ele no mesmo tempo debaixo da trincheira das árvores, apontando e empregando as suas flechas. E por que este modo de guerra volante e invisível não tivesse o estorvo natural da casa, mulheres e filhos, a primeira coisa que fizeram os nheengabas, tanto que se resolveram à guerra com os portugueses, foi desfazer e como desatar as povoações em que viviam, dividindo as casas pela terra dentro a grandes distâncias, para que em qualquer perigo pudesse uma avisar às outras, e nunca ser acometidos juntos. Desta sorte ficaram habitando toda a ilha sem habitarem nenhuma parte dela, servindo-lhes porém em todas os bosques de muro, os rios de fosso, as casas de atalaia, e cada nheengaíbade sentinela, e as suas trombetas de rebate...." (carta do Padre Antônio Vieira, à Regente da coroa portuguesa, Dona Luísa de Gusmão, em 11/02/1660).
***
"Excelente a reportagem do padre [Giovanni Gallo] sobre os mestres de ofício. Tenho uma grande admiração por esses mestres que desafiam a tecnologia sofisticada". (Dalcídio Jurandir / correspondência com Maria de Belém Menezes).

sábado, 12 de julho de 2014

RESERVA DA BIOSFERA AJUDARÁ A ELEVAR IDH DO MARAJÓ


Reserva Extrativista - rio Mapuá, município de Breves-PA: lugar de memória da Paz de 27 de Agosto de 1659 entre índios do Marajó e portugueses aliados aos tupinambás do Pará.




HÁ MAIS DE 10 ANOS A CRIATURADA GRANDE DE DALCÍDIO ESPERA O PROGRAMA "O HOMEM E A BIOSFERA" DA UNESCO, COM QUE A "ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DO ARQUIPÉLAGO DO MARAJÓ (APA-MARAJÓ) DEIXARÁ DE SER "JABUTI" NA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO PARÁ DE 1989 E O PLANO MARAJÓ HÁ DE SAIR DO ENCALHE ONDE AFUNDOU PARA ELEVAR O IDH DA GENTE MARAJOARA ACIMA DA HUMILHANTE LINHA DE POBREZA: CLARO ESTÁ, QUE UM PACTO PELO MARAJÓ LIVRE DO ANALFABETISMO DEVE SER O PRIMEIRO PASSO EM BUSCA DO BOM FUTURO.


Já contei como o equívoco do bispo diocesano de Ponta de Pedras, o falecido Dom Angelo Rivatto S.J.; o qual pretendia ser a agrovila Antonio Vieira, situada à margem esquerda do Rio Pará, na baía do Marajó em Ponta de Pedras; lugar histórico do célebre encontro de paz entre sete caciques Nheengaíbas e missão da Companhia de Jesus no papel que hoje é da FUNAI, nos termos da lei de Abolição dos cativeiros indígenas de 1655; aquele engano me motivou a pesquisar a respeito do verdadeiro lugar onde o fato realmente aconteceu. 

Segundo carta do dito "payaçu dos índios" datada em Belém do Pará aos 11 de fevereiro de 1660 e dirigida à regente do reino de Portugal, Dona Luísa de Gusmão; transcrita na obra "História da Companhia de Jesus no Brasil" do historiador jesuíta Serafim Leite, o encontro de paz aconteceu "no rio dos Mapuaises" [Mapuá], na ilha dos Nheengaíbas [Marajó], índios piratas terríveis pintados dos piores adjetivos que se podem atribuir aos "selvagens" face aos "civilizados" (cf. José Varella Pereira - "Uma Política sem lábia para o Príncipe" em "Novíssima Viagem Filosófica": Revista Iberiana, Secult, Belém, 1999). 

O contexto histórico e geográfico desta carta -- para os descendentes dos ditos falantes da "língua ruim" (nheengaíba) -- tem ou ainda deverá ter importância comparável à Carta de Pero Vaz de Caminha para todos brasileiros. Por aí, filtram-se olhares estrangeiros confundidos sobre os habitantes do maior arquipélago fluviomarítimo do planeta. Trata-se de um descobrimento tardio sobre a primeira cultura complexa da Amazônia... Onde a UNESCO deveria estar presente, como está em muitas partes do mundo, para afastar medos e ignorância que perturbam o relacionamento de países soberanos, como é o caso do Brasil, e o sistema multilateral consagrado pela Carta das Nações Unidas.

Vem daí o velho preconceito colonial lusitano contra milhares ou milhões de falantes da "língua ruim" (nheengaíba) adquirido dos conquistadores tupinambás (vide "Rio Babel" de José Ribamar Bessa Freire)que foram guias indispensáveis, canoeiros e guerreiros aliados aos portugueses, desde o Ceará, durante mais de 40 anos de guerra para tomada do Maranhão aos franceses e expulsão de holandeses e britânicos do Baixo Amazonas, Xingu, Marajó e Cabo do Norte (Amapá), contra multidão de povos Aruak há cinco mil anos ocupantes das Ilhas e margens da terra firme.

Se não fosse o "bom selvagem" com seu estranho costume canibal afincado na Terra sem Mal (utopia do paraíso na terra, onde não existe fome, escravidão, doenças, velhice e morte), por necessidade e acaso, aliado a odiosos soldados matabugres e mamelucos endiabrados não existiria a Amazônia portuguesa. 

Todavia, vista a coisa através da margem esquerda da história do Pará-Uaçu onde a criaturada habita o tempo desde sempre; sem padres catequistas danados pela conquista das almas dos gentios e pajés tapuios espertos que nem o diabo Jurupari, não se chegaria nunca a criar a imensa Amazônia brasileira coração pulsante do gigante Brasil e nós não estaríamos aqui para contar história nenhuma, certa ou errada. 

O que sobrevive sempre tem razão, mas a verdade é como uma semente nativa prenhe de resiliência e sempre prestes a reinventar o futuro da Terra.

Não carece ser um gênio para perceber o motivo principal desta guerra amazônica antiga que precedeu a chegada dos europeus, eles mesmos em guerra uns contras os outros, desde a Europa, por causa do célebre "testamento de Adão" (Tratado de Tordesilhas, de 1494) e que fez a Costa-Fronteira do Pará na suposta linha de Tordesilhas, deixando a margem ocidental da baía do Marajó na parte da Espanha e a margem oriental da terra firme a Portugal até a beira mar.

O problema da historiografia oficial é que ela incute ideia errada de que o Brasil começou com o descobrimento de Cabral, quando na verdade já fora achado e mantido bem escondido há mais tempo, inclusive confirmada a posse nos termos de 1494 em viagem secreta do cosmógrafo do rei de Portugal Duarte Pacheco Pereira, em 1498, ao Grão-Pará. Não há dúvida que o piloto e sócio de Colombo, Vicente Yañez Pinzón, esteve em "Marinatambalo" (Marajó, em tupi; aliás Analau Yohynkaku em língua Aruã) em fins de janeiro de 1500, quando ele atacou e capturou "negros da terra" (escravos indígenas) numa aldeia, provavelmente Aruã na Contracosta, levando-os para a ilha Hispaniola, Santo Domingo.

A revisão histórica do Brasil moderno começa com o etnógrafo alemão Curt Nimuendajú, nos idos de 1920, quando se sabe da razão que trouxe a nação Tupinambá ao litoral do Nordeste a conquistar terra dos Tapuias subindo enfim até o Alto Amazonas, a ponto de ter deixado fonte para história com o relato do mameluco Diogo Nunes, datada de 1538, portanto antes do descobrimento, em 1542, do rio Amazonas pelo espanhol Francisco de Orellana.

Ora, o equivoco de leitura do bispo Rivatto motivou a um leigo (este que vos fala) procurar pelas fontes históricas para esclarecer sobre o lugar de encontro de paz entre caciques rebeldes e missionários. Mas, respeitáveis pesquisadores e historiadores sentenciam negativamente sobre tudo isto: duma parte, dizem que a carta de Vieira conta história inverossímil (o que é fato, pois mistura desconhecimento e finta proposital de sua época, porém deixa preciosas pistas)e doutra parte, desdém de cátedra refugando as pazes de Mapuá como se elas fosse carentes de interesse acadêmico.

Interesse acadêmico! Vejam bem, como se pelo menos em hipótese não valesse a pena estudar e compreender do que trata de fato a suposta missão de paz iniciada pelo padre João de Souto Maior, em 1656, e concluída pelo padre Antônio Vieira, em 1659. E nada disto tivesse a ver com a fundação das aldeias missionárias de Aricará (Melgaço, por acaso o pior IDH de município brasileiro)e Aracaru (Portel). Lembranças desta carta histórica, sem nenhuma dúvida, se acham nos últimos capítulos da "História do Futuro", composta como defesa do padre Antônio Vieira como réu diante do Tribunal da Inquisição do Santo Ofício e introdução a obra, inacabada, de sua vida "O Reino de Jesus Cristo consumado na terra" ou o Quinto Império do mundo.

O Quinto Império do mundo, como se deve saber, é um longo repositório de tradições messiânicas desde o Cativeiro da Babilônia (toda história da Mesopotâmia, com as suas guerras, reinos e impérios que ainda ardem no Oriente Médio), e que alimentaram, antes as "Esperanças de Israel" no sonho visionário do rabino português da comunidade judaica de Amsterdã (Holanda), Menassés ben Israel. E que, no mês de abril na aldeia do Camutá (Cametá), Grão-Pará, pela pena sebastianista do payaçu dos índios, no mesmo ano da pax de Mapuá, deu o famoso brado "Bandarra é verdadeiro profeta!", na carta secreta "As Esperanças de Portugal", que lhe resultaram ser preso e condenado pro heresia judaizante.

Em que consistia tal heresia, na segunda metade do século XVII, que é o tempo de transição entre o fim da Idade Média e começo da Idade Moderna europeia em relação às colônias nas Índias Ocidentais?... E o que isto pode haver ainda de importante, no século XXI, em meio a tudo quando o primeiro Papa jesuíta chegou ao trono do Pescador e reza pela paz entre judeus, mulçumanos, cristãos e o resto do mundo? Nada disto para nós não haverá interesse acadêmico ou apenas informativo? Ah, sim tem ainda a geopolítica planetária em meio à mudança climática, a pressão econômica sobre florestas tropicais, recursos naturais de minérios e água doce...

Portanto, com a origem histórica do "uti possidetis" real, defendido por Alexandre de Gusmão nas difíceis negociações do Tratado de Limites de Madri de 1500, onde a farsa e a fraude do Mapa das Cortes esteve sobre a mesa para levar os espanhóis a revogar o acordo de Tordesilhas, caduco desde a viagem de Pedro Teixeira (1637-1639)por força da geografia humana amazônida e do grande rio Babel. A farsa e a fraude para fazer valer maior verdade no terreno: "o mapa não é o território"... 

RESERVAS DA BIOSFERA E RESERVAS EXTRATIVISTAS: TUDO A VER O PESO DA GENTE E A MARENTEZA DO MEIO AMBIENTE NA REFAZENDA PERMANENTE DA MEMÓRIA.

Na natureza, a necessidade e o acaso fazem grandes parcerias. A admirável vida de Chico Mendes, por exemplo, lá nos confins onde Abguar Bastos dizia que a cobra grande chamada Amazonas tanto embarrigou que pariu o Acre. E bote história nisso!

E depois disso tudo alguém vem dizer que a história do cacique Piié com o "imperador da língua portuguesa" (o padre Antônio Vieira, segundo o poeta Fernando Pessoa)não tem interesse acadêmico. Valha-nos Deus! É por isto que o Museu do padre Gallo também não faz parte das prioridades do Ministério da Cultura, em Brasília, nem da Secretária de Estado da Cultura, em Belém do Pará. Pela mesma via do desinteresse acadêmico e o IDH dos descendentes dos Nheengaíbas está mais raso que barriga de cobra.



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quarta-feira, 9 de julho de 2014

A margem esquerda do Rio Pará.


ônibus na "rodovia" Macapá-Caiena, uma prova de enduro
para imigrantes brasileiros "clandestinos" na Guiana francesa.





A Alemanha, a Seleção e os Contra

Alemanha, que tá longe de ser poderosa
No Mineirão foi extremamente feliz
Numa tarde bem pra lá de desastrosa
Deu goleada impiedosa no nosso país

Time que penou pra empatar com Gana
Em um sofrido apático dois a dois
Sofreu pra vencer a equipe americana
E outros países que vieram depois

Se de um lado o placar foi elástico
De um outro, qualquer mediano torcedor
Não vê na Alemanha um time fantástico
Nada de antológico, mágico, inovador

E se nada tira os méritos da Alemanha
Vale a pena aqui um destaque especial:
O Brasil, numa infelicidade tamanha
Jogou péssimo, apático, pra lá de mal

Mas o fato é que na Mineiraça tarde
Onde o selecionado alemão nos goleou
O que vimos foi uma grande fatalidade
O nosso Brasil simplesmente não jogou

Com a derrota humilhante, vexatória
A Seleção precisa a cabeça levantar
Visando já a próxima eliminatória
Se renovar para de fora não ficar

Com o triste, catastrófico Mineiraço
Que a Imprensa possa deixar em paz
A brilhante geração do Maracanaço
Aquela Seleção que jogava até demais

Se foi triste ver os bravos torcedores
Chorando muito no fatídico Mineirão
Muito mais triste foi ver os traidores
Desde o início torcendo contra a nação

Gente que na mais leviana das condutas
Revelou-se um Iscariote, um Calabar
Tal como um covarde que foge à luta
Autêntico frouxo, medroso do guerrear

Gente que torce contra os brasileiros
Bem que deveria ir morar no exterior
E vivenciar o dia dia dum estrangeiro
Longe da Pátria, em meio a fria dor.


                        Jetro Fagundes

 O ECO DO IPIRANGA 
ÀS MARGENS PLÁCIDAS DAS AMAZÔNIAS

O dia 8 de julho de 2014, com o Mineraço palco onde nossos canarinhos levaram uma surra histórica de 7x1 frente à fria e disciplinada equipe alemã entra para o museu da Copa do mundo do futebol como um acontecimento surrealista fora de série, nunca dantes na reta final uma seleção campeã do mundo foi tanto humilhada. 

A estonteante derrota da penta campeã seleção brasileira tem repercussão fora das quatro linhas da "arena" e da grande mídia esportiva, para chegar às periferias. Ouço operários de construção vizinha à minha casa falar em meio ao trabalho desta inusitada tragédia. Até a poesia amanheceu de ressaca, como bem demonstra o cordel virtual acima de autoria do poeta popular Jetro Fagundes, espontâneo porta-voz da Criaturada grande de Dalcídio Jurandir.

"Muito mais triste foi ver os traidores
Desde o início torcendo contra a nação

Gente que na mais leviana das condutas
Revelou-se um Iscariote, um Calabar
Tal como um covarde que foge à luta
Autêntico frouxo, medroso do guerrear

Gente que torce contra os brasileiros
Bem que deveria ir morar no exterior
E vivenciar o dia dia dum estrangeiro
Longe da Pátria, em meio a fria dor.
"


Diz o poeta que brasileiros contra o Brasil são comparáveis a Calabar e que mereciam ir morar no exterior, longe da pátria amada para saber o que é a dor de uma saudade. 

Tocado pelos versos do poeta meu sumano, meu pensamento foi direto aos idos de 1985 quando tive encargo de vice-cônsul na Guiana francesa na assistência a imigrantes brasileiros e no combate ao contrabando e outros males do tráfico ilegal transfronteiriço pelo Serviço Exterior Brasileiro no, então, Consulado e hoje Consulado-Geral do Brasil em Caiena, cuja tarefa culminou com a organização e participação da primeira missão comercial oficial do Estado do Pará, em 1989, às regiões francesas da Guadalupe, Martinica e Guiana.

Não é para me gabar, mas os sumanos devem saber que se não fosse um caboco marajoara ter entrado por concurso público em Brasília concorrendo com cerca de cinco mil candidatos e feito carreira de oficial de chancelaria no Ministério das Relações Exteriores, a gente não estaria aqui e agora a contar esta história sem pé nem cabeça. 

Portanto, uma derrota acachapante no campo do futebol, onde nosso velho complexo de viralata geme e chora; não deveria envergonhar o bravo Povo Brasileiro mais do que deveria envergonhar a pobreza na margem esquerda do grande Rio Pará, notadamente a miséria da gente do Marajó que, muitas vezes, atravessa a fronteira do Oiapoque causando problemas nas relações Brasil-França com a presença de "refugiados econômicos" no lado do território ultramarino europeu ou Amazônia francesa, como preferir.

Foi assim que, ao retornar a Belém para servir de novo à Comissão Brasileira Demarcadora de Limites, depois de dez anos passados fora, me dediquei ao Marajó como nunca dantes. Agora na cooperação descentralizada de vizinhança fronteiriça entre o Brasil e a França: e desta vez, com certeza, a maior parte dos representantes políticos do povo do Amapá e Marajó não sabe que o importante estado tucuju e o arquipélago marajoara fazem parte da mesma área geocultural das Guianas. 

Deixaram para trás a questão do Contestado do Amapá, sem mais lembrar que tudo isto era território da Província do Pará antes de se tornar Território Federal e, portanto, houvesse conhecimento geográfico justo e perfeito seria o caso das ilhas do Marajó ter feito parte integrante do Amapá, como sempre foi há muitas gerações e migrações vindas do Caribe. Por força determinante da geografia amazônica, se acham Amapá e Marajó na faixa de fronteiras Calha Norte, inclusive no que diz respeito ao Mar Territorial e à Lateral Marítima Norte com todas suas oportunidade na Amazônia azul. 

E a pobreza das populações ribeirinhas em meio a tanta riqueza natural e cultural não acha explicação? Clama aos céus! Quem nos pede paciência não sabe do que está falando... No falar simples e direto dos cabocos: "é besta ou come merda"...

Falando toda verdade, poucos representantes políticos e funcionários públicos mesmo servindo no Itamaraty, sabem de fato ou estão realmente atentos à situação geoestratégica da área das Guianas e da importância do Golfão Marajoara, na lição de Aziz Ab'Saber; para se interessar com um caso ultraperiférico destes. 

Sabe lá onde fica o rio Oiapoque e o que ele tem a ver com a história da gloriosa França e do gigante Brasil no que diz respeito à margem esquerda do Pará, em 400 anos de história, desde a conquista do Maranhão? E o Marajó velho de guerra o que fez aí no passado que ainda hoje está 'criando caso'?

As trovas, certeiras como tubadas de zarabatana de velho nheengaíba, do poeta Farinheiro me fazem pensar o quanto a Copa trouxe em divisas na conta Turismo, além de movimentar a economia com montanhas de aço, cimento e concreto, empregos para arquitetos, engenheiros, operários da construção civil, aquecimento da produção interna de alimentos, bares e restaurantes...

Tudo isto em contraste à evasão de dólares através de turistas brasileiros que antes de ir curtir o estrangeiro precisariam conhecer melhor o próprio País sendo dele no exterior um bom embaixador em fluxo equilibrado de TURISMO internacional.

Pois, antes da Copa, o turismo tupiniquim estava perdendo de goleada para o turismo estrangeiro num fenômeno colateral da emergência da chamada classe média decorrente da política de distribuição de renda, começada com a eleição de Lula para presidência da República, fato que tanto enerva conservadores das capitanias hereditárias. Eles mesmos os maiores propagandistas das maravilhas de primeiro mundo e propagadores do complexo de viralata.

E aqui, no extremo Norte, a rodovia Macapá-Caiena com a ponte do Oiapoque -- até hoje um monumento surrealista supenso sobre as ambiguidades da cooperação franco-brasileira, com a intrigante discriminação de Paris onde brasileiro entra sem visto no passaporte e na fronteira do Oiapoque esse mesmo turista não pode ir a Caiena sem obrigação de visto --, mas a ligação Amapá-Guiana poderia ser um belo atalho ECOTURÍSTICO integrado à Rota Turística Belém-Marajó passando pelos centros da "maior ilha fluviomarinha do planeta" através de Afuá. Claro, para quem não conhece o verdadeiro Marajó, com sua cultura milenar, um discurso destes é como falar grego na torcida do Flamengo.


O QUE "CACOS DE ÍNDIO" NO MUSEU DO MARAJÓ TEM A VER COM A ALTA PAROLAGEM ENTRE DIPLOMATAS DO ITAMARATY E DO 'QUAI D'ORSEY'?

O padre Giovanni Gallo (Turim, Itália 1927 - Belém do Pará, Brasil 2003), criador do sui generis MUSEU DO MARAJÓ foi o principal motivo de uma troca de delegações de municipalidades, na primeira década de 90, entre a Guiana francesa e o Marajó. O falecido deputado francês à Assembleia Nacional (Paris), presidente do Conselho-Geral da Guiana (status de governador compatilhado, outrora, com o cargo de presidente do Conselho Regional) e prefeito municipal de Sinnamari, Elie Castor; teve a iniciativa deste inovador intercâmbio.

Elie Castor teve uma biografia e atuação política controversa. Adotava discurso à beira da xenofobia com relação à presença de imigrantes brasileiros: em particular, algumas vezes entre amigos comuns expressei sentimento de indignação à guisa de recado pessoal dizendo uma vez, um tanto exaltado: "foi preciso vir a Caiena para ver um negro nazista"... 

Isto foi, evidentemente excessivamente forte e jamais poderia ser dito em público. Aparentemente o recado chegou até o homem forte da ocasião. Quando terminei minha tarefa no consulado e retornei a Belém fui procurado pelo amigo comum que privava da "entourage" do deputado da Guiana dizendo-me ele que monsieur Castor gostaria de conversar comigo no Hotel Hilton Belém. Em resposta disse logo que eu havia guardado "poucas e boas" que não poderia expressar enquanto estive no cargo de vice-cônsul, incluindo aí certas figuras coloniais da "Prefécture" (escalão do governo metropolitano chefiado no departamento pelo Comissário da República, chamado Prefeito).

O amigo comum explicou-me o que eu já sabia: que o deputado usava discurso agradável às autoridades de Paris, mas no fundo tinha em sua comuna empregados brasileiros (certamente, "cladestinos"...). Minha passagem por Caiena daria livro alentado, mas sou pessimista sobre a possibilidade de encontrar editor que o publicasse. Com o fiasco da seleção do Felipão e a precoce partida da seleção francesa, deu-se vontade de produzir este aperitivo virtual de limão Caiena com cachaça de Abaetetuba.. 

Só para contar do dia em que o "Père Gallô" à frente de numerosa delegação de prefeitos e vereadores do Marajó acompanhados de representante do Ministério da Cultura, Universidade Federal do Pará e do Museu Paraense Emilio Goeldi foi recebido em lugar de honra pelo prefeito de Sinnamari, que o convidou por meu intermédio a ser consultor em projeto de museu municipal nos moldes do Museu do Marajó. E o que o assunto tem a ver com diplomacia, Copa do mundo, imigração clandestina, contrabando, tráfico do que não presta, etecetera e tal...

No último dia 6, neste mesmo blogue marajoara, comecei a provocar discussão sobre a necessidade de campanha MARAJÓ LIVRE DO ANALFABETISMO no quadro eleitoral de 2014 ver http://gentemarajoara.blogspot.com.br/2014/07/analfabetismo-no-marajo-e-ponta.html comentando meu ocasional encontro como o educador Paulo Freire e uma breve experiência minha como alfabetizador em minha querida aldeia de Ponta de Pedras, na ilha do Marajó, pelos fins dos anos 60.

Para muitos alienados misturar futebol e política, ou IDH e analfabetismo; pior imigração e Copa mundial de futebol; seria uma presepada danada. Na verdade, tem muito a ver e foi muito feliz o poeta Jetro Fagundes em tocar na ferida do chamado complexo de viralata do povo brasileiro.

É disto que se trata sobre o Sistema Nacional de Participação Social. Cá estamos participando. Em Caiena, certamente, torcedores brasileiros e guianenses estão tristes pelo desastre da seleção brasileira penta campeã de futebol. Mas, todos sabemos, que o futebol brasileiro vai levantar cabeça.

Enquanto isto, na margem esquerda do Rio Pará a criaturada ignorante de sua própria história sonha em melhorar de vida... Na zona do euro. O padre Gallo já morreu, o Museu do Marajó não está bem; Castor esteve em Cachoeira do Arari, visitou o museu, disse ter visto muitas riquezas em Marajó para quem até Soure só lhe contava história de pobreza... Terminou preso em Paris acusado de corrupção (aparentemente, nada que outros notáveis figurantes do mundo ultramarino não façam) e morreu de infarto na prisão.

Jack Lang amavelmente me presenteou com um exemplar autografado da sua obra biográfica sobre Nelson Mandela, durante fraternal jantar em Soure, na noite de Natal de 2005 depois de reunião com pescadores e convidados do Bispo Dom frei José Luís Azcona; também o eterno Ministro da Cultura de Mitterrand teve a bondade de ler meu pequeno ensaio "Amazônia latina e a terra sem mal", pacientemente ouviu-me falar do Museu do Marajó, Dalcídio Jurandir, uma rota de turismo passando pelas Antilhas e Guianas até Belém para criar alternaticos à imigração clandestina, ao analfabetismo, ao tráfico... Veio, deixou portas abertas, não viu o Museu do Gallo por que São Pedro Safadinho não deixou. E até hoje as autoridade do Pará na capital de costas para o rio continuam fazendo ouvidos de mercador. Giovanni Gallo era daltônico; o Padre grande dos índios Antônio Vieira fez o Sermão aos Peixes acusando-nos todos de estar cegos na Amazônia. Cegos de tanto ver, porém não enxergar a margem esquerda do rio Babel.

    



domingo, 6 de julho de 2014

ANALFABETISMO NO MARAJÓ É A PONTA INVISÍVEL DO 'APARTHEID' SOCIAL QUE O IDH ACUSA.

No ano de 1966, Paulo Freire veio a Belém do Pará: em Ponta de Pedras, ilha do Marajó, Ivo pelejava pra ver a uva, graças ao método de alfabetização de adultos do sábio pernambucano Ivo viu uma tal fruta 'muna'. Daí pra frente tudo foi diferente para o caboco que aprendeu a ser gente e viu que sem ler e escrever não se vale nada...  48 anos depois, com o caroço desta história a Criaturada grande de Dalcídio sonha zerar o analfabetismo e manda recado aos políticos cobrando compromisso aos candidatos de 2014.




aos sumanos
do Movimento Marajó Forte.





HÁ 48 ANOS UM CABOQUINHO INQUIETO POR ACASO VIU E ESCUTOU PAULO FREIRE FALAR NO AUDITÓRIO DA RÁDIO MARAJOARA, LARGO DE NAZARÉ, SOBRE A MALDIÇÃO DO ANALFABETISMO E COMO ACABAR COM A PRAGA. COM ISTO EM MENTE, O CARA IMPROVISOU MÉTODO EXPEDITO PARA ALFABETIZAR ADULTOS NO MARAJÓ. ASSIM, IVO VIU A 'MUNA': DA SEMENTE DESTE DOCE FRUTO SE PODERIA VISLUMBRAR PLANTIO EM SOLO POLITICAMENTE ADUBADO A SER DENOMINADO 
'MARAJOARAS UNIDOS NA ALFABETIZAÇÃO' (MUNA).


O caso é que nosso país gigante, sétima economia do mundo, tira petróleo do pré-sal, faz avião e a Copa das copas de futebol na qual é campeão entre os melhores campeões. Mas, o Brasil não consegue virar o jogo do analfabetismo. E o Pará tão rico e tão forte se apresenta como a vergonha do Norte com o IDH do Marajó.

Na verdade, Marajó -- berço da ecocivilização amazônica de 1600 anos de idade -- é a joia da coroa do Grão-Pará. Logo, em tais circunstâncias o maior arquipélago fluviomarinho da Terra na foz do maior rio do mundo; poderia melhorar o IDH rapidamente, se houvesse vontade política para zerar o analfabetismo como fez a vizinha Bolívia, por exemplo.

Teóricos da educação falam muito em Paulo Freire, mas são escassos efeitos práticos da educação professada por Paulo Freire. Crítico contumaz da famosa cartilha que dizia "Ivo viu a uva", ele voltou-se especialmente à educação de adultos analfabetos. Reconhecia que esta gente é doutor em seu meio ambiente, só que não sabe ler e escrever. Uma vez desatado o nó, o camarada cresce e aparece que é uma beleza.

Ainda assim, muitas vezes, não basta ensinar ler e escrever. Pois por falta de prática a pessoa pode recair. Uma boa campanha de alfabetização de maiores de quinze anos de idade será aquela da educação continuada nos municípios. Certamente, associada a programa de extensão universidade da terceira idade. O mundo dos excluídos da educação deve ser visto como oportunidade para recuperar o tempo perdido, não apenas do ponto de vista do indivíduo mas já como mobilização permanente para a participação social.

Então, pensando, que donos do Poder não querem tirar cabresto do povo -- por medo de cair do cavalo, está claro -- discípulos do famoso puxa-saco profissional Professor Praxedes dominando a "educação", inventaram aquela cartilha enfadonha de emburrecer gente e a palmatória do Diabo para afugentar criança da escola, como se esta fosse esmola e não legítimo DIREITO HUMANO. 

Foi assim que Ivo viu a uva, ficou pateta escolarizado, não viu o tempo passar, viu luzes da cidade e quis engrossar o êxodo rural e ganhar a sorte grande sem trabalhar, imaginou chegar ao poder pela porta do fundo arranjando votos para o andar de cima, que nem burro olhando para as portas do palácio...

O nome Ivo neste caso é fictício para proteger a identidade do sumano que, de verdade, aprendeu a ler e escrever com método expedito baseado na experiência revolucionária de Paulo Freire, mas a história é verdadeira. Ivo representa o pirralho ribeirinho da cartilha velha que deixava molecada mais rude que antes da escola, a soletrar debaixo da santa Férula (palmatória) "Ivo viu a uva"...

Pobre não podia ir pra frente. Uva uma ova!... No Marajó a gente vê açaí, tucumã, taberebá, miriti, bacaba, cupuaçu, bacuri, piquiá, goiaba, essas coisas daqui... O resultado da cartilha velha está espelhado no IDH da brava gente marajoara: que suporta quantidade bruta de 50%, quase, de analfabetos (sem contar analfabetos ditos funcionais, mais os problemáticos analfabetos políticos, que são os piores...).

A história da fruta "muna" se passou quando o caboco que vos fala trabalhava na prefeitura de Ponta de Pedras-Marajó-PA, primeira administração do prefeito Antonico Malato. Entre trabalhadores braçais pagos pelo município número significativo deles "assinava" recibo "a rogo" (isto é, por não saber escrever tinham o polegar melado em tinta de carimbo para imprimir a digital ao lado de assinatura de testemunha, dando fé ao pagamento por serviço avulso).  

Pra falar a verdade, aquilo era uma esculhambação generalizada na administração pública e privada dos Brasis desde tempo da colônia portuguesa, com certeza. Ora, quem iria se preocupar com isto? Paulo Freire, por exemplo, preocupou-se. Mas, acabava sendo uma andorinha só, se não achasse militantes para colocar a ideia em prática. E tanto Paulo Freire aborreceu o poder que a Ditadura o mandou pra fora do Brasil. E a gente aqui, sem saber nada de Paulo Freire e sua exemplar história, ficou assim como está até hoje.

Assinatura "a rogo" era constrangimento "normal" a trabalhadores analfabetos, aumentava o sofrimento do nosso Ivo da história pela discriminação social e gozação ("bulling") dos próprios colegas alienados no trabalho... Aquilo, em Ponta de Pedras, era ainda maior vergonha por ser a terra onde nasceu o maior escritor da Amazônia, premiado pela Academia Brasileira de Letras (ABL). Falando francamente em língua de caboco, "puta merda"!

Dalcídio Jurandir criou o personagem Alfredo testemunhando a vida ribeirinha de sua criaturada danada sem eira nem beira, na sublime esperança de que o grande Marajó desencante mediante levante social e econômico da dita criaturada. Porém o Marajó de verdade é a brava gente marajoara. 

Como desencantar Marajó sem sua gente e sem ela, nem ao menos, conhecer Alfredo e o índio sutil que o criou? Poucos sabem ler e escrever, de fato, naquelas paragens. Não existe Dalcídio para todos, mas apenas para uns poucos bons pensantes. Como disse uma amiga fiel: Dalcídio serviu ao Comunismo, outros camaradas se serviram do Comunismo...

Esta gente ANALFABETA sabe muita história oral e não poucos tem viva MEMÓRIA e sabedoria criativa. Contavam pelas portas do Mercado, no bar do Emérito, Casa da Beira, no trapiche ou canoas à espera de maré, muitos casos do estúrdio apartheid que "normaliza" tontas discriminações, dizendo -- em falso -- que Deus fez o mundo deste jeito desde os começos do tempo.  

Menos verdade, caboco! 

O homem que conhece a realidade da vida é capaz de modificá-la pra melhor. Ou conservar da melhor maneira para que as coisas boas da vida não acabem. Diz-que, rico fazendeiro conhecido das altas rodas da sociedade de Belém, talvez até membro da diretoria da festa de N.S. de Nazaré; ao ter notícia que o prefeito havia nomeado professorazinha leiga pra ensinar o bê-a-bá às proximidades da fazenda, abalou-se em viagem exclusiva para pedir ao alcaide revogação imediata da criação da tal escola (se é que era escola de verdade ou cursinho ribeirinho na própria casa da professora primária). 

Dizendo, então, o distinto senhor fazendeiro ao nobre senhor prefeito, mais ou menos, isto que faria corar um frade de pedra:"se esta gente aprende a ler e escrever, onde vou arranjar vaqueiros?"... Aposto que daria grosso compêndio a coleção de 'causos' semelhantes da história oral de todos dezesseis municípios dos Marajós.

Outro caso da mesma série diz que dois honestos comerciantes amigos, depois da indispensável sesta e mergulho costumeiro nas águas mornas do rio, saíram a andar e filosofar pensado alto em meio a carregadores da feira, diziam eles: "que seria de nós ricos se não existissem os pobres"... Se não é verdade, é provável visto o mísero IDH e alta taxa de analfabetismo da brava gente. 

COMO FOI QUE IVO DESCOBRIU A FRUTA MUNA.

Ouvi Paulo Freire dizer que na construção de Brasília, em poucas semanas, operários antes analfabetos de pai e mãe começavam a ler e a escrever... Para isto, entretanto, uma equipe letrada bateu cabeça para achar uma palavra chave. Esta chave que abriu a porta do saber aos operários da construção da nova Capital foi a palavra TIJOLO. Tijolo esse duma outra construção, agora mental, tendo familia TI-JO-LO... Com o TA -TE - TI - TO - TU e assim por conseguinte. No começo tudo é "letrume". Mas, pouco a pouco, os pedacinhos do letrume TA TE TI TO TU vai desenhando coisas e loisas, como vitamina fazendo efeito e libertando quem se achava prisioneiro e nem via os muros da cadeia...

Aí a guerra está ganha. Primeiramente, por que o analfabeto é um sujeito que sabe muitas coisas que os doutores não sabem. Pelo método da troca "tu me ensina a fazer renda e eu te ensino a namorar" ninguém deve nada a ninguém. São elas por elas. O Ivo da história fica esperto, de tanto coisa que ele nem sabia que sabe...

No caso, o "professor" era um honrado servidor público que depois do expediente, manhã e tarde; saia a alfabetizar meia dúzia de "alunos" no Círculo Operário. Resmas de cartolina e pincel atômico... Muita conversa de lá pra cá, de cá pra lá...

No começo, o diabo foi encontrar a tal palavra chave. Uma palavra como um ramo que liga a árvore toda, mais o chão e a água, o ar com o sol, nuvens e chuvas... Até o infinito. A tal palavra, como toda outra, tem poder. Por isto, quem não sabe ler nem escrever, vive meio por fora da realidade...

Ora, naquelas paragens quem é que não sabe, por exemplo, da farinha de mandioca, nosso pão da terra de todo dia? Mandioca toda gente conhece, mas era preciso uma palavra que lembrasse a farinha, o pirão, a roça, a comida da gente e com tudo isto fosse escrita, sem mais nem menos, com três sílabas. Eureca! MA - NI - VA...

Maniva dá maniçoba, maniva dá na roça, maniva dá dinheiro na agricultura familiar, maniva é forragem para o gado, maniva pode ajudar a combater anemia e desnutrição infantil... Maniva pode até combater ANALFABETISMO. Como foi o caso de Ivo...

No começo foi difícil, caboco é bicho arisco, descendente de índio... Desconfiado que nem o Diabo, ele te diz "sim" quando quer dizer não, "não", quando é talvez; e "talvez" é quase sim... Haja paciência! Dá vontade de desistir... Mas o Ivo logo demonstrou que era líder da turma, ele era analfabeto mas não burro. Burro era quem pensasse passar a perna no sumano Ivo.

Pra encurtar a conversa: devagar, a turma começou a brincar com o "letrume" no quadro... A família da MA NI VA, MA ME MI MO MU se multiplicava em NA NE NI NO NU e VA VE VI VO VU... Sabem jogar dominó? Pois então, pode pegar as "pedras" e fazer diversas combinações... Alguém, por exemplo, achou VI VO e explicou à turma que quem é vivo não está morto e sempre aparece... Outro achou VI VI no quadro do letrume... O que é Vivi? O nome da minha tia... Ela mora aqui? Mora, sim senhor... Ela ainda vive? "Véve"... Por aí a coisa andava, quando Ivo apontou ao quadro e leu tranquilamente MU NA... Muna? Sim, senhor... O que é muna? Uma fruta. O senhor conhece essa fruta? Não, mas o senhor, que é homem viajado, deve conhecer. 

Bem feito! Fiquei devendo esta ao Ivo. Pena que isto foi só uma pequena experiência isolada a fim de saber se o método Paulo Freire funcionaria ou não naquela comunidade. Pena que eu tivesse de ir embora para Brasília, como já estava previsto desde a chegada para servir na prefeitura. Depois o MOBRAL passaria por ali... E mesmo o bendito MOBRAL poderia ter feito efeito se a sociedade local, em vez de avacalhar a guerra com baladeira, tivesse colaborado como devia.

Lembrei-me disto tudo a fim de provocar COMPROMISSO explícito de candidatos às eleições de 2014, em especial ao cargo de governador do Estado do Pará,  zerar o analfabetismo no "maior arquipélago fluviomarinho do planeta". 

É claro que nem o imenso Paulo Freire com toda sua bagagem pôde, ainda, zerar o analfabetismo no Brasil. Não será sozinha a Presidenta da República, nem o Governador, nem o melhor prefeito do mundo; muito menos este contador de estória; que vai debelar tão antigo mal. 

Porém uma união da própria população apoiada pelas autoridades, sim poderemos todos colher uma extraordinária vitória, conquistando mais e mais territórios livres do analfabetismo.

Marajó é um vasto bioma que merece ser reconhecido como reserva da Biosfera, no programa da UNESCO, "O Homem e a Biosfera"; faz elo da Amazônia verde com a Amazônia azul. A pobreza neste um dos 120 consórcios de municípios brasileiros chamados Territórios da Cidadania, é um escândalo nacional. E ainda tem haver de abacaxi para descascar no encalhado PLANO MARAJÓ... 

Por isto, o próximo governador ou mesmo o atual, se quiser ser reeleito, deve dizer direito com todas as letras, o que pensa de tudo isto e o que há de fazer para cortar o mal do apartheid pela raiz:

Delegação composta por professoras de Sergipe, Pernambuco, Maranhão e Pará, veio à Capital Federal para conhecer a parte operacional e pedagógica do Programa DF Alfabetizado

Na manhã desta quarta-feira (14), o secretário de Educação do Distrito Federal, Marcelo Aguiar, acompanhado da subsecretária de Educação Básica, Edileuza Fernandes, receberam a delegação de professoras de Sergipe, Pernambuco, Maranhão e Pará. O motivo da vinda do grupo, que chegou ontem na cidade, foi a grande conquista do DF em ter recebido do Ministério da Educação, o Selo de Território Livre do Analfabetismo, na semana passada. As professoras retornam hoje ao estado de origem.


A coordenadora do Programa Paulo Freire Pernambuco Escolarizado, Janyse Feitosa, explica que a delegação veio a Brasília para se reunir com gestores da área educacional. Segundo ela, o objetivo é conhecer o Programa DF Alfabetizado, que faz parte da iniciativa federal do Programa Brasil Alfabetizado, assim como o Pernambuco Escolarizado. “Viemos conhecer as questões operacionais e pedagógicas do programa realizado pela Secretaria de Educação, trocar experiências e intervir junto ao MEC, a proposição para validar o Selo nos demais municípios que alcançaram acima de 96% do índice de alfabetização”, acrescentou.


O secretário de Educação ressaltou o significado do Selo para a Educação do DF, que para ele é uma vitória, motivo de alegria, fruto de muito trabalho e dedicação dos professores, alfabetizadores e das instituições parceiras. “Temos avançado muito no ensino da rede pública. Concluímos o Currículo da Educação Básica, que antes não havia, e também publicamos o caderno da Educação de Jovens e Adultos. Implementamos a Bolsa-Alfa, na qual asseguramos uma complementação aos beneficiários do Programa Bolsa Família, que estão em processo de alfabetização”, destacou Marcelo Aguiar, sobre algumas ações realizadas pela SEDF.

O Ministério da Educação (MEC) conferiu a Taubaté, no final do mês de maio, o Selo “Município Livre do Analfabetismo”, instituído pelo Decreto nº 6.093/2007, pelo cumprimento da meta de universalizar a alfabetização. O decreto dispõe sobre a reorganização do Programa Brasil Alfabetizado que visa abrangência da alfabetização de jovens e adultos de quinze anos ou mais.


A cidade de Taubaté conseguiu atingir a meta de ensinar mais de 96% da população a ler e escrever, dados comprovados pelo Censo Demográfico do IBGE. E a UNESCO declara ser um território livre de analfabetismo quando este índice da população com mais de 15 anos sabe ler e escrever.

Entre os 207 municípios que receberam o Selo de Município Livre do Analfabetismo em 2014, Taubaté ficou na 51ª posição.

“O recebimento desse selo significa que atendemos a meta estabelecida pela Unesco. Mas, precisamos fazer mais e melhor! Os números são resultados de trabalho árduo e pretendemos sempre ir além. Os indicadores precisam melhorar. Precisamos de índices mais altos na Educação. E não mediremos esforços para tingir metas cada vez mais audaciosas”, diz a Secretária de Educação, Edna Chamon.

Atualmente, além do EJA, Taubaté conta com o Programa ProJovem Urbano e atende 126 jovens de 18 a 29 que não completaram o ensino fundamental.



Como se vê no acima exposto, nós não estamos inventando a roda. O CASO É PRA DEIXAR PRETO NO BRANCO: juramentado no programa de governo. A gente fica contente em saber que o governo do Estado do Pará está estudando, com ajuda do governo do Distrito Federal, o modo de melhor enfrentar a espinhosa questão. Portanto, será fácil ao governador assumir COMPROMISSO que a gente quer, assim que seus concorrentes ao cargo. Porém cumpre dizer, que estar a estudar e como alguém dizer que vai pensar sobre o assunto. E todo mundo diz que pensando morreu um burro...

A realidade nacional mostra que sendo até agora só o Distrito Federal a conquistar o honroso Selo recomendado pela ONU, não é por falta de meios que São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e etc. ainda estão de fora. Portanto, desculpa esfarrapada é que não falta para as coisas se arrastarem como estão, há séculos.

Claro que é falta de vontade política. Ou antes, o embargo tem motivação política... Por exemplo, temos em Belém a Cátedra da UNESCO junto à UFPA se esta Cátedra fosse solicitada pelos prefeitos do Marajó ou pelo governo estadual; poderia convidar países da ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DE COOPERAÇÃO AMAZÔNICA (OTCA), com experiência de sucesso na erradicação do analfabetismo, a nos ajudar nesta crucial questão para melhoria imediata do IDH dos municípios do Marajó.

Ora, o "orgulho nacional" -- que se não envergonha do IDH do Marajó -- não aceita pedir ajuda a países "atrasados", por acaso Bolívia, Equador e Venezuela (este principalmente...). Mas, a UFPA, justamente, tem cacife suficiente para dispensar ajuda externa neste assunto... Mas, a bem da verdade, deve reconhecer que estabeleceu seu primeiro campus na ilha do Marajó, em 1986. 

No próximo ano, quando se encerra o prazo das Metas dos Milênio, a UFPA completará 29 anos do programa de interiorização na mesorregião do Marajó. Durante este tempo a UFPA fez coisas importantes em benefício do povo e dos municípios do Marajó, entretanto, infelizmente deixou de fazer coisas básicas que precisavam ser feitas considerando as especificidades de seu campo de atuação.

Verdade seja dita, o atual reitor de UFPA tem demonstrado capacidade e boa vontade de diálogo com a comunidade marajoara nunca dantes visto. Isto é animador: de todo modo, não se espera que a UFPA, nem uma futura universidade federal, venha ser hegemônica ou substituir papel institucional dos mais entes federativos atuantes nesta singular região amazônica. Mas, por sua missão estratégica, notamente através da Extensão; exercer uma indispensável articulação capaz de tornar o TERRITÓRIO FEDERATIVO um agente de integração nacional, promotor do desenvolvimento  regional sustentável, cantado em prosa e verso.

Eu não gosto nem desgosto desta ou daquela autoridade federal, estadual, municipal... Desta ou daquela entidade da sociedade civil, seja empresa, partido, igreja ou Ong. Meu "negócio" é com minha consciência em relação à "Criaturada grande de Dalcídio", a patuleia ribeirinha sem eira nem beira: quem está com ela está comigo, quem for contra me achará em oposição. Claro, minha força é fraca, porém atrapalha. Não consigo ser agradável a todo mundo. 

Digo que a comunidade acadêmica e política paraense é a maior responsável pelo IDH do Povo Marajoara, com destaque à UFPA, a maior e mais antiga universidade do Pará. Só que eu como ex-aluno, um dos fundadores e primeiro vice-presidente da Associação de Amigos da UFPA nunca serei inimigo da UFPA, muito pelo contrário. Se às vezes a critico é porque desejo seu maior sucesso.

Se a UFPA quisesse fazer um gesto de incentivo à COOPERAÇÃO AMAZÔNICA bastaria lembrar que é ela secretaria executiva da quase esquecida "Associação das Universidade da Amazônia (UNAMAZ), a qual pertencerá um dia, no futuro, a sonhada Universidade Federal do Marajó, e por intermédio desta entidade obter a fórmula "mágica" de zerar analfabetismo de adultos.

CONFINTEA, será esta a árvore da Muna?
Na floresta de siglas que abunda no verdevagomundo amazônico é de grande interesse da Criaturada saber do que trata esta coisa. Vai ver que a tal fruta 'muna' dá em pé da árvore Confintea... A diretora-geral da UNESCO Irina Bokova, diplomata da Bulgária (pátria da família paterna da Presidenta Dilma Vana Rousseff), veio a Belém e recepcionada pela governadora Ana Júnia plantou uma árvore na área verde externa do HANGAR - Centro de Convenções da Amazônia... Pena que está árvore onde a muna poderia fruticar, não tenha sido um pé de planta nativa da Floresta Amazônica, como, por exemplo, andirobeira ou copaíba; mas um vulgar pé de Eucalipto.  

A árvore simbólica da Confintea na Amazônia deve ser planta nativa e não exemplar de analfabetismo ecológico. Agora que talvez o PMDB e PT poderão voltar juntos ao governo seria caso de convidar de novo a Senhora Bukova para relançar a ideia da CONFITEA no Pará, com eleição do Marajó para projeto demonstrativo sob chancela da UNESCO e candidatura da reserva da biosfera ao MaB/Unesco

Em 1997, na Quinta Conferência Internacional
de Educação de Adultos (CONFINTEA V), em Hamburgo – a Declaração de Hamburgo
e a Agenda para o Futuro – reafirmaram o conceito ampliado de educação e aprendizagem ao longo da vida como o princípio fundamental para a maneira em que concebemos e organizamos o processo educativo. Reafirmaram, também, o princípio da educação como direito humano fundamental e universal e destacaram o seu papel para o desenvolvimento humano, socioeconômico e cultural e na busca de um espírito de compreensão e cooperação que permita aos povos da Terra viver em paz.
A educação e aprendizagem de jovens e adultos constituem parte integral dessa referência maior.
Passados 12 anos, a grande maioria dos Estados-membros da UNESCO ainda estava longe de cumprir a agenda estabelecida em Hamburgo.  Hoje são passado 17 anos...
Então, em dezembro de 2009, a comunidade internacional se reuniu em Belém do Pará  na CONFINTEA VI a fim de discutir o Marco de Ação que serviria de referência para a educação e aprendizagem de jovens e adultos em âmbito global. Cinco anos depois, o IDH do Marajó é um triste retrato da ineficiência desta e outras solenidades em nome do Povo.


A iniciativa MARAJOARAS UNIDOS NA ALFABETIZAÇÃO (MUNA) é uma proposição unificadora dos movimentos sociais da comunidade marajoara em torno da Educação Ribeirinha (da alfabetização de adultos, passando pela Alfabetização de crianças até a campanha para criação da futura Universidade Federal do Marajó). 

Melhor dizendo, a ideia de um pacto entre governo e sociedade para obter para a mesorregião do Marajó o SELO TERRITÓRIO LIVRE DO ANALFABETISMO a ser atribuído pelo Ministério da Educação. Justo quando vem de ser aprovado o Sistema Nacional de Participação Social. Doravante, a critica ao governo é livre, mas não vale só falar por falar. Quem topa levanta a mão!