terça-feira, 17 de março de 2015

José Varella fala sobre utopias de José Varella


Em 2007, pátio do Conjunto Mercedários em Belém do Pará, a jornalista francesa Ombline de La Grandière entrevista-me a respeito da "Criaturada grande de Dalcídio" (populações tradicionais ribeirinhas) no contexto do desenvolvimento da Amazônia. No momento, estava eu voluntário pelo GRUPO EM DEFESA DO MARAJÓ (GDM) e MUSEU DO MARAJÓ para organização de força-tarefa de abordagem, identificação e registro de famílias ribeirinhas do Marajó a ser atendidas pelo Projeto Nossa Várzea de Regularização Fundiária, coordenado na Superintendência Regional do Patrimônio da União pelo saudoso Neuton Miranda, fiel amigo da Criaturada. Por feliz coincidência, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a Governadora Ana Júlia Carepa vinham de lançar, em Breves, o Plano Marajó onde o Nossa Várzea se insere: nunca dantes neste país acontecera, no velho Marajó de 1800 anos de cultura amazônica complexa, um ato histórico como aquele de 2007 na terra nheengaída do cacique Piié Mapuá. Todavia, falta ainda tomar consciência dos fatos e celebrar pequenos passos de avanço na longa estrada da História do bravo povo marajoara.


ILHAS, CONTINENTES E PONTES DE SONHO.


Quem conhece a modéstia de meus recursos e minha falta de ambição pessoal, deve achar absurdo -- sabendo ademais das históricas carências e o mísero IDH da gente marajoara --, me ouvir falar sobre ideias quixotescas e mirabolantes projetos. Como, por exemplo, construção de ponte faraônica sobre a baía do Marajó entre Barcarena e Ponta de Pedras para viabilizar mercado turístico comparável a Costa Rica. E sobre o rio Paracauari, integrada à primeira numa via a ser batizada de Costa do Sol relembrando a antiga Costa-Fronteira do Pará, unificando as cidades gêmeas de Salvaterra e Soure num único espaço urbano mediante fusão dos dois municípios. 

Redivisão territorial de municípios, onde se poderia ter razoavelmente até 30 cidades turísticas somadas a mais de 500 comunidades em 2500 ilhas e vasta porção continental em três microrregiões. Superfície comparável ao tamanho de Portugal com uma população equivalente a do vizinho país amazônico Suriname. Sem falar do potencial para perenização do lago Arari e revitalização do curso Anajás-Arari numa extensa ecovia integradas a Belém-Macapá-Caiena que a ponte do Oiapoque favorece numa nova geografia de sonho ecoturístico no delta-estuário do maior rio da Terra, antigo paraíso cobiçado da mítica Terra sem males (Araquiçaua, "o lugar onde o sol ata rede para dormir"). 

Ora, a supracitada entrevista com Ombline de La Grandière versou, sobretudo, sobre paisagens visionárias tais como "l'avenir de la capitale du Pará", vaticinado por Henri Coudreau e a expressão geográfica de Belém por Eidorfe Moreira, configurando o mapa imaginário de um turismo fluvial e marítimo que faz a felicidade de viajantes do mundo: exemplo das travessias oceânicas do "Rally Îles du Soleil", que todos anos vem da Europa com escalas na costa da África ocidental, ilhas do Atlântico, Nordeste brasileiro para subir o Amazonas e Tapajós, com entrada em Soure e Salvaterra, passagem em Belém, São Sebastião da Boa Vista, Breves e partida em Afuá rumo a Guiana e Antilhas... Que se poderia fazer em parceria, por exemplo, com a "Fondation Belem" (mantenedora do veleiro-escola "Belem") e a associação de veleiros sediada em Nantes, que até hoje não foi pensada a fim de beneficiar, realmente, comunidades ribeirinhas vistas pelas beiras do rio no espetáculo "lírico" da pobreza, no lamentável dizer de um ex-ministro brasileiro de turismo?

Claro que, em princípio, nossas "pontes" imaginárias são tão-somente provocações virtuais a fim de mostrar a pobreza de espírito a respeito de um tesouro natural e cultural extraordinário: o maior arquipélago fluviomarinho do planeta, à foz do maior rio do mundo. Quando, há poucos dias apenas, o governo paraense ameaçava construir presídio estadual na terra quilombola do Caldeirão, à margem direita do dito rio cheio de lendas, mistérios e curiosidades que fazem dele atrativo turístico ímpar do polo turístico Marajó. Os promotores da infeliz ideia do presídio do Caldeirão deslembraram-se ou não sabiam mesmo da Constituinte estadual de 1989, quando o deputado Agostinho Linhares introduziu célebre "jabuti" (§ 2º, VI, Art. 13 da Carta Magna) para repelir construção de presídio de segurança máxima na ilha do Marajó.

A reação política do Governo do Estado do Pará, no início da redemocratização do país, frente ao neocolonialismo interno que sempre imperou na Amazônia traída no episódio de 15 de agosto de 1823 e dilacerada na tragédia do brigue Palhaço até a guerra-civil chamada a Cabanagem (1835-1840); felizmente fez abortar o monstrengo federal tramado entre políticos cariocas para se livrar da bandidagem de alta periculosidade; sem perceber que iria transformar um paraíso ecológico na foz do maior rio do mundo, numa versão tupiniquim, talvez, de "Ilha do Diabo" à brasileira.

A emenda Linhares, todavia, atirou no que viu e acertou no que não viu: graças à grave problemática carcerária do Rio de Janeiro, nascia nas ilhas do Marajó esboço da primeira APA amazônica e, desta maneira, à guisa de justificativa, vislumbrava-se o turismo (sem lhe dizer o nome) como vocação econômica e oportunidade de melhoria de vida da gente marajoara. 

E já se foram 26 anos de uma APA que não ata nem desata. Dizem, entretanto, que agora a coisa vai melhorar num melhor diálogo federativo na área socioambiental no delta-estuário amazônico e bioma do Golfão marajoara... Logo após passagem de território federal a estado do Amapá, como mágico que tira coelho da cartola, o deputado federal Antônio Feijão, do novo estado, queria criar "reserva da biosfera" no Marajó, a ver se estancava migração de cabocos marajoaras ao novo estado atraídos pela "zona franca" Macapá-Santana. Assim a seco, sem falar com os supostos interessados; de saída a iniciativa do deputado foi a pique diante de reação negativa das principais cabeças do meio ambiente parauara. 

Já o sonho da ZPE do Amapá também fazia água e a massa de desempregados ia atravessar a fronteira do Oiapoque para tentar a vida na Guiana francesa e Suriname. Em Caiena passei cinco anos (1985-1990). Quando retornei estava decidido a colaborar para atenuar ao máximo possível aquela migração de "refugiados econômicos" até hoje. O sonho compartilhado com vários, lá e cá; era de uma cooperação de vizinhança regional onde a ponte do Oiapoque andava bem distante e agora que ela está lá como monumento histórico da indiferença do antigo Contestado do Amapá; talvez queira nos dizer alguma coisa que nem Brasília ou Paris queriam saber sobre impactos da construção da base espacial de Kuru e repatriamento massivo de brasileiros de Caiena na década de 1970, anos do milagre econômico. 

Então a gente fica, assim, no mato sem cachorro e não é por falta de oportunidades. Então, em consequência dessas quixotadas o amigo Adenauer Góes me convocou a ser seu chefe da gabinete na PARATUR e eu fui ficando, até inventar assessoria de relações institucionais nunca dantes naquela companhia, recentemente extinta. Eu me aposentei do serviço exterior no dia de aniversário da queda da Bastilha de 1998. Havia começado, por acaso, a missão consular em Caiena em 13 de maio de 1985... Em setembro de 1990 voltei ao serviço de fronteiras. Na nova experiência do turismo, a partir de 1999, eu estava meio assim como peixe fora d'água e certas horas estranho no ninho entre profissionais e servidores da companhia. Mas, de qualquer modo, sempre focado no Marajó em minha qualidade de ex-futuro economista, sabendo da importância deste importante ramo da nova economia para levantar regiões periféricas e decadentes. Pena quando a gente é uma andorinha só querendo fazer verão... E não vou falar mais da enorme frustração da "Fundação Dalcídio Jurandir (FunDAL)" junto à experiência mal fadada de secretário municipal de meio ambiente, Projeto de Execução Descentralizada PED-Guaianá, no meu querido município natal de Ponta de Pedras, cedido sem ônus pelo Ministério das Relações Exteriores... Cada tópico destes daria um capítulo de folhetim, tipo assim, memórias de um sargento de milícias; valendo para servidor público na era dos blogues...

E a gente não queria deixar acontecer um desastre ecológico chamado "hidrovia do Marajó", pior que o desastre turístico anunciado com o projeto de presidio em Salvaterra. Foi assim que a APA-Marajó foi desenterrada do arquivo das traças da ALEPA (apelido sem graça da Assembleia Legislativa), então a APA teve seu dia de mingau na pauta de discussão a fim de contemplar projeto de criação de uma reserva da biosfera... 

O consultor Francisco Lacerda, entre outras tarefas, ficou incumbido de prestar informações sobre a Reserva da Biosfera do Pantanal a grupo de fazendeiros na Associação de Municípios do Marajó (AMAM). De modo que, quando houve a reunião regional preparatória, em Muaná, 08/10/2003, à I Conferência Estadual/Nacional de Meio Ambiente já a sociedade civil local havia chegado a consenso sobre assinatura de moção pedindo criação da Reserva da Biosfera do Marajó: assinaram entre outros presentes, representantes das AMAM, Diocese de Ponta de Pedras, GDM (grupo em defesa do Marajó), CEMEM (cooperativa ecológica de mulheres extrativistas do Marajó), FDLIS (fórum de desenvolvimento local integrado sustentável), Ong CAMPA, GEDEBAM (grupo de estudo de desenvolvimento do Baixo Amazonas)... Mas, entre Muaná e Belém a carta sumiu durante, paresque, a travessia da baia... Sabem como é árdua a eterna batalha entre forças ocultas da maldade e caruanas guerreiros... Edna Marajoara, representante da CEMEM, liderou rápida reação de adesão coletando mil e tantas assinaturas de presentes à I Conferência Estadual de Meio Ambiente, em Belém, reescrevendo-se a moção para criar a reserva da biosfera do Marajó. 

Em novembro, em Brasília, foi outra barreira a ser vencida na Conferência Nacional novamente os propositores da reserva precisaram reagir a tentativas de nos tirar da pista e má vontade da mesa para desestimular a proposta. E, no entanto, autoridades do MaB/UNESCO receberam com interesse o pedido de Muaná. Mas, já se vão 12 anos e o dever de casa, pelo Governo estadual, para formalizar a candidatura à Comissão Brasileira (COBRAMAB) resta por terminar. Por que será que não se tira do galho do pau o jabuti da APA, nem se acelera o passo de cágado da Reserva da Biosfera? O prêmio de "desenvolvimento regional sustentável" dr. Kandir a quem acertar a resposta.

Já com apoio do Consulado do Brasil em Caiena (atual consulado-Geral), as respectivas associações municipais do Marajó e da Guiana francesa trocaram visitas de delegações de prefeitos e vereadores exploratórias de potencial de cooperação regional. Coube a Guiana a iniciativa visitando Belém, Soure, Salvaterra e Cachoeira do Arari. Nessa ocasião, em Soure o falecido coordenador do campus da Universidade Federal do Pará, professor Ricardo Barros, apresentou à delegação guianense projeto de construção de barco-escola e discorreu longamente sobre a pobreza das populações ribeirinhas. Em resposta, o prefeito de Sinnamary e governador departamental Elie Castor, surpreendeu os presentes ao dizer ver muitas riquezas onde só se falava em pobreza. Ele havia razão. Mas, o diabo, depois que esta cooperação também foi para o espaço, continua sendo como sair do rico potencial para efetivo desenvolvimento humano e socioambiental de verdade.

Em reciprocidade, organizamos delegação de prefeitos, vereadores e intelectuais entre estes o diretor e criador do Museu do Marajó, padre Giovanni Gallo, acompanhados do grupos de expressão folclórica Nuaruaques. Um convite ao padre Gallo para ser consultor de projeto de criação do museu de Sinnamary foi manifestado. Então, a imagem ruim dos imigrantes brasileiros na Guiana francesa começava a ser mudada no prosseguimento de iniciativa da municipalidade de Caiena, através do diretor cultural Robert Marigard, com o Festival de Caiena. 

Eis em rápidas pinceladas antecedentes de meus sonhos visionários para ajudar a valorizar a Criaturada grande de Dalcídio. Dentre sonhos impossíveis de Quixote assumido a ideia, irritante a tanta gente, de federalizar o Museu do Marajó integrado à futura Universidade Federal do Marajó para firmar parceria estratégica com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). 

Já a Área de Proteção Ambiental de que trata a Constituição do Estado do Pará em seu Artigo 13, VI, § 2º; reconhecida internacionalmente como Reserva da Biosfera Marajó-Amazônia; fazendo parte do Programa "O Homem e a Biosfera" (MaB, na sigla em inglês); a fim de intercâmbio com museus estrangeiros detendo posse de coleções de cerâmica marajoara pré-colombiana e, enfim, repatriação das mesmas. Mas, se nem o primeiro passo dessa estrada da mil léguas a gente consegue dar!


É público e notório que, para mim, o centro do mundo é a ilha do Marajó. Mas eu não sabia, assim como a esmagadora maioria de meus sumanos não sabe. Descobri esse Marajó-centro do mundo, por acaso, na procura em saber quem inventou o mundo. É claro que o principal "culpado" dessa procura foi um tal de Dalcídio Jurandir... Para contar a história precisei inventar um certo José Varella, seu criado; por minha própria conta e risco. 

Eu queria ser romancista, mas devia, então, escrever autobiografia. Porém ainda não é agora e nem sei se mais tarde terei a merecendência. Assim, tal qual o Sargento de Milícias do romancista Manuel Antônio de Almeida; vou eu fazendo "folhetim" para contar a memória dos outros que, certamente, fazem parte de minha vida. Desde antigos parentes "nheengaíbas" predecessores, por certo, da Criaturada grande de Dalcídio. Já escrevi três ensaios, dois publicados e um por publicar ("Novissima viagem filosófica" (1999), "Amazônia latina e a terra sem mal" (2002) e "Breve história da Amazônia Marajoara", ainda inédito), por ora estou elaborando texto para e-book e já publiquei um sem número de artigos para jornal impresso, internet e alguns blogues. Nada mal para caboquinho sem eira nem beira, nascido na Santa Casa de Misericórdia do Pará, Belém (30/10/1937) e que deu primeiros passos no Fim do Mundo (bairrozinho da vila de Itaguari, Ponta de Pedras-Pará), à margem esquerda do rio Marajó-Açu.

Vão me desculpando qualquer coisa. Agora, como diz o sumano marreteiro, só pago encomenda depois do apurado. Ou, na filosofia do índio condenado no tribunal da Inquisição na Bahia citado por Ronaldo Vainfas, no imperdível "A heresia dos índios"; estou acreditando que "Deus criou o homem para dormir e sonhar".

ponte estaiada sobre o rio Guamá - Alça Viária Belém-Barcarena:
por que não a "Ponte dos Cabanos" interligando a ilha do Marajó?


Ponte dos Cabanos

Chamem os chineses!
Engenheiros da maior ponte do mundo sobre o mar
Aqui no rio-mar eles irão tirar de letra doze quilômetros
Que farão a maior ponte fluvial do mundo
Em pleno portal da Amazônia verdeazul
Sobre a baía do Marajó entre Barcarena e o Itaguari
Já dizia minha avó que antigamente
Tempo da vela de miriti
O sacrifício destas gentes das ilhas Pará-Amazonas
Era tanto que o viajante carecia rezar ladainha
Dias antes da viagem e ir de casa em casa
se despedir dos parentes e aderentes
Pois podia calhar dele nunca mais voltar.

Chamem os chineses!
O problema desta gente das ilhas filhas da pororoca
É que estamos cansados de ficar na beira a ver navios
Pra China, Noruega, Estados Unidos, Eurozonas
Morrer de inveja e doutras causas naturais e anormais
Saber de tudo hoje em dia que faz indústria lá fora
Com a matéria-prima que foi embora
E quando acaba para o povo das águas não sobra nada,
Só querem o nosso minério, como diz a canção.

Chamem os chineses!
Vencedores do atraso social que estão com todo gás e petróleo
De Áfricas e outras periferias: parceira vanguardeira do Brasil, Rússia,
Índia e África do Sul na locomotiva chamada BRICS
Basta de ser besta a comprarzinho 1,99 em cada esquina
O povo trabalhador quer trens modernos em troca de ferro,
Alumínio e, sobretudo, energia elétrica extraída dos rios
Que vai embutida aos produtos com a mais valia de nosso labor.

Chamem os chineses!
Japoneses, coreanos, os russos e mais europeus,
Todos os gringos com seus cabedais...
‘Mas porém’ não se esqueçam por favor
Que a “ponte dos cabanos” sumanos existe invisível deste quando
O índio conquistador do rio das amazonas seguia o rastro do Sol
A buscar um país encantado
Onde não há fome, trabalho escravo, doença, velhice e morte
Norte constante duma história amazônica oculta à margem da História
Utopia tropical à meia maré de distância entre o paraíso selvagem
E o inferno verde colonial; a um passo da revolução
Como prova o “Bon Sauvage” de Montaigne e Rousseau
Com as lembranças da embaixada da Nação Tupinambá em França.

Na outra margem da saga dos Tupinambás
Vejam só, o bravo povo do Marajó
Há 1000 anos fazia planos de conquista do país do Arapari:
América do Cruzeiro do Sul...
Aqui os extremos Oriente e Ocidente se encontram na curvatura da Terra
As grandes águas do Rio e do Mar se misturam e dispartem ao Norte e Sul.
Por esta sagrada razão das antigas navegações
Os ancentrais de provectas migrações
Tempos do cacique Anakajury atravessaram do Caribe às Guianas
Ponte lendária entre a ilha de Trinidad e as bocas do Orinoco
Fundação da Parikuria na baía do Oyapoc ao Cabo do Norte
De lá pra cá numa universidade pés descalços
Arquitetaram aldeias suspensas e pontes sobre o espaço vazio
Até chegar ao Caripi (caminho do guerreiro)
E ao canal do Caraipijó (Carnapijó) junto à ilha Trambioca
A caminho do rio de Guayamã (Guamá).
Caminhos de rios e mares, travessias e pontes...
Tá ligado, sumano?

   José Varella, Belém-PA (1937)


A LÁBIA DO PADRE GRANDE E O ERRO DOS PAJÉS

Eu me acomodo mal a rótulos e clichês. Todavia, como na sociedade de classes a gente carece se situar e saber com quem está falando; considero-me em geral ignorante sem preconceitos no time pequeno dos chamados agnósticos e no campo das artes e ofícios acredito ser humilde repórter com fronteiras. Aliás, repórter de fronteiras, notadamente fronteiras socioculturais. Dessas tais tipo mundos paralelos coabitando o mesmo espaço e tempo. Muitos amigos meus ficam desnorteados com minha estúrdia conversa fora de escantilhão, começando no Ver O Peso e já estamos em Montevidéu, mais rápido que o Diabo pisca um olho me lembro da lenda de Cucuí, no Rio Negro, e quando acaba já estou de volta ao país natal: o Fim do Mundo, antigamente, Itaguari. O que dá pra rir, dá pra chorar... Porém aprendi por acaso com o filósofo Espinoza para não rir nem chorar, mas compreender.

Em 2002, em Belém do Pará, lancei a bordo do navio-veleiro francês "Belém" meu livrinho utópico como o próprio mito tupi que me animou a escrevê-lo, "Amazônia latina e a terra sem mal" a reboque dessa história transcontinental. Com ele em mão, fiz escambo no Teatro Margarida Schiwazappa de autógrafos com o extraordinário Edgar Morin, que professa crença no deus de Espinoza e compartilha com ele o complexo estigma marrano (judeu renegado), como muitos cristão-novos em Portugal e Brasil. 

Como se sabe, Baruch de Espinoza foi filósofo holandês de ascendência portuguesa excomungado pela comunidade judaica de Amsterdã: o que me lembra Menassé ben Israel, rabino da comunidade judaico-portuguesa de Amesterdã, nascido Manuel Soeiro na Ilha da Madeira; amigo e confidente de Vieira, causador involuntário da condenação do payaçu dos índios por "heresia judaizante", implícita na utopia evangelizadora do Quinto Império do Mundo exposta, preliminarmente, na "História do Futuro" e finalmente na obra póstuma do Padre Antônio Vieira "O Reino de Jesus Cristo consumado na terra"... Para alguns, teologia da libertação avant la lettre e os conselheiros do papa Francisco, talvez, precisem ler ou reler agora.

Agora, em vésperas dos 400 anos de Belém no ano que vem, vão chegar novamente os veleiros oceânicos da corrida marítima das Ilhas do Sol. De diversas partes do mundo, vão se reunir na ilha da Madeira e talvez saibam muito bem que naquela ilha está muito segredo ainda dos descobrimentos marítimos. Mas não sabem de um certo Duarte Pacheco Pereira,a fundear a caravela na Ilha do Sol ou dos Tupinambás, que recebeu nome de Colares, durante o diretório do Marquês de Pombal...

Tal qual caixeiro viajante do turismo paraense, acompanhando o amigo Adenauer Góes, padrinho da impressão gráfica e lançamento dos meus dois ensaios publicados, embarquei em 2004 rumo a Holanda e França com o tal livrinho na bagagem. Era dia de aniversário de nascimento de Dalcídio Jurandir, pensava num turismo literário capaz de configurar atrativo turistico amazônico para estratégia de marquetingue da Feira Internacional de Turismo da Amazônia (FITA). No aeroporto lembrava-me das primeiras páginas de "Chove nos campos de Cachoeira", Alfredo cansado de vagar pelos campos queimados em busca do caroço de tucumã mágico... Cair em si sobre a realidade étnica e social da ilha e imaginar os verdes prados da Holanda...

Quando desembarcamos em Amsterdã e se ofereceu a chance, a primeira coisa que fizemos foi correr a ver um velho moinho de vento aberto à visitação. Mas os verdes campos dormiam o sono da terra à espera da primavera ainda longe... Eu acho que construtores de diques e canais nos Países Baixos gostariam de ver como os antigos marajoaras, pelo século V, sem máquinas nem curso de engenharia fizeram, também eles, grandes aterros a que chamamos tesos para edificar aldeia e horto suspensos, barragens e reservatórios de água para manter peixes em cativeiro.

Se os caciques nheengaíbas enxergassem o futuro, quando escutaram as boas promessas do padre Antônio Vieira pela boca de seus parentes cativos no convento de Santo Alexandre; teriam eles preferido continuar o escambo com holandeses, ingleses e franceses das Guianas e Caribe ou, caindo na lábia do payaçu; concordar em fazer as pazes com o inimigo hereditário Tupinambá e os rudes e pobres portugueses do Pará? Certo que as pazes de Mapuá, pelo menos, facilitaram muitíssimo abrir passagem segura para dentro do Amazonas. Assim, a viagem de Pedro Teixeira e seus 1200 arqueiros e remadores tupinambás plantou o marco número um da fronteira Norte. Mas, nem o Cabo Norte, nem o Rio Negro, nem o Alto Amazonas poderiam reivindicar o fim de Tordesilhas, sem que a linha imaginária da Costa-Fronteira do Pará tivesse sido revogada de fato no chão da ilha grande dos Aruãs ou Nheengaíbas...

Já falei demais. É hora de deixar o leitor "sentar" juízo e procurar ver aonde a gente quer chegar.







Índice
Envie esta
notícia por email

Veleiro "Belém" zarpou da França rumo ao Brasil 100 anos depois da 1ª viagem
12h24 - 10/02/2002


Arthur Silva, da Agência Lusa

Paris, 10 Fev (Lusa) - O veleiro francês "Belém" zarpou no início da tarde de hoje do porto de Nantes, na costa atlântica francesa, com destino à cidade brasileira de Belém, onde chegou pela primeira vez em 1897.

Oitenta e oito anos depois de sua última campanha de "comércio", o atual navio-escola, que foi construído em 1896, nos estaleiros de Nantes, voltou a zarpar rumo ao Brasil, Guiana e Antilhas, rotas que fizeram a história deste barco.

Esta operação, que conta com o apoio da Embaixada do Brasil na França e da representação diplomática francesa no Brasil, tem o patrocínio da Secretaria de Estado francesa dos Departamentos e Territórios do Ultramar.

A chegada a Belém está prevista para os meados do mês de março, num périplo que levará o veleiro francês aos portos de Vigo (Espanha), Ilha da Madeira (Portugal), Las Palmas (Espanha), Dacar (Senegal), Belém e Macapá (Brasil), Saint- Pierre de la Martinique e Bermudas.

Na viagem de volta, o "Belém" fará uma escala na ilha atlântica dos Açores (Portugal), e a chegada a Nantes está prevista para o dia 14 de julho, dia da Festa Nacional francesa.

"Além da aventura marítima única, a odisséia atlântica do ŽBelémŽ terá um grande significado para todos aqueles que, de perto ou de longe, vão seguir esta viagem", afirmo Alain Le Ray, presidente da Fundação Belém, proprietária do veleiro.

Mas, sobretudo, "as escalas em Belém e Macapá serão ocasiões privilegiadas para reafirmar os elos que unem os dois lados do Atlântico", frisou Alain Le Ray.

Por outro lado, a história deste navio está intimamente ligada às trocas comerciais entre o Brasil e a França.

Entre 1897 e 1907, o porto brasileiro de Belém foi o principal destino do veleiro que, na época era um navio de comércio, que fez 33 campanhas, e trazia para a Europa cacau, rum e açúcar, enquanto levava para o Brasil produtos manufaturados.

A partir de 1907 e até 1914, o "Belém" foi utilizado no transporte de mantimentos para Guiana Francesa, para os colonos e para o campo de refugiados de Caiene, para onde foram deportados milhares de prisioneiros políticos e criminosos franceses.

No dia 08 de maio, o "Belém" escapou milagrosamente à irrupção vulcânica registrada na Montanha Pelada, que fez cerca de 30.000 vítimas na Ilha da Martinica.

A concorrência dos navios a vapor afastou o "Belém" das rotas do comércio, e a partir de 1914 passou pelas mãos de diversos proprietários, principalmente o Duque de Westminster, o "barão" da cerveja, A.E.Guinness, tendo percorrido uma volta ao mundo entre 1923 e 1924.

A II Grande Guerra Mundial obriga o "Belém" a molhar na Ilha de Wight, Reino Unido, até que em 1952 é comprado pela Fundação Cini, e transformado em um navio-escola do Instituto Scilla, em Veneza, Itália, para a formação profissional dos jovens órfãos de marinheiros.

Finalmente, em 1978, uma parceria entre o grupo bancário Union Nationale des Caisses dŽEpargne de France e a Marinha National francesa, permite comprar o navio e salvá-lo de uma destruição a curto prazo.

Cinco anos após as obras de restauração, em 1986, "Belém", que, entretanto, foi classificado Monumento Histórico pelo Governo francês, chega a Nova York para participar nas celebrações do centenário da Estátua da Liberdade.

A viagem que o "Belém" iniciou hoje, a "Odisséia Atlântica", pode ser acompanhada pela Internet.

Graças ao site www.belem-odyssée.com, os internautas podem viver o dia-a-dia da tripulação e participar nas observações e descobertas das escalas terrestres, relatadas por testemunhas e peritos em vários aspectos.



RENDEZ-VOUS EN 2016 POUR LE RIDS !
07-08-2014



Décalé à septembre 2016 pour des raisons d’organisation et afin de permettre aux skippers et équipages de se préparer et d’anticiper leur participation, l’organisation du Rallye des Iles du Soleil s’est étoffée et s’est entourée également de professionnels du secteur touristique et nautique, afin d’optimiser et de sécuriser l’offre. Le Rallye des Iles du Soleil sera bien présent au prochain Grand Pavois et il sera possible d’obtenir tous les renseignements et se préinscrire sur le stand Rallye des Iles du Soleil.

Un départ de Madère et des parcours différents…

Afin d’en optimiser l’intérêt pour le plus grand nombre de skippers désirant vivre une aventure unique et extraordinaire, plusieurs possibilités sont aujourd’hui proposées. Si la traversée de l’Atlantique reste au programme, elle se fera au départ de Madère (Portugal), point de ralliement des flottes Atlantique et de Méditerranée. Il est ainsi laisser libre à chacun de rallier l’archipel portugais à sa manière, avant de prendre le départ du Rallye vers Les Canaries, le Cap-Vert et le Brésil en flotte. Une fois à Belem (Brésil) après avoir rallié Salvador, Fernando do Noronha, Fortaleza, Belem… les participants auront la possibilités de prendre part à la remontée de l’Amazone ou pas, comme il sera possible aux équipages présents outre-Atlantique de rejoindre et de prendre part au Rallye seulement pour la remontée de l’Amazone. Rappelons qu’un dispositif spécifique est mis en place (avec bateau organisation) pour cette remontée, afin que celle-ci se déroule dans les meilleures conditions de sécurité et d’aide aux équipages présents. Une aventure incroyable qui reste le point fort de ce rallye unique au monde !


Ilhas do Sol

rally du soleil 2014 - veleiros oceânicos no rio Paracauari (Soure-Salvaterra).





veleiro oceânico: sempre uma possibilidade econômica da ilha do Marajó que, apesar de tímidas passagens a cada ano do "Rally du Soleil", está longe de ser levada a sério como deveria pelos teóricos e autoridades do "desenvolvimento sustentável" da Amazônia. Porém, antes de nos queixar dos outros, cumpre criticar a nós mesmos marajoaras com maior ou menor responsabilidade social que o IDH acusa. Nos falta, principalmente, fé em nossos próprios recursos humanos: o que o projeto de universidade marajoara proposto pelo Movimento Marajó Forte (MMF) e o reconhecimento da reserva da biosfera Marajó-Amazônia demandado pelo Grupo em Defesa do Marajó (GDM), com certeza, deve ser encarado como paradigma do futuro. Cujo passaporte para a Criaturada grande de Dalcídio ir ao encontro de seu melhor destino é o Turismo Inteligente de base na comunidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário