quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

inventando o ECOMUSEU ITAGUARI na terra de Dalcídio Jurandir


   rio Marajó-Açu, orla ribeirinha da cidade de Ponta de Pedras, ilha do Marajó; foto Raimundo Dias.



Pra começo de conversa: a ideia de ecomuseu é simples, mas não simplória. A quem se interessar possa, recomendo o link a seguir http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132015000200267 , para uma primeira ideia caso não se tenha tido ainda oportunidade de saber deste assunto. Aqui abordo apenas a oportunidade que o polo turístico Marajó tem de abrir, no próprio rio que dá nome à ilha e baía do Marajó, um portão ecoturístico ímpar remetendo à rota da antiga Costa-Fronteira do Pará e às duas mil ilhas do maior arquipélago de rio-mar do planeta.

Ponta de Pedras é a mais próxima cidade do Marajó com relação a Belém do Pará, distante 15 minutos em táxi aéreo ou duas horas e meia em barcomotor regional, provavelmente cerca de uma hora em catamarã tipo ônibus para passageiros. Pode ser porta de entrada ao turismo marajoara de ponta, fugindo daquelas atividades predadoras combatidas e criticadas em todo mundo. O turista inteligente que deseja conhecer a Amazônia a partir da capital paraense deverá saber que a ilha do Marajó foi o primeiro passo da "Viagem Philosophica" (1783-1792) do naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, da Universidade de Coimbra (Portugal), por exemplo. Belém e Marajó foram palco dos inícios da teoria da Evolução das espécies pelo naturalista Alfred Wallace, a par das observações de Darwin nas ilhas Galápagos. 

Não vale ter estado na famosa ilha e de lá sair como burro a olhar para porta de palácio e sem ouvir falar nas pazes entre índios bravios Nuaruaques e guerreiros Tupinambás conquistadores do rio das Amazonas aliados aos colonizadores portugueses; celebradas pelo padre Antonio Vieira (27/08/1659) no rio Mapuá. Indesculpável não visitar o Museu do Marajó e não ver a praia do Pesqueiro sabendo de antemão que a beleza de hoje escondeu a escravidão dos índios, antes mesmo da doação da primeira sesmaria da Capitania da Ilha Grande de Joanes (1665-1757). E tantas coisas mais que um turista curioso gostaria de saber no descobrimento da amazonidade profunda.

Por que um ecomuseu em Ponta de Pedras? Porque o turismo de base na comunidade é a modalidade a mais participativa e integradora das atividades turísticas. Os visitantes são convidados a descobrir no próprio local onde as pessoas vivem, como elas criam cultura, sobrevivem e interagem com a natureza. Os visitantes das comunidades, em geral, chegam informados a respeito dos lugares a ser visitados. No caso do Marajó e, especialmente, Ponta de Pedras; que melhor garoto-propaganda que o maior romancista da Amazônia reconhecido e premiado pela Academia Brasileira de Letras? Se o prestador de serviço de esquece de oferecer o legítimo açaí tuíra amassado à maõe em alguidar de barro e servido em cuia pintada, está desperdiçando recurso. Do mesmo modo, se há um grande romancista equiparado a Guimarães Rosa, em Minas, Jorge Amado embaixador da Bahia no mundo; e não usa este recurso a 'burridade' é enormíssima...

O Dia de Alfredo, por exemplo, na imaginária fazenda Marinatambalo (rio Paricatuba) daria vida à Criaturada grande de Dalcídio e o romance "Marajó" mais depressa provocaria o interesse de professores e alunos da rede municipal e estadual local, seria levado à universidade na justa ambição de revelar a natureza e a cultura marajoaras. Isto é, um grande elemento de orgulho para o povo marajoara lhe ensinando o valor da Hospitalidade. A preparar os moradores a dialogar com sustentabilidade cultural e não a vender gato por lebre.

Sem hospitalidade nenhum produto turístico tem futuro. Então, é para isto que valeria a pena inventar o Ecomuseu Itaguari, o qual como escola de hospitalidade no portão principal de uma rota turística marajoara abre o livro vivo de nossa história, recupera a memória, gera empregos e renda e preserva o patrimônio natural e cultural com oportunidades a gregos e troianos. Precisa dizer mais? 



  ilha encantada Quati: onde o Marajó começa com suas crenças e suas lendas.


Ao adentrar à foz do antigo rio do valente marãyu (marajó), ultrapassado o farol Itaguari; o visitante deve estar lembrado de um passado sempre presente nas esperanças desta gente. O ecomuseu que pensamos não carece de infraestrutura mais que, talvez, uma sala de reunião de entidade parceira e pessoas de boa vontade para compor associação zeladora. O museu, de fato, é a própria comunidade, o rio, os campos, matas, as praias da beira da baia com suas gentes, usos e costumes.

O mais importante deste tipo de museu é que as pessoas do lugar se vejam uns nos outros como donos da memória, zeladores de uma tradição que não se confina ao passado perdido, mas promove e conquista o futuro. Claro que o ecomuseu sugerido deve receber os visitantes, acolher com hospitalidade; porém além disso abraçar e envolver as comunidades, construir pontes de solidariedade com os municípios vizinhos, para maior coesão do território, da identidade e da cidadania marajoara.

Bem-vindos a Ponta de Pedras e boa viagem ao Marajó profundo!




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