terça-feira, 4 de outubro de 2011

VILARANA: A VOLTA PARA BEIRA DO RIO-MAR PARÁ

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Imagem captada a 4 de Maio de 2011

http://www.leme.pt/imagens/portugal/nazare/porto-da-nazare/0001.html

Esta imagem acima é do Município da Nazaré (Portugal). Todavia, imagine que poderá  inspirar, no futuro, construção de nova sede do Município de Ponta de Pedras (na ilha do Marajó) de voltar às suas origens na antiga Aldeia das Mangabeiras (balneário Mangabeira). A história local informa que a freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Ponta de Pedras, de 1737, foi transferida para a margem esquerda do rio Marajó-Açu pela dificuldade de porto para canoas de pesca de frente para a baía, em Mangabeira. Informantes como Brasilino e Luciano Rodrigues, filhos de Bibiano Rodrigues que teria mudado sua casa do Lugar de Vilar (1758, outrora aldeia dos índios "Guaianases", cf. "Notícia Histórica da Ilha Grande de Joanes" (1783), de Alexandre Rodrigues Ferreira; igualmente citados pelo Padre Antônio Vieira como uma das sete nações Nheengaíbas pacificada, apud Serafim Leite, "História da Companhia de Jesus no Brasil") para Mangabeira à três quilômetros de distância uma da outra, confirmaram esta notícia.

Meu avô Alfredo Nascimento Pereira, que possuia pequena impressora manual do tempo que morou em Cachoeira do Arari e editava a gazetilha "O Arary" teria recolhido a lenda dos passeios noturnos de Nossa Senhora entre a igreja matriz de Ponta de Pedras e a capela junto à aldeia da Mangabeira. Não vi nenhum exemplar desse prospecto mas dele tive notícia por meu pai e tias, inclusive o ex-prefeito Wolfango Fontes da Silva (Fango) que teria incentivado ou custeado a impressão do relato recorrente entre a população. Evidentemente, a lenda é uma elaboração coletiva de resistência à mudança da freguesia da praia para à amrgem do rio. Certas noites de luar viam o vulto de uma mulher vestida de branco passando rumo ao Campinho e estrada de Belém em direção a Mangabeira. Ao amanhecer, diversas vezes, o sacristão deu parte de que a barra do manto da Virgem estar molhada e suja de areia como de uma senhora que andasse sob o sereno da madrugada por tais caminhos. Com isto o povo queria dizer que a santa havia saudades de sua antiga ermida.

Sabem bem os investidores da nova economia como lendas são insumos de emprego e renda no Turismo. Com exemplo no galo de Barcelos que deu muitas crias no artesanato português. Não é de agora que o turismo religioso movimenta milhões no Ciriio de Nazaré começado lá no Sítio da Nazaré em Portugal. Pela ficção e a saudade inventei a vila que nem vila era transformando a antiga Vila Itaguari [Ponta de Pedras] numa estória que conversa com a história real. A praia da Mangabeira habita o imaginário da cidade de Ponta de Pedras há muito tempo e não foram poucos os que sonharam, um dia, fazer como Barcarena que tomou coragem e fez sua cidade nova para sede do município.

Eu não estou a dizer que isto se pode fazer com uma varinha mágica nem que seja para servir de palanque a candidatos políticos. Mas, sim que é possível recuperar a noção do passado e com isto arquitetar um futuro o melhor possível para todos. O primeiro passo é o da sedução da idéia e este já foi dado há muito tempo. Tanto é verdade que hoje uma fotografia qualquer de Mangabeira mostra um casario moderno e ninguém duvida do potencial para o turismo e o lazer. O que se tem de acabar é com ontra lenda, a de que Mangabeira não pode ser porto por se achar voltada diretamente para à baía do Marajó. Isto realmente aconteceu há cem anos passados... Hoje a moderna tecnologia faz milagres e vemos que o sítio da Nazaré fez duas vez o milagre da fé e o da engenharia. Ponto pacífico. Além do mais o crescimento urbano de Ponta de Pedras e ligação rodoviária com Mangabeira permite dizer que, se de fato o povo quiser fazer a volta da sede para Mangabeira, não se trata na verdade de mais uma mudança e sim de simples expansão da cidade.

Também há de indagar, com que verba? Pois não se constrói infra-estruturas de brisa. Isto lá é verdade, mas de brisa do mar, sombra e água fresca andam à procura muitos turistas. Se já existe um pouco de desejo de caminhar nesta direção, o que falta é os interessados se identifirarem como parceiros desta idéia e esboçar o projeto pelo qual será permitido compartilhar o sonho. O resto virá a tempo de uma ou duas gerações...

pra não dizer que eu não dei a semente...


O Sítio da Nazaré é um bairro da vila da Nazaré, situado no topo do escarpado promontório da Nazaré.
Segundo Frei Bernardo de Brito, data de 1182 a primeira construção no Sítio (de Nossa Senhora) da Nazaré. Um tempo em que, segundo a arqueologia, os antigos habitantes da ilha do Marajó havia atingido o apogeu da Cultura Marajoara começada entre os anos 300 e 400 da era cristã. Trata-se da Ermida da Memória, mandada erguer por D. Fuás Roupinho sobre uma gruta, onde esteve durante a época mulçumana a imagem de Nossa Senhora da Nazaré. Ao episódio que originou a construção da capela dá-se vulgarmente o nome de Lenda da Nazaré.
Na nossa estória de Vilarana, fazendo menção à lenda dos passeios da Virgem da Concepção entre a Igreja de Nossa Senhora do Tempo e a capela da Mangabeira; queremos conectar com a ermida de Nossa Senhora do Tempo, em realidade, na baía do Carnapijó (Barcarena): uma aventura que articula tempo e espaço à margem da história. O rei D. Fernando fundou um santuário, em 1377, para o qual foi transferida a imagem. Foi em torno dele e para acolher os romeiros que se instalaram os primeiros habitantes em pequenas casas. Em 1648, para além da Ermida da Memória e do Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, existiam no Sítio, cerca de trinta casas, estrebarias, um forno de cal e uma fonte. Se quisermos seguir com as comparações em ambas as margens do Oceano diremos que a Cultura Marajoara já vai chegar ao ocaso com a invasão dos bravios Aruãs pela costa norte e que a guerra de expulsão dos Hereges (holandeses e ingleses, começada com a tomada de Gurupá (1623) está prestes a acabar com o reconhecimento da independência de Portugal (1640), mas os rebeldes  Nheengaíbas ainda manterão os português longe de suas ilhas, praticando a guerra de guerrilhas e o corso fluvial, com que apenas o Padre Antônio Vieira seria capaz de pacificá-los com as promessas do rei D. João IV, na Lei de abolição dos cativeiros (1655), paz de Mapuá (1659), rompida implicitamente com a primeira expulsão dos Jesuítas (1661) e a doação da Ilha dos Nhengaíbas ao ministro de estado do rei D. Afonso VI, Antônio de Sousa de Macedo, como capitania hereditária da Ilha Grande de Joanes (1665): origem do regime de sesmarias no Pará.
Durante séculos, grandes romarias organizadas, os Círios, oriundos de vários locais em Portugal, como Santarém, Óbidos, Leiria, Coimbra ou Lisboa, trouxeram ao Sítio, um imenso número de peregrinos e romeiros, de todas as classes sociais, incluindo por vezes a família Real. Desta tradição portuguesa começa no Pará o culto na Vigia do Pará [hoje de Nazaré] com a lenda do achado da imagem pelo caboclo Plácido na estrada do Una, depois Estrada de Nazaré, atual Avenida.

Em 1808, as tropas de Napoleão saquearam a igreja e a povoação, que incendiaram parcialmente, na sequência de uma revolta popular. Alguns dos habitantes do Sítio foram capturados e fuzilados pelos soldados franceses no largo da Fonte Velha.
Até meados do século vinte, foi elevado o número de forasteiros que ali se deslocavam para venerar a Senhora da Nazaré na época das suas Festas, no final do Verão. O Santuário de Fátima desviou progressivamente a devoção e a rota dos peregrinos que aí começaram a afluir após as aparições de 1917, embora hoje, muitos dos peregrinos e turistas-religiosos de Fátima visitem também a Nazaré.
O Sítio da Nazaré, cercado por extensa muralha, com o imponente santuário, as casas de romeiros, o paço real, a casa do reitor, o teatro, a praça de touros, as duas fontes e os dois grandes poços, denota através destes equipamentos e da organização da sua malha urbana (com vários e espaçosos largos), a origem da povoação, vocacionada para receber sazonalmente grande número de romeiros e de festeiros, denominando-se Festas da Nazaré a maior aglomeração humana, que ocorre anualmente no início de Setembro.

Representação setecentista do santuário de Nossa Senhora da Nazaré.

Uma lenda não é uma invenção arbitrária mas sim uma deformação ou uma ampliação da realidade.
Jorge Luis Borges

Conta a Lenda da Nazaré que ao nascer do dia 14 de Setembro, de 1182, D. Fuás Roupinho, alcaide de Porto de Mós, caçava nas suas terras junto ao litoral quando avistou um veado que de imediato começou a perseguir. De súbito, surgiu um denso nevoeiro que se levantava do mar. O veado dirigiu-se para o cimo de uma falésia. D. Fuas, no meio do nevoeiro, isolou-se dos seus companheiros. Quando se deu conta de estar no topo da falésia, à beira do precipício, em perigo de morte, reconheceu o local. Estava mesmo ao lado de uma gruta na qual se venerava uma imagem de Nossa Senhora com o Menino. Rogou então: Senhora, Valei-me!. Imediata e milagrosamente o cavalo estacou, fincando as patas no bico rochoso suspenso sobre o vazio, o Bico do Milagre, salvando-se assim o cavaleiro e a sua montada da morte certa que adviria de uma queda de mais de cem metros.
D. Fuas apeou-se e desceu à gruta para rezar e agradecer o milagre. De seguida mandou os seus companheiros chamar pedreiros para construírem sobre a gruta, em memória do milagre, uma pequena capela, a Capela da Memória, para ali ser exposta à veneração dos fiéis a milagrosa imagem. Antes de entaiparem a gruta os pedreiros desfizeram o altar ali existente e, inesperadamente, entre as pedras encontraram um cofre em marfim contendo algumas relíquias e um pergaminho, no qual se identificavam as relíquias como sendo de S. Brás e de S. Bartolomeu e se relatava a história da pequena imagem esculpida em madeira, representando uma Virgem Negra, sentada a amamentar o Menino Jesus.
Segundo o pergaminho, a imagem terá sido venerada desde os primeiros tempos do Cristianismo em Nazaré, na Galileia, terra natal de Maria. No século quinto, o monge grego Ciríaco transportou-a até ao mosteiro de Cauliniana, perto de Mérida. Ali permaneceu, até 711, ano da batalha de Guadalete, após a qual desbaratadas pelos muçulmanos, as forças cristãs fugiram desordenadamente para norte.
Quando a notícia da derrota chegou a Mérida, os monges de Cauliniana prepararam-se para abandonar o mosteiro. Entretanto D. Rodrigo, o rei cristão derrotado, conseguira escapar do campo de batalha e disfarçado de mendigo refugiara-se incógnito no mosteiro. Porém ao confessar-se a um dos monges, frei Romano, teve de dizer quem era. O monge propôs-lhe então fugirem juntos para o litoral atlântico e levarem consigo a imagem de Nossa Senhora da Nazaré, uma antiga e sagrada imagem de Maria que se venerava em Cauliniana. A 22 de Novembro de 711 chegaram ao seu destino e instalaram-se no cume do Monte de São Bartolomeu num eremitério vazio que lá existia e ali permaneceram juntos algum tempo. Decidiram então viver sós, como eremitas. O frei levou consigo a sagrada imagem e instalou-se numa pequena gruta, sobre o mar, a 3 km do Monte onde o rei continuou a viver. Passado um ano, frei Romano morreu e D. Rodrigo, antes de abandonar a região, sepultou-o no solo da gruta, onde deixou a sagrada imagem, sobre o altar onde permaneceu até 1182 quando foi mudada para a capela que D. Fuas mandou construir sobre a gruta, após o milagre. A imagem permanece, pois, desde 711-712, no mesmo sítio, o Sítio da Nazaré.
Em 1377, o rei D. Fernando (1367-1383), devido à significativa afluência de peregrinos, mandou construir, perto da capela, uma igreja para a qual foi transferida a imagem de Nossa Senhora da Nazaré, decorrendo esta denominação, do seu lugar de origem, a Nazaré na Galileia.
A popularidade desta devoção, à época dos Descobrimentos portugueses, era tamanha entre as gentes do mar, que tanto Vasco da Gama, antes e depois da sua primeira viagem à Índia, quanto Pedro Álvares Cabral, que viria a descobrir o Brasil, vieram em peregrinação à Senhora de Nazaré. Em 1520, a rainha D. Leonor de Áustria, terceira mulher do rei D. Manuel I, irmã do imperador Carlos V, permaneceu no Sítio da Nazaré alguns dias, num alojamento de madeira construído especialmente para esta ocasião. Foi esta uma das muitas visitas Reais. Também São Francisco Xavier, padre jesuíta, o Apóstolo do Oriente, veio em peregrinação à Nazaré antes de partir para Goa (Índia), tendo sido aliás os Jesuítas os grandes propagadores, em todos os continentes, do culto a Nossa Senhora da Nazaré. Coincidência, notável a primeira sesmaria dos Jesuítas em Marajó foi a fazenda S. Francisco [Malato, cuja capela foi consagrada a S. Francisco de Borja], mas a “Notícia Histórica” esclarece que a aldeia das Mangabeiras, foi elevada à categoria de Lugar de Ponta de Pedras, sob padroado de Nossa Senhora da Conceição e, meia légua abaixo, a aldeia dos “Guaianazes” [Guaianá] passou a se chamar Lugar de Vilar sob padroado de S.Francisco Xavier...
Santuário de N.ª Sr.ª da Nazaré, capela-mor [Portugal]
Nos séculos dezessete e dezoito ocorreu a grande divulgação do culto de Nossa Senhora da Nazaré, tanto no seu Santuário, como em Portugal e no império ultramarino português, onde ainda hoje se veneram algumas réplicas da verdadeira imagem e existem várias igrejas e capelas dedicadas a esta invocação. É de destacar a imagem de Nossa Senhora da Nazaré que se venera em Belém do Pará, no Brasil, cuja festa anual recebeu o nome de Círio de Nazaré e é uma das maiores romarias do mundo atingindo os dois milhões de peregrinos em um só dia.
No século dezesseis, o Santuário de Nossa Senhora da Nazaré fundado por D. Fernando, começou a ser reconstruído e aumentado, tendo as obras sido prolongadas por várias empreitadas até finais do século dezenove. O edifício atual é resultado destas obras sucessivas que lhe conferiram um caráter peculiar. A sagrada imagem está exposta na capela-mor, por cima do altar, num nicho iluminado integrado no retábulo, ao qual os devotos podem aceder subindo uma escada que parte da sacristia.
Segundo a tradição oral, a imagem Mariana terá sido esculpida por São José carpinteiro em Nazaré, na Galileia, quando Jesus era ainda bebê. Algumas décadas depois São Lucas evangelista a teria pintado. Conservou-se em Nazaré até ser oferecida a São Jerônimo de Stridão, que a ofereceu a Santo Agostinho bispo de Hipona no norte da África, que por sua vez a ofereceu ao mosteiro de Cauliniana, perto de Mérida (Espanha). Assim sendo poderá ser a mais antiga imagem venerada por cristãos.
Até hoje, a tradição aponta aos visitantes a marca deixada por uma das patas do cavalo de D. Fuas, no extremo do Bico do Milagre, ao lado da Capela da Memória.

Iconografia

As representações do Milagre da Senhora da Nazaré a D. Fuas Roupinho são inúmeras, sendo de destacar, a gravura anônima no livro de Brito Alão de 1628, a tela setecentista da sacristia do santuário assinada por Luís de Almeida; a diversificada coleção do Museu Dr. Joaquim Manso, no Sítio, a escultura da igreja de São Domingos, em Lisboa, o vitral na capela da Quinta da Regaleira, em Sintra, o mural de Almada Negreiros na gare marítima de Alcântara, em Lisboa, e os muitos painéis de azulejos nas fachadas das casas da vila da Nazaré.
Na gravura do milagre no livro de 1628, acima referido, aparece o cavaleiro no Bico do Milagre, sem a representação da imagem. Na tela da sacristia, mais tardia, a imagem aparece pintada no interior da gruta. A partir de finais do século dezessete, a cena do milagre passa a ser sistematicamente apresentada como uma aparição mariana, na qual a Senhora da Nazaré "levita" acima e à frente do cavaleiro, no momento em que este está prestes a precipitar-se do topo da falésia, tendo sido este modelo, errado, o que preserverou até hoje, destacando-se contudo pelo seu caráter excepcional a aquarela de Mário Botas, no Museu do Sítio, na qual se vê a Senhora representada duplamente, a "levitar" e na gruta.

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