
Visita do cardeal Dom Claudio Hummes à Prelazia do Marajó (22-27 de fevereiro de 2016).
MARAJÓ
PEDE MAIS SEGURANÇA
Nem
a fome nem tampouco a falta de políticas públicas em áreas básicas como
educação e saúde. O que mais aflige o povo marajoara nos dias atuais, é a
violência praticada por piratas modernos que assaltam embarcações grandes e
pequenas e também as casas de ribeirinhos sempre à mercê de quadrilhas
organizadas que praticamente não sofrem repressão.
Essa
foi a conclusão que chegou o cardeal Dom Cláudio Hummes, que visitou quatro
municípios do Marajó de terça-feira a sábado (amanhã), a pedido do Papa
Francisco, que tem como prioridade o auxílio aos pobres de todo mundo. Dom
Cláudio, debateu muito com autoridades e lideranças comunitárias questões como
exploração infantil, tráfico de pessoas, abandono das famílias pobres e falta
de políticas públicas adequadas para a região.
Hummes confirmou que o Papa Francisco pretende
vir ao Brasil em 2017, podendo incluir o Marajó em sua programação, conforme o
próprio Dom Cláudio sugeriu. Segundo cardeal, o Conselho de Bispos do Brasil
enviou convite formal à Sua Santidade e o prefeito de Breves, Xarão Leão, em
solenidade na Câmara Municipal ontem, sexta-feira, entregou uma oficio em nome
do povo marajoara para ser encaminhado ao Papa, reiterando o convite.
Dom
Cláudio visitou os municípios de Portel, Melgaço, Breves e Soure, onde está
nesse sábado, a convite do bispo da prelazia do Marajó, Dom Luiz Azcona, que acompanhou
sua eminência durante toda a visita.
Em
todos os municípios, o cardeal fez questão de reunir-se com as comunidades,
como aconteceu às margens do rio Tajapuru, em Melgaço, por onde passa a maioria
das grandes embarcações com destino ao Amazonas, Xingu e Santarém. Exatamente
nesse rio, há maior ocorrência de exploração sexual de meninas e adolescentes
sem que haja uma política de repressão por parte do Estado. "Ficaram de
montar uma base da polícia marítima no estreito de Breves, que poderia amenizar
a situação, mas até agora nada aconteceu ", relata o prefeito Xarão Leão.
Durante
os debates na sede da Câmara Municipal, o presidente da Associação dos Municípios
do Marajó, Cledson Rodrigues, falou da importância da presença de Dom Cláudio
como forma de sensibilizar as autoridades a fim de terem um olhar diferenciado
para o povo do arquipélago. Dom Cláudio manifestou sua indignação com a
situação do povo pobre nas cidades e principalmente dos ribeirinhos que são mal
assistidos pelo poder público, até por falta de recursos nas áreas principais
como educação e saúde.
Dom
Azcona mantém seu ponto de vista que a melhor solução para o Marajó será a
federalização já que o Governo do Estado já se manifestou sem condições de
investir na melhoria da qualidade de vida do povo marajoara.
Comunicação/AMAM
COMENTÁRIOS DO BLOGUE
A diplomacia do Vaticano sob pontificado do Papa Francisco, sem dúvida, hoje representa a maior esperança de Justiça e Paz para todo mundo: trata-se, evidentemente, de uma autoridade ética e moral capaz de dialogar com crentes e não-crentes, igrejas diversas e religiões diferentes; chefes de estado e de governo de potências econômicas, militares e tecnológicas. É o primeiro jesuíta no trono do Pescador. Nenhum outro líder mundial está em condições de oferecer uma chance de sobrevivência da Humanidade do que ele e a carta encíclica Loudato Si é a sua mensagem oferecida a todos os povos no espírito das boas novas de Jesus Cristo.
Se por graça especial o Papa aceitar o humilde convite do Povo Marajoara para vir ao berço da primeira ecocivilização amazônica nascida de cinco milênios de humanidade no Trópico Úmido sul-americano, oficializado por intermédio do Prefeito Municipal de Breves, Senhor Xarão Leão, gestor da maior população marajoara na comunidade de dezesseis municípios e território federativo maior que Portugal, localizado no delta-estuário do maior rio da Terra; no curso de sua aguardada visita ao Brasil prevista para 2017. Este excepcional encontro, desde já, deverá ser para nós um ponto de inflexão de uma longa história de marginalização cujas consequências se refletem, indubitavelmente, no estado de insegurança e pobreza crônica que ora afligem as famílias ribeirinhas do maior arquipélago de rio e mar do planeta.
Já foi dito que primeiro a história acontece como tragédia e depois se repete como farsa. Hoje piratas modernos, por suposto surtos das próprias localidades ou em cumplicidade com elas, colocam em pânico a população ribeirinha das ilhas. Pelos idos de 1656 a Câmara de Belém a pedido dos colonos do Pará requeria a "guerra justa" contra "índios de corso" (piratas) chamados Nheengaíbas (nuaruaques ou marajoaras) e o governador do Maranhão e Grão-Pará, André Vidal de Negreiros, foi autorizado pelo rei a castigar os índios do Marajó. A guerra justa significava cativeiro e extermínio, em casos de insubordinação ao batismo cristão e desobediência às leis do reino.
Estamos lembrados das peripécias do superior do Jesuítas, padre grande dos índios; Vieira, para evitar a guerra de extermínio dos antigos marajoaras. Já os ditos Nheengaíbas haviam resistido bravamente a três tentativas de ocupação pela força e à primeira tentativa de paz pelo padre João de Souto Maior fracassou com mortos e feridos. Só três anos depois, pressionado com prazo curto para evitar a guerra, dois nheengaíbas cativos do convento de Santo Alexandre mandados levar mensagem ao Marajó trouxeram os sete caciques para negociar a paz com o padre grande no convento dos jesuítas (ver Serafim Leite, "História da Companhia de Jesus no Brasil, tomo IV).
Quando se fala em segurança pública nas cidades o primeiro pensamento é chamar a PM para "pacificar" favelas... E já se sabe a dificuldade depois para desmilitarizá-las, para não dizer coisa pior. O Papa exortou corruptos a se converterem... Talvez tivesse que dizer a mesma coisa a policiais e militares em missão de paz. Não é fácil exercer a força quando o poder de persuasão fracassa. A história da igreja na Amazônia é complexa e não está isenta de erros e culpas. Para impor segurança pública nas duas mil e tantas ilhas do Marajó talvez fosse necessário convocar fuzileiros navais em verdadeira operação de guerra. O Estado do Pará descuidou do Marajó? Sem dúvida. A federalização lembrada para remediar o problema não promete grande coisa, e certo modo já existe no periclitante PLANO MARAJÓ... A médio prazo será necessário criar o estado do Marajó, como também de Carajás e Tapajós. Mas, não se cria um estado como mágico tira coelho da cartola. O povo tem pressa!
Que lições o passado distante pode nos dar nos dias de hoje a fim de encontrar a paz social?
A CNBB sabe, através dos dois bispos católicos do Marajó, da antiguidade dos sítios arqueológicos e da cerâmica marajoara dispersa nos maiores museus do Brasil e do mundo em contraste com as carências do sui generis Museu do Marajó, de Cachoeira do Arari, inventado pelo padre Giovanni Gallo S.J. em luta solitária contra a ignorância e a pobreza da gente espoliada de sua própria história e cultura, de que fala a obra de divulgação científica Cultura Marajoara, da arqueóloga brasileira Denise Shaan. Não poderiam esses museus nacionais e estrangeiros, sob coordenação do Museu Goeldi, a instâncias do Vaticano e da UNESCO "devolver" -- por assim dizer -- essas cerâmicas para a educação da criaturada grande de Dalcídio Jurandir (populações tradicionais)? Misturando literatura, arte marajoara, turismo solidário e educação ribeirinha talvez o Papa possa abençoar ideias como esta para uma grande reflexão e agradecimentos especiais ao bispo da Prelazia do Marajó Dom Frei José Luís Azcona Hermoso OSA pela constância de sua luta em favor dos mais fracos.
PARA NÃO ESQUECER
“neste dia [27 de agosto de 1659]
se acabou de conquistar o Estado do Maranhão, porque com os
nheengaibas por inimigos seria o Pará de qualquer nação estrangeira que
se confederasse com elles; e com os nheengaibas por vassallos e por
amigos, fica o Pará seguro, e impenetravel a todo o poder estranho.” (Padre Antônio Vieira / Carta de 11/02/1660
à regente de Portugal, dona Luísa de Gusmão, viúva do rei João IV,
prestando contas das Missões do Pará e, em especial, dando notícia das
pazes entre portugueses, tupinambás e os povos indígenas rebeldes das
ilhas do Marajó; alcançadas no "rio dos Mapuaises" [Mapuá], Reserva Extrativista Mapuá, município de Breves).
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38. Mencionemos, por exemplo, os pulmões do planeta
repletos de biodiversidade que são a Amazônia e a bacia fluvial do
Congo, ou os grandes lençóis freáticos e os glaciares. A importância
destes lugares para o conjunto do planeta e para o futuro da humanidade
não se pode ignorar. Os ecossistemas das florestas tropicais possuem uma
biodiversidade de enorme complexidade, quase impossível de conhecer
completamente, mas quando estas florestas são queimadas ou derrubadas
para desenvolver cultivos, em poucos anos perdem-se inúmeras espécies,
ou tais áreas transformam-se em áridos desertos. Todavia, ao falar sobre
estes lugares, impõe-se um delicado equilíbrio, porque não é possível
ignorar também os enormes interesses econômicos internacionais que, a
pretexto de cuidar deles, podem atentar contra as soberanias nacionais.
Com efeito, há «propostas de internacionalização da Amazônia que só
servem aos interesses econômicos das corporações internacionais».
É louvável a tarefa de organismos internacionais e organizações da
sociedade civil que sensibilizam as populações e colaboram de forma
crítica, inclusive utilizando legítimos mecanismos de pressão, para que
cada governo cumpra o dever próprio e indelegável de preservar o meio
ambiente e os recursos naturais do seu país, sem se vender a espúrios
interesses locais ou internacionais.39. Habitualmente também não se faz objeto de adequada análise a substituição da flora silvestre por áreas florestais com árvores, que geralmente são monoculturas. É que pode afetar gravemente uma biodiversidade que não é albergada pelas novas espécies que se implantam. Também as zonas úmidas, que são transformadas em terrenos agrícolas, perdem a enorme biodiversidade que abrigavam. É preocupante, nalgumas áreas costeiras, o desaparecimento dos ecossistemas constituídos por manguezais.
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fragmento da
CARTA ENCÍCLICA
LAUDATO SI’
DO SANTO PADRE
FRANCISCO
SOBRE O CUIDADO DA CASA COMUM
Roma, 24 de Maio de 2015, terceiro ano pontificado do Papa Francisco.
ARTE PRIMEVA DO BRASIL,
A CERÂMICA MARAJOARA, ABRE CHANCE PARA COLOCAR EM PRÁTICA PLANO DO PAPA
O Instituto Pólis aderiu ao acordo da
fundação Scholas Occurrentes. Assinado pelo historiador Célio Turino e
pelo Papa Francisco, o convênio firma uma cooperação entre a Scholas e a
rede Cultura Viva Comunitária. Fundada em 2013 pelo Papa, a organização
internacional busca estabelecer uma integração social e alcançar a paz
entre os povos. A partir da atuação em escolas e comunidades educativas
públicas e privadas, o projeto procura provocar uma mudança de
paradigmas na educação por meio da arte, do esporte e da tecnologia.
A rede Cultura Viva Comunitária integra
17 países e mescla arte, cultura e comunicação popular em experiências
culturais comunitárias, em âmbito nacional e continental. A rede tem
como proposta incidir sobre políticas públicas relacionadas ao
desenvolvimento cultural na América Latina e expandir a experiência dos
pontos de cultura, contribuindo para o diálogo intercultural entre
várias países.
Assim como a Scholas Occurrentes, a
Cultura Viva Comunitária compreende a importância da arte na cultura
como dimensão educativa, capaz de provocar profundas transformações na
sociedade tanto em âmbitos econômicos, políticos e sociais quanto
vinculadas à natureza.
saiba mais, acesse:
http://polis.org.br/noticias/instituto-polis-adere-ao-pacto-educativo-da-scholas-occurrentes-e-da-rede-cultura-viva-comunitaria/

Papa Francisco recebe Celio Turino, da Rede de Pontos de Cultura e apoia projeto Cultura Viva.