sábado, 3 de janeiro de 2015

Saudações marajoaras ao Brasil pátria educadora.


o menino e o búfalo (foto Luiz Braga): com carinho para a Presidenta Dilma mostrar a seu neto Gabriel.


Gente Humilde

 Chico Buarque

Tem certos dias em que eu penso em minha gente
E sinto assim todo o meu peito se apertar
Porque parece que acontece de repente
Como um desejo de eu viver sem me notar

Igual a como quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem, vindo de trem de algum lugar
E aí me dá como uma inveja dessa gente
Que vai em frente sem nem ter com quem contar

São casas simples com cadeiras na calçada
E na fachada escrito em cima que é um lar
Pela varanda, flores tristes e baldias
Como a alegria que não tem onde encostar

E aí me dá uma tristeza no meu peito
Feito um despeito de eu não ter como lutar
E eu que não creio, peço a Deus por minha gente
É gente humilde, que vontade de chorar.


fuga do paraíso

Uma imagem vale por cem discursos. O sonho de cada criança marajoara, que nem Alfredo do romanceiro dalcidiano, é fugir do paraíso ecológico idealizado pelos brancos -- montado sobre o lombo do êxodo rural --, para ir ganhar a vida no purgatório dos subúrbios insalubres e violentos da cidade grande. 

A fotografia, em epígrafe, sem que fosse esta intenção do fotógrafo, empoderada pela Criaturada grande de Dalcídio; transforma-se num símbolo da Amazônia Marajoara que talvez a UNICEF queira mais tarde adotar: uma pequena criança caboca montando grande animal importado da Ásia para os campos do Marajó. 

No momento solene em que a Presidenta da República proclama, dizem que inspirada talvez em Darcy Ribeiro por intermédio de Leonel Brizola; o lema libertador 'Brasil, pátria educadora'; bem que merece, como mensagem de Ano Novo, circular pelo Palácio do Planalto e nos Ministérios para atenciosa leitura federativa da burocracia governamental, terminando finalmente em postal memorável no gabinete do Ministro Cid Gomes, no Ministério da Educação.

Ideia-força do lema valente do segundo mandato presidencial e desafio da educação do século XXI, nos objetivos da ONU pós-2015, no país gigante da América do Sul face à face com a diversidade de suas extremas regiões e o apartheid social entre 200 milhões de cidadãos brasileiros. 

Pelas estatísticas oficiais, os marajoaras ainda não ultrapassamos a cifra de 500 mil habitantes, todavia se forem recenseados os tantos quantos da diáspora, certamente, já somos mais de um milhão. E se o mísero IDH insulano melhorar? Não digo que todos dispersos iriam voltar aos velhos pagos, a exemplo dos irmãos nordestinos expulsos pelas secas estão voltando para o sertão irrigado; mas que muitos outros brasileiros sonhadores do paraíso na terra amariam viver seus dias em qualquer um desses hoje complicados municípios do Marajó com capacidade para duplicar e até triplicar o número de habitantes. 

Para isto, o primeiro passo, no campo da Educação, será a modelagem imediata no MEC, conforme promessa de campanha da Presidenta Dilma; da Universidade Federal do Marajó como uma inovadora instituição federativa multicampi estratégica do desenvolvimento socioambiental ribeirinho. Por que não? Assim o PLANO MARAJÓ como rebocador da emancipação social e econômica desta brava gente brasileira deixaria de ser miragem semelhante ao lendário navio encantado.

Para a marginalizada criaturada grande de Dalcídio, Brasília é muito longe de casa e Belém não conhece de fato nenhuma das mais de duas mil ilhas grandes e pequenas da foz do maior rio do mundo, com as suas 500 e tantas "aldeias" ou comunidades locais situadas em 16 municípios de três microrregiões. 

Eis a extraordinária "ilha" do Marajó! Ilha inespugnável do antigo "homem malvado", vale explicar, que fazia barreira através de guerra de guerrilhas armado de zarabatana e dardos envenenados à invasão do bravo antropófago Tupinambá. Vasto território insular biodiverso e geoculturalmente diferenciado, praticamente do tamanho de Portugal com população comparável a de um país como o vizinho Suriname, na mesma área cultural guianense onde o povo marajoara se encontra há muitas eras antes de Colombo, como a arqueologia marajoara atesta: a maior área de proteção ambiental que deveria existir no planeta, caso o Parágrafo segundo, alínea VI, do Artigo 13 da Constituição do Estado do Pará saísse do papel. Aspirante ao reconhecimento pela UNESCO como reserva da biosfera na rede amazônica, pelo desejo da sociedade civil, desde a I Conferência Nacional de Meio Ambiente, conforme a carta de Muaná de 08/10/2003, pendente ainda de providências finais postergadas pelo governo estadual. 

A famosa ilha do Marajó é vista, externamente, como paraíso ecológico. Porém, no passado distante foi ela verdadeiro inferno para índios marajoaras que lá habitavam, há milhares de anos como prova a Cultura Marajoara e o Museu do Marajó com sua história inacreditável; e mais tarde quilombolas assediados por traficantes estrangeiros e contrabandistas nacionais por uma parte e castigados por outro lado por coloniais escravagistas que se intitulavam donos da região, apoiados por arcos e remos dos inimigos hereditários daquela brava gente, que viam na ilha atávica da amazonidade a mítica terra sem males procurada desde o Sudeste passando pelo Nordeste conquistado.  

Quem ainda sabe destas coisas poderia colaborar na recuperação da memória de pessoas do lugar, através da Universidade Aberta à Terceira Idade, integrada a todo o sistema educativo, cultural e ambiental como nós queremos na UNIVERSIDADE DA MARÉ E ACADEMIA DO PEIXE FRITO; mas este programa federal de extensão na rede universitária; entregue a jovens preocupados com o envelhecimento físico da população, não tem muito tempo de escuta dos mais velhos mestres das comunidades; capazes de evitar o último suspiro da memória das regiões, atacadas pelo Alzheimer da ecocultura tradicional. Nem mesmo Guimarães Rosa, Érico Veríssimo, Mário Palmério, Jorge Amado, Graciliano Ramos, o nosso 'índio sutil' Dalcídio Jurandir e tantos mais, que formam o mapa literário da civilização brasileira; não estão ao alcance do povo pelo motivo de que o povo carente de letras e de poder aquisitivo não lê. Apenas vê tevê, quase sempre, da pior qualidade educativa.

Considero-me um caboco de sorte. Poucos de minha geração em Itaguari (Ponta de Pedras, observem que este nome é tradução em português daquele topônimo em língua-geral) puderam escapar de um destino cruel na apartada ilha de nossos avós e nós os privilegiados daquela época tivemos em comum o fato de ter sido bem alfabetizados na escola pública nascida da revolução nacional brasileira de 1930.

Gosto de ouvir Chico Buarque na canção Gente Humilde e ainda me emociono com seus versos: "E eu que  não creio, peço a Deus por minha gente / É gente humilde, que vontade de chorar". Chorei até sentir dó de mim, alguma vez, como diz o compositor no dilacerante drama do artista em Bastidores.Por isto não me canso de escrever a todos e a ninguém.

UM ESCRITOR NO PURGATÓRIO


Em 1976, a revista Escrita publicou a entrevista,
aqui reproduzida, feita por Antônio Torres, Haroldo
Maranhão e Pedro Galvão, com Dalcídio Jurandir,
nascido em 1909 em Ponta de Pedras, Pará, que
estava doente. Jurandir morreria três anos depois,
deixando uma obra da maior importância,
que inclui, entre outros livros, "Três Casas e um Rio",
"Belém do Grão Pará" e "Linha do Parque". Em
1972 a Academia Brasileira de Letras lhe concedeu o
Prêmio Machado de Assis, entregue por Jorge Amado.


A poucos anos antes de morrer, Dalcídio Jurandir concedeu entrevista que resume as agruras da gente do Norte brasileiro para desfrutar de lugar ao sol [http://escritablog.blogspot.com.br/2012/11/para-lembrar-dalcidio-jurandir.html]. A respeito dos antecedentes de nossa luta interessados podem acessar, neste mesmo blogue, o post 
http://gentemarajoara.blogspot.com.br/2014/12/gdm-20-anos-pregar-aos-peixes-e-remar.html  

em 2007 Lula veio a Breves lançar o PLANO MARAJÓ: falta Dilma vir inaugurar a Universidade Federal do Marajó.

Com a experiência de tentativas e erros acumulados nestes últimos 12 anos de "vacas gordas", exatamente quando o Brasil aperta o cinto e assume a perspectiva realística de ter que vir a enfrentar fortes maresias e ressacas em tempos de "vacas magras'; o pobre e desconhecido Marajó velho de guerra pode desencantar e espantar para sempre o triste fado da colonialidade pela educação libertadora, agora. 

Com vontade política decidida de sua gente e a competência de seus representantes, Marajó poderá sim passar de filho enjeitado da Pátria educadora para servir de referência aos seus homólogos, dentre 120 Territórios da Cidadania, sob batuta do Ministro Patrus Ananias. Ou seja, mais de mil dos mais pobres municípios brasileiros.

Que é que Brasília e o restante do Brasil sabe, por exemplo, das pazes de Mapuá, em 27 de agosto de 1659, dando termo a 44 anos de guerra de conquista do rio Amazonas desde a tomada de São Luís do Maranhão? Como ex-prefeito de Sobral e governador do Ceará, Cid Gomes; talvez conheça a história do aventureiro Martim Soares Moreno que foi romanceada por José de Alencar. Mesmo assim vale a pena relembrar do pacto de Jaguaribe que mudou a história do Brasil tordesilhano com a conquista do Maranhão e Grão-Pará: invenção da Amazônia portuguesa, que não poderia ser sem a pacificação do Marajó.

Brasil aos 400 anos de Belém do Pará precisa saber: sem as pazes de Mapuá, provavelmente, o Pará teria sido uma grande Guiana holandesa... A Ministra Izabella Teixeira já esteve na Resex Terra Grande - Pracuúba, no Marajó; e teria declarado que agora é a hora e a vez das unidades de conservação integral. Nós pederíamos concordar, com reservas (vale o trocadilho...) se as RDS's e RESEX fossem um brinco. 

A Reserva da Biosfera Marajó-Amazônia com, pelo menos, três áreas-núcleos de proteção integral e um sítio da convenção Ramsar no intermédio de ecossistema de Campos e Floresta seria um grande laboratório em cooperação internacional, penso fundamentalmente na OTCA; todavia com protagonismo da nova universidade federal da mesorregião. Dilma prometeu, que venha a Breves ao mais breve possível e não falte de visitar a Resex Mapuá para o que Izabella deve mandar o ICMBio preparar heliporto e parceria com os ministérios da Educação, Cultura e de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Não digam não, pelo amor da Criaturada.
 




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