sexta-feira, 29 de junho de 2012

Independência do Marajó, mas não muito.

A palavra Nego, em letras garrafais, está grafada em branco na parte vermelha Foto: Reprodução





A bandeira da Paraíba: se, por acaso, a ilha do Marajó
algum dia vir a se tornar país independente na União das Nações Sul-Americanas, 
as cores tradicionais da Cultura Marajoara devem ser as cores nacionais do novo país insulano.
O histórico "Nego" de João Pessoa, símbolo de resistência à política café-com-leite da hegemonia de São Paulo e Minas Gerais; poderá relembrar a Resistência Marajoara contra invasores e opressoes da brava gente das Ilhas.








Proclamando a “independência” da ilha do Marajó

Ainda não será desta vez, entretanto cansados de tanto esperar pela integração nacional e a cidadania plenas; cabocos marajoaras menos desinformados das coisas do mundo do que seus semelhantes afincados à desigual luta pela sobrevivência no dia a dia; cedo ou tarde aprenderão o caminho das pedras. Estes poderão um dia, no futuro não tão distante, tomar atitude nunca dantes neste ex-país do Futuro unido do Oiapoque ao Chuí pelo samba e o futebol, além naturalmente da língua portuguesa com certeza; indo bater às portas do comitê de descolonização da ONU.

Coisa esta que as vizinhas ilhas ultramarinas da França, a Martinica, Guadalupe e ilha de Caiena já poderiam ter feito, se Paris cuidasse delas do mesmo jeito como Brasília tem contemplado as suas ilhas do grande mar amazônico, o Golfão Marajoara no dizer do emérito Aziz Ab’Saber. Diversos casos de independência de países insulares foram por este caminho de ruptura e separação extrema e assim poderia ocorrer ainda a independência da maior ilha fluviomarinha do mundo (maior que os Países-Baixos com população equivalente a de muitos países). Quem duvida?

Que diabo suscita uma coisa destas? O correspondente do jornal “Estado de São Paulo” em Paris, Gilles Lapouge; dá exemplo da revolta da Ilha de Jersey contra a Grã-Bretanha caso o governo de David Cameron continuar a aborrecê-la. Em Marajó, ao contrário, reina surdo descontentamento contra o Estado do Pará tanto quando contra o governo federal instalado na longínqua “ilha” de Brasília. Afinal de contas, Brasília potencialmente separada do Marajó por menos de três horas de vôo fica mais longe do que a fronteira das Guianas de Paris apesar das suas sete horas de avião à jato... Jersey está amarrada ao Reino Unido desde 1204, enquanto Marajó optou pela paz e soberania de Portugal, em 1659, depois de 36 anos de guerra suja para expulsão de feitores holandeses e britânicos do rio Amazonas e se viu humilhado pelo sucessor de Dom João IV, o mentecapto Afonso VI, o qual longe de honrar a memória de seu pai e a obra pacificadora do Padre Antônio Vieira, doou a ilha dos Nheengaíbas ao seu secretário de estado como capitania hereditária já chamada de Ilha Grande de Joanes (1665). Não contente com semelhante pisada, o célebre déspota esclarecido Marquês de Pombal; expulsou os missionários Jesuítas e sequestrou aldeias e fazendas das Missões do Marajó para constituir o famigerado Diretório dos Índios (1757-1789). Com que os indígenas foram “extintos” por decreto e “ipso facto” declarados súditos emancipados do reino português e futuros cidadãos brasileiros. Vem desde então a caboquice ampla, geral e irrestrita do Estado do Grão-Pará e Maranhão até o esplendor da lambada, brega music, tecnobrega e outras presepadas moderneiras papa-chibé (com muito orgulho, diga-se de passagem).

Por estas e outras, no dia 28 de Maio de 1823, vendo que Belém não conseguiu vencer a força colonial portuguesa; os marajoaras na Vila de Muaná proclamaram a Adesão do Pará à Independência do Brasil e por isto atacados, presos e condenados à pena de morte (comutada em prisão perpétua nos cárceres de São Julião da Barra, no Tejo). A palhaçada de 15 de agosto (“data magna” e feriado estadual) fez esquecer os heróis de Muaná e terminou pelo massacre dos patriotas paraenses na chamada tragédia do “Brigue Palhaço” causa direta da guerra-civil de 1835, dita a Cabanagem. Marajó teve participação destacada na insurreição paraense, esmagada pelo Império do Brasil a um custo aterrorizante de 40 mil mortos numa população de apenas 100 mil almas. Desde então, Marajó, que foi achado pelo espanhol Vicente Pinzón em fins de janeiro de 1500 na porção castelhana do Tratado de Tordesilhas; tendo já experimentado a primeira civilização amazônica desde cerca do ano 400 da era cristã; acumula calado fundos ressentimentos da opressão luso-brasileira, apenas mitigados por um enorme olvido e abandono que se reflete no mísero IDH das populações ribeirinhas. Ao contrário da Ilha de Jersey e até das Malvinas paparicadas noite e dia pelo Reino Unido.


Gilles Lapouge diz que a “Ilha de Jersey não é grande coisa. Com uma superfície de 119,49 quilômetros quadrados e 97.857 habitantes, é um país microscópico .... No entanto, sua cólera impressiona Londres ainda que a rainha Elizabeth II, que continua sendo a soberana de Jersey (com um título bizarro e cheirando a Idade Média, de "duquesa da Normandia"), ainda não tenha ameaçado enviar até ela a Marinha Real, como fez com as Malvinas”. Se, por acaso, a mesorregião do Marajó se tornasse um país independente teria 104 mil km² de território, tamanho de Portugal praticamente; com uma população próxima do vizinho Suriname (sem esquecer que a plataforma continental do Golfão Marajoara está prestes a bombar petróleo e gás, com que ainda os cabocos não sonham e nem estão preparados a suportar a invasão que virá).

O motivo da revolta de Jersey tem fundamento histórico. Por acaso, o surdo ressentimento do Marajó não teria também? Além do mais, o correspondente do Estadão informa os leitores que Jersey é magnífica e os turistas a adoram. Não menos magníficas são as 2500 ilhas do arquipélago do Marajó na foz do maior rio da Terra, porém aí acabam as semelhanças. Pois o turismo não se sustenta em Marajó por falta de infra-estrutura e a vasta pobreza que cerca a “ilha-arquipélago” por todos os lados, termina por achar absurda ideias tais como a da construção de uma ponte, de cerca de 10 ou 12 quilômetros ligando a Alça Viária de Belém no continente com a ilha através de Barcarena e Ponta de Pedras; reserva da biosfera, universidade federal multicampi, federalização do Museu do Marajó para repatriamento de cerâmica pré-colombiana e proteção aos sítios arqueológicos e coisas assim. Providências e investimentos que fariam da Amazônia Marajoara uma potência turística e de desenvolvimento sustentável comparável a Costa Rica, no norte do Brasil. Mas não faltariam investidores em Marajó se fosse para fazer dela uma Cingapura, por exemplo, cheia de cassinos, hotéis de luxo e também paraíso fiscal como as Ilhas Caiman; neste caso pertinho de capitalistas tupiniquins como as Bahamas para os norte-americanos.

De mais a mais, Jersey tem bancos. Muitos bancos. Bancos sutis, já que Jersey, de longa data um paraíso fiscal, também emprega seus talentos para facilitar a vida daqueles pobres milionários que o fisco britânico gosta de depenar”. Um famoso brasileiro atrapalhado com as contas externas no paraíso fiscal de Jersey seria, segundo notícias recorrentes na mídia, o deputado Paulo Maluff, por exemplo. Este, certamente, nunca pensou em investir um dólar furado na ilha do Marajó, enquanto que o célebre Roberto Jefferson, do Rio de Janeiro; conforme versão corrente no Pará, teria algum dia pensando em um projeto de construção de presídio de segurança máxima na ilha do Marajó. Apenas exorcizado pelo “jabuti”  interposto preventivamente pelo deputado constituinte de 1989 Agostinho Linhares, na Constituição do Estado (parágrafo 2º, VI, art 13) determinando criação da área de proteção ambiental do arquipélago do Marajó e dispondo sobre o planejamento do desenvolvimento da gente marajoara, que jamais saiu efetivamente do papel...

O que teria deixado David Cameron fora do sério foi o caso do astro da comédia Jimmy Carr, que ganha rios de dinheiro, montar um circuito onde coloca seu dinheiro em Jersey num "trust", uma estrutura jurídica opaca, e o recupera em forma de empréstimos. Deste jeito, ele só paga 1% de impostos sobre a fortuna. Tal mágica levou o governo britânico a se debruçar sobre os meandros fiscais e financeiros da ilha de Jersey. Então, os políticos de Jersey subiram nas tamancas. Os habitantes de Jersey, que “são chamados ora de jersianos, ora de (não se sabe bem por que) "sapos", vingam-se lembrando que o pai de David Cameron fez fortuna precisamente nos paraísos fiscais e era o presidente de um fundo de investimentos (o Close International Asset Management) com base em... Jersey”. Eis por que Jersey ameaça declarar a independência. “Os habitantes da ilha estão furiosos, mas não muito. Eles estão inquietos, mas não muito”. Sabem que sua ilha continuará sendo do Império Britânico, como é desde 1204. Lembram-se que Jersey, em 1066, pertencia a um Ducado da Normandia na França, cujas tropas transpuseram o Canal da Mancha e tomaram o poder na Inglaterra. Então, os “sapos” costumam dizer que a Inglaterra é deles, e não a ilha de Jersey que pertence aos ingleses.

Se acaso os marajoaras soubessem a antiga história de seus antepassados “nheengaíbas” (povos Aruak que ocuparam a ilha do Marajó há mais de dois mil anos) e das migrações das Antilhas para as Guianas em busca do país do Cruzeiro do sul, conhecido entre as antigas populações amazônicas como o Arapari (extremadura do Sol); pensariam que nem os “sapos” em relação a Inglaterra. É a Terra Firme, continente do Brasil, que pertence aos ilhéus e não o contrário. Mas eles têm que estudar e comer muito peixe frito com pirão de açaí para descobrir o truque do “Descobrimento” e os meandros da ordem mundial.

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