Ocupem BrasIlha!
amigos, irmãos e camaradas marajoaras:
no arquipélago de culturas brasileiras, a capital federal fica longe das ilhas do Marajó, enquanto Belém do Grão Pará vira as costas para nós a fim de escalar as alturas para as nuvens.
nossa pobre Academia do Peixe Frito não consegue mais vender seu peixe face a ouvidos de mercadores na babel das gritantes contradições da feira do Ver O Peso, bicho de sete cabeças de todas administrações municipais vencidas pela demagogia barata e carência de criatividade política e socioeconômica.
em vão, desde o centenário de Dalcídio Jurandir, em 2009, a gente tenta reanimar a memória da primeira geração modernista do Pará e pede registro no patrimônio imaterial da cidade e do estado... Há uma pletora de cursos de história, geografia, turismo e afins mas não há notícia de um único TCC, dissertação ou tese que nos diga o que foi aquela confraria no bojo do movimento modernista no norte do Brasil com o poeta da negritude Bruno de Menezes e seus confrades, em torno da revista Belém Nova e a inusitada Academia do Peixe Frito; tais como Tó Teixeira, Eneida de Moraes, Jacques Flores, Dalcídio Jurandir, Rodrigues Pinajé e outros. De todos, o último sobrevivente reside em Brasília, nosso Doutor Honoris Causa Vicente Salles.
explique-se melhor: não se está a dizer que a produção acadêmica ignore os autores supracitados e que, en passant, nos tenha dado fragmentos valiosos para reconstrução desta memória. Negar tal evidência seria como ir ao Museu do Marajó e voltar da grande ilha da ancestralidade amazônica sem entender que, precisamente, foram "cacos de índio" o alicerce da obra de Giovanni Gallo, "o marajoara que veio de longe", na frase lapidar de Camillo Martins Vianna. O que tem a dizer é que toda esta produção periclita enquanto não houver esteios para dar sustentabilidade e consistência ao renascimento da amazônidade profunda.
anda, qual esmolação da irmandade do Glorioso São Sebastião, petição pública pedindo ao governo da República Federativa do Brasil a criação da UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARAJÓ - UnM; antes que os eternos recionários vejam aqui nestas pintas vermelha e preta uma tenebrosa senha comunista ou predilação pessoal pelas cores futebolísticas do famos clube carioca da Gávea, corremos a informar os novatos que estas são as cores naturais da antiga cultura marajoara três vezes mais velha do que o 'descobrimento' do Brasil.
uma universidade 'no' Marajó não é o mesmo que uma universidade 'do' Marajó... Desde 1986 -- por acaso, três século depois da ocupação da famosa ilha com a construção do primeiro curral de gado (1680) a cabo de tenaz resistência e perigo dos "índios bravios, desertores e escravos fugidos" que viviam pelos centros; apenas apaziguados com as promessas (não cumpridas) da Lei de 1655 de liberdade dos cativeiros, obtida pelo Padre Antônio Vieira em surrealistas tratativas (vide acordo de paz de Mapuá, 27/08/1659, carta dirigida à regente do reino de Portugal Dona Luísa de Gusmão, 11/01/1660) -- a Universidade Federal do Pará (UFPA), conforme seu programa de interiorização, instalou em Soure o campus Marajó, completado pelo núcleo do mesmo em Breves.
seria ingrato e inverdade dizer que a UFPA "não faz nada" no Marajó. Tanto faz que o campus com seus dois núcleos em Breves e Soure ou outros que ainda porventura venha a instalar em municípios da mesorregião já se pode considerar embrião da universidade que queremos.
não carece pressa... Contanto que dê passos certos adiante em razoável tempo agendado e coerente com a filosofia e necessidade de uma verdadeira universidade multicampi: presencial em todos municípios e fazendo uso correto de metodologia de educação à distância para benefício da rede municipal de educação fundamental em cerca de 500 comunidades locais distantes e isoladas da sede municipal.
como não poderia deixar de ser, há pessoas que apenas ouviram falar desta idéia e já são contras simplesmente por que nasceram contra tudo e contra todos. Com estes argumentar é tempo perdido e se mudam de pensamento pode-se agradecer ao divino Espírito Santo... Todavia existem contrários que, por saber que o lençol é curto, preferem ver os recursos necessários alocados no ensino fundamental e um pouco mais ao segundo grau. Quem lhes poderia tirar a razão?
entretanto, convém colocar os pontos nos "ii"... Se hoje Marajó tem corpo de professores graduados de terceiro grau capazes de ensinar estudantes de primeiro e segundo graus, deve-se isto em boa parte ao campus Marajó da UFPA: quer dizer, justamente, a estrutura acadêmica já em atividade e que gostaríamos de ver mais desenvolvida e preparada a ser, de direito e de fato, uma universidade do Marajó e não apenas no...
ademais, além da UFPA os estudantes marajoaras e outros vindos de outras partes podem contar localmente com a UFRA, o IFPA e UEPA. com os campi dos referidos estabelecimentos pode-se somar unidades de conservação na área de competência do ICMBIO, a estação científica Ferreira Penna, sob gestão do Museu Goeldi, a EMBRAPA em Salvaterra parece sub-aproveitada; enquanto um protocolo de cooperação interinstitucional específico poderia racionalizar custos e otimizar resultados: já é uma oferta de vagas para graduação nada desprezível. Tudo isto, porém, não é o caso em discussão para criar uma universidade federal marajoara.
na realidade existe hoje uma pauta de demandas (da reserva da biosfera à federalização do Museu do Marajó passando pela reconfiguração do PLANO MARAJÓ) cujo forum de debates, em vez de um requentado projeto de território federal; deveria ter em vista projeto federativo transformador do campus da UFPA no Marajó em uma universidade do Marajó, já! Sem delongas.
esta universidade da gente marajoara já se acha posta pela Criaturada grande da literatura de Dalcídio Jurandir. Já foi manifesta pela obra intuitiva de Giovanni Gallo e seus camaradas no pequeno museu paroquial a partir de "cacos de índio" e curiosidades bizarras para "ver com a ponta dos dedos"... Mas, sobretudo, a velha escola dos tesos (sítios arqueológicos) que ainda tem algo a dizer a um mundo dilacerado pela revolução industrial e desorientado na mudança clímática: trata-se de uma milenar "universidade pés descalços" cujos derradeiros remanescentes tem vergonha da herança indigena que poderia dar ao Brasil uma outra possibilidade de inventar o futuro.
esta improvável universidade que o Brasil moderno não contempla no caminho de seu conflituoso desenvolvimento, está em perdição entre chuvas e esquecimento debaixo da pata dos búfalos e o olhar distante dos cabocos.
urge ocupar Brasília! Plantar na Esplanada dos Ministérios esta ideia "absurda" da gente marajoara. Meditar nas Águas Emendadas se acaso o distante Marajó da vida também, através das águas amazônicas do Tocantins, como os povos da bacia do Paraná e do São Francisco, nada tem a ver com o Planalto Central.
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