sábado, 27 de junho de 2015

SOMOS TODOS ÍNDIOS.





Você se olhou hoje no espelho? Caso sim, sugiro que faça de novo. Em caso contrário, olhe-se agora com mais atenção como estivesse frente a uma pessoa desconhecida. Se você é de "raça" branca, tem cabelos louros e olhos azuis pense donde vieram seus pais. Se você for negro ou "pardo", se tiver cara de "japa" ou de "china" como foi que isto lhe aconteceu? Quem é você afinal de contas? Como se sente? O que lhe parece o povo brasileiro em sua diversidade e desigualdade social profunda? O que o Brasil significa para ti e aos teus? 

A humanidade filha da animalidade, certamente, ainda muito tem a evoluir. E o racismo é uma moléstia culturalmente adquirida para mascarar, sem dúvida, diferenças étnicas e linguísticas, traços genéticos e desigualdades entre classes sociais. O mito da "raça pura" ou "superior" deu no que deu... E, felizmente, a mestiçagem de corpos e espíritos vai cada vez mais fraternizando o mundo, apesar de tudo... 

Pense um "jovem" país pujante, malgrado suas agudas contradições históricas, com um vigoroso povo de alguns milhares de anos de idade, no qual os "mestiços" são atualmente grande maioria: se pensou Brasil agora sabe porque ele foi chamado o "país do futuro" e porque o avenir já vem chegando no antigo Pindorama de muito mais que seus 500 janeiros dilacerados pela conquista exterior. Agora, pensando bem, mande o famoso complexo de viralata pr'aquele lugar. E dê muitos vivas ao Povo Brasileiro com fé e orgulho, que nem Darcy Ribeiro fazia em priscas datas.

Todos nós somos índios! Não importa os cabelos louros, olhos azuis, pele branca como a Lua... Você deve saber que essa belezura, na verdade, é deficiência de melanina. Num país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza, com certeza, a brancura é fonte perene da indústria de bronzeadores e de protetor solar. Tudo bem se o padrão estético dominante não implica com os cabelos pretos e lisos ou crespos, se não avacalha a beleza natural de sua pele morena, nem menospreza os olhos castanhos ou pretos que nem caroco de açaí maduro.

A Negritude para além da melanina, no patropi, abraçando "negros" de todas as "raças" começou antes de Pedro Álvares Cabral topar com os índios Pataxós na Bahia em abril de 1500. Em fins de janeiro do mesmo ano foram arrancados 36 índios marajós para escravos dos espanhóis, levados a ferros da ilha do Marajó a Hispaniola (Haiti e República Dominicana agora, donde o povo Taino se levantou para lutar em Cuba contra os conquistadores sob comando do bravo Hatuey e onde, em 1992, o Papa foi pedir perdão aos índios e aos negros nos 500 anos da América) - se você estiver por dentro da amazonidade saberá que "ilha de Marajó" ou cidade "de" Recife, ficam lá na ponte que partiu. O rio Marajó que deu nome à ilha e tudo mais derivado deste topônimo é, sim, do "homem mau" ('marãyu'), guerrilheiro aruã invencível na peleja, falante da "língua ruim" (nheengaíba) que ali viveu, lutou e deixou descendência após 5 mil e tantos anos de nomadismo atrás de peixe para comer pelas beiras do grande rio das Amazonas e beira-mar desde as ilhas do Caribe. 

Esta gente arteira que, há quase 2.000 anos, inventou por acaso a primeira 'universidade pés descalços' da Amazônia donde saíram "engenheiros do Arari", práticos do barro dos começos do mundo, arquitetos de aldeias suspensas sobre campos alagados ("tesos" ou 'mounds') donde a cerâmica marajoara, Arte primeira do Brasil e primeira cultura complexa das regiões amazônicas foi parida. 

Os Marajoaras, portanto, somos filhos dos primeiros "negros da terra" (escravos indígenas) da América do Sul (cf. viagem de Vicente Yañez Pinzón, 1500). Certo, os negros da Terra, propriamente ditos, chamados "negros da Guiné" na crônica racista colonial luso-brasileira, são descendentes dos primeiros seres humanos, na África ancestral, há coisa pra lá de um milhão de anos donde a Diáspora original foi habitar o nosso mundo comum até a última fronteira do planeta. 

Os seis mil anos de Adão e Eva são uma antiga lenda da Mesopotâmia, copilada na Bíblia com graça alegórica, mas não devem tapar o irmão sol com peneira nem obscurecer os beneditinos esforços dos cientistas. Entre estes, o jesuíta paleontólogo Pierre Teilhard de Chardin que, na China profunda onde o Taoismo e o Confusionismo se confundem em busca das conexões sutis entre os extremos Oriente e Ocidente, teve que resolver seus íntimos problemas de convivência entre a Fé e a Ciência e, ainda assim, resistir ao obscurantismo do Santo Ofício encastelado na igreja de Roma. Para vir, enfim, com o santo de Assis inspirar o Papa Francisco sob a luz do divino Espírito a editar a encíclica ecológica do catolicismo ecumênico do século XXI, "Louvado seja": consequência lógica daquele histórico pedido de perdão pela Igreja, em 1992, em Santo Domingo. Não por acaso, com certeza, às vésperas da Conferência Mundial do Clima, a COP-21, em Paris.

Somos todos Índios, desde quando o andarilho Marco Polo saiu da Itália a caminho das Índias. Mais ainda quando Colombo, enganadamente, chegou às Índias acidentais (sic) e Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo das Índias.

Na verdade, nossos antepassados índios vindos da Ásia já estavam na América, Amerik (o "país do vento", em língua Maya, região de montanhas do lago Nicarágua) há dez mil anos antes dos 500 anos pós-colombianos. Então, depois do "descobrimento" do país do pau-brasil, com as caravelas portuguesas vieram ao Brasil o cravo da Índia, a pimenta do reino, a árvore de fruta pão, a mangueira, o jambo, a noz moscada, o cânforo, o açúcar, o gado zebu e o búfalo onipresente na ilha do Marajó muito tempo depois... Agora estamos ainda mais juntos à velha Índia dos marajás no BRICS (bloco formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

De todo modo, os próprios hindus como os chineses saímos todos do seio da mãe África que civilizou o Egito através do Nilo e a Grécia através do Delta do grande rio africano, cujas fontes em Uganda são cortadas pela linha equatorial, assim que o gigantesco Amazonas equatorial, no novo mundo. E assim, somos todos índios e todos temos os nossos mitos e utopias da Terra sem males, antes do engano cartográfico de Colombo (na verdade, Salvador Fernandes Zarco, cristão-novo, nativo da vila de Cuba, no Alentejo, Portugal).

No Nilo e no Gânges as águas batismais da Antiguidade, no rio das Amazonas a última fronteira da Terra: aqui seis milhões de índios pré-colombianos foram engolidos pelo rio Babel e canibalizados pela civilização ocidental-cristã. Nós não podemos deixar extinguir os últimos entre os últimos de nossos parentes. Ou não poderíamos reclamar de invasores do Brasil e da cobiça estrangeira sobre a fabulosa Amazônia, considerada "celeiro do mundo" por Humboldt.


Bilhete para Dilma em Washington

Ainda não nasceu um Champollion para decifrar a "escrita" das gravuras e pinturas rupestres da Amazônia ou o grafismo da Cerâmica Marajoara e Tapajônica. Esta gente da primitiva diáspora queria nos dizer alguma coisa importante, há 10 mil anos atrás? Durante conversações nem sempre amenas entre os dois presidentes da República Federativa do Brasil e dos Estados Unidos da América, respectivamente, Dilma Rousseff e Barak Obama uma pauta densa estará servida na Casa Branca. Portanto, não cabe acrescentar coisa nenhuma no tabuleiro previsto.

Mesmo assim, o momento é emblemático para anotar no quadro das relações bilaterais entre os dois respectivos maiores países americanos dos hemisférios Norte e Sul a continuação da cooperação, iniciada no século XIX, em busca do "Homem americano" original... Ou seja, o Índio do Novo Mundo para alguns visto como remanescente das tribos perdidas do Cativeiro da Babilônia... Quantas lendas e mitos saídos desse longínquo passado! "Índio bom é índio morto" e mesmo assim o fantasma pele-vermelha fez a glória dos cow-boys e o lucro da indústria de cinema americano.

Todavia, esse espectro do passado está mais vivo do que antes. Com a internet, a inteligência coletiva segundo a bíblia de Pierre Levy e a filosofia lusíada do Espírito Santo do filósofo luso-brasileiro Agostinho da Silva.

A história comparada Brasil-Estados Unidos ensina que nossos velhos bandeirantes e pioneiros não nos deixaram lições éticas a fim de repassá-las as novas gerações. Pelo contrário, herdamos uma dívida ambiental enorme e um passivo humano nada menos que à dimensão de um extraordinário genocídio, causa pela qual o Papa João Paulo II pediu perdão, nas solenidades dos 500 anos de descoberta da América, em Santo Domingo, aos Índios e Negros. Porém, pedir desculpas ou perdão embora não seja fácil, de fato não resolve nada se não for acompanhado de sincero arrependimento e medidas materiais reparadoras.

Conhecemos as barreiras geopolíticas sobre a Amazônia desde o "testamento de Adão" abençoado pelo Papa em 1494, segundo a partição do mundo por um meridiano a 370 léguas a oeste desde Cabo Verde. Aqui, no espaço curvo de Einstein, os extremos Oriente e Ocidente se encontram na linha do equador terrestre e corrente equatorial marítima. O maior arquipélago de rio e mar do Planeta apresenta o pior IDH do gigante Brasil e aqui também, Anna Roosevelt, bisneta do presidente dos Estados Unidos deste nome de família; veio encontrar o que agora podemos chamar de primeira ecocivilização amazônica, a conhecida Cultura Marajoara. 

Marajó, então, não seria uma boa oportunidade de universidade multicampi internacional relembrando a cooperação Brasil-Estados Unidos desde a geologia americana de Hartt que levou à arqueologia marajoara? E se esta oportunidade, por acaso, favorecesse a repatriação da cerâmica marajoara levada para a Exposição Mundial de Chicago, em 1893, como gesto cooperativo norte-americano em benefício da educação da gente marajoara, tal como reza a Constituição do Estado do Pará em seu Artigo 13, VI, Parágrafo 2º e futura reserva da biosfera chancelada pela UNESCO?

A verdade manda dizer que o calcanhar de Aquiles do governo social-democrático de Lula e Dilma, endeusados por uns e odiados por outros, é o meio ambiente e a política indígena. A decisão correta de criar o Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA) e a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) na Presidência da República, deveria talvez ser completada elevando a politica nacional de proteção aos Direitos Humanos e desenvolvimento sustentável dos Povos Originais e mais populações tradicionais na estrutura direta da Presidência. Demonstrando, assim, com atos efetivos a concretude dos discursos para o País e o mundo pela vontade política da Nação Brasileira e importância para o Estado Democrático que deveriam ter estes brasileiros dizimados por séculos de vergonha face a Humanidade inteira. 

Os "nossos" índios e a biodiversidade brasileira não ficariam entregues à caridade duvidosa das ONGs nem ao bel prazer do terceiro escalão de governo loteado conforme chantagens recorrentes de "nobres representantes" de empresas no Senado e na Câmara dos Deputados, sem falar da cumplicidade patente de membros do Judiciário desde comarcas do grande sertão até esferas elevadas de Juizados onde os pobres não ousam enfrentar a ricos sempre blindados pelos mais caros advogados.

Esta falha notável da sociedade brasileira, que o governo saído do seio desta mesma sociedade encarna, acaba sendo transtorno bipolar coletivo quando, por exemplo, apoia e aplaude a iniciativa meritória histórica dos JOGOS INDÍGENAS MUNDIAIS e ao mesmo tempo escancara o flanco a críticas justas que acusam o cinismo do agronegócio a promover a propaganda do evento no interesse de melhorar a imagem no mercado exterior. Mas, não seria esta uma forma discreta de corrupção?


Se a Presidenta é brigona, para isto serviria encarar a colonialidade e o Bravo Povo Brasileiro, certamente, haveria de apoiá-la a dar o bom combate. Mas, quando a ignorância se casa com a arrogância resta a cegueira que o padre Vieira criticou no Maranhão, no século XVII: o colonialismo é uma tara congênita e a COLONIALIDADE AINDA É PIOR... Aí está a encíclica do Papa Francisco para abrir os olhos da cristandade viciada em Pecúnia... Logo a igreja romana, podia-se dizer, mas a coragem para mudar é mais importante que o simples arrependimento.


Vamos Brasil brasileiro ao encontro dos Povos Originais! Coragem para ser o que somos no mundo. SOMOS TODOS ÍNDIOS, nossa utopia fundadora é a Yvy Maraey antes da Utopia.






Nação, do latim natio, de natus (nascido), é a reunião de pessoas, geralmente do mesmo grupo étnico, falando o mesmo idioma e tendo os mesmos costumes.





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