Morre Bispo emérito de Ponta de Pedras
No último dia 20(sábado) de agosto, na Itália, morreu o bispo emérito de Ponta de Pedras (PA) Dom Ângelo Maria Rivato, 87 anos, devido a complicações causadas por um Acidente Vascular Cerebral (AVC). O Instituto Federal do Pará que possui o Polo Avançado de Ponta de Pedras se solidariza com a família, amigos e todos os que acompanharam a vida de Dom Ângelo.
A missa de 7° Dia de seu falecimento será realizada às 6h30 do dia 26/08, em Belém, na Capela de Nossa Senhora de Lourdes, que fica localizada na Av. Gov. José Malcher, quase esquina com a Av. Generalíssimo. Também na cidade de Ponta de Pedras, na Igreja Matriz da cidade, às 19 horas do mesmo dia.
O bispo emérito de Ponta de Pedras teve seu ministério durante 35 anos nas terras amazônicas. De 1967 a 2002 foi o primeiro bispo prelado de Ponta de Pedra. No ano de 2009, após decisão da Congregação Companhia de Jesus, a qual fazia parte, Dom Ângelo foi residir em Gallarate, Itália.
Renata Paes
ASCOM - REITORIAÉ claro que sou um caboco um tanco quanto diferente dos meus parentes. Por necessidade e acaso, me tornei estoriador quando queria aprender escrever romance e o íma da História me arrastou a outras paragens. Meu relacionamento com o imperioso e ao mesmo tempo afetuoso Angelo Maria Rivatto daria matéria para romance interessante: faltou-me talento... Devo tentar algum dia dar testemunho sobre tal personalidade complexa. Há muita coisa que um verdadeiro historiador deveria pesquisar sobre a história dos jesuítas no Marajó. E pelo que parece o historiador Agenor Sarraf estaria inclinado a encarar a questão.
Nesta oportunidade, quero apenas lembrar que no dia 25 de julho de 1995, assisti missa campal celebrada pelo bispo Angelo Rivatto S.J. na agrovila "Antônio Vieira", município de Ponta de Pedras. Na homilia ele afirmou ter sido naquele lugar que, nos idos do século XVII, o Padre Antônio Vieira tinha realizado a célebre pacificação da ilha do Marajó em acordo com sete caciques. Eu, confesso, apesar do vício da leitura nunca houvera lido ou ouvido falar nada a respeito do assunto...
A curiosidade me assaltou e mal esperei acabar a missa para perguntar a fonte e ele, sempre escapando, respondeu de repente, "está no livro do padre Serafim Leite". Bastou... É a "História da Companhia de Jesus no Brasil", 4 tomos maçudos pejados de notas.
Logo vi, Dom Angelo não era homem de perder tempo com leituras complicadas, parecia mais um ativista templário: ele estava redondamente enganado, nunca o Padre Antônio Vieira havia posto os pés na praia da Mangabeira ou no sítio Pau Grande, que o bispo emérito de Ponta de Pedras teve cuidado de trocar para, justamente, "Antônio Vieira". Entretanto, por capricho da história aquele povoado fora antes o Lugar de Vilar (segundo o naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira), que na reforma toponímica do estado do Grão-Pará e Maranhão determinada pelo Marquês de Pombal em função da expulsão dos jesuítas, substituiu a antiga aldeia de índios "Guaianazes" [Guaianá, deve grafar conforme a convenção moderna].
Aí está a graça da coisa: que os Guaianá foram um dos sete povos citados pelo Padre Antônio Vieira, em longa carta enviada à regente de Portugal, Dona Luísa de Gusmão; dando conta da missão do Pará até fins do ano de 1659; que na confederação dos Nheengaíbas [etnias nuaruaques do Marajó] celebraram as pazes com os portugueses do Pará, num encontro incrível - desdenhado pelos historiadores, mas pelo menos poetas e romancistas ficam a dever - que deu termo à guerra suja (1623-1647) para expulsão dos Hereges (protestantes) holandeses e ingleses do estuário amazônico.
O verdadeiro lugar que Dom Angelo buscava e não encontrou por que não leu todo palimpsesto do historiador da Companhia de Jesus no Brasil, ou leu mas não quis dizer; fica no município de Breves, mais precisamente no "rio dos Mapuaises" [Mapuá], que hoje é, por acaso, a Reserva Extrativista Florestal Mapuá (Resex Mapuá).
Numa conversa compartilhada com Ercílio Marinho, disse-nos o bispo de Ponta de Pedras que havia tão-só por líderes Jesus Cristo e Dom Helder Câmara... Ele ficou conhecido na diocese por seu temperamento autoritário e a companhia constante de sua colaboradora pessoal Nella Remella: ambos tentaram realizar uma singular obra de feição kibutziana. As famosas "cooperativas da Nella" como o povo local dizia. Para mim, um caso de sucesso social em "reforma agrária" feita pela Igreja Católica e um fiasco econômico; jamais considerado como deveria ser pela pesquisa acadêmica.
Obrigado, Dom Angelo, pela dica!
Foi assim que, por acaso, me tornei "especialista" em Vieira... Daí, que, como diria Raul Seixas; "misturando minha maluquez com a minha lucidez" peguei o mito tupi da Terra sem Mal com a utopia evagelizadora do "payaçu dos índios" (sebastianismo do Quinto Império do Mundo) e transformei a triste realidade do Fim do Mundo na alegoria de Vilarana. Não há dúvida de que, apesar da briga entre os irmãos italianos Giovanni Gallo e Angelo Rivato; eles embarcaram seus sonhos na mesma barca da utopia que se chama Civilização.
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