"Orminda era mulher para andar nas histórias, ficar nas modinhas na beira dos trapiches, na lembrança dos homens, (...). Lenda que não se podia esquecer mais." (Dalcídio Jurandir, "Marajó", p.187). Leia mais em: http://www.webartigos.com/artigos/o-lirico-no-romance-marajo-de-dalcidio-jurandir/53256/#ixzz4ExTK1Are
terça-feira, 2 de agosto de 2016
O SONHO DA TERRA SEM MAL NÃO ACABOU
Sonhei um dia ainda jovem
como se eu estivesse na beira de um rio
tranquilo na tipacoema de maré cheia
a primeira manhã após
a primeira noite do mundo
me vi chegando à casa coletiva
de meus antepassados
vinha eu paresque do fim do mundo
muito cansado depois duma longa viagem
a curiosidade do conhecimento
a saber quem inventou o mundo
e o desejo de riqueza tal qual Marco Polo
me levaram longe pelos caminhos das Índias
em busca de aventura.
Sem rumo andei por terras estranhas
e naveguei mares nunca dantes
até me tornar amigo do rei do Congo
e conhecer as mulheres que me aceitaram
a compartilhar com elas
o prazer e a dor da vida
para criação de uma outra humanidade
a qual não há de conhecer
guerras
fomes
escravidão
doenças
velhice
mortes
mentiras
Então, a cabo daquela desconforme viagem
Me vi chegar por acaso ao porto do sítio antigo
varando já para o terreiro dessa grande oca comunal
silenciosa e vazia, todavia cheia de recordações
de tantas vidas vividas.
Só e só a respirar aquele ar
eu sentia uma paz infinita
que nem um filho pródigo
em busca do tempo perdido
e juro que nunca fui tão feliz.
Vi o rio antigo levando índios sobre o dorso
que nem a Cobragrande Boiúna em sua sina
canoas mágicas indo por si para o centro da ilha
grande como um planeta novo
entre o Sol poente e a Lua nova.
O remo encantado pingando água clara
entrando no mistério do rio
e o rio entranhando-se na alma da gente.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário