SEM EDUCAÇÃO NÃO HÁ SOLUÇÃO:
Amazônia Marajoara paisagem cultural do Brasil
Amazônia Marajoara paisagem cultural do Brasil
"Os primeiros cacicados amazônicos surgem na ilha de Marajó, onde técnicas
de manejo de rios e lagos – com a construção de barragens e escavação de
viveiros de peixes – buscavam maximizar a pesca em áreas onde inundações
periódicas transformavam os campos em locais extremamente propícios para
a piracema (...) produzindo uma das mais sofisticadas tradições ceramistas das
Américas".
[cf. Denise Schaan ]
de manejo de rios e lagos – com a construção de barragens e escavação de
viveiros de peixes – buscavam maximizar a pesca em áreas onde inundações
periódicas transformavam os campos em locais extremamente propícios para
a piracema (...) produzindo uma das mais sofisticadas tradições ceramistas das
Américas".
[cf. Denise Schaan ]
Nós, os cabocos ribeirinhos, temos que aprender a somar e compreender que cultura não é só larilá e ladaínha nem ecologia é poesia só pra inglês ver... É de matar fome e ganhar o pão que se trata quando a gente diz que turismo é indústria e comércio. O nosso rico açaí, a carne "verde" de búfalo ou gado comum, o queijo, azeite de patauá, óleo de andiroba, peixe filetado, artesanato etc. & tal tudo isto pode e deve estar agregado ao made in Amazon/Marajó . Principalmente, o atrativo turístico faz com que (ao contrário dos brasileiros que vão lá fora gastar R$ 8 bilhões) nacionais e estrangeiros que entram no país deixam divisas para geração de emprego e renda local. Além disto, o visitante que é bem atendido e sai satisfeito é o melhor propagandista para atrair mais turistas e serve de "caixeiro viajante" para o frito de vaqueiro, a canhapira, a polpa de bacuri e tantas coisas mais que mexem com a paladar e a curiosidade.
Então esta conversa vai para economistas inovadores dispostos a inventar moda. Para isto a gente quer o Museu do Marajó servindo de anfitrião em parceria com a AMAM (associação de prefeitos), AVIM (de vereadores), Instituto Peabiru (programa VIVA MARAJÓ / Fundo Vale): uma plataforma cooperativa, junto a qual a União e o Estado venham a nos dar a mão servindo de laboratório e referência às 12 regiões estaduais de integração para o desenvolvimento sustentável, no marco do ZEE (zoneamento ecológico-econômico) paraense.
O xis da questão é que a parolagem é imensa, mas de fato quando a gente vê: a montanha pariu um rato... (às vezes, que ratão, meu irmão!).
MUSEU DO MARAJÓ PRA QUE VOS QUERO?
Em primeiro lugar - antes que se crie mais tempestade em copo d'água -; é bom dar aviso aos navegantes e pescadores de águas turvas que a gente quer sim federalizar as ilhas marajoaras. Mas não quer conversa mole pra boi dormir sobre o tal terrítório federal do Marajó nem saber de divisão do grande estado do Pará nem que chova canivete!
O primeiro passo para federalização exemplar deveria começar por reconhecer a dívida nacional e internacional com respeito à destruição e contrabando de sítios arqueológicos do Marajó: um quase crime de lesa humanidade, bem pensado o limite da tolerância. Pois não se trata do valor material da coisa perdida, muito menos o preço venal das peças e coleções de cerâmica marajoara levadas da ilha como se fora a casa da mãe Joana... Mas, sobretudo, o dano simbólico e prejuízo imaterial sonegado a este povo lesado e encurralado por um dos piores IDH's da América Latina desde gerações passadas e que se projeta ao futuro.
Em vão, temos pedido compensação à altura para esta brava gente que o mundo esqueceu: para isto escrevemos um "Breve história da Amazônia Marajoara", prestes a ser entregue ao público, como modesto esforço para sensibilizar os atuais responsáveis e despertar as consciências. Que melhor oportunidade para isto do que revitalizar a obra coletiva, que é O Nosso Museu do Marajó; empreendido pelo antigo pároco de Santa Cruz do Arari? Não lembram que o município foi uma antiga fazenda de gado da missão dos Jesuítas expropriada, dentre cerca de vinte, para doação aos Contemplados? Esqueceram que o sui generis museu começou com "cacos de índio" - o resto do resto deixado ao relento - numa memorável provocação do caboco Vadiquinho ao padre em deriva?
É claro que políticos e funcionários públicos não têm tempo para curtir estas coisas. Todavia, nós temos obrigação de saber onde o "sapato" aperta a essa gente de pé no chão... O modo mais efetivo para resgatar tal dívida será dotar o Museu do Marajó de modo que ele, doravante, no terceiro estágio de sua evolução histórica seja como uma agência ou consórcio intermunicipal de desenvolvimento ECOCULTURAL, sem tirar nem por. Em integração com a AMAM e parceria com istituições tais como o IBRAM, Museu Paraense Emilio Goeldi, Instituto Histórico e Geográfico do Pará, etc.
O Marajó se levantando da miséria em que se encontra seria um exemplo extraordiário às mais regiões de integração. Mas, o diabo da divisão do Pará é que o Brasil acabaria sendo o maior lesado de sua "sentinela do Norte", conforme canta o Hino Paraense aos surdos. E os cegos, que o Padre Antônio Vieira criticou no elogio ao peixinho da beira, o Tralhoto ("Sermão aos Peixes", São Luís do Maranhão, 1654) , não enxergam nem a pau que a região de pior IDH do estado, na verdade é um tesouro natural e cultural com potencial de competir, em termos turísticos e econômicos, com um país de ponta em matéria de ecoturismo no mercado mundial, como a Costa Rica por exemplo.
Claro que para isto se tornar realidade é preciso investimentos, pesquisa e vontade política para transformar o bendito potencial em produtos sustentáveis. Aí está o "segredo de Polichinelo" da moção de Muaná, de 8 de outubro de 2003, pedindo reconhecimento da APA-MARAJÓ como Reserva da Biosfera da UNESCO...
Para isto é caso de federalizar O Nosso Museu do Marajó a fim dele se tornar a principal peça de resistência nesta arquitetura: sem desapropriar coisíssima nenhuma nem excluir ninguém dos tantos amigos do padre Giovanni Gallo, que o ajudaram contra vento e maré a criar este rico patrimônio. Cujos primeiros passos foram dados em Jenipapo (Santa Cruz do Arari) e finalmente Cachoeira do Arari. O padre morreu querendo ainda levar mais alto a cultura marajoara no Brasil e no mundo através do museu para todos os municípios.
Mas se o Pará claudica em reconhecer o Museu do Marajó como prioridade de política cultural, como o Brasil vai se importar com a demanda marajoara ou a UNESCO reconhecer o Arquipélago como Reserva da Biosfera?
O Estado do Pará tem em letra de forma na sua Constituição, derivada da Carta-Magna da República Federativa do Brasi, dipositivo (§ 2º, VI, art. 13) considerando o Arquipélago do Marajó como área de proteção ambiental e determina que o planejamento desta região leve em conta a melhoria das condições de vida da gente marajoara... Isto tem sido letra morta em mais de duas décadas.
Em 1999, diante de desavenças insuportáveis entre "representantes" eleitos pelo povo uns gatos pingados dentre os quais o caboco que vos fala, foram se queixar ao bispo (Dom Angelo Maria Rivatto S.J., da Diocese de Ponta de Pedras). Este por sua vez pediu a solidariedade de seu confrade Dom Frei José Luís Azcona OSA, da Prelazia do Marajó; para ambos tomar as dores do Povo Marajoara diante da pobreza e ilhamento secular que o aflige. O jurista, geopolítico e professor Nelson Ribeiro deu consultoria ao documento da Igreja Católica publicado na quaresma do ano supracitado, ao qual este mesmo caboco teve a honra de apresentar em nome dos camaradas do "Grupo em Defesa do Marajó - GDM".
O GDM foi até pouco uma "tribo" adotada pela SOPREN de Camilo Vianna, enquanto Pro-Reitor de Extensão da UFPA; a cabo de dez "Encontros em Defesa do Marajó" realizados a cargo do campus Marajó (Breves e Soure) da dita universidade federal. O GDM foi organizado a 20/12/1994, inaugurou sua militância coordenando o último encontro da série de atividades em Educação Ambiental na capital do estado e na sede do município de Ponta de Pedras, entre os dias 28 e 30 de abril de 1995. A cartilha do GDM recebeu nome de "Carta do Marajó-Açu", provavelmente, constitui a primeira pauta de demanda popular com visão de integração territorial solidária, conforme o citado dispositivo constitucional proclama.
O conceito de "Amazônia Marajoara" se deve ao professor doutor Agenor Sarraf sobre base da arqueologia cultural da doutora Denise Schaan. O IBRAM já manifestou interesse em colaborar para recuperação e sustentação do Museu do Marajó e a SECULT-PA programou a reconstrução da Casa-Museu de Dalcídiio Jurandir, em Cachoeira do Arari, bem como a SEMA está empenhada em concluir trabalhos de campo e gabinete para candidatura do Marajó à lista mundial de reservas da biosfera. Estas medidas, ainda desconectadas, precisam ser INTEGRADAS... E isto, precisamente, deve constituir a FEDERALIZAÇÃO falada, para dar continuidade e finalidade ao PLANO MARAJÓ.
Por outra parte, se ainda a União não se deu conta do custo amazônico haverá de diferenciar, muito mais, o custo Marajó: o que requer atuação da AMAM como mediadora da "federalização" e ao seu lado o Museu do Marajó deve ser a necessária "universidade corporativa" conforme o sonho do padre, que [cf. "Motivos Ornamentais"], desejava transformar a associação em fundação "O Nosso Museu do Marajó" para provar a especificidade da região insular do estuário da maior bacia fluvial do planeta.
Desta mneira, o conceito de "federalização" que nos interesa é um espectro amplo, onde a fórmula PPP (parceria público privada) com ativa participação da comunidade marajoara daria consistência ao discurso. Para isto, é preciso lidar com habilidade e "diplomacia" com relação ao vezo curupira (pé pra trás) que psicologia marajoaras explica, mas nem por isto se pode renunciar à ousadia a fim de não perder mais cavalo selado.
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