terça-feira, 2 de agosto de 2016

O SONHO DA TERRA SEM MAL NÃO ACABOU






Sonhei um dia ainda jovem
como se eu estivesse na beira de um rio
tranquilo na tipacoema de maré cheia
a primeira manhã após
a primeira noite do mundo
me vi chegando à casa coletiva 
de meus antepassados
vinha eu paresque do fim do mundo
muito cansado depois duma longa viagem
a curiosidade do conhecimento
a saber quem inventou o mundo 
e o desejo de riqueza tal qual Marco Polo
me levaram longe pelos caminhos das Índias
em busca de aventura.

Sem rumo andei por terras estranhas
e naveguei mares nunca dantes
até me tornar amigo do rei do Congo
e conhecer as mulheres que me aceitaram
a compartilhar com elas
o prazer e a dor da vida
para criação de uma outra humanidade
a qual não há de conhecer

guerras
fomes
escravidão
doenças
velhice
mortes
mentiras

Então, a cabo daquela desconforme viagem
Me vi chegar por acaso ao porto do sítio antigo 
varando já para o terreiro dessa grande oca comunal
silenciosa e vazia, todavia cheia de recordações
de tantas vidas vividas.
Só e só a respirar aquele ar
eu sentia uma paz infinita
que nem um filho pródigo
em busca do tempo perdido
e juro que nunca fui tão feliz.

Vi o rio antigo levando índios sobre o dorso
que nem a Cobragrande Boiúna em sua sina
canoas mágicas indo por si para o centro da ilha 
grande como um planeta novo
entre o Sol poente e a Lua nova.
O remo encantado pingando água clara
entrando no mistério do rio
e o rio entranhando-se na alma da gente.















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