CONTAGEM REGRESSIVA A MAIS UMA CAÇADA AO BODE EXPIATÓRIO
Por José Varella em BELÉM CIDADE DAS MANGUEIRAS · Facebook
Cerca de 1974 aconteceu a famigerada operação REBRACA (sigla de "Repatriamento de Brasileiros de Caiena"), deportação em massa de brasileiros do território ultramarino francês, com o consentimento e apoio operacional do governo federal do Brasil.
A generosa França abriu as portas da vizinha Guiana à mão-de-obra barata, aliciando através de gatos tupiniquins trabalhadores residentes no Amapá e Pará, associados a supostos patrões de nacionalidade francesa (não raro, naturais da própria Guiana ou da Guadalupe e Martinica), no norte do Brasil. Esta foi a maior parte de operários para construir a base de lançamento de foguetes em Kuru, na Guiana francesa.
Mas, tão logo os grandes canteiros de obra deram por terminado seus trabalhos e começou a etapa técnica mais sofisticada, com especialistas europeus; aqueles trabalhadores sem qualificação profissional passaram a ser considerados indesejáveis no país vizinho. Desempregados, voltaram às ocupações de costume na caça, pesca, derrubada de floresta para pastagem e extração de ouro... Então, Paris pressionou Brasília a buscar de volta aquela gente semi-nômade, que desde sempre percorre sem descanso o Norte e Nordeste brasileiros, antes que o governo francês esgotado certo prazo, cuidasse ele mesmo de transferir "manu militare" os já chamados "clandestinos", outrora vizinhos bem-vindos. Assim era a ameaça de escorraçar os então indesejáveis para o lado brasileiro do Oiapoque, fechando a fronteira em seguida.
Eram tempos bicudos... Ditadura militar cá e neogaulismo lá (malgré 1968)... Na verdade, as dificuldades vêm de mais tempo, antes mesmo do Contestado do Amapá, com o acordo de 1713 entre os monarcas da França e Portugal à época. A "guerra das lagosta" foi uma gota a mais nas querelas franco-brasileiras, quando diz-que o General De Gaulle dissera a célebre frase que de fato não disse "o Brasil não é um país sério"... A sérieuse França cuidou de divulgar o caso a seu modo. E, sutilmente, para se vingar da inconfidência brasílica plantou: afinal de contas, quem teria dito o que De Gaulle não disse, teria sido o próprio embaixador do Brasil em Paris... Este último, segundo a versão francesa, carregou nas tintas o conhecido mau humor do velho presidente da France Libre, dando aí nascença à lenda "diplomática" (sic). Entretanto, quem às vezes pode assistir de perto pra contar de certo como são passadas certas conversas "duras" nos recessos das chancelarias, não duvidaria de nada. Nem meteria a mão no fogo por um lado ou outro.
Portanto, sutilezas à parte, não se pode deixar de comparar e elogiar, recentemente, a franqueza rude do nosso ex-sapo barbudo, convertido em Lulinha paz-e-amor, useiro e vezeiro em quebrar protocolos sob olhar estimulante do "barbudinho do Itamaraty", embaixador Celso Amorim, para desespero da velha guarda "punho de renda" afagada pelo partido da mídia golpista.
Tudo isto me vem à mente quando li no "Le Monde" (ver abaixo) matéria à guisa de aviso prévio sobre aumento de violência e nova onda de repressão e prováveis expulsões de imigrantes na Guiana francesa, face à elevação da cotação de preço do ouro e aumento de garimpos clandestinos, não por acaso como pano de fundo da crise financeira na zona do euro. Alíás, a corrida ao ouro de garimpo não é restrito às Guianas, como todo mundo sabe. Com a queda do dólar e desvalorização de papéis das bolsas aumenta inevitavelmente a corrida para o ouro. Cresse a exploração de garimpos clandestinos, a natureza sofre e a mão de obra menos qualificada paga o pato.
A operação REBRACA de 1974, como ossos de ofício no mercado de satélites, é um fantasma das relações de fronteira no Oiapoque. Para exorcizá-lo tem-se tentado quase de tudo... Até a construção da ponte sobre o rio-fronteira, cuja inauguração vem sendo adiada após longa espera e muitas promessas oficiais em décadas para a constuir. Assim, a REBRACA e sua sombra ainda é uma pedra no meio do caminho da cooperação transfronteiriça.
Um assunto meio tabu que molesta, conjuntamente, a memória do Itamaraty e do Quai d'Orsey envergonhando a cooperação bilateral Brasil-França sobre suas respectivas regiões amazônicas. Passados já 37 anos daquela humilhante e inóqua expulsão de migrantes transfronfeirições atraídos pelo "eldorado" do Centro Espacial Europeu na Amazônia francesa, com fama de altos salários e empregos abundantes; tanto brasileiros quanto franceses ainda não encontraram um ponto de equilíbrio em tais relações ou tiveram criatidade e vontade política para transformar velhos problemas de fronteira em novas oportunidades de vizinhança.
Não fosse o fato geopolítico notável da maior fronteira da França ser compartilhada com o Brasil, na região amazônica!
Dizemos que aquela malfadada operação de deportação, em 1974, foi humilhante para os ribeirinhos da Amazônia brasileira, pois que os mesmos viram muitos de seus amigos e parentes transportados pela Marinha de seu próprio país, de volta pra casa com uma mão na frente e outra atrás, tal como haviam partido. Com a única diferença de que atravessaram a fornteira com esperanças e retornaram desiludidos, para ser largados à beira do cais e recolhidos aos armazéns da doca, como outrora escravos chegados da África.
E afirmamos que a dita Rebraca e todas outras deportações seguintes foram inóquas, pois que os "clandestinos" desta história na verdade, em sua grande maioria, são descendentes de famílias tradicionais da região desde tempos pré-coloniais... A fronteira para eles é uma "invenção" dos brancos e fonte permanete de atrito, injustiça e preconceitos contrários aos Direitos Humanos dos povos tradicionais: os serviços oficiais a ditar regras e determinar quem é "índio" ou quem é "quilombola", o caboclo e o crioulo a passar conforme a astúcia de cada um... Assim, a política de 'cooperação" das duas chancelarias vive mal, longe da inclusão social dessa gente contribui a fazê-la mais complicada que de fato é e a se comportar semelhantes a apátridas. Bagaço de laranja para os aproveitadores do contrabando e o crime organizado ou não, que existe infiltrado nas oligarquias regionais vizinhas em meio a parceiros elegantes morando mais longe ao norte e ao sul da linha equatorial...
A burocracia de Brasília, voltada mais para o Cone Sul do que qualquer coisa, e Paris às tontas agora com a crise do euro fazendo água no Titanic da União Europeia, não acham o tempo necessário para estudar melhor as ex-colônias transformadas em estados, regiões e departamentos periféricos... Mas, a Amazônia - prestes a completar quatro séculos a partir da fundação do forte de São Luis (Maranhão) - poderia espremer o limão da REBRACA e fazer dela uma limonada ou caipirinha misturando com açúcar moreno o bom rum das Antilhas.
É uma metáfora com selo original da Academia do Peixe Frito onde se pode encontrar ainda o nobre espírito de Cesaire, Léon Damas, Bruno de Menezes, Dalcídio e tantos mais lutadores da República universal, podendo alentar o Extremo-Norte como um espaço amplo de integração solidária Norte-Sul. Claro, esquecida pelas autoridades porém escrita em papel e tinta com chancela oficial, a verdejante cidade das mangueiras (Belém do Pará) e o país natal da Negritude (Fort-de-France / Martinica), são cidades-irmãs por incrível que pareça. O Amapá e a Guiana tem lá a sua cooperação regional em marcha, mas metade da população amapaense é certamente originária das ilhas do Pará (arquipélago do Marajó), que desde antes de Cristóvão Colombo fazem parte da mesma área cultural, conforme os geógrafos Raja Gabaglia, Elisée Reclus, o sociólogo Ciro Flamarion Cardoso e mais outros, notadamente na disciplina da antropologia.
Por isto, digo que o que poderia fazer esquecer a Rebraca pela população dereria ser algo que se espelhe na experiência do regresso orientado e assistido de emigrantes brasileiros no Japão. Um projeto que pudesse servir de norte à inaguração da ponte do Oiapoque. O SEBRAE e Banco da Amazônia concorrendo para dar oportunidade à prosperidade dos filhos da velha Rebraca, ainda que uma medida compensatória tardia a qual não deve faltar a participação de fundos europeus, tal como o Brasil já se propõe a colocar dinheiro novo no FMI para ajudar os países em dificuldade na Europa. Vejam só, enquanto esta gente gemendo e chorando vai de um lado pra outro em busca de ganhar ou perder a vida!
O Brasil e a França têm um passado comum desde a Guanabara, no século XVI, com a tentativa da "France Antarctique" que rendeu o romance "Rouge Brésil" de Jean Rufin, inclusive. Passou pela invenção da Amazônia, em 1612, com a "France Équinoxialle" na fundação de São Luis do Maranhão. Os amigos da Academia do Peixe Frito, no Brasil e na França, não podem ficar calados diante destas coisas. Só se ama o que se conhece: não deixem a burocracia de Brasília e Paris continuar a decidir sobre o que não conhecem na Amazônia e Caribe. É preciso habitar o tempo, além de ocupar o espaço.
"A primeira pepita de ouro descoberta na Guiana francesa remonta à 1854. Ao ritmo atual de garimpagem, o potencial aurífero (guianense) seria de 15 a 20 anos de extração. É preciso tomar a sério a advertância das autoridades (da região), pois é provável que os habitantes da região não esperem por mais tempo antes de manifesar seu descontentmento" (tradução livre de matéria publicada no "Le Monde", Paris). O primeiro romance escrito em língua crioula guianense chama-se "Atipa" apelido do protagonista, um garimpeiro do Oiapoque. Seu autor ocultou-se sob o pseudônimo de Parépou. Nome do fruto pupunha, conhecidíssimo nas feiras e ruas de Belém do Pará, enquanto que atipá é o peixe abundante dos lagos da ilha do Marajó, vendido ao povo no mercado do peixe, no Ver O Peso. Há mais coisas em comum entre Belém e Caiena do que sonha o establishement de Brasilia e Paris.
Não faz muito tempo que cidadãos brasileiros (naturais do Pará em maior parte) e surinamenses se envolveram em violento conflito, com mortos e feridos de parte a parte, por causa de ouro de garimpo na cidade fronteiriça de Albina. O Suriname, como a Guiana francea é um pais pluriétnico com notável maioria "bush negroes" (pejorativo) ou quilombola [Saramaka, Djuka, Paramaka e outras etnias negras] no interior do país. O mesmo se pode dizer da Guiana francesa acrescido de etnias indígenas, assim que da República Cooperativista da Guiana (ex-colônia inglesa). A "grande oval insular" das Guianas inclui as Guianas venezuelana e brasileira (Roraima, parte do Amazonas e Pará, Marajó inclusive). O projeto Calha Norte com sua concepção militar voltada para defesa das fronteiras setentrionais do Brasil pode, doravante, contemplar suas interfaces para o meio ambiente, saúde e educação das populações locais como instrumentos de integração territorial com projetos inter-institucionais mais ambiciosos à altura do desafio externo da política de desenvolvimento da Amazônia brasileira sustentada em seu próprio povo, comme il faut.
ver fonte (em francês): http://moreas.blog.lemonde.fr/2011/11/07/la-guyane-en-proie-a-la-violence-et-a-linsecurite/
A generosa França abriu as portas da vizinha Guiana à mão-de-obra barata, aliciando através de gatos tupiniquins trabalhadores residentes no Amapá e Pará, associados a supostos patrões de nacionalidade francesa (não raro, naturais da própria Guiana ou da Guadalupe e Martinica), no norte do Brasil. Esta foi a maior parte de operários para construir a base de lançamento de foguetes em Kuru, na Guiana francesa.
Mas, tão logo os grandes canteiros de obra deram por terminado seus trabalhos e começou a etapa técnica mais sofisticada, com especialistas europeus; aqueles trabalhadores sem qualificação profissional passaram a ser considerados indesejáveis no país vizinho. Desempregados, voltaram às ocupações de costume na caça, pesca, derrubada de floresta para pastagem e extração de ouro... Então, Paris pressionou Brasília a buscar de volta aquela gente semi-nômade, que desde sempre percorre sem descanso o Norte e Nordeste brasileiros, antes que o governo francês esgotado certo prazo, cuidasse ele mesmo de transferir "manu militare" os já chamados "clandestinos", outrora vizinhos bem-vindos. Assim era a ameaça de escorraçar os então indesejáveis para o lado brasileiro do Oiapoque, fechando a fronteira em seguida.
Eram tempos bicudos... Ditadura militar cá e neogaulismo lá (malgré 1968)... Na verdade, as dificuldades vêm de mais tempo, antes mesmo do Contestado do Amapá, com o acordo de 1713 entre os monarcas da França e Portugal à época. A "guerra das lagosta" foi uma gota a mais nas querelas franco-brasileiras, quando diz-que o General De Gaulle dissera a célebre frase que de fato não disse "o Brasil não é um país sério"... A sérieuse França cuidou de divulgar o caso a seu modo. E, sutilmente, para se vingar da inconfidência brasílica plantou: afinal de contas, quem teria dito o que De Gaulle não disse, teria sido o próprio embaixador do Brasil em Paris... Este último, segundo a versão francesa, carregou nas tintas o conhecido mau humor do velho presidente da France Libre, dando aí nascença à lenda "diplomática" (sic). Entretanto, quem às vezes pode assistir de perto pra contar de certo como são passadas certas conversas "duras" nos recessos das chancelarias, não duvidaria de nada. Nem meteria a mão no fogo por um lado ou outro.
Portanto, sutilezas à parte, não se pode deixar de comparar e elogiar, recentemente, a franqueza rude do nosso ex-sapo barbudo, convertido em Lulinha paz-e-amor, useiro e vezeiro em quebrar protocolos sob olhar estimulante do "barbudinho do Itamaraty", embaixador Celso Amorim, para desespero da velha guarda "punho de renda" afagada pelo partido da mídia golpista.
Tudo isto me vem à mente quando li no "Le Monde" (ver abaixo) matéria à guisa de aviso prévio sobre aumento de violência e nova onda de repressão e prováveis expulsões de imigrantes na Guiana francesa, face à elevação da cotação de preço do ouro e aumento de garimpos clandestinos, não por acaso como pano de fundo da crise financeira na zona do euro. Alíás, a corrida ao ouro de garimpo não é restrito às Guianas, como todo mundo sabe. Com a queda do dólar e desvalorização de papéis das bolsas aumenta inevitavelmente a corrida para o ouro. Cresse a exploração de garimpos clandestinos, a natureza sofre e a mão de obra menos qualificada paga o pato.
A operação REBRACA de 1974, como ossos de ofício no mercado de satélites, é um fantasma das relações de fronteira no Oiapoque. Para exorcizá-lo tem-se tentado quase de tudo... Até a construção da ponte sobre o rio-fronteira, cuja inauguração vem sendo adiada após longa espera e muitas promessas oficiais em décadas para a constuir. Assim, a REBRACA e sua sombra ainda é uma pedra no meio do caminho da cooperação transfronteiriça.
Um assunto meio tabu que molesta, conjuntamente, a memória do Itamaraty e do Quai d'Orsey envergonhando a cooperação bilateral Brasil-França sobre suas respectivas regiões amazônicas. Passados já 37 anos daquela humilhante e inóqua expulsão de migrantes transfronfeirições atraídos pelo "eldorado" do Centro Espacial Europeu na Amazônia francesa, com fama de altos salários e empregos abundantes; tanto brasileiros quanto franceses ainda não encontraram um ponto de equilíbrio em tais relações ou tiveram criatidade e vontade política para transformar velhos problemas de fronteira em novas oportunidades de vizinhança.
Não fosse o fato geopolítico notável da maior fronteira da França ser compartilhada com o Brasil, na região amazônica!
Dizemos que aquela malfadada operação de deportação, em 1974, foi humilhante para os ribeirinhos da Amazônia brasileira, pois que os mesmos viram muitos de seus amigos e parentes transportados pela Marinha de seu próprio país, de volta pra casa com uma mão na frente e outra atrás, tal como haviam partido. Com a única diferença de que atravessaram a fornteira com esperanças e retornaram desiludidos, para ser largados à beira do cais e recolhidos aos armazéns da doca, como outrora escravos chegados da África.
E afirmamos que a dita Rebraca e todas outras deportações seguintes foram inóquas, pois que os "clandestinos" desta história na verdade, em sua grande maioria, são descendentes de famílias tradicionais da região desde tempos pré-coloniais... A fronteira para eles é uma "invenção" dos brancos e fonte permanete de atrito, injustiça e preconceitos contrários aos Direitos Humanos dos povos tradicionais: os serviços oficiais a ditar regras e determinar quem é "índio" ou quem é "quilombola", o caboclo e o crioulo a passar conforme a astúcia de cada um... Assim, a política de 'cooperação" das duas chancelarias vive mal, longe da inclusão social dessa gente contribui a fazê-la mais complicada que de fato é e a se comportar semelhantes a apátridas. Bagaço de laranja para os aproveitadores do contrabando e o crime organizado ou não, que existe infiltrado nas oligarquias regionais vizinhas em meio a parceiros elegantes morando mais longe ao norte e ao sul da linha equatorial...
A burocracia de Brasília, voltada mais para o Cone Sul do que qualquer coisa, e Paris às tontas agora com a crise do euro fazendo água no Titanic da União Europeia, não acham o tempo necessário para estudar melhor as ex-colônias transformadas em estados, regiões e departamentos periféricos... Mas, a Amazônia - prestes a completar quatro séculos a partir da fundação do forte de São Luis (Maranhão) - poderia espremer o limão da REBRACA e fazer dela uma limonada ou caipirinha misturando com açúcar moreno o bom rum das Antilhas.
É uma metáfora com selo original da Academia do Peixe Frito onde se pode encontrar ainda o nobre espírito de Cesaire, Léon Damas, Bruno de Menezes, Dalcídio e tantos mais lutadores da República universal, podendo alentar o Extremo-Norte como um espaço amplo de integração solidária Norte-Sul. Claro, esquecida pelas autoridades porém escrita em papel e tinta com chancela oficial, a verdejante cidade das mangueiras (Belém do Pará) e o país natal da Negritude (Fort-de-France / Martinica), são cidades-irmãs por incrível que pareça. O Amapá e a Guiana tem lá a sua cooperação regional em marcha, mas metade da população amapaense é certamente originária das ilhas do Pará (arquipélago do Marajó), que desde antes de Cristóvão Colombo fazem parte da mesma área cultural, conforme os geógrafos Raja Gabaglia, Elisée Reclus, o sociólogo Ciro Flamarion Cardoso e mais outros, notadamente na disciplina da antropologia.
Por isto, digo que o que poderia fazer esquecer a Rebraca pela população dereria ser algo que se espelhe na experiência do regresso orientado e assistido de emigrantes brasileiros no Japão. Um projeto que pudesse servir de norte à inaguração da ponte do Oiapoque. O SEBRAE e Banco da Amazônia concorrendo para dar oportunidade à prosperidade dos filhos da velha Rebraca, ainda que uma medida compensatória tardia a qual não deve faltar a participação de fundos europeus, tal como o Brasil já se propõe a colocar dinheiro novo no FMI para ajudar os países em dificuldade na Europa. Vejam só, enquanto esta gente gemendo e chorando vai de um lado pra outro em busca de ganhar ou perder a vida!
O Brasil e a França têm um passado comum desde a Guanabara, no século XVI, com a tentativa da "France Antarctique" que rendeu o romance "Rouge Brésil" de Jean Rufin, inclusive. Passou pela invenção da Amazônia, em 1612, com a "France Équinoxialle" na fundação de São Luis do Maranhão. Os amigos da Academia do Peixe Frito, no Brasil e na França, não podem ficar calados diante destas coisas. Só se ama o que se conhece: não deixem a burocracia de Brasília e Paris continuar a decidir sobre o que não conhecem na Amazônia e Caribe. É preciso habitar o tempo, além de ocupar o espaço.
"A primeira pepita de ouro descoberta na Guiana francesa remonta à 1854. Ao ritmo atual de garimpagem, o potencial aurífero (guianense) seria de 15 a 20 anos de extração. É preciso tomar a sério a advertância das autoridades (da região), pois é provável que os habitantes da região não esperem por mais tempo antes de manifesar seu descontentmento" (tradução livre de matéria publicada no "Le Monde", Paris). O primeiro romance escrito em língua crioula guianense chama-se "Atipa" apelido do protagonista, um garimpeiro do Oiapoque. Seu autor ocultou-se sob o pseudônimo de Parépou. Nome do fruto pupunha, conhecidíssimo nas feiras e ruas de Belém do Pará, enquanto que atipá é o peixe abundante dos lagos da ilha do Marajó, vendido ao povo no mercado do peixe, no Ver O Peso. Há mais coisas em comum entre Belém e Caiena do que sonha o establishement de Brasilia e Paris.
Não faz muito tempo que cidadãos brasileiros (naturais do Pará em maior parte) e surinamenses se envolveram em violento conflito, com mortos e feridos de parte a parte, por causa de ouro de garimpo na cidade fronteiriça de Albina. O Suriname, como a Guiana francea é um pais pluriétnico com notável maioria "bush negroes" (pejorativo) ou quilombola [Saramaka, Djuka, Paramaka e outras etnias negras] no interior do país. O mesmo se pode dizer da Guiana francesa acrescido de etnias indígenas, assim que da República Cooperativista da Guiana (ex-colônia inglesa). A "grande oval insular" das Guianas inclui as Guianas venezuelana e brasileira (Roraima, parte do Amazonas e Pará, Marajó inclusive). O projeto Calha Norte com sua concepção militar voltada para defesa das fronteiras setentrionais do Brasil pode, doravante, contemplar suas interfaces para o meio ambiente, saúde e educação das populações locais como instrumentos de integração territorial com projetos inter-institucionais mais ambiciosos à altura do desafio externo da política de desenvolvimento da Amazônia brasileira sustentada em seu próprio povo, comme il faut.
ver fonte (em francês): http://moreas.blog.lemonde.fr/2011/11/07/la-guyane-en-proie-a-la-violence-et-a-linsecurite/
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