quarta-feira, 2 de maio de 2012

O MARAJOARA QUE VEIO DE LONGE



Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis 

       Bertold Brecht

Ser Marajoara é, antes de tudo, um estado de espírito. A Cultura Marajoara uma prova de resistência. O melhor exemplo disto é a vida e a obra de Giovanni Gallo, o marajoara que veio de longe. 

Ao contrário dele há muita gente que enterrou o umbigo no barro molhado da varja da beira de rios, furos, lagos e igarapés das ilhas do Marajó e não têm nadica de nada a ver com a brava gente marajoara. Conhecemos um dos nossos bravos pelo seu engajamento na luta em defesa da Criaturada grande de Dalcídio Jurandir.

Outros filhos das Ilhas forçados pelas circunstâncias fazem sua odisseia e um belo dia depois de muitas lutas para descobrir o mundo retornam à ilha-mãe onde eles deram os primeiros passos na vida. Ou mesmo sem nunca voltarem ao lugar natal, não deixam eles passar oportunidade para falar e lembrar com saudade daquilo que lhes parecia o paraíso e motivo principal de luta para conquistar, na boca do maior rio do mundo; a sonhada e cobiçada Terra sem males.


O que há de exemplar na vida deste "homem que implodiu" é sua extraordinária capacidade de compreender os outros menos válidos. E não hesitar em abandonar suas certeza por dúvidas criadoras e intuições perturbadoras, capazes de desagradar a gregos e troianos; mas restar fiel a si mesmo e à Humanidade latente nas populações marginalizadas entre chuvas e esquecimento. Com elas ao lado tentar, teimosamente, ressuscitar os mortos do passado estranho suscitando a resiliência de uma ecocivilização perdida e adormecida em desprezados "cacos de índio".


Vivendo em condições nunca dantes imaginadas Giovanni Gallo desenterrou do buraco do olvido um povo dos mais abandonados dos fastos da República. Morrendo por esta mesma gente sem eira nem beira, esse jesuíta excluído da missão - para ser mais fiel a ela talvez - terminou por enterrar os próprios ossos à ilharga do museu que ele inventou com uns poucos companheiros e amigos. Onde, cada vez mais, o marajoara que veio de longe fica mais perto do coração da gente e vai vivendo mais e mais até se tornar invencível.

Nenhum comentário:

Postar um comentário