foto de Luiz Braga (direitos reservados do fotógrafo).
O menino e o búfalo
Por diretas contas o que mais conta na Criaturada grande de Dalcídio
é a criança largada em plena maré, ilhada no mundo dos Marajós
Alfredo viajando à vela entre Cachoeira e outras vilas de faz de conta
atravessando a baía para a Cidade e de volta para a Ilha...
mil e uma idas e voltas entre o chalé de "Chove"
e o ginásio de "Primeira Manhã"...
Andreza em fuga pelos campos na garupa de Edmundo montados no búfalo
busca da infância perdida e dos confins da ilha grande infinita:
o vasto mundo lá fora entre o Mar imenso e o grande Rio das amazonas.
O búfalo paresque é a animalidade mãe a serviço da humanidade filha
da dita cuja...
Lao-Tsé diz-que nasceu velho e atravessou a fronteira da China para a Índia
montado no lombo do paciente búfalo da nossa ancestralidade:
quando o búfalo chegou ao Marajó a sabedoria de Lao-Tsé já havia chegado a pé
pelo estreito de Behring paresque montado no conhecimento dos pajés...
Dalcídio se fez eternamente menino na pele do alter-ego Alfredo
jogando búzios e espantos com caroço de tucumã mágico
dono do segredo do futuro escondido no fundo do rio.
Estamos cegos de tanto ver o peso da paisagem
emendar o real e o imaginário:
a "nossa" Amazônia, a nossa varja, o nosso povo...
mas os cabocos sabem que os brancos não sabem.
Os brancos não sabem aquilo que é capital deste verde vagomundo
também é certo que os negros da terra não sabem ler e escrever
e no entanto esta gente sabe de cor e salteado
o bem e o mal da "Terra sem males",
a riqueza e a pobreza da terra,
alegria e tristeza da vida ribeirinha,
o inverno e o verão na ditadura da água,
o dia que nunca se acaba,
a primeira noite do mundo,
o começo dos tempos
todas mais oscilações de preços na feira do Ver O Peso
as variações da maré
e tim tim por tim tim do Fim do Mundo.
José Varella
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