quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

SalvaTerra: antiga terra Sacaca que há de salvar a toda gente marajoara.


à memória do tuxaua "Sacaca Severino dos Santos, Sargento-Mor da Ordenança dos Índios da Vila de Monforte", Joanes (apud Alexandre Rodrigues Ferreira).



Por causa do velho Marajó da minha avó índia da Mangabeira, depois de peregrinar em vão pelo palácio Cabanagem com os sumanos do GDM em busca de apoio entre nobres representantes do povo marajoara, conheci por acaso o deputado Adenauer Góes que, sem ter jamais recebido um único voto em município da famosa "ilha", abriu seu gabinete ao dito grupo em defesa do Marajó. O deputado continuou sem votos no Marajó, mas já havia vestido a camisa do GDM e nunca mais se separou da causa marajoara.

Com o passar do tempo ficamos amigos fraternos e quando me aposentei do serviço externo brasileiro, em 1998; logo em seguida Adenauer foi conduzido a recuperar a Companhia Paraense de Turismo (PARATUR), que estava condenada à extinção dentre outros cabides de emprego. Pelo que eu saiba àquela altura o médico ortopedista conhecia tanto de turismo quanto eu de rezar missa. Porém, o cardiologista no cargo de governador, Almir Gabriel; confiasse mais num médico do que em turismólogo para colocar a periclitante PARATUR de pé evitando, enfim, de vê-la no necrotério da administração pública. Quis o destino, todavia, que no fim da história a empresa pública (mista de fachada) fechasse as portas. Por sorte, a mesma mão que fechou a PARATUR teve cuidado antes de abrir a Secretaria de Estado de Turismo (SETUR) que pelo menos não precisa fingir que depende totalmente do orçamento público para sua existência. Como diz o caboco, menos mal.

UM CHEFE DE GABINETE ATÍPICO

 Adenauer sabia que meu perfil é contraindicado à função de chefe da gabinete. Entretanto, a experiência passada como oficial de chancelaria poderia "quebrar o galho"... Na verdade o que a empresa carecia mesmo era de assessoria internacional, pois a prata da casa dominava e domina bem o negócio do turismo e o presidente não precisa bancar gerente. O que ele sabe muito bem é lidar com a interface política, especificamente, uma política estadual do Turismo estava em falta.

Fiz das tripas coração como chefe de gabinete, um lugar onde franqueza e utopia visionária mais atrapalham do que ajudam o time. O combinado era por um ano... Mas, aí eu fui ficando até que felizmente a amiga Lilian salvou-me do inferno e enfim o gabinete do presidente entrou em ordem. Libertado da coisa fui inventar a assessoria de coisas que o turismo carece para sonhar... Claro, viajar na maionese. Podem dizer que é malandragem. Mas, que não é nesse vasto mundo de marquetingue, workshop, cases e causos do negócio das viagens de Ócio? Aqui a gente podia dar um montão de exemplos até dizer que, graças às nossas pajelanças, o papa do "Ócio Criativo" esteve no Marajó e saiu de lá dizendo, frente a testemunhas idôneas, que havia encontrado a velha Grécia em pleno século XXI, nas praias de Soure e Salvaterra...

Imagina agora se o famoso Domenico De Masi, lá na Itália, soubesse que o seu anfitrião governo do Pará está a construir um presídio no Paraíso? 



PRESÍDIO NÃO! QUEREMOS CULTURA, SAÚDE E EDUCAÇÃO.

Tive oportunidade de viajar a serviço da PARATUR acompanhando o Secretário Especial de Produção do Estado do Pará, economista Simão Jatene; a Salvaterra e Soure. Tenho boa lembrança desta ocasião visto que se trata de uma pessoa, como se diz, "simples e preparada" e que por circunstâncias históricas vem a ser eleito para governador em três mandados, o último reeleito... Bem diferente da imagem que se tem de um burocrata ou político conservador. Uma águia, é certo; como bom filho de libanês que se orgulha de sua origem. Noutra ocasião o ouvi como se estivesse a me provocar, numa boa, dizer "eu nasci comunista e vou morrer comunista"... Era o mascate quem estava falando e os poucos presentes riram da piada, mas a frase vinha num contexto sério: noticiário da imprensa sobre trabalho escravo no Pará e a preocupação dele, governador, em colocar nome de trabalhadores em placas de obras públicas. De fato, grandes obras estatais ostentam nomes de autoridades, engenheiros, professores mas quando se pergunta quem fez, nenhum nome de quem trabalhou na obra... 

Na PARATUR me foi dado oportunidade de dizer ao mesmo Simão Jatene: "Doutor Jatene, eu não sou técnico de turismo, não tenho negócio com o turismo e nem mesmo turista sou. Todavia nesta casa eu aprendi que o Turismo é de fato um extraordinário instrumento político". Acrescentei, no caso, um prefeito que aspira a tornar sua terra em município turístico precisa fazer dever de casa como investir em hospitalidade, meio ambiente, erradicação da miséria, fomento de empreendedorismo, etc. para receber turistas. Então, completei, "... pode ser que nesse município hipotético nunca chegará um turista, mas mesmo assim a população já ganhou com o turismo". É isto que me interessa.

Jatene tem reconhecidos dotes teatrais, e tinha acabado de confessar seu arrependimento em colocar a PARATUR na lista de órgãos a ser extintos. Neste mandato ele reincidiu, com a desculpa de que a SETUR já está fazendo a mesma coisa. Há controvérsias... Mas o que eu quero falar agora é da incoerância, política, de construir presídio num polo turístico ímpar como Marajó que poderia ser a Costa Rica amazônica, com seu singular bioma de rio e mar protegido na rede mundial de reservas da biosfera da UNESCO. 

Sou grato ao amigo Adenauer por me ter convertido ao partido do Turismo. Com isto, se explica a publicação de dois ensaios de minha autoria que são pura "viagem na maionese" convidando o leitor a vir descobrir a obra-prima da Amazônia ("Novíssima Viagem Filosófica": in REVISTA IBERIANA, Secult, Belém, 1999; e "Amazônia Latina e a Terra sem Mal", IOE, Belém, 2002).

Acredito que se deve procurar o secretário da SETUR para levar ao governador toda nossa decepção sobre o futuro do turismo no Marajó.

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