sexta-feira, 11 de março de 2011

AMAZÔNIA MARAJOARA: JOIA DA COROA DAS AMAZONAS

É justo inaugurar este blog prestando homenagem à arqueóloga Denise Pahl Schaan por suas pesquisas sobre a Cultura Marajoara. O texto a seguir é de sua autoria, copiado do site www.marajoara. com , a modesta divulgação que aqui se faz servirá para popularizar o referido trabalho.

De caco a espetáculo.

De caco a espetáculo.
Peças arqueológicas marajoara expostas no Museu Paraense Emílio Goeldi. Foto: Márcio Couto.


Amazônia antes de Cabral  

"Por volta do ano 1.000 depois de Cristo, sociedades hierárquicas e populosas
estavam estabelecidas ao longo das margens do rio Amazonas e seus principais
afluentes.  Explorando de maneira intensiva os recursos aquáticos e desenvolvendo
agricultura nos solos férteis da várzea amazônica, aquelas populações
desenvolveram complexas instituições sociopolíticas e uma rica cultura material.
Pesquisas arqueológicas recentes têm demonstrado que sociedades extensas,
hierárquicas e sedentárias ocuparam também a terra firme, fazendo parte de
complexas redes de troca à longa distância.  As trocas uniam as sociedades
amazônicas e estabeleciam contatos que explicam as semelhanças culturais entre
elas, expressas principalmente na produção da cerâmica e na arte rupestre.
Objetos e instrumentos de pedra, como machados de basalto e granito e adornos
de jadeíte e nefrite circulavam como bens de prestígio, unindo as elites indígenas
regionalmente.  

Arqueologia da Ilha de Marajó 

A cultura Marajoara começou a ser estudada desde o
final do século XIX, quando viajantes e naturalistas
tomaram conhecimento da cerâmica funerária que era
encontrada enterrada em grandes aterros artificiais.  Os
primeiros arqueólogos a estudar aqueles sítios foram os
americanos Betty Meggers e Clifford Evans que,
impressionados com a cerâmica altamente elaborada e
de ótima qualidade, e com a monumentalidade dos
aterros construídos pelos índios, sugeriram, nos anos
1950,  que aquele povo teria migrado dos Andes.  Hoje
entende-se que a cultura Marajoara originou-se
localmente, a partir de um processo de mudança cultural
que ocorreu entre as comunidades que já habitavam a
Ilha desde há 3.500 anos atrás.

Uma série de datações radiocarbônicas permitem situar o período de maior
crescimento e expansão da cultura Marajoara entre os séculos V e XIV,
colocando-a como a mais antiga fase da tradição polícroma amazônica, um
estilo cerâmico caracterizado por uma cerâmica cerimonial altamente elaborada
em forma e decoração (pintura preta e vermelha sobre branco, bordas ocas,
uso de técnicas de modelagem, incisão e excisão), encontrada associada a
enterramentos secundários e contextos rituais. Os sítios arqueológicos típicos da Fase Marajoara caracterizam-se pela construção de monumentais aterros formados a partir de solo estéril
arenoso retirado do leito de cursos d’água próximos ou das imediações
do terreno, formando camadas intercaladas por estratos de ocupação
contendo pisos de argila queimada, fogueiras, abundantes fragmentos de
cerâmica e enterramentos.  

As poucas escavações arqueológicas bem documentadas levadas a efeito 
nesses aterros-cemitério no passado, contrastam com a grande quantidade 
de cerâmica cerimonial retirada por saqueadores e arqueólogos de fim-de-semana 
desde o final do século XIX, que fazem parte atualmente de impressionantes coleções
públicas e particulares no Brasil, Estados Unidos e Europa.  O bom
estado de preservação da cerâmica no ambiente tropical, em contraste
com a escassez de outros tipos de dados, faz com que os
remanescentes cerâmicos sejam uma fonte privilegiada de informações
sobre a cultura Marajoara e as culturas pré-históricas amazônicas de
modo geral. No entanto, a ausência de registro sobre os contextos
deposicionais impõe limites sobre o caráter e alcance das inferências
que se podem construir a partir de coleções museológicas."



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