terça-feira, 19 de abril de 2011

VIVA MARAJÓ NO DIA DO ÍNDIO BRASILEIRO

bela coincidência! projeto VIVA MARAJÓ promove o MaB no Dia do Índio!!!

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A DEMANDA MARAJOARA

Há mais de 250 anos entre chuvas, contrabando e esquecimento, o achado do teso do Pacoval do Arari, em 20 de Novembro 1756 – primeiro sítio arqueológico a revelar a oculta arte primeva indígena do Brasil – contrasta com a pobreza da gente marajoara em luta para transformar “cacos de índio” na resistência d’O Museu do Marajó e recuperar a identidade perdida no passado colonial.

 

            Felizmente ou infelizmente, que nem o ancestral mariscador de gapuia, o qual sem querer querendo inventou a Cultura Marajoara; estou eu enterrado até o pescoço no barro dos começos do mundo na grande ilha do Marajó. E Dalcídio Jurandir e Giovanni Gallo já morreram... Todos meus avós estão lá enterrados: duma parte, camponeses da diáspora da Galícia (Espanha) e enganados povoadores dos Açores (Portugal) deportados ao Grão-Pará, no século XVIII. Doutra, a cabocada saída do mato a dentes de cachorro e bala de trabuco, as raízes indígenas extraídas à corda e baraço; que por falta de história em forma de letras se perdem no além da lenda da “primeira noite do mundo”.

Portanto, não escolhi este fado, pois sina não se pede. Que posso fazer? Acovardar-me no trono de um apartamento esperando a morte chegar ou entrar no exército Brancaleone inaugurado pelo “índio sutil” e seu escudeiro por acaso inventor d’O Nosso Museu do Marajó e autor do livro-reportagem “Marajó, a ditadura da água”... Tomar as singelas armas das letras tortas que tenho ao alcance das mãos nas teclas do computador conectado à rede eletrônica mundial. Depois que, semiletrado, dei “vencimento” de um sem número de canetas Bic e resmas de papel almaço, deixando calos aos dedos como se fossem, para mim, medalhas e cicatrizes de muitas batalhas ganhas ou perdidas.

Triste imitação moderna dos valentes “Nheengaíbas” (nuaruaques, “falantes da língua ruim”) de outrora. Sabendo eles que estavam derrotados antes mesmo de começar a luta desigual, do mesmo modo eu não poderei perguntar aonde esta estúrdia demanda irá parar. Quem sabe, no fim desta história incrível; de derrota em derrota se há de chegar à vitória final da brava gente marajoara? Um povo incomparável de mais de mil anos de idade, que só queria ter lugar na Terra-Firme (continente) e pertencer ao país do “Arapari” (a constelação do Cruzeiro do Sul, hoje República Federativa do Brasil, na Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e na União de Nações Sul-Americanas - UNASUL).

Para a vitória será preciso percorrer longo caminho até chegar o dia de repatriamento de peças e coleções de cerâmica marajoara dispersas entre 10 museus estrangeiros e outros mais no Brasil, inclusive coleções de particulares. Entretanto, não haverá essa manhã se o gigante adormecido não despertar para as suas origens americanas no profundo rio das Amazonas, seio da civilização neotropical de mais de mil anos de idade. São será fácil enquanto prevalecer a mentalidade iluminista dos conquistadores e a nossa Amazônia for vista como “celeiro do mundo”...

Certamente, para a pobre gente marajoara não vai fazer a menor diferença se o tesouro de seus ancestrais se achar exilado em Paris ou no Rio de Janeiro ou até mesmo próximo à ilha do Marajó, em Belém do Pará. O que importa a ela é que a herança milenar lhe venha servir de amparo, identidade e passaporte para o futuro mediante um desenvolvimento cultural para libertação da pobreza e do analfabetismo político crônico.

O que mais interessa a mais de 500 mil brasileiros ilhados no delta-estuário da maior bacia fluvial do planeta, em mais de 500 comunidades locais repartidas em 3 microrregiões e 16 municípios de baixo IDH; é um programa nacional de proteção aos tesos arqueológicos do Marajó integrado ao desenvolvimento territorial em cooperação internacional, capaz de induzir o desenvolvimento regional sustentável através da economia criativa da Cultura. Ou há, por acaso, algo mais renovável e sustentável a preservar a Floresta Amazônica do que a educação e cultura das populações tradicionais ribeirinhas?

Para tanto, sem nenhum prejuízo da comunidade de Cachoeira do Arari e mais municípios marajoaras; a revitalização do Museu do Marajó pelo IBRAM como portal ecomuseulógico das ilhas do estuário amazônico; constitui séria questão de planejamento regional estratégico a ser considerada. Todavia, o claudicante “Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó (PLANO MARAJÓ) e o programa Territórios da Cidadania onde este programa específico deveria ser implantado, carecem se revigorar.

Neles, além do fundamental projeto NOSSA VÁRZEA de regularização fundiária de terras da União, também se acha o projeto de candidatura do arquipélago do Marajó à lista de reservas da biosfera da UNESCO. Lembrando-se, sobretudo, que o PLANO MARAJÓ, elaborado pelo GEI Marajó coordenado pela Casa Civil da Presidência da Republica; foi anunciado como piloto do Plano Amazônia Sustentável (PAS), da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Quer dizer, tal visão de conjunto de âmbito nacional se desvanece na esfera nacional e termina sendo uma nuvem no horizonte, quando atravessa a baía do Guajará em direção às ilhas.

Mas estes dois projetos, a regularização fundiária de comunidades ribeirinhas e o reconhecimento pela UNESCO da área de proteção ambiental de que trata o parágrafo 2º, VI, do artigo 13 da Constituição do Estado do Pará; assim como o próprio PLANO MARAJÓ, precisam, com urgência, ser melhor conhecidos pela sociedade e debatidos pelo Congresso Nacional. Porém o silêncio que reina sobre tal assunto estratégico nos meios políticos é “ensurdecedor”. E reveladora a parcimônia da sociedade civil com que trata a demanda para tombamento da Cultura Marajoara.

Na verdade, em seu conceito geral, o PLANO MARAJÓ constitui o mais avançado instrumento de desenvolvimento territorial com participação popular na história do estuário amazônico desde as missões da Companhia de Jesus e das ordens das Mercês e do Carmo. Porém, como os colonos ávidos de braços escravos outrora, as pequenas oligarquias municipais resistem à realização do Plano, temerosas de que o povo trabalhador lhes escape da velha tutela feudal retardatária e dos currais eleitorais para liquidar o arcaico regime de latifúndio começado com as sesmarias dos barões de Joanes (1665-1757).

Tal atitude retardada é um lamentável equívoco! Pois, de fato, fazendeiros e comunidades podem e devem inaugurar patamar ecológico-econômico superior estabelecendo com participação institucional de estado (federal, estadual e municípios) parcerias produtivas. Antes que a invasão – já em curso – do grande capital predador venha liquidar de vez o “dolce farniente” das antigas fazendas de gado. Onde as condições de isolamento produziram – para o bem e o mal – a mais interessante cultura insular das terras baixas da América tropical, sem dúvida. O que tem potencial comparável a uma “Costa Rica” na Amazônia Marajoara.

Brasília não sabe nem quer saber do que se está falando nestas paragens ultraperiféricas da amazonidade, nem ela tem tempo a perder na agenda do desenvolvimento nacional pautado pela ordem mundial. Por seu turno, a elite paraense – hostil ao “desenvolvimento sustentável” como seus antepassados combateram a abolição da escravidão e botaram a correr missionários também estes salvadores mais interessados na alma dos índios do que em seus direitos naturais nestes cantões do mundo – permanece cega e surda à pregação humanitária que vem do século XVII, na invenção da Amazônia; prestes a completar quatro séculos, em 2015, quando por acaso termina a prazo das metas do milênio da ONU.

A escravidão na América do Sul começou em 1500, com o espanhol Vicente Pinzón assaltando e capturando 36 “negros da terra” na ilha Marinatambalo (Marajó, provavelmente aldeia Aruã, município de Chaves), antes do descobrimento do Brasil. E a luta contra o trabalho escravo na Amazônia começou com o levante do Bom Selvagem tupinambá, em 1619, no Maranhão e Grão Pará. Sem guerreiros tupinambás e escravos tapuias não haveria a “ruptura” de limites de Tordesilhas na foz do Amazonas levando o Marajó velho de guerra à pacificação dos Nheengaíbas, pelo payaçu dos índios, Padre Antônio Vieira. Não haveria a Adesão do Pará, em 1823, à independência do Brasil...

A mesma peleja anticolonial e antiescravista passa pela demanda da “criaturada grande” na literatura de Dalcídio Jurandir e acaba como estuário de muitos rios e igarapés; na invenção do Museu do Marajó, por Giovanni Gallo em qualidade de instrumento de um povo à margem da História, no bojo contraditório da criação da Prelazia de Ponta de Pedras com as cooperativas do bispo Ângelo Rivatto.

Quem quer saber: quantas dissertações de mestrado e teses de doutoramento ainda vão sair desta fonte virgem que se perde, entre chuvas e esquecimento, nas ruínas dos tesos de cerâmica marajoara? Um “índio sutil” que dá voz à criaturada grande das Ilha, Baixo Amazonas, Marajó e subúrbios de Belém; um museu que teve por semente “cacos de índio” merecem mais respeito no DIA DO ÍNDIO, 19 de Abril pelo menos.

(por José Varella Pereira, email: cabocomarajoara@gmail.com site http://gentemarajoara.blogspot.com ) .

 

Abaixo-assinado "Dia da Cultura Marajoara e tombamento no patrimônio nacional".

Para:Presidência da República Federativa do Brasil

Excelentíssima Senhora,

DILMA ROUSSEFF,

Presidenta da República Federativa do Brasil.


Vimos respeitosamente pedir tombamento da CULTURA MARAJOARA no patrimônio histórico e artístico nacional, acompanhado de declaração oficial do DIA DA CULTURA MARAJOARA (20 de Novembro), conforme adiante, quando provavelmente a UNESCO receberá a candidatura do Arquipélago do Marajó à lista ibero-americana de reservas da biosfera em proposta do Estado do Pará.

Conforme as mais recentes pesquisas arqueológicas na Amazônia, a primeira cultura brasileira complexa (cacicado) ocorreu na ilha do Marajó cerca do ano 500 da era cristã. Trata-se da chamada "CULTURA MARAJOARA" pré-colombiana. No dia 20/11/1756 o fazendeiro Florentino da Silveira Frade a serviço de Portugal deu notícia do primeiro sítio arqueológico encontrado pelos colonizadores, o teso do Pacoval do lago Arari.

Depois de um longo período de saques, destruição e escavações para estudo, em 1937, a diretora do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Heloísa Alberto Torres publicou na revista do SPHAN [IPHAN] artigo pedindo programa nacional de proteção ao patrimônio arqueológico brasileiro, no qual declara ser a CULTURA MARAJOARA o mais importante acervo pré-colombiano do Brasil.
Entretanto, até hoje falta declaração oficial de tombamento nacional desta cultura. Para cujo efeito e educação patrimonial do povo brasileiro, notadamente na Amazônia; convém ato formal considerando 20 de Novembro DIA DA CULTURA MARAJOARA simultaneamente ao Dia Nacional da Consciência Negra recordando que, em fins de janeiro de 1500, Vicente Pinzón aprisionou e levou da ilha do Marajó os primeiros "negros da terra" (índios escravos) da América do Sul.

Os signatários

O Abaixo-assinado "Dia da Cultura Marajoara e tombamento no patrimônio nacional"., para Presidência da República Federativa do Brasil foi criada e escrita pela comunidade Academia do Peixe Frito / Amigos do Museu do Marajó.
Este abaixo-assinado encontra-se alojado na internet no site Petição Publica Brasil que disponibiliza um serviço público gratuito para abaixo-assinados (petições públicas) online.
Caso tenha alguma questão para o autor do abaixo-assinado poderá enviar através desta página de contato

 abaixo-assinado online: «"Dia da Cultura Marajoara e tombamento no patrimônio nacional".»

http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N8487

Um Museu no Marajó?

Quantas pessoas disseram que foi uma loucura montar um museu no meio dos campos do Marajó, ainda mais que a localidade escolhida, Cachoeira do Arari, não é conhecida e badalada como Soure ou Salvaterra, e sim bastante modesta. De fato, quando começamos, a cidade tinha um precário acesso pelo rio, não adequado para um projeto turístico deste porte.

O serviço telefônico era mais que precário, o abastecimento de água também, a energia elétrica só poucas horas por dia, e com muitos blecautes .Para completar: falta de hotel e outras estruturas complementares, e qualquer estrutura turística. Mas o MUSEU DO MARAJÓ escolheu Cachoeira, recusando ao longo destes anos outras opções tentadoras, porque a nossa filosofia sempre foi dominada por aquele mesmo princípio: a preocupação fundamental pelo Homem, não somente como assunto de pesquisa, mas também como meta e objetivo.

A PA-154, estrada de ligação por terra de Cachoeira com a baía e as cidades de Salvaterra e Soure, não passava de um sonho. Agora, só falta um gesto de carinho do Governo para salvar o MUSEU DO MARAJÓ e garantir um futuro melhor para as comunidades da bacia do Arari.

No nosso Museu o Homem marajoara é doador e receptor. Ele é a maior fonte de informação e ao mesmo tempo o maior beneficiado.

Nesta perspectiva, o nosso Museu tem um ciclo completo:

• Nasce da comunidade,


• Cresce com a comunidade,


• E volta à comunidade.


Agora é fácil entender porque o Museu aceitou o desafio de escolher um lugar carente das infra-estruturas essenciais.


Porque assumiu o compromisso de promover estas infra-estruturas, provocando o desenvolvimento do Homem através da Cultura.

Giovanni Gallo

 

CARTA DO ESCRITOR JORGE AMADO A GIOVANNI GALLO

Salvador, 22 de novembro de 1989

O Museu do MARAJÓ

Cachoeira do Arari

Marajó – Pará

 

Prezado

Pde. Giovanni Gallo,

         Tendo chegado ao meu conhecimento pelo casal Steiner, nossos amigos, o seu trabalho em preservar a cultura indígena da cerâmica marajoara, com o uso e os costumes desse povo, quero parabenisa-lo (sic) pela feliz escolha da cidade de Cachoeira do Arari, como centro de suas atividades.

         Terra de Dalcidio Jurandir, escritor por mim considerado um dos maiores romancista (sic) contemporâneo e estilista inconfundível, da nossa literatura regionalista.

         A implantação deste museu, em moldes modernos, que irá atuar no aprimoramento da educação dos jovens, e proporcionar uma gama de informações aos estudiosos, que necessariamente, irão compulsar os seus arquivos e pesquisar nas suas coleções, é um trabalho de inestimável valor cultural, na divulgação do Marajó, tendo como seu principal objetivo, o homem marajoara, dando-lhe o impulsionamento decisivo da liberdade pela força do seu trabalho.

         Na certeza de que muito contribuirá, para reverenciarmos na sua terra natal, a memória de Dalcidio Jurandir.

         Atenciosamente.

         (a,) Jorge Amado

(transcrita de fac-símile com autógrafo do autor na revista PZZ edição nº 11, página 66).

 

DALCÍDIO JURANDIR A RESPEITO DA OBRA DE GIOVANNI GALLO (trechos de correspondência com Maria de Belém Menezes):

“O que me chama atenção: Padre Giovanni meteu os pés, fundo, na lama do Marajó e puxa daí as suas reportagens, como tambaquis, trazendo à tona os mil problemas da ilha.”

“É um humanista da melhor idade, dirigindo a sua objetiva sobre as grandes feridas da ilha-arquipélago.”

“O padre sente de perto as aflições daquele povo que vive em metade d’água e em metade lama, seguro na pescaria, na vaqueiragem e na caça. Padre Giovanni tem em grande conta o cidadão do mundo, solitário, desamparado, que é o habitante de Jenipapo.”

Arqueologia Marajoara

PESQUISA, CIÊNCIA E CONTRABANDO.

Por Denise Pahl Schaan (in PZZ revista de arte, educação e cultura / nº 11 – ano IV, pp 90-109).

DENISE PAHL SCHAAN nasceu em 1962, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Graduou-se em História em 1987 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e recebeu o título de Mestre em História, Área de Concentração Arqueologia Amazônica, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) em 1996. Sua Dissertação de Mestrado, um estudo detalhado da coleção de cerâmica Marajoara “Tom Wildi” , foi publicada em 1997 pela editora da PUC/RS. Em 1997, Denise mudou-se para Belém do Pará, para realizar estudos com as coleções de cerâmica Marajoara do Museu Paraense Emílio Goeldi. De 1999 a 2004 cursou o Doutorado em Antropologia Social na Universidade de Pittsburgh, Filadélfia, EUA. De 1997 a 2006 foi pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi e desde 2006 é professora da Universidade Federal do Pará [contato email: Denise@marajoara.com ].

(fragmentos do artigo):

CONTINUAM CHEGANDO DENÚNCIAS

DE RETIRADA DE CERÂMICA DE TESOS

MARAJOARAS, TODOS OS MESES, SENDO

IMPOSSÍVEL VERIFICAR AS DENÚNCIAS,

POIS OS SÍTIOS LOCALIZAM-SE EM ÁREAS

DE DIFÍCIL ACESSO, ÀS VEZES SENDO

NECESSÁRIOS VÁRIOS DIAS DE VIAGEM.

 

O tráfico de peças arqueológicas continua acontecendo, comprometendo a integridade dos sítios. Somente um programa de educação patrimonial combinado à punição exemplar dos infratores poderia fazer diminuir significativamente os prejuízos ao patrimônio arqueológico. A ilha de Marajó possui uma população extremamente carente, devido à má distribuição de terra e renda. As dificuldades

O TRÁFICO DE PEÇAS ARQUEOLÓGICAS CONTINUA ACONTECENDO, COMPROMETENDO A INTEGRIDADE DOS SÍTIOS. SOMENTE UM PROGRAMA DE ARQUEOLOGIA PÚBLICA, COMBINADO À PUNIÇÃO EXEMPLAR DOS INFRATORES, PODERIA FAZER DIMINUIR SIGNIFICATIVAMENTE OS PREJUÍZOS AO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO.

Turismo e arqueologia pública 

Decorridos 136 anos das primeiras expedições para coleta de material arqueológico na ilha, o número de sítios efetivamente registrados no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan não é representativo do universo de sítios conhecidos e explorados. Muitos tesos escavados do topo à base nunca foram registrados e efetivamente estudados, significando que o conhecimento que tais estudos poderiam ter gerado perdeu-se para sempre. Até hoje nunca foram realizados inventários dos sítios arqueológicos na ilha ou programas educativos para sua preservação, com exceção de iniciativas isoladas.
Constantemente chegam denúncias sobre a retirada e as vendas ilegais de cerâmica, sendo impossível averiguar todas elas, pois os sítios localizam-se em áreas de difícil acesso, às vezes demandando vários dias de viagem. Começa a haver certo interesse por parte das prefeituras e mesmo dos fazendeiros pelo desenvolvimento do turismo arqueológico, mas não há infraestrutura adequada para esse tipo de atividade.
Um dos problemas é a falta de legislação específica para a exploração turística de sítios arqueológicos. Outro, e mais sério, é o descaso dos órgãos governamentais, que chegam a fazer propaganda de sítios arqueológicos e incentivar o turismo, mesmo sem a devida musealização e sinalização dos locais a serem visitados.
 

MUSEUS E COLEÇÕES PARTICULARES DE CERÂMICA MARAJOARA (por ordem alfabética).

American Museum of Natural History, Nova Iorque: Segundo Palmatary (1950), as coleções feitas por Algot Lange em 1913 no Pacoval e no teso do Severino estariam nesse museu. O material foi examinado por Betty Meggers na década de 1940.

Coleção Buscaloni / Coelho. Esta coleção é formada por 6 peças completas em perfeito estado de conservação. Foi comprada pelo museu em 22 de março de 1901, vendida por M.L. Buscaloni com o aval do presidente da câmara de deputados do Pará. O material vem das buscas na ilha do Marajó, mas não possui indicação de sítios arqueológicos. Entre as peças encontra-se uma urna que continha uma tigela e quatro vasos-miniaturas.

Coleção da Família Teixeira, Belém e Fazenda Campo Limpo, Marajó: provém do sítio PA-10-14: Monte Carmelo. Não existem muitas informações. Possui fotos de duas peças na obra de Roosevelt (1991), fotografei algumas peças em péssima condição na casa da fazenda, em 2002 e 2005. A casa hoje em dia é de propriedade de Paulo Acatauassu Teixeira, que disse-me que quer fazer turismo arqueológico na fazenda, mas que deverá dividir as peças com seus irmãos, pois são “herança de família”.

Coleção de Heronildes (Dita) Acatauassu, Belém e Fazenda Tapera, no Marajó: Aproximadamente 800 peças. Foi desmembrada em duas coleções foram “doadas” ao Governo do Estado do Pará. Uma delas está sob a guarda do Museu do Forte e a outra com o Museu Goeldi. Diversas peças de ambas coleções encontram-se em exposição no Museu do Forte e no Museu de Gemas, ambos em Belém. Segundo informações recentes de Tiago Ferreira, há ainda peças remanescentes desse acervo na fazenda Tapera e na casa de Dona Dita (em) Belém.

Coleção do Ex-Museu Paulista: Esta coleção é formada por 9 objetos cerâmicos pré-históricos do Marajó. Foi obtida através de permuta de material com a Universidade de São Paulo em 1964/64. É constituída de peças incompletas, à exceção de uma tanga feminina (Cairolo, 1990).

Coleção Graciette Lobato, Belém e Fazenda São Marcos, no Marajó: Peças procedentes dos tesos do igarapé dos Camutins, dos aterros do Pequaquara e do igarapé do Moleque. Uma grande coleção foi “doada” em 1982 ao governo do Estado, estando hoje sob a guarda do Museu Goeldi, em Belém. Diversas peças encontram-se em exposição no Museu do Forte e no Museu de Gemas, ambos em Belém. Uma pequena coleção foi “doada” ao Instituto Cultural Banco Santos (ICBS) e hoje está no acervo do MAE-USP.

Coleção Madame Chermont, Rio de Janeiro: 15 peças, algumas fotos aparecem em publicação de Erland Nordenskiöld (1930).

Coleção Montenegro: Coleção formada por Joaquim Jonas Bezerra Montenegro (1843-1932), advogado alagoano que transferiu-se para o Pará, aposentando-se como juiz da comarca do Marajó. É uma coleção antiga, pois em uma tanga escreveram no verso a data de 1871 (Figueiredo e Folha, 1976: 31). Segundo as informações do catálogo, a coleção foi doada, a partir de 1880, ao Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. São um total de 102 peças de cerâmica do Marajó, além de inúmeros objetos líticos de procedência desconhecida.

Coleção O. Landmann, São Paulo: Esta coleção compreende 35 peças inteiras, e provém da  Fazenda Laranjeiras, segundo Cairolo, 1990. Uma tigela desta coleção encontra-se em exposição no Museu Chileno de Arte Pré-Colombiana em Santiago.

Coleção Oliveira, Recife: 25 peças originais dos sítios Pacoval, Ilha dos Bichos, Severino, Ganhoão (região de Chaves), Palmatary (1950), traz fotos das peças.

Coleção Tom Wildi do Museu Universitário da UFSC: Essa coleção foi doada pela família do colecionador, e 208 peças (entre inteiras, semi-inteiras e fragmentos) foram estudadas por Schaan (1997a). As peças provém dos sítios Laranjeiras, Guajará, Teso Salitre, Gentio, Matinada, Macacão, Ilha dos Bichos e Pacoval do Arari.

Grande-Bretagne Museu of Mankind, Londres: Este museu possui 32 objetos permutados por A. Mordini em 1935. Mordini fez buscas em 1922 e 1925 em três sítios: Pacoval, Panelas e Teso do Gentil. Contudo, é difícil saber a proveniência exata do material. A coleção é formada por cacos de cerâmica, entre os quais três apêndices zoomorfos. Não existem peças inteiras neste museu (Cairolo, 19990).

Musee de L’Homme de Paris, França: Este museu possui 22 peças cerâmicas da Ilha do Marajó, das quais 6 são peças da coleção formada por Ferreira Penna e Charles Hartt para o Museu Nacional do Rio de Janeiro. O material pertencente ao Musee de L’Homme veio de várias doações feitas por brasileiros, como as peças doadas por D. Pedro II, que provavelmente faziam parte do material retirado do sítio “Pacoval do Arari” por Hartt e Derby. Além disso, L. Netto doou 8 peças quando era conservador chefe do Museu Nacional (Cairolo, 1990).

Musee Thomas Dobrée, Nantes, França: Este museu possui 8 peças inteiras e numerosos cacos. Entre as peças inteiras encontra-se uma estatueta antropomorfa de 30 cm de altura, decorada com aplicações de engobo bege e pintura vermelha. Esta coleção foi formada por A. Cullère (Cairolo, 1990).

Museo Barbie-Mueller de Arte Precolombino, Barcelona: Formada por peças adquiridas em 1978 de um antiquário francês. São cerca de 22 peças do Marajó, em excelente condição, que têm participado de exposições internacionais e já constam de vários catálogos.

Museo Chileno de Arte Precolombino: localizado em Santiago, Chile, este museu possui uma incrível coleção de artefatos pré-colombianos, que foi reunida por um arqueólogo amador, Sergio Larrain Garcia-Moreno. Há em exposição também

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