Forte de Gurupá-Foto:marsguo
portada do romance "Ribanceira" de Dalcídio Jurandir
último do ciclo Extremo-Norte, prêmio Machado de Assis 1972.
Sob pavilhão da União Ibérica (1580-1640) e soberania da Espanha, em 1623, portugueses baseados em Belém do Pará com apoio fundamental de armas e remos de guerreiros Tupinambás deram início à expulsão dos holandeses do Xingu e Baixo-Amazonas com a tomada dos fortins de Orange, Nassau e Mariocai. Sobre este último foi levantado o forte de Santo Antônio de Gurupá: origem da primeira cidade do arquipélago do Marajó.
Este fato histórico significa a consolidação da tomada da "França Equinocial" (1612), em 1615, e fundação de Feliz Lusitânia (Belém do Pará, 1616): passos fundamentais da invenção da Amazônia. A tomada de Mariocai e construção do forte de Gurupá abriu as portas do rio das Amazonas à conquista da coroa de Portugal com a entrada de Pedro Teixeira com 1200 Tupinambás, em viagem de ida e volta de Belém a Quito (Equador), entre 1637 e 1639. Um ano depois da volta de Pedro Teixeira do Alto Amazonas com sua tropa de mamelucos e índios conquistadores da mítica "Terra sem males", Portugal reconquistou a independência perdida com a morte do rei herói Dom Sebastião em batalha no Marrocos: transformado em mito messiânico...
Começou em Gurupá a luta histórica luso-amazônida para ruptura da "linha" do tratado de Tordesilhas (1494-1750). A tal fronteira colonial entre as colônias amazônicas de Espanha e Portugal estavam supostamente delimitadas na baía do Marajó ficando as ilhas na posse da Espanha: concluída a peleja cerca de 1647 e começada em 1623; foi a fronteira deslocada ao Oiapoque com a doação pela coroa de Espanha da capitania do Cabo do Norte (Amapá) ao capitão-mor do Grão-Pará Bento Maciel Parente em recompensa da expulsão dos Hereges (holandeses e britânicos protestantes).
Uma situação de fato mas não de direito no que concerne a conquista do rio Amazonas até seus confins no Rio Negro e Solimões, que só se resolverá definitivamente pelos tratados de Madrí (1750) e de Santo Ildefonso (1777). A conquista de Gurupa, entretanto, não quer dizer que o Marajó velho de guerra tenha sido rendido ou ocupado. Expulsos os estrangeiros, todavia a invencível Resistência Marajoara se impôs frente aos Tupinambás e colonizadores.
Na verdade, aquela guerra só teria fim com a pacificação dos "nheengaíbas" [nuaruaques marajoaras] com a missão do padre João de Souto Maior (1656, morto no rio dos Pacajás na viagem do ouro) terminada com sucesso nas pazes de Mapuá (Breves, 27/08/1659) e fundação das aldeias de Aricará (Melgaço) e Arucaru (Portel) pelo padre Antônio Vieira e os respectivos caciques nheengaíbas comandados por Piié dos Mapuás, que, provelmente, deram nome às aldeias missionadas naquele ano.
Foram, portanto, 34 anos de guerra desde o começo da expulsão dos franceses do Maranhão (1615) até as pazes ou, pelo menos, o armistício dos Nheengaíbas (1659). De maneira que os descendentes cabocos ribeirinhos daqueles povos indígenas marginalizados na crônica colonial -- sejam antepassados tupi ou aruaque --; a cabo de 400 anos carecem ainda eles mesmos promover o próprio empoderamento de sua história ocultada entre chuvas e esquecimento. Só lembrando que em 2015 (aos 400 anos da tomada de São Luís do Maranhão) terminará o prazo das Metas do Milênio pactuadas pelo Brasil e outros países com a ONU... E que o mísero IDH, que foi o principal motivo da demanda popular à Presidência da República dando origem ao PLANO MARAJÓ, ainda não tem um indicador perceptivel para ser comemorado. Oxalá então em 2023, em comemorações do 400 anos de fundação de Gurupá, o velho Marajó já tenha se emparelhado da média do desenvolvimento humano nacional.
(José Varella, em nome do GRUPO EM DEFESA DO MARAJÓ - GDM).
UMA REFLEXÃO SOBRE OS 400 ANOS DE INVENÇÃO DA AMAZÔNIA
muito nos orgulhamos, justamente, dos feitos das armas lusas da invenção de nossas regiões amazônicas e da Adesão do Pará à Independência do Brasil. Mas nos esquecemos ou, pior, nunca se ouviu falar: dos mamelucos nordestinos de faxina da guerra suja... Da aliança seminal de Jaguaribe (Ceará) entre o cristão-novo Martim Soares Moreno e a filha do cacique Jacuúna (a índia Paraguassu, modelo de Iracema na literatura indianista de José de Alencar), sem a qual o "cunhadismo" tupi não se firmaria na virada Tupinambá do partido francês ao partido português... Do acordo de trégua da guerra do Maranhão, pelo qual La Ravardière colaborou fundamentalmente nas negociações não tão mansas entre portugueses e tupinambás senhores do Grão-Pará para edificação do forte do Presépio (fundação de Belém do Pará)... Da revolta dos ditos índios do Maranhão e Grão-Pará, em 1619, com matanças recíprocas... Que sem explicação consistente - e contradizendo a própria cultura e religião da vingança por dívida de sangue - nem bem enterraram seus mortos e sararam as próprias feridas já estavam prontos e animosos para atender ao primeiro chamado de guerra... contanto que fosse o campo de batalha em direção a oeste: por que seria? A história da nossa Amazônia ainda não respondeu. E não respondeu, certamente, porque os historiadores não perguntam e não perguntam por que ainda não se dissipou a bruma historiográfica colonizadora....
os franceses, holandeses e ingleses expulsos da Amazônia ibérica pela união de armas luso-tupinambá estabeleceram suas colônias equatoriais sul-americanas nas Guianas... E os povos marajoaras e tucujus confederados que se aliaram aos estrangeiros e resistiram à avançada luso-tupinambá, não perderam a oportunidade da paz desde que esta se ofereceu, pela primeira vez, com a missão dos padres Souto Maior e Vieira...
Por que o tamanho "absurdo" Nheengaíba em abandonar o pacífico comércio de escambo e amizade com potências colonias mais fortes do que o bravo mais pobre Portugal malmente independente da opressão castelhana? Se é verdade que as perguntas são mais importantes do que as respostas, eis uma inquietante pergunta que ainda não foi feita... Mas a titubeante antropologia do circum Caribe insinua a 'hipótese Arapari'; "país do Cruzeiro do Sul" (com as migrações indígenas em massa das ilhas do Mar do Caribe para a Terra-Firme). Aquela gente por acaso demandava o Sul, tal qual os caraíbas tupis demandavam o Norte... Por acaso, no meio da boca do grande rio Babel, as ilhas do Marajó...
Ironia da história: apesar de tudo, para ser fiel ao seu destino sob a constelação do Cruzeiro, o velho Marajó de guerra virou às costas a Espanha, Holanda, França, Inglaterra e, por fim, a Portugal (Muaná, 28 de Maio): mas, em vez do Brasil independente agradecer a esta gente mandou o moço mercenário inglês John Pascoe Greenfell causador da "data magna" de 15 do desgosto paraense que terminou na "tragédia do brigue Palhaço" e de violência em violência imperial acabou com 40 mil mortos na Cabanagem...
Enquanto isto, um Plano de desenvolvimento territorial, que nem parto à fórceps, entanguido... E as notícias nada boas da imigração cladestina para as Guianas e os males acompanhantes na República Cooperativista da Guiana (ex-inglesa), no independente Suriname (ex-Guiana holandesa) e na Guiana francesa (ex-colônia também)...
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MARAJÓ 2023
Sou um caboco dos velhos tempos: uns par de outubros em riba das costa: comunista marajoara desde criancinha... Caboco camarada compartilha tudo na vida: sítio, safra, casa, canoa... noves fora a mulher amada mãe de seus barrigudinhos. Eu inda num entendia nadinha de capital, mais valia, mercadoria, teoria da alienação, luta de classes, revolução, etecetera e tal... Mas porém, desconfiava que a história desta gente do fim do mundo tava lá muito da mal contada. Antão, paresque, eu havera de saber a razão que no rio não dá tubarão e queria saber por que é que no mar num tem jacaré. A bença tio mestre Lucindo...
Antão eu vi que as coisa tavam muito mal parada nestas paragem e quis consertar. Mas que diabo fez este mundo sem fundo? Não perco a hora da sesta por negócio nenhum do mundo! Entro em rede, como diz o outro, literalmente... Acredito até naquele profeta indígena que horas antes de ir pro garrote vil na forca da primeira visitação do Santo Ofício na Bahia disse o corno ao inquisidor: que, paresque, Deus nosso senhor e pai de todos criou o bicho-homem pra dormir e sonhar. Sonhar o que, este menino? Ora, se cale e deixe de besteira e vá arranjar o que fazer... Mea avó me ralhando e abanando fogo pra fazer café, ela mesma filha de índia, todavia mais do que catequizada, batizada e crismada na santa e verdadeira religião apostólica romana. Não perde missa e novena. Faça chuva ou faça sol...
O tempo pra mim virou uma divertição da memória: um lugar mágico, num sabe? Onde vivos e mortos habitam a história da invenção do Fim do Mundo, este lugarzinho cá na beira do rio onde eu moro na filosofia da história do futuro e fica vizinha da terra sem males chamada Utopia. Mas não pensem vocês que a gente é besta: índio num qué apito e caboco num qué boné de candidato velhaco. Lá isso não! Chega! A gente quer é este tar de IDH de primeromondo (como fala o doutor)... Primeromondo! Que aqui no Fim do Mundo ninguém agüenta mais o pessoal falar mal do IDH de merda deste lugar...
Ara! Porra nenhuma de, diz-que, “desenvolvimento humano” abaixo de fiofó de calango... Foi aí que eu cai na rede e sonhei que era paresque o ano de 2023. Festa da conquista do Marajó velho de guerra... Égua mano, já? 400 anos passados e eu, diz-que em Gurupá, na ribanceira perto do forte... Quando dei por mim eu tava numa roda de carimbó high-tech com esta menina chamada Lia Sophia misturando marabaixo, zouk-machine, deus e o diabo debaixo da linha do equador... Um autofalante gritava por riba da multidão: alô, alô mea gente!!!... Acaba de dar no rádio que o Marajó saiu do caritó!!! A gente tamos bem na foto, caramba: IDH zero ponto oito!!! Puta que pariu, disse tio Juquinha, zero ponto oitão? Eu num acredito. Pois acredite, disse vó Maroca...
Foi aí que eu me acordei com o latido do cachorro Zoé, brabo que só por que eu me esqueci de botar ração dele na vasilha. Ah, bicho! Felizmente, o rádio tava ligado, tá sabendo? E a cantora Lia Sophia, ela mesma, dando recado pra galera: “Menina o que fazer com o seu rebolado? / Ai á / Menina o que fazer com essa saia rodada? / Ai á / Se o tambor começa, tua saia gira/ O mundo inteiro pára pra te ver menina”. Hum, hum... Marajó, Marajó será que vai dar pé?
DANÇA CARIMBÓ
Carimbó é uma Dança regional, aculturada, que revela traços culturais lusitanos, negros e índios. O nome é de origem tupi - korimbó -, formado por duas palavras: curi que significa "pau oco: e mbó , que significa "furado". Posteriormente o povo foi trocando as letras do curimbó para corimbo - como ainda é chamado no município de Salinópolis - e para carimbó, como ficou nacionalmente conhecida a dança.
[cf. http://edvaldomelo.blogspot.com/2010/04/danca-carimbo.html ].
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