sexta-feira, 25 de julho de 2014

1 VOTO VALENDO 100 MIL


fotografia de Luiz Braga: uma imagem que fala e por isto merece prêmio da UNICEF


25 DE JULHO: 
DIA DA MULHER AFRO-LATINO-AMERICANA E CARIBENHA

Essas mulheres internacionalizaram o debate que fez surgir o movimento das mulheres afro-latinas e caribenhas, contribuindo para criação da maior rede social preta feminista. Essa união permitiu aproximar profissionais de comunicação, cultura, acadêmicos e áreas afins que protagonizam a luta negra da diáspora no continente americano. A partir desta articulação, em Santo Domingo, na República Dominicana, ano de 1992, realizou-se o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, do qual decorreram duas decisões: a criação da Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas e a definição do  25 de julho como Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha.

Que isto tem a ver com democracia, búfalos e crianças na ilha do Marajó? Acima de tudo, na imortal lição de Nelson Mandela, democracia sem inclusão social é comparável a uma "concha vazia". A Negritude começou em 1500 na ilha do Marajó, antes do descobrimento do Brasil e do "rio das Amazonas" com o assalto espanhol a uma aldeia indígena e captura de 36 primeiros "negros da terra" (escravos indígenas) levados por Pinzón para a ilha Hispaniola (Santo Domingo e Haiti).

O búfalo quando bem manejado é animal salvador da lavoura e agropecuária familiar, mas solto a esmo na natureza se torna desastre ecológico e nas condições costumeiras de latifúndio sinônimo de trabalho análogo à escravidão, fator de concentração de renda e exclusão social. Somente acometido de alienação política se pode considerar o búfalo símbolo cultural do Marajó em lugar do grafismo original da Cerâmica Marajoara. 

Por conseguinte, proteger as crianças significa antes reconhecer os direitos humanos das mulheres e assumir o dever de cuidar das mães marajoaras, em maioria descendentes de índias, pretas e cafuzas, para que seus filhos tenham futuro.

É isto que desejo dizer a todas e todos candidatos aos cargos públicos eletivos nas próximas eleições no Brasil e em especial no Pará. Aos eleitos digo que os considero meus "colegas" de trabalho, enquanto Servidor Público que me prezo duma longa carreira desde nível municipal até o Serviço Exterior, onde completei tempo de serviço e fiz jus à aposentadoria. Dizem as más línguas que eu "me acho" grandes coisas e que devia ir contar estória aos netos e não me meter mais onde não fui chamado... 

Isto até que seria boa ideia se outros, mais capacitados que eu, falassem diretamente à Criaturada coisas como estas que os "nheengaíbas" do século XXI precisam saber para fugir da cerca do latifúndio e do cerco do trabalho precário, que os escravizam ainda a um antigo fado cruel. Do qual só se pode saber através de uma Educação libertadora, tal qual Paulo Freire ensinava.

Sob esta perspectiva marajoara votei e tenho intenção de voltar a votar na primeira mulher na Presidência da República, Dilma Rousseff; a qual concorre à reeleição para completar seu papel histórico na mudança social do País. Em primeiro lugar, a eleição de uma mulher na Presidência da República Federativa do Brasil com a biografia de Dilma jamais poderia passar sem impacto positivo numa região ultra-periférica, como é o caso do Marajó com sua ancestral cultura fundada historicamente no matriarcado. Acredito que pouca gente saiba e menos ainda achem isto importante, mesmo entre os chamados "militantes" de esquerda... Uma esquerda, aliás, bipolar oscilando do oportunismo caviar ao esquerdismo o mais pueril...

O velho Marajó de guerra com seu IDH "africano" dentre 120 outras regiões periféricas inseridas no programa federativo Territórios da Cidadania. Segundo ponto de vista, sem exceção do Estado do Pará e dos dezesseis Municípios da mesorregião, o governo federal sob a Presidenta está a dever ao Marajó, sobretudo às mulheres marajoaras e seus filhos; uma ação diferenciada emblemática, notadamente na erradicação do Analfabetismo e da Pobreza. 

No Marajó -- maior arquipélago fluviomarinho do planeta, berço da primeira cultura complexa da Amazônia e da Arte primeva brasileira criada por mulheres indígenas -- todo mundo deve saber que o apartheid social tem cara de Mulher. Por fim, a Amazônia Marajoara faz parte integrante da Guiana brasileira com antiga relação humana com o Caribe muito antes de Colombo e seus conquistadores cristãos genocidas. 

Mas, desgraçadamente, Brasília não sabe e Belém não quer saber... Era preciso amazonizar o Brasil a partir da Capital federal para, enfim, despertar o gigante da América do Sul sabendo ele afinal que é, por mérito próprio da nação Tupinambá com a sua utopia da Terra sem Mal; o maior país amazônico do mundo. É às mulheres, mães e mestras das futuras gerações, que compete a parte mais preciosa desta missão humana: homens fazem a guerra, mulheres preparam a paz.

Há 20 anos passados, no dia 25 de julho, na agrovila Antônio Vieira, à margem esquerda da baía do Marajó; tomei conhecimento do histórico encontro de paz entre os sete caciques rebeldes e o padre Antônio Vieira, investido do papel de superior das Missões; delegado d'El-Rei e tutor legal perante à sociedade colonial do Maranhão e Grão-Pará dos povos indígenas. Não por acaso, este encontro histórico concluído com formalidade no dia 27/08/1659, no rio Mapuá (hoje RESEX Mapuá), Igreja do Santo Cristo, ocorreu com a participação de guerreiros e canoeiros tupinambás (carta de Vieira, Belém do Pará, 11/02/1660). Após mais de 40 anos de guerra de conquista do rio das Amazonas, pela primeira vez foi ensaiado um processo de paz que hoje ainda falta terminar e para o qual criação de futura reserva da biosfera com a UNESCO há de ter uma importância extraordinária.

Tendo em conta a supracitada pax dos Nheengaíbas, escrevi em 1999 o ensaio "Novíssima Viagem Filosófica" e desde então invisto meu tempo livre à compreensão da expressão histórica e geográfica da Amazônia Marajoara e suas circunstâncias no presente. Deste modo, me arvoro a falar em nome desta gente sem vez e voz entre a qual se acha a memória de minha avó tapuia Antônia Silva, nascida na aldeia da Mangabeira, Ponta de Pedras, pelos fins do século XIX.


A cerca, o menino e o búfalo.

 Como diz uma amiga de luta pela cultura marajoara, tempo de eleição... lá vem batalhão de candidatos bater à porta! As necessidades são as de sempre e as promessas também. Dá vontade de NÃO VOTAR e pagar pra ver. Só pra saber com quantos paus se faz uma canoa e praticar desobediência civil ao VOTO OBRIGATÓRIO...

O título eleitoral, na triste situação da Criaturada grande de Dalcídio, acaba que só serve de escada para uns e outros que se locupletam do voto popular e depois esquecem dos necessitados. Outros, mais cara de pau que os demais, dizem logo que R$ 10,00 ou até R$ 50,00 por cabeça na boca da urna paga o trabalho do eleitor. São os tais bocudos que mais falam mal dos programas sociais tipo Bolsa Família, dizendo aos tolos que distribuição de renda é assistencialismo e "compra de voto"... 

Claro, com paciência, o pobre eleitor catando bem na lista de oferta de pencas de candidatos do barulho, poderá achar uns poucos que vale a pena experimentar pra ver se muda o disco. Ou, então, deixar ficar por que, para os ribeirinhos, mal ou bem o nobre representante já mostrou algum serviço e ajudouzinho a diminuir a exploração da pior marretagem. Que é aquela sina de morador sem eira nem beira, condenado a abastecer a feira sem nunca ter dinheiro de passagem para ver o Círio nem comprar um barquinho de miriti de lembrança para o filho. Esta gente que passa a vida subjugado a trabalhar para melhorar a vida do dono do sítio e piorar a vida da família na base do "metá-metá" (metade da colheita), como "aluguel" da varja no "apurado": quem é obrigado pela necessidade a trabalhar no mato sem cachorro faz subsídio social ao atravessador.

E ainda vem propagandista político dizer pra gente que VOTO OBRIGATÓRIO é um "direito"... Caboco velho não acha isto direito; quando sabe que noutros lugares onde o povo é quem mais comanda o voto popular é livre pra quem quiser ir ou não ir à urna manter ou mudar o que lá está. Então, o buraco é mais embaixo: se for o caso de deixar o caixa 2 e 3 funcionar a todo vapor que se venda caro o eleitor. Sabendo já que a doação da empresa, em regra geral, é fruto de sonegação e bandalheira na licitação. Logo, por vias tortas, um redistribuição de renda...

"Que se implante a moralidade ou que nos locupletemos todos". (Sérgio Porto).

 Mas, pelo menos, por obra do Divino Espírito Santo alguém poderia pensar o quanto de estrago à bandalheira estabelecida; poderiam fazer 200 mil analfabetos rebelados se acaso, sem dar na vista, os desletrados da vida pudessem fugir do curral e descarregar nas urnas seu descontentamento -- guardado desde séculos das passadas gerações "nheengaíbas" (falantes da "língua ruim") -- na forma de um ruidoso VOTO ZERO. Ou, melhor, uma puta jogada ensaiada com cartas marcadas tipo assim efeito Tiririca, Cacareco, Ararajuba e outros bichos verdes ou encarnados...

200 mil analfabetos correspondem à metade da população do Marajó com seus pouco mais de 400 mil habitantes. Calculo eu que em Belém, Macapá e outras paragens existem marajoaras perfazendo todos juntos qualquer coisa em torno de um milhão de pessoas. Deste suposto número de um milhão de marajoaras, talvez nem 10% possam ser considerados corretamente alfabetizados, sobretudo do ponto de vista político.

Portanto, é uma baita abstração que faço ao observar a fotografia em tela: o que ela tem a nos dizer? Um cenário grandioso e belo, mas também opressor e trágico, em toda profundidade captada pela sensibilidade da lente do artista. 

Penso o que cada um dentre 100 mil marajoaras poderiam fazer milagre, se se unissem em benefício de todos aqueles que não sabem ler e escrever. Penso nas crianças fora da escolas e nas escolas fora de condições de ensinar as crianças. Será que vamos tapar o sol com peneira e continuar a nos lamuriar e queixar da sorte, como se o IDH da gente marajoara fosse uma fatalidade? Na verdade, isto é uma irresponsabilidade municipal, estadual e federal nesta ordem.

Em tese, 200 mil analfabetos votantes podem votar NULO e registrar assim seu protesto. Melhor seria votação combinada sobre nome desconhecido a assinalar VOTO DE PROTESTO. Ora, isto é sonhar demais. Pois seria preciso passar por aí algum tipo de Nelson Mandela papa chibé.

Seja como for, sinceramente, não creio que as coisas possam melhorar como precisaria. Mas, não tenho dúvidas de que podem piorar. Do que adianta, por exemplo, a televisão chegar via satélite lá onde canta a saracura se a gente afetada pela imagem não sabe separar o que presta do que não presta? O telefone celular que poderia tirar do isolamento e a internet que deveria levar mais educação e meios de saúde preventiva, se tornam armas do crime organizado, tráfico de pessoas e corrupção de menores...

A cerca invisível deste "APARTHEID" tão antigo é pior que o arame farpado e a falta de meios de transporte. O enorme búfalo levado pela mão de uma criança representa a natureza instável, com nuvens que podem passar de céu azul a cinzento chumbo com chuvas e tempestade, rapidamente. E o menino roubado de sua infância o que será dele amanhã? Mais um analfabeto votante, ou um ladrão de gado, perigoso pirata dos rios, assaltante raivoso nas ruas da cidade grande sempre hostil e de costas para o rio?

Ah, se meu votinho solitário valesse por 100 mil analfabetos como, antigamente, vinte mil rebeldes nheengaíbas com seus dardos feitos de talo de patauá envenenados atirados com zarabatana de paxiúba sobre canibais e predadores invasores das ilhas!

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