segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

NEUTON MIRANDA: UM REVOLUCIONÁRIO QUE NÃO PERDEU A TERNURA


Neuton Miranda: um revolucionário!

Hoje faz 02 anos do desaparecimento físico de um dos mais ilustres revolucionários da esquerda paraense, Neuton Miranda. Tive a honra de acompanhar seus últimos 04 anos de vida e ação.
Sua chegada à Superintendência do Patrimônio da União no Pará – SPU/PA foi marcada de expectativa e esperança, pois lidar com um órgão tão conservador e estruturalmente formatado que atendeu, por mais 150 anos, às elites que sempre dominaram os sistemas de consumo e produção do pais não era tarefa simples.
Teve a coragem e ousadia dos “grandes” em romper com a lógica perversa e arcaica, ao passo que se concentrou em colocar o dedo em feridas profundas da sociedade como dar garantia da segurança da posse às famílias que realmente necessitam, reconhecer o uso e ocupação das comunidades tradicionais extrativistas das florestas, propor outro formato para o uso e ocupação das orlas fluviais da Amazônia, assim,fazer cumprir a função social da propriedade pública.
O camarada inconformado com a situação das populações ribeirinhas nos colocou a pensar na implantação do Projeto Nossa Várzea – Cidadania e Sustentabilidade na Amazônia Brasileira, que nasceu de longo debate com as lideranças regionais. O Nossa Várzea já beneficiou/libertou mais de 33.000 famílias ocupantes das margens de nossos cursos d”águas. Ao longo de mais de 04 anos constatamos histórias dignas de filmes e documentários ao depararmos com famílias que viviam em situações análogas ao trabalho escravo, e a partir do NV foi quebrada os laços nocivos com algumas famílias “tradicionais” e hoje vivem livremente.
Lembro-me perfeitamente que foi no carnaval de 2009 que foi concebido o Projeto de Regularização Fundiária Urbana de Belém, a partir de conversas com o Neuton em sua casa em mosqueiro. Naquele dia nosso camarada tivera uma noite difícil vinha de uma crise alérgica e estava medicado.
O resultado desse projeto foi beneficiar mais de 12.000 famílias ocupantes das áreas urbanas da União em nossa capital, por meio das Concessões de Uso Especial para fins de Moradia – CUEM individual e coletiva, ação ainda em curso atualmente
Em breve, lançaremos o 6º Manual do Projeto Orla: Readequação metodológica para o uso e ocupação das orlas fluviais e estuarinas da Amazônia, que foi gestado por esse visionário. Esse projeto impactará a maioria dos municípios em nossa região.
Interessante registrar que mesmo em um corpo franzino, ao mesmo tempo postura delicada, e um olhar convicto deixava claro que era preciso aprofundar mais essa revolução silenciosa.
Para com o meio ambiente deixou sua marca, foi o braço direito para que a Regularização Fundiária das Unidades de Conservação, principalmente das Reservas Extrativistas Marinhas se tornasse realidade, e hoje estamos a consolidar essa política, assentados no georeferenciamento em base geodésica dos perímetros dessas UC’s que beneficiará mais de 30.000 famílias.
Nosso camarada abriu o caminho ao auxiliar na destinação de muitas áreas públicas para provisão habitacional de interesse social, dentro do programa Minha Casa, Minha Vida, em municípios como, Santarém, Marabá e Belém.
Nos últimos meses que antecederam sua morte, conversávamos muito sobre o problema das glebas patrimoniais urbanas dos municípios do Pará que estavam em áreas da União, como era o caso do Arquipélago do Marajó e Belterra/PA. Atualmente estamos em processo de demarcação, em base geodésica via o Programa Terra Legal, dos perímetros urbanos no Marajó.
E naquele dia 20.02.2010, Neuton estava em Belterra/PA para formalizar a entrega para a Prefeitura a légua patrimonial urbana, a cerimônia foi belíssima, Ele estava consciente do que fora fazer e estava muito feliz! Ouvi atentamente seus derradeiros conselhos e suas últimas palavras, vê-lo e senti-lo partir foi algo que ficará para sempre em nossa memória e militância.
Não tenho dúvidas que convivi com uma das pessoas mais generosas, meiga e gentil que conheci, me senti adotado, cercado por carinho paternal. Sinto-me privilegiado por ter viajado tantas vezes e ouvi-lo muito durante horas e que tem feito muita diferença. O seu legado é singular para todos nós!
Neuton Miranda viverá para sempre na história de marabá, Pará e do Brasil! Viva esse revolucionário que nunca morrerá em nossos corações!

Belém, 20 de fevereiro de 2012.


Lélio Costa da Silva
 
21/02/2010 - 10h20

 
Neuton Miranda morre vítima de infarto fulminante
Atualizada às 11h13
O superintendente regional da GRPU/PA (Gerência de Patrimônio da União no Pará), Neuton Miranda Sobrinho, de 61 anos, morreu, na noite deste sábado (21), vítima de um enfarto fulminante. Neuton estava em Belterra, no oeste paraense, a trabalho. Ele também era presidente estadual do PC do B no Pará e integrante da diretoria nacional do partido.
De acordo com a assessoria da GRPU, Neuton morreu no hotel onde estava hospedado. Ele estava acompanhado de um assessor, quando começou a se sentir mal, por volta de 23h. Uma ambulância foi chamada, mas Neuton não resistiu e morreu antes de chegar ao hospital. A causa da morte foi um infarto fulminante. No município, ele participou de uma solenidade de entrega de títulos de concessão de uso das chamadas terras da Marinha.
O corpo do superintendente chega em Belém no início da tarde deste domingo (21), em um avião do Governo do Estado, e segue direto para a Alepa (Assembleia Legislativa do Pará), onde será velado. O enterro deve acontecer somente na terça-feira (22), porque a família aguarda a chegada da filha dele, Janaína Miranda, que mora em Londres.
Amigos lamentam a morte - O Secretário de Esporte e Lazer Jorge Panzera, diretor do PC do B no Pará, diz que a morte de Neuton é uma grande perda para a política paraense. 'Ele dedicou a vida à luta pelo povo. Desde a juventude, atuando no movimento estudantil, lutou pela conquista de um mundo melhor, um Brasil mais democrático e pela igualdade social', conta.
Segundo Panzera, Neuton deixa uma lição. 'Recebemos essa notícia com consternação e sofrimento, mas vamos continuar seguindo o que ele nos ensinou, lutando por essa missão', disse. Panzera também falou sobre a personalidade do superintendente. 'Ele era uma pessoa íntegra, honesta e dedicada a essas causas. Tinha uma relação política ampla e com certeza a família receberá a solidariedade de vários seguimentos da sociedade', completou.
Histórico - Neuton Miranda Sobrinho nasceu em Marabá, era casado com a professora Leila Mourão e tinha uma filha, Janaína. Iniciou sua vida política em Belo Horizonte e, por determinação do partido, retornou ao Pará nos anos 80, onde foi responsável pela reorganização do PC do B no Estado. Foi militante político desde 1968, atuou no movimento estudantil, era filiado ao PC do B (Partido Comunista do Brasil) há 38 anos e presidente do partido no Pará.
Foi diretor da UNE (União Nacional dos Estudantes), foi jubilado da Universidade pela Ditadura Militar através do Decreto 477, que expulsava o aluno das universidades brasileiras e os proibia de estudar por três anos em quaisquer uma delas. Estava a frente da Superintendência do Patrimônio da União do Pará há cerca de cinco anos.
Foi deputado estadual, Presidente da Cohab, Secretário Municipal de Habitação e candidato a senador, quando recebeu mais de 300 mil votos.

*Fotos: Agência Pará
 
 DEPOIMENTO / por José Varella Pereira
 Dois anos sem Neunton e parece que foi ontem... Quando ele me convidou a ser voluntário na preparação da equipe de regularização fundiária do Projeto NOSSA VÁRZEA que ia atuar no Marajó, o convite foi bem objetivo:reconhecia ele que as comunidades ribeirinhas das ilhas do delta-estuário que chamamos Amazônia Marajoara têm cultura peculiar e que a tecnoburocracia não a conhece como devia. Por outra parte, se ele fosse chamar acadêmicos universitários para isto, provavelmente, teria que esperar uma eternidade...
Ora, quem mais conhece a cabocada se não um caboco com a rara diferença de ter sido politicamente alfabetizado por ninguém menos que o índio sutil comunista Dalcídio Jurandir? Em se tratando da Amazônia Pará, Neuton era um peixe dentro d'água... Conciliava teoria e prática com conhecimento do terreno onde atuava. Rimos muito com a estória do peixinho tralhoto e seus quatro-olhos, mestre em sobrevivência nestas paragens difícies: dizia-me ele que era preciso reconhecer a etnicidade do caboco ribeirinho a par de outras etnias tradicionais como os indígenas e quilombolas que, mal ou bem, já tem consciência da própria identidade e de seus territórios. Estávamos perfeitamente de acordo sobre tudo isto e nosso trabalho profissional e a militância política embora limitadas pela dinâmica de conjuntura histórica e geográfica não se separavam nem se contradiziam.
Neuton era daqueles comunistas da estirpe de João Amazonas e Dalcídio Jurandir, que sem amolecer os fundamentos da emancipação do povo trabalhador do campo e da cidade, não perdem nunca o traço maior da humanidade e solidariedade para com todos os mais. Quis o acaso que nossa despedida fosse em viagem a Cachoeira do Arari onde ele foi entregar títulos de autorização de uso de terras da União e se encerrou com visita ao Museu do Marajó, onde o ex-presidente de diretoria Antônio Smith nos presenteou com dois exemplares da obra sumamente importante de Denise Schaam, "Cultura Marajoara". Meu exemplar mandei por portador fiel à direção do Museu do Quai Branly, em Paris, onde se acha coleção de cerâmica marajoara levado de teso na ilha do Marajó para o Museu do Homem..
Na volta a Belém, Neuton deu-me carona até a porta de minha casa e dissemos um ao outro até mais, camarada. A marcha do povo brasileiro começada com a Coluna Prestes nos idos do Tenentismo continua na Amazônia brasileira com a pertinácia das águas de pequeninas fontes e da humildade dos igarapés até se transformar em grandes rios a caminho do mar profundo.
Neuton vive no coração e na mente da brava gente marajoara!
 

2 comentários:

  1. grande homem estive com ele ombro a ombro em municipios ribeirinhos sua terra natal marabá! ele com o seu jeito garoto levado fez um discursso simples na entrega inuméros titulos spu aos cablocos ribeirinhos, ele disse: amigos ribeirinhos eu fui criado aqui nesse lugar maravilhosso desfrutando dessas aguas limpidas e tranquilas e quê muitas vezes o nado me tirava toda a ressistencia e eu me deliciava das suas saborossas melancias junto com meus amigos, hoje aqui vim devolve-las, o povo não aguentou e entre muitas gargalhadas e sorrisos o aplaudimos de uma forma demorada e forte foi a maior alegria! dez dias depois a vereadora vanda americo me ligou informando da sua morte. essa é a lembrança quê ficará entre nós num momento unico. deus esteja contigo amigo.

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  2. grande homem estive com ele ombro a ombro em municipios ribeirinhos sua terra natal marabá! ele com o seu jeito garoto levado fez um discursso simples na entrega inuméros titulos spu aos cablocos ribeirinhos, ele disse: amigos ribeirinhos eu fui criado aqui nesse lugar maravilhosso desfrutando dessas aguas limpidas e tranquilas e quê muitas vezes o nado me tirava toda a ressistencia e eu me deliciava das suas saborossas melancias junto com meus amigos, hoje aqui vim devolve-las, o povo não aguentou e entre muitas gargalhadas e sorrisos o aplaudimos de uma forma demorada e forte foi a maior alegria! dez dias depois a vereadora vanda americo me ligou informando da sua morte. essa é a lembrança quê ficará entre nós num momento unico. deus esteja contigo amigo.

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