domingo, 31 de julho de 2016

CARTOGRAFIA SOCIOAMBIENTAL E NOMES DE LUGARES DO MARAJÓ


Rio Mapuá (Breves),  o "rio dos Mapuaises" segundo o padre Antônio Vieira (século XVII) -- Reserva Extrativista Mapuá (área federal na ilha do Marajó sob gestão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), potencial para ser considerado Monumento Natural de relevante interesse etno-histórico).


=======================================================================


A Reserva Extrativista é uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. É de domínio público, com uso concedido às populações extrativistas tradicionais, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.
A Reserva Extrativista será gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade. A visitação pública é permitida, desde que compatível com os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área. A pesquisa científica é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em regulamento.

=======================================================================


COMO A GENTE MARAJOARA HÁ DE TER EXPRESSÃO NACIONAL E INTERNACIONAL

Não existe dúvida de que falta vontade política ao Governo Federal no sentido da proteção e promoção da Cultura Marajoara pré-colombiana como patrimônio nacional, como também ao Estado do Pará a fim de concluir estudos ou levantamento de dados, que nunca acabam e -- enfim! --, apresentar o bendito projeto estadual de candidatura da Reserva da Biosfera Marajó-Amazônia, iniciados entre 2007 e 2010, em atendimento à demanda da comunidade através da Carta de Muaná de 08/10/2003, durante a reunião regional preparatória à I Conferência Nacional de Meio Ambiente.

A história desta demanda -- somente para fazer chegar a dita carta entre Marajó e Belém, e depois daí até Brasília --, é uma novela com paladinos e vilões. Entretanto, se acrescentar os antecedentes desde a Constituinte de 1989, que inscreveu a Área de Proteção Ambiental do Arquipélago do Marajó (APA-Marajó) na constituição estadual (Artigo 13, VI, Parágrafo 2º), já teríamos então um romance e tanto. Para ter uma ideia, somente depois de 27 anos é que se começou a organizar o comitê gestor da APA que, entre outras funções em parceria com a comunidade, poderia mobilizar as populações dos dezesseis municípios na preparação da candidatura da Reserva da Biosfera conforme recomenda a Comissão Brasileira do programa Homem e Biosfera (MaB), da UNESCO, responsável pela lista mundial de reservas da biosfera.

É verdade que as RB's brasileiras (Mata Atlântica, Pantanal, Caatinga, Cerrado, Serra do Espinhaço e Amazônia Central) embora cartograficamente ambiciosas com biomas que somam cerca da metade do território coberto pelo MaB em todo mundo; ainda tem uma prática periclitante que não contribui para melhorar a imagem do Brasil com fama de país do "jeitinho" e falta de seriedade.

Então, a que propósito a RB do Marajó? Em primeiro lugar, tecnicamente APA não difere de RB, exceto pelo fato de ser esta uma modalidade internacional de unidade de conservação prevista na legislação nacional (o SNUC). Desta maneira, a fachada marítima da Fronteira Norte poderia receber cooperação externa multilateral com ampla transparência e controle das autoridades brasileiras. Suspeitas recorrentes sobre ONG's estrangeiras e envolvimento de nacionais em atividades ilícitas atuando na Amazônia poderiam ser esclarecidas e as populações ribeirinhas melhor preparadas para ser elas mesmas vigilantes da soberania do Brasil.

Brasília não conhece a Amazônia brasileira, noves fora raros especialistas quase desconhecidos na região. Por outra parte, Belém do Pará cresceu de costas para o rio e nem desconfia que entre a população suburbana e dos entornos da Capital há, talvez, tantos ou mais marajoaras quantos os habitantes dos dezesseis municípios do Marajó: a organização social, econômica e ambiental do Povo Marajoara como ele tem direito e enunciado no inacabado Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó (PLANO MARAJÓ), incluindo o programa Territórios da Cidadania - Marajó e o Projeto NOSSA VÁRZEA de regularização fundiária --,  daria ao Brasil 1.000.000 de brasileiros vigilantes, participativos e criativos, livres do analfabetismo e do ínfimo IDH. Este conjunto de ações seriam suficientes para cumprimento da Agenda 2030 para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), caso o pacto federativo deixasse de ser uma quimera na parte em que diz respeito a esta gente ribeirinha deixada à margem da história desde os inícios da Colonização, no século XVII.

Com a indispensável participação e integração dos municípios marajoaras, coletivamente organizados em Consórcio Intermunicipal (incluindo prefeitos, vereadores e representantes das comunidades municipais eleitos periodicamente em consulta pública) na gestão conjunta da APA e RB do Marajó; a complexidade do golfão Marajoara e da mesorregião do Marajó (525.317 mil habitantes (2014), território federativo de 104.140 km²), conforme dispositivo da Constituição do Estado do Pará supracitado; estaria atualizado não importa qual tenha sido a intenção do deputado constituinte há 27 anos passados. O chamado "jabuti" no jargão legislativo passaria a ser visto com o instrumento legal geoestratégico que a região do delta-estuário Pará-Amazonas reclama desde sempre.

Poucos habitantes do Marajó conhecem suficientemente as três microrregiões Arari, Breves e Portel. Cada um dos municípios é um pequeno Marajó que não conhece completamente o "país" que é o grande Marajó, berço da milenar Civilização Marajoara.  A maior parte de moradores das cidades marajoaras não conhece a vida de seus conterrâneos que sobrevivem penosamente no interior do próprio município em áreas de campo, mata, rios, igarapés e lagos dentre cerca de 2000 ilhas e uma vasta porção continental (microrregião de Portel). Enfim, com a instalação efetiva da APA concomitante à preparação da Reserva da Biosfera, as populações tradicionais do maior arquipélago fluviomarinho do planeta, no delta-estuário do maior rio do mundo; poderiam dispor no âmbito do MaB/UNESCO de uma Cartografia Socioambiental "ad hoc", elaborada e atualizada continuamente em participação com com as comunidades locais como base de reconhecimento e empoderamento do território.



O NOME DOS LUGARES TEM A MEMÓRIA DA TERRA



Começa pelo próprio nome Marajó. Quem pela primeira vez usou este nome? Que quer dizer? É nome da ilha ou nome do habitante das ilhas? Certamente, não foram os antigos "índios" da ilha que deram este nome. Segundo o espanhol Pinzón (1500) os índios que ele capturou diziam que a ilha se chamava Marinatambalo... Admite-se que os "negros da terra" levados pelo piloto de Colombo poderiam ser Aruãs. Segundo a arqueologia marajoara, os Aruãs foram criadores da última fase ceramista, aparecem vestígios desta cultura desde 1300 até fins do século XIX, quando eles foram dados como extintos. Segundo Ferreira Pena, os Aruãs chamavam Analau Yohynkaku à ilha grande. 

Outros nomes da famosa ilha foram dados por estranhos a ela: Ilha dos Nheengaíbas.... Ilha dos Aruans.... Ilha Grande de Joanes... Marajó... Tais nomes adotados pelos portugueses e registrados na crônica colonial são, com certeza, a marca dos conquistadores Tupinambá aliados aos soldados, missionários e colonos.

Até hoje não se sabe exatamente quantas comunidades locais há na região do Marajó. Estimam-se em, aproximadamente, 500 localidades espalhadas na teia de rios e caminhos de terra. Qual o significado do nome de cada lugar? Que história os próprios moradores desses lugares sabem contar sobre suas comunidades? Como localizar e descrever a geografia local? Que a metodologia de cartografia socioambiental pode auxiliar a responder estas perguntas? Aqui se trata de algo menos que um esboço. Acho que as prefeituras poderiam coordenar as informações sob orientação da Associação dos Municípios em parceria com universidades em atuação na região. Não existe mistério, o que há é desinteresse e falta de espírito comunitário.

onomásticaato de nomear, dar nome; não é bicho de sete cabeças, só o título em grego é complicado. Trata-se simplesmente do estudo dos nomes próprios de todos os gêneros, das suas origens e dos processos de denominação no âmbito de uma ou mais línguas ou dialetos. Nasceu na metade do século XIX, considerada como parte da linguística, com ligações com a história e a geografia.



EXERCÍCIO TOPONÍMICO À DISTÂNCIA

Pelo Facebook o amigo professor Edne Maués disponibilizou uma fotografia feito por dispositivo celular móvel, onde aparece cena na comunidade de Japuíra (Cachoeira do Arari). Curioso em aprender, eu perguntei onde se localiza esse lugar. Seguiu-se um diálogo interessante como ponto de partida para envolver na "conversa" outros amigos a seguir e este artigo.
Comentários
Edne Maués Essa é a terra onde moram meus pais, lá temos a Festividade do Divino Espírito Santo, a terceira maior festa de santo de Cachoeira do Arari, o Santo pertencia a Feliciano Veríssimo, meu bisavô. A comunidade fica no ramal do Bacuri, de lá chegamos em Aranaí, Chipaiá, Urubuquara, Anuerá, Guajará, Mata Fome, Furo Grande, Açaí, José Joaquim e Caracará. Em Cachoeira ainda temos as vilas de Retiro Grande, Jaboti, Jará, Jauacá, Sé, Bacuri, Soledade, Gurupá, Baixo Arari, Umarizal, Camará, Camaraú, Boca pequena, Diamantina, São Miguel, Urubu, Recreio, Japum (onde mora D. Teodora, sexta mulher mais velha do Mundo), Marajateua, posso ter esquecido de alguma.

José Marajó Varella Edne Maués olha aí... Eu me lembrei do nome de algumas comunidades do município de Ponta de Pedras: Mangabeira, Praia Grande, Paricatuba, Bacabal, Urinduba, Araraiana, Paruru, Anajás, Lavrado, Baixo Arari, Porto Santo, Crairu, Santana, Tartarugueiro, Jaguarajó, Ipauçu, Laranjeiras, Curral Panema, Marajó-Ité, Fortaleza, Tijucaquara ... 



Agostinho Quintino Batista nos limites dos quatros municípios Ponta de pedra, Boavista, Muaná, Anajás onde os seringueiros não tinha nome, nos anos 50, era apelido, mas foi este povo que deu nome os lugares, saparara, trisidela, varado, espera grande, gangurra, tapira, samauma, as cutias, ponta serrada, japucu, roda, pata larga, mutum, pimenta, barreiro, flores, jesuino, pau de rosa, aldeia, quinco, e outros, muito destes nomes era indígenas

José Marajó Varella Obrigado Mestre Agostinho Quintino Batista vamos em frente descobrir os nomes de lugares do nosso velho Marajó, antes que fiquem esquecidos e estrangeirados.

José Marajó Varella diga lá mestre Celio Barros Celio Barros a toponímia de Breves.

Celio Barros Celio Barros Boca de Breves, caruaca, arapijo, Santo Amaro, furo do abacati, siriri, furo de Breves, oleria, mearim, corcovado, são José do tajapuru, Santa Cruz, Antônio lemos, curumu, Liverpool, baiano do gabaia, Porto cacique, são Miguel dos macacos, taujuri, m...Ver mais

Celio Barros Celio Barros Tauracu, urubu, angelim, ajara, jepuuba, macaquinho, puxador, tamandua, arama, aturia, batata, tanbururi, saracura, carapana branco, compania, matunin, beija flor, Ilha comprida, majoim, jupatituba, jaburu, Jacaré grande, jacarezinho, arozal, três bocas, tucupi, Rio jai, Rio rapariga.

José Marajó Varella Obrigado mestre Celio Barros Celio Barros vamos cutucar nossos amigos dos mais municípios para contribuir...

José Marajó Varella Celio Barros Celio Barros uma vez fui ao Mapuá levado pelo vereador Camilo Gonçalves e subimos até o Braço Esquerdo do Mapuá, vi várias comunidades no curso do rio.

Celio Barros Celio Barros Isso mesmo. Canta galo, Santa Maria, cumaru, Vila Amélia, Bom Jesus.

Agostinho Quintino Batista estes nomes foi dados pelo chefe Mumuna o mumua no inicio da guerra dos cabano, ( conto de Antônio Tavares ) as margens do rio mumuna era a aldeias nos anos 50 inda tinha marcas, Tapiíra, gurupá, parita, tapuru-quara, jandia, esteio grosso, onde morou o cabano ximangue

Agostinho Quintino Batista no inicio da guerra dos cabanos mumua foi morto pelos legais,

Edne Maués onde fica Japuira no município de Cachoeira Ilha de Marajó? Olha o rosto desse curumim marajoara... Ele tem direito de saber que somos -- com muito orgulho -- descendentes de índios ...

Nenhum comentário:

Postar um comentário